Leigos Missionários Combonianos

Mensagem do P. Enrique para a festa do Sagrado Coração

Sagrado Corazon

“Pedimos a graça de nos tornarmos consagrados alegres e felizes porque portadores no coração do tesouro daquele amor que brota do Coração trespassado do Senhor que São Daniele Comboni descobriu como fundamento sobre o qual construir a sua missão e ao qual se entregou sem limites.

Que a confiança no Coração de Jesus se torne também para nós fonte perene de um amor que nos ajude a viver a nossa consagração como o dom mais belo que nos tenha sido concedido.

Boa festa do Sagrado Coração.” P. Enrique Sánchez G. mccj, Superior Geral.

 

CONSAGRADOS NO CORAÇÃO DE JESUS

As palavras consagração e consagrados, com todos os seus sinónimos, têm a possibilidade de ser aprofundadas e integradas na nossa vida, de modo particular durante este ano destinado à vida religiosa ou consagrada, na medida em que nos concedamos um momento para a reflexão e, talvez, mais ainda, para o agradecimento por este dom.

Ao mesmo tempo, estas palavras correm o risco de esvaziar-se do seu significado e da riqueza de que são portadoras, se não as confrontarmos com a experiência da nossa vida; se não dermos, com a nossa vida, um sentido autêntico ao que afirmamos com as palavras.

Somos consagrados. Basta pouco para fazer esta afirmação que, no entanto, não se mostra tão evidente quando pedimos ao nosso testemunho de vida para exprimir o conteúdo daquela que foi a opção da nossa vida.

Mesmo dizendo de imediato que há exemplos extraordinários, muito próximos de nós, de pessoas que fizeram da consagração um tesouro e cuja vida se transformou numa luz capaz de penetrar as trevas mais obscuras, hoje precisamos de deter-nos e perguntar-nos até que ponto a nossa consagração a Deus define e caracteriza a nossa identidade e o nosso agir.

Reflectir sobre a nossa consagração pode tornar-se uma ocasião extraordinária para nos apropriarmos daquilo que queremos dizer quando nos reconhecemos pessoas consagradas a Deus para a missão.

A nossa consagração missionária

Como ajuda para a nossa reflexão, em particular por ocasião da festa do Sagrado Coração, gostaria de partilhar convosco algumas ideias breves que podem ser desafios a perguntar-nos até que ponto e como estamos a viver a nossa consagração religiosa e missionária.

O Papa Francisco convidou-nos a fazer um exercício de memória, para reconhecer no passado o dom da nossa chamada, do nosso carisma, deixando brotar do profundo do nosso coração a gratidão, o reconhecimento por este dom. Recomendou-nos contemplar o presente da nossa consagração para a viver com paixão, sem fazer cálculos, com a generosidade e o entusiasmo do primeiro momento, quando no silêncio cúmplice de Deus ouvimos pronunciar o nosso nome e sonhado uma missão sem fronteiras.

O Papa pediu-nos para olhar o futuro com esperança, que significa confiança em Deus, na sua proximidade, na certeza de que Ele continua a guardar no seu coração um projecto para a humanidade que ninguém poderá impedir, porque será sempre um projecto de amor e o amor não se detém perante os obstáculos.

Viver a nossa consagração missionária deste modo leva-nos a redescobrir, a fazer de novo a experiência da alegria do primeiro momento da nossa chamada, e a dizer com simplicidade, Senhor, como foste grande fixando o teu olhar em mim! Não podias conceder-me um dom mais extraordinário.

Ser missionário foi a escolha melhor que fizeste para mim; obrigado, porque permaneceste fiel e porque aquilo que me aconteceu há tantos anos continua a manter a sua frescura.

Obrigado por um presente missionário que nos desafia. A tua chamada por vezes corre o risco de ser toldada por tantos obstáculos que encontramos no nosso caminho. Falta-nos a tua paixão, o teu ardor, a tua coragem para não nos deixarmos vencer pela indiferença do nosso tempo, pelo consumismo que nos circunda, pelo hedonismo superficial que nos assalta com as suas armadilhas, que fazem aumentar o egoísmo e a superficialidade.

Temos necessidade da paixão missionária, antes de mais para crer em ti com todo o nosso coração, para descobrir-te presente no irmão que sofre, na irmã que é maltratada, no jovem condenado a viver sem a possibilidade de sonhar um futuro digno, para sair das nossas seguranças e das nossas comodidades.

Senhor, faz-nos bem reconhecer com humildade e simplicidade que nos falta a paixão que não teme o sacrifício, a renúncia, o abandono, aquela paixão que permite deixar tudo para fazer de ti e da tua missão o tudo da nossa vida.

Deste-nos uma vocação que faz de nós uns privilegiados, porque escolheste por nós, como lugar para encontrar-te, os mais pobres, os afastados, aqueles que não contam aos olhos dos nossos contemporâneos.

«A esperança de que falamos – diz o Papa – não se funda nos números ou nas obras, mas n’Aquele em quem acreditámos» (2 Tm 1,12).

E nós queremos viver na esperança, não podemos fazer de outro modo, uma vez que fomos testemunhas da tua fidelidade, da tua confiança, do teu cuidado para connosco. Não nos assusta o amanhã porque sabemos que tu nos precedeste e preparaste um amanhã que será completamente diferente daquele que seríamos capazes de construir com as nossas forças e com os nossos meios.

Não temos medo de diminuir, de morrer, porque estamos convictos que onde estás presente a vida não pode senão sair vencedora e que serás sempre tu a escrever a bela história da missão que se tornará também a nossa.

Uma consagração nos pequenos e grandes pormenores

Quando se fala de consagração, gosto de dizer que nos referimos a uma experiência, a uma vida que levamos por diante nos pequenos e grandes pormenores da nossa existência, no quotidiano do nosso agir e no realizar o sonho que levamos no nosso coração como ideal que nos impele a ir sempre mais longe.

Gosto de dizer que ser consagrados não é senão aceitar com alegria que a nossa vida está nas mãos d’Aquele que nos faz viver. É aceitar que somos propriedade do Senhor, que somos ou nos estamos tornando dom de Deus para a humanidade.

Quantas vezes ouvimos dizer que o consagrado ou a consagrada são pessoas que livremente aceitaram renunciar a tudo para permitir a Deus realizar o seu sonho de amor pela humanidade.

É belo pensar assim, porque nos ajuda a compreender que a consagração não é uma obra que surge da nossa vontade ou das nossas capacidades, mas uma experiência de grande liberdade, de generosidade e sobretudo de profunda docilidade.

Que quer dizer consagrados a Deus?

Consagrar-se a Deus quer dizer educar o nosso coração a viver sempre aberto e disponível ao que Ele quiser de nós. Neste sentido, consagração é sinónimo de abandono, de obediência e de coragem, porque com o Senhor sabe-se onde começa a aventura, mas não se sabe até onde nos levará.

Falar de consagração significa entrar num mundo em que os nossos parâmetros deixam de funcionar, porque se entra no mundo do mistério de Deus, que rompe todas as nossas lógicas e os nossos cálculos e inverte tudo, tornando-se Ele o protagonista da nossa história e o senhor da nossa existência.

E aqui vêm-nos em mente tantas frases do Evangelho: «Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos chamei» (Jo 15, 16); «Este é o meu filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado» (Mt 3, 17).

Quanta energia ressoa na mensagem de Paulo, quando recorda como foi escolhido e como, no seu ministério de apóstolo, pôde constatar que «Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio» (Rm 8, 28).

Então, a pergunta que surge espontânea é muito simples: quem é, no fundo, aquele que se consagra?

Quantas vezes, na nossa vida, teremos de reconhecer que seguimos em frente porque o Senhor não recuou? Até que ponto nos daremos conta de que não foram as nossas qualidades, os nossos méritos ou as nossas virtudes a ter-nos tornado merecedores do dom da escolha que o Senhor fez connosco?

Temos uma grande responsabilidade em manter e fazer crescer a graça recebida desde o dia em que respondemos sim ao Senhor. Teremos sempre presente que Deus chama e não muda de opinião com o passar do tempo? A que fidelidade nos desafia?

O testemunho de São Daniel Comboni

«Necessitando extremamente da ajuda do Sagrado Coração de Jesus, soberano da África Central, o qual é a alegria, a esperança, a fortuna e tudo para os seus pobres missionários, dirijo-me a si, amigo, apóstolo e fiel servidor desse Coração divino, tão cheio de caridade pelas almas mais desventuradas e abandonadas da Terra.

Oh, que feliz sou de passar meia hora consigo para encomendar e confiar ao S. Coração os interesses mais preciosos da minha laboriosa e difícil missão, à qual consagrei toda a minha alma, o meu corpo, o meu sangue e a minha vida!» (Escritos 5255-56).

A consagração do comboniano, para ser verdadeira e fonte de felicidade, procurará sempre responder a esta clara convicção de Comboni, isto é, deverá ser consagração que nasce da experiência do amor que brota do Coração de Jesus. O Coração de Deus que amou tanto a humanidade e que não teve dúvidas em consagrar-lhe o seu filho, o único, por amor.

É deste amor que brota e se alimenta a nossa consagração. É e será sempre deste Coração aberto que poderemos receber a luz e a força para viver somente para Deus e para a sua obra. É do Coração de Jesus que devemos aprender como ser homens de Deus, que encontram a sua alegria em servir a missão com um coração indiviso.

Será sempre o Coração de Jesus que nos ajudará a olhar o futuro sem cair no desânimo, na tristeza ou desilusão, porque do Coração de Deus brotam sempre coisas novas para o bem de todos aqueles que se abrem ao amor.

Como Comboni, temos de aprender a não recear perante as dificuldades da missão que somos chamados a viver. Será sempre uma obra laboriosa e difícil, mas não podemos esquecer que se trata da missão de Deus e não da nossa. É a missão do Senhor, na qual nós somos chamados a ser simples colaboradores, mediações do seu amor.

Como o nosso santo fundador, também nós somos convidados, chamados a viver até ao fundo o dom da vocação missionária aceitando consagrar toda a nossa alma, tornando-nos homens de fé profunda, aceitando com alegria dar testemunho através da nossa pobreza, da nossa castidade e da nossa obediência, e procurando sempre criar ambientes de profunda fraternidade.

Também para nós, o grande desafio da consagração será a disponibilidade a viver sacrificando tudo pelos outros, por aqueles que encontraremos na missão. Isto quer dizer também aceitação do martírio, que nos pedirá fecundar o coração dos nossos irmãos com a nossa vida entregue no quotidiano da existência, no serviço humilde e escondido, na aceitação alegre da renúncia de nós mesmos para permitir a Deus manifestar o seu amor.

Só educados nesta escola de amor que é o Coração de Jesus, seremos capazes de viver em total liberdade a opção pelos mais pobres e dar um rosto ao amor de Deus, através da construção de um mundo mais justo, mais solidário, mais respeitoso e capaz de gerar aquela felicidade que todos temos no coração como o único anseio da nossa vida.

Pedimos a graça de nos tornarmos consagrados alegres e felizes porque portadores no coração do tesouro daquele amor que brota do Coração trespassado do Senhor que São Daniele Comboni descobriu como fundamento sobre o qual construir a sua missão e ao qual se entregou sem limites.

Que a confiança no Coração de Jesus se torne também para nós fonte perene de um amor que nos ajude a viver a nossa consagração como o dom mais belo que nos tenha sido concedido.

Boa festa do Sagrado Coração.
P. Enrique Sánchez G. mccj
Superior Geral

 

Nas pegadas de Jesus – Retiro espiritual nas ruas da cidade de Berlim

BerlinDe 13 a 17 de Maio, três jovens alemãs do pequeno grupo dos Leigos Missionários Combonianos (LMC) da Alemanha, puseram-se a caminho de Berlim, para fazerem a experiência de um retiro espiritual, caminhando pelas ruas da cidade. Uma delas, a Barbara Ludewig, conta-nos: “Ao início, estávamos muito ansiosas. Como será isso? Hoje, cheias de gratidão, podemos dizer que valeu a pena. Fomos acompanhadas carinhosamente pelo jesuíta Christian Herwartz e pela irmã comboniana Margit Forster. Cada uma de nós fez a sua experiência pessoal, marcante, indo para lugares especiais que nos deram a possibilidade de nos encontrarmos com Deus de um modo muito particular: no cárcere, nos lugares de venda de drogas, no ponto de encontro dos sem-tecto, nas praças turísticas do centro da cidade… Enfim, como Moisés, tiramos as nossas sandálias dos pés (as sandálias do medo, dos preconceitos, dos julgamentos) e nestes ‘lugares sagrados’ encontramos Deus nas pessoas de uma maneira nova. Infelizmente, tínhamos de voltar para casa. Foi uma experiência breve, mas muito rica. Obrigada!”

Barbara Ludewig (LMC – Alemanha).

[Portugal] Vivemos o chamamento à missão como cristãos movidos pela fé e não pelo trabalho

LMC PortugalNa passada sexta-feira dia 22 de maio teve início mais um encontro dos formandos dos LMC na casa de Viseu. O tema desta unidade formativa foi, Leigos na Igreja – Espiritualidade laical e missionária, apresentado pelo Carlos Barros.

Começamos por ver um filme que muito me tocou “Selma a marcha da liberdade” o qual relata a luta que Martin Luther King teve que travar para ser concedido o direito ao voto a todas as pessoas, que termina com uma marcha épica desde a cidade de Selma até Montgomery, no Alabama, e que levou o presidente Lyndon B. Johnson a assinar a Lei dos Direitos de Voto em 1965.

No sábado o Carlos começou por nos falar sobre Espiritualidade, muito foi dito mas algumas das frases que mais me marcaram foram “espiritualidade é um caminho com Deus”, “é um namoro com Cristo”, é a “vida alimentada com Cristo”. A Espiritualidade cristã não é só de alguns, é um estilo de vida…

Tivemos a oportunidade de refletir sobre a identidade dos LMC através dos artigos 4º e 5º do diretório, onde nos foi pedido que pensássemos sobre algumas questões:

  • Como é que eu interpreto a minha espiritualidade à luz destes artigos do directório LMC?
  • Ao longo desta caminhada formativa já fui ganhando consciência sobre alguns aspetos que constam nestes artigos?
  • Existem alguns pontos nestes artigos, cuja finalidade eu considero que ainda não consigo alcançar? Quais? E Porquê?
  • Pensas que um dia será possível orientar a tua vida pelos princípios que constam nestes artigos?

Durante a manhã de sábado tivemos ainda a surpresa de sermos visitados pela recém chegada da missão Palmira Pinheiro – Missionária Secular Comboniana, que partilhou connosco um pouco da sua vida na missão.

LMC PortugalApós o almoço, que foi muito agradável e com as energias reforçadas, foi tempo de voltarmos ao trabalho. O Carlos continuou a falar de espiritualidade mas mais concretamente de Espiritualidade Laical onde nos falou do papel dos Leigos na Igreja, e sem dúvida alguma que seguir Jesus é “uma tarefa exigente e comprometida”, temos que ter um papel activo, estarmos disponíveis para SERVIR e não para ser servidos, há que ser radicais para assumirmos que “vivemos o chamado à missão como cristãos movidos pela fé e não pelo trabalho”.

Durante a oração da tarde reflectimos sobre “Ide também vós para a Minha vinha” onde Jesus convida a fazer parte da vinha d’Ele não apenas os religiosos ou religiosas mas sim todos os fiéis leigos, todos os batizados pois estamos todos unidos pelo Batismo. Cada um de nós é parte da Igreja, quando alguém não está presente, a igreja fica mais pobre.

Jesus convida-nos ainda a viver uma vida diferente enquanto Leigos, convida-nos a vivermos desapegados dos bens materiais, dos laços familiares (que é para mim o mais dificil de pensar ou sequer imaginar…) e termos a coragem de ir… de não termos medo de dizer “Sim Pai, aqui estou…”

Ao final do dia fomos mais uma vez presenteados pelo testemunho do Pe. Ginno Pastor que nos chegou através do Skype (as novas tecnologias fazem maravilhas como esta), onde ouvimos falar sobre a sua experiência na missão, sempre em Moçambique, e notava-se perfeitamente que o Pe. Ginno falava desta com muito amor. O seu sorriso ao falar da missão, as suas palavras transpiravam amor pelo próximo, pelo mais pobre pelo mais necessitado, é um exemplo vivo de quem foi pobre com os pobres, alguém que foi sem dúvida um deles enquanto viveu na missão… A frase que mais me tocou no seu testemunho foi “o sorriso do outro paga tudo 🙂 ”.

Já a noite ia longa e como era uma Grande Noite, Noite de Pentecostes, fizemos uma pequena vigilia onde cada um de nós pode partilhar o “ser Igreja” escrevendo num bago do cacho de uvas quando é que nos sentiamos Igreja… “Sou igreja quando…” …

No domingo pela manhã participámos na Eucaristia com a comunidade de Viseu, e foi muito bonito poder sentir a presença do Espírito Santo… foi um momento muito especial. Senti mais uma vez a vontade se ser Radical, ser diferente e de fazer o que faço pela fé e não por obrigação, como alguém dizia “ Se for de interior e não de obrigação isso se reflecte”. Há que acreditar como nos dizia o Papa João Paulo II “Cristo não tira nada, só dá” e é com a certeza desse amor por nós, que continuo empenhada enquanto cristã… e espero a cada dia conseguir dizer ao Senhor “Eis-me aqui…

Andreia Martins (candidata LMC)

“Comboni: Deus, a Cruz e a Missão”

PortugalNos dias 17 a 19 de Abril, decorreu em Viseu a 8º Unidade do percurso formativo dos LMC em Portugal. A formação foi subordinada ao tema:  “Comboni: Deus, a Cruz e a Missão”, apresentado entusiasticamente pela nossa Irmã Carmo Ribeiro. Neste encontro participaram O Carlos, LMC, a Andreia, a Carolina, o Flávio, a Marisa, a Neusa, a Patrícia e a Paula, formandos LMC.

Fomos generosamente (e muito confortavelmente) acolhidos pela Comunidade de Viseu dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, a quem estamos muito gratos pela hospitalidade.

O pontapé de saída da nossa jornada foi o filme “A Missão” de 1986, um drama histórico dirigido por Rolland Joffé, que retrata um período da história da Evangelização junto dos Indios Guarani do Brasil.

Durante o dia de Sábado e a manhã de Domingo a Irmã Carmo guiou-nos na descoberta de Comboni, da sua vida e missão, inspiradoras por em tudo transparecerem Cristo: “Falar de Comboni, da sua vida e missão, é falar da sua experiência de Deus. Experiência essa que moldou, deu forma, sentido e direção a toda a sua vida. Vida que se tornou missão. A experiência de Deus é a vivência de Deus, deixar que Deus viva em nós, e antes de tudo, deixarmo-nos viver n’Ele.”

Foi na primeira pessoa que fomos conhecendo Comboni, através dos seus escritos que lemos paralelamente com as citações Bíblicas que o inspiraram.

O nosso itinerário passou pela descoberta dos pilares da vida e missão de Comboni que são também os pilares de toda e qualquer vocação Comboniana. Seguidamente apresento estes pilares citando os escritos de Comboni.

Portugal1ª Confiança em Deus

“O Senhor disponha como melhor Lhe aprouver, estamos em suas mãos e portanto bem guardados.” E 457

2º Momento Carismático: O amor de Cristo Trespassado de Cristo Bom Pastor

“O Católico habituado a julgar as coisas com a luz que lhe vem do alto, olhou a África não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé, e descobriu lá uma infinidade de irmãos, pertencentes à mesma família, que têm nos Céus um pai comum, ainda curvados sob o jugo de Satanás e à beira do mais horrendo precipício. Então levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana, sentiu que o coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus.” E 2742

3º O amor à Cruz

“Eu encontro-me mesmo no cimo do Gólgota mesmo no lugar onde foi crucificado o Filho Unigénito de Deus, aqui eu fui redimido.” E 39-43

“A cruz tem a força de transformar a África central em terra de bênção e de salvação”

4º Cenáculo dos Apóstolos

“Este instituto torna-se pois um cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao Centro da Nigricia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio.” E 2648

5º Maria, Mãe da Igreja e Mãe da África

“A ti devo, ó Maria, não ter ainda morrido, … Ó Maria mostra-te também rainha e mãe dos pobres negros, porque também eles são teu povo… Mostra-te Mãe!” E 1639-644

6º S. José

“S. José é sempre jovem, tem sempre bom coração e intenção reta e ama sempre o seu Jesus e os interesses da sua glória.”

“Somos os mais felizes da Terra, porque estamos nas mãos de Deus, de Maria e do bom S. José. “ E 5082

7º Oração

“Como a obra que tenho entre as mãos é toda de Deus, é com Deus especialmente com quem há que tratar todos os assuntos grandes ou pequenos da missão; por isso é da máxima importância que entre os missionários abundem sobremaneira a piedade e o espírito de oração.” E 3615

8º Sentido da Igreja, pertença

“Negar-me-ia a converter o mundo inteiro, se com a graça de Deus me fosse possível, quando não mediasse o mandato e a autorização da Santa Sé e dos seus representantes”.

PortugalApesar da riqueza destes dias, houve ainda tempo para dois encontros. Visitamos e fomos visitados. No inicio da tarde de Sábado fomos visitar a Comunidade das Irmãs Concepcionistas de Santa Beatriz da Silva, que partilharam a alegria e missão de uma vida totalmente entregue a Deus num silêncio habitado e fecundo (como alguém comentou: é bonito!). Na noite de Sábado, fomos visitados por duas irmãs missionárias combonianas, Irmã Lurdes Ramos e Irmã Guida Agostinho. A Irmã Lurdes Ramos partilhou connosco a sua experiência missionária junto dos povos indígenas da amazónia e mais tarde na ilha de Lampedusa. A exemplo de Comboni, vida tornada missão, esquecida de si, ferida para servir e amar os irmãos.

Por infeliz coincidência, nessa noite de 18 de Abril, no mar naufragava um barco de imigrantes a caminho de Lampedusa, sabemos a tragédia que se seguiu… naquela noite a Irmã fazia memória do drama dos que partem e arriscam a vida para poder viver e chegados a terra não têm com que viver. “Todos somos pessoas”, penso, que ainda hoje, na nossa oração não nos são indiferentes estes nossos irmãos… “sentiu que o coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus”…

Por fim, terminamos o nosso encontro celebrando a Páscoa, a glória de Jesus Ressuscitado; VIDA que brota do coração trespassado. “O meu Deus é um Deus ferido”, reconhecido por Tomé nas marcas do seu Amor por nós: “Meu Senhor e meu Deus!”

Patrícia

Viver o presente com paixão

mccj
Fr. Fernando Domingues

As reflexões que se seguem pretendem ser simples comentários ao segundo objectivo proposto pelo Papa Francisco na sua Carta Apostólica a todos os religiosos por ocasião do Ano da Vida Consagrada do passado mês de Novembro de 2014, a fim de ajudar-nos a viver como missionários combonianos o nosso tempo. “A paixão por um ideal, no nosso caso, a missão, está ligada ao entusiasmo. A paixão não se conquista de uma vez para sempre. É como uma planta que devemos cuidar e alimentar todos os dias. Por isso é preciso tirar proveito de iniciativas como a que propõe o Papa no Ano da Vida Consagrada, para rever como estamos a viver a nossa consagração e qual é a nossa ligação com o Evangelho, com o Instituto e com a missão”, escreve o P. Rogelio Bustos Juárez, mccj.

VIVER O PRESENTE COM PAIXÃO

“O passado que é memória e o futuro que é imaginação evocamo-los pelo presente”
(Santo Agostinho)

  1. A sequela de Cristo, como referência principal

Quando se fala de nascimento dos carismas, a história da vida religiosa ensina-nos que a primeira coisa da qual partiram os fundadores e as fundadoras foi o Evangelho. Pela leitura atenta da Boa Nova conheceram Jesus Cristo, receberam a Palavra e descobriram como podiam segui-lo. Alguns deram atenção ao Jesus taumaturgo que curava os doentes, outros ao Jesus Mestre que, com autoridade, ensinava coisas novas; nós fomos interpelados pelo Jesus itinerante que deve anunciar o Evangelho a todos os povos, porque para isso foi enviado.

Nasceram daí as Regras ou Constituições como base teórica para tornar viva a intuição carismática. Nas Regras de 1871, o nosso Fundador dizia: certamente um espírito humilde que ame sinceramente a sua vocação e queira ser generoso com o seu Deus, observá-las-á de coração considerando-as como o caminho traçado pela Providência, mas é importante dizer claramente que as Constituições, a Regra de Vida e as tradições de qualquer Instituto só conservam o seu vigor se e quando continuarem a inspirar-se nos valores evangélicos.

Por isso o Papa escreve: «A pergunta que somos chamados a fazer neste Ano é se e como nos deixamos interpelar pelo Evangelho; se este é verdadeiramente o vade-mécum para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer. Isto é exigente e pede para ser vivido com radicalismo e sinceridade. Não basta lê-lo (embora a leitura e o estudo permaneçam de extrema importância), nem basta meditá-lo (e fazemo-lo, com alegria, todos os dias). Jesus pede para pô-lo em prática, para viver as suas palavras.

Não tenho a certeza se, depois de termos concluído a nossa formação de base, todos tomamos a sério a nossa formação permanente. Hoje fala-se de sociedade líquida e amor líquido (cf. Z. Bauman) para aludir àquela rapidez com que estamos a mudar o mundo, a sociedade, a Igreja e a vida religiosa.

O Evangelho é a fonte que, com o seu dinamismo e a sua actualidade, pode indicar-nos caminhos sobre os quais orientar os nossos passos. A propósito, um instrumento útil pode ser o terceiro capítulo da Evangelli gaudium (n. 111-173) na qual o Papa Francisco nos convida a rever o modo como nos abeiramos da Palavra e a anunciamos.

Mas não é suficiente ser peritos em teologia bíblica ou bons pastoralistas se não formos capazes de pôr em prática o que anunciamos. Somos convidados a rever o lugar que a Palavra ocupa na nossa vida; se ela é verdadeiramente aquele guia seguro ao qual recorremos diariamente e que pouco a pouco nos faz assemelhar ao Mestre.

  1. Conformar a nossa vida ao modelo do Filho
mccj
P Manuel Pinheiro. Peru

Se é Jesus Cristo que seguimos, ser-nos-á de ajuda reflectir sobre a segunda parte do nosso nome, «do Coração de Jesus», porque nos permitirá aprofundar a nossa identidade. Quando em 1885, através de D. Sogaro, a Santa Sé nos concedeu ser congregação religiosa, fomos chamados: Filhos do Sagrado Coração de Jesus. Em 1979 chegou-se à reunificação e renascemos com o nome de Missionários Combonianos do Coração de Jesus. É interessante o facto de se ter mantido a referência ao Coração de Jesus.

O Papa Francisco na sua carta advoga que se o Senhor é o nosso primeiro e único amor, poderemos aprender dele o que é o amor e saberemos como amar porque teremos o seu próprio coração, isto é, identificar-nos-emos com Ele. Foi isso mesmo que meditaram e partilharam connosco alguns Padres da Igreja.

Santo Ireneu, por exemplo, fala de «Jesus Cristo que, pela superabundância do seu amor, se tornou aquilo que somos nós para fazer de nós o que Ele é» (Contra as heresias, Prefácio do livro V).

São Gregório Nazianzeno desenvolve um outro aspecto: «Pela minha condição terrena, estou ligado à vida cá de baixo, mas sendo também uma partícula divina, trago em mim este desejo da vida futura».

O homem não é apenas ordenado moralmente, regulado por um decreto sobre o divino, mas é ghenos, da estirpe divina, como diz São Paulo, é «estirpe de Deus» (Act 17, 29).

Santo Atanásio, no Tratado sobre a Encarnação do Verbo, afirma que o Logos divino se fez carne, tornando-se como nós, para a nossa salvação. E, com uma frase que se tornou célebre, escreve que o Verbo de Deus «se fez homem para que nós chegássemos a ser Deus; tornou-se visível corporalmente para que tivéssemos uma ideia do Pai invisível, e suportou a violência dos homens para que herdássemos a incorruptibilidade» (54, 3).

O nosso Fundador, São Daniel Comboni, fazendo sua a espiritualidade do seu tempo, soube responder aos desafios da missão inspirando-se na espiritualidade do Sagrado Coração, ampliando o seu significado, dando-lhe um cunho mais social e missionário.

Resumindo, se aqueles que aprovaram o nosso nome julgaram oportuno e necessário incluir nele a referência ao Coração de Jesus, é pois necessário que nos identifiquemos cada vez mais com os seus sentimentos e o traduzamos em atitudes. Seguimos Jesus não de um modo qualquer, mas esforçando-nos por ser «cordiais» no nosso modo de agir, de ser reflexo e expressão dos sentimentos do Filho de Deus. Tudo isto tem consequências na vida pessoal e comunitária. A ponto de fazer de nós parábola existencial, sinal da presença do próprio Deus no mundo (Cf. Vida Consagrada n. 22).

  1. Fiéis à missão a nós confiada

O terceiro ponto convida-nos a rever a nossa fidelidade ao mandato que recebemos dos nossos fundadores. Uma intuição carismática é, ao mesmo tempo, dom e responsabilidade. Dom, porque não fizemos nada para o receber através da pessoa e do trabalho dos nossos fundadores, que todavia foi reconhecido pela Igreja, pelo que temos a responsabilidade de não o desvirtuar nem alterar, mas ser os continuadores deste presente que nos foi colocado nas nossas mãos.

E aqui é possível fazer-se duas leituras: ou agarrar-nos ao pensamento e à obra do nosso Padre Fundador pretendendo, por fidelidade carismática, reproduzir sine glossa o que ele fez ou então agir de modo tal que tudo o que fazemos não se assemelhe de modo algum a quanto sugerido ou proposto pelos nossos fundadores e mover-nos em total liberdade, interpretando os novos desafios a nosso gosto e escrevinhando a herança que recebemos há 150 anos.

Julgo que seja bem evitar estes dois extremos. É necessário de facto receber a chama das mãos de quantos nos precederam conservando a lucidez para descobrir como devemos responder aos desafios do presente sem enfraquecer a originalidade carismática. Foi este, creio, o objectivo da Ratio Missionis e do trabalho de requalificação dos nossos empenhos sobre os quais o Instituto insistiu nos últimos anos.

O Papa Francisco exorta-nos a perguntar-nos, neste Ano da Vida Consagrada, se os nossos ministérios, as nossas obras e presenças respondem aos que o Espírito Santo pediu aos nossos fundadores. Numa palavra, convida-nos a viver numa atitude de discernimento constante para não errar e ser assim reflexo e expressão daquele carisma eclesial que recebemos.

  1. Ser peritos em comunhão
mccj
P Gino Pastore. Moçambique

Sendo assim e considerando o valor que tem para a nós a vida fraterna, seria oportuno que nos interrogássemos sobre a qualidade da nossa vida em comum. A este propósito, o nosso Fundador foi muito claro ao descrever as características do seu Instituto: «Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao centro da Nigrícia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios, que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessariamente a natureza do centro de onde procedem» (E 2648).

É interessante a imagem que São Daniel Comboni utiliza: «cenáculo de apóstolos». O cenáculo é a sala do piso superior, onde o Mestre confiou aos seus discípulos o que tinha no seu coração na véspera do mais alto gesto de doação. O estar juntos é aquela realidade que nos transcende e nos aproxima de Deus quando vivemos em comunhão com os irmãos. É também espaço de intimidade, onde podemos abrir o nosso coração aos companheiros de caminho e mostrar-nos como somos. Ali partilhamos aquilo que somos, descobrindo os nossos dons e limites e os de quantos vivem connosco. Teologicamente, a Trindade é o nosso modelo: três pessoas distintas mas um só Deus. Viver juntos ajuda-nos a partilhar os nossos dons e a acolher a riqueza de quantos vivem ao nosso lado. Somos diferentes, mas cultivamos e promovemos a unidade, através do respeito e da tolerância. Num Instituto internacional como o nosso, o desafio é maior mas não impossível.

Na imagem utilizada faz-se referência também à apostolicidade. Deste «cenáculo de apóstolos» sairão como que «raios» missionários solícitos e virtuosos para iluminar situações de obscuridade: o Papa fala de choques, de difícil convivência entre culturas diferentes, de prepotência sobre os mais frágeis, de desigualdade e poderíamos continuar com uma lista de situações que conhecemos e que encontramos pela frente no nosso serviço nas diversas partes do mundo, onde trabalhamos. A todas elas somos chamados a levar uma palavra de esperança e de encorajamento, iluminando as obscuridades e partilhando uma experiência de fraternidade, fruto da comunhão que experienciámos. E não basearemos a força e a eficácia da nossa vocação missionária sobre os recursos materiais que podemos levar à missão, mas sobre a disponibilidade a partilhar a experiência autêntica de Deus que temos e sobre a dose de humanidade que podemos transmitir. A qualidade da vida missionária dependerá do tempo que estivermos dispostos a dedicar às pessoas marginalizadas da sociedade. O nosso lugar, como missionários – e isto reconhecem-no-lo a maior parte das Igrejas locais – é onde há tensões e desconfianças, onde há situações que são contrárias à condição humana. É aí que devemos levar a presença do Espírito, procurando dar testemunho de unidade (Jo 17, 21), como nos recorda o Papa.

Tudo isto traduz-se num estilo próprio que deve ser de escuta, de diálogo e de colaboração com as pessoas com quem entramos em contacto. Até podemos ser pessoas dinâmicas e capazes, mas se não soubermos trabalhar em grupo, dificilmente daremos testemunho do amor trinitário sobre o qual se funda a vida comunitária. As diferenças não devem impedir-nos de dar testemunho de unidade perante a Igreja e o mundo.

  1. Apaixonados pelo Reino

Uma última consideração: seguir Jesus, desejar assemelhar-se ao seu coração, permanecer apaixonados pela missão e ser construtores – e não meros consumidores – de comunidade, será possível na medida em que mantivermos sempre viva a paixão pelo Reino. Se virmos bem, muitos de nós manifestam uma certa dose de irresponsabilidade pelo modo como administramos o tempo e os bens que chegam às nossas mãos. Se perdemos o contacto com as pessoas, será difícil imaginar as carências que vive a maior parte da nossa gente. Na carta, citando João Paulo II, o Papa Francisco afirma: «A mesma generosidade e abnegação que impeliram os Fundadores devem levar-vos a vós, seus filhos espirituais, a manter vivos os seus carismas que, continuam, com a mesma força do Espírito que os suscitou, a enriquecer-se e a adaptar-se, sem perder o seu carácter genuíno, para se porem ao serviço da Igreja e levarem à plenitude a implantação do seu Reino».

Porque é que alguns dos nossos candidatos perdem o entusiasmo inicial quando fazem parte do Instituto? Porque é que para muitos de nós é tão fácil deixar de ser combonianos, quando surgem dificuldades ou desacordos? Porque nos é cada vez mais difícil obedecer e responder aos desafios que se nos apresentam? Porque é diminuta a nossa paixão pelo Evangelho e por tudo aquilo que diz respeito á missão? Porque é que tantos vivem como reformados antes do tempo? Não será porventura porque negligenciamos algumas referências fundamentais ligadas à nossa identidade, pelo que saímos do caminho e perdemos a rota?

A paixão por um ideal, no nosso caso, a missão, está ligada ao entusiasmo. A paixão não se conquista de uma vez para sempre. É como uma planta que devemos cuidar e alimentar todos os dias. Por isso é preciso tirar proveito de iniciativas como a que propõe o Papa no Ano da Vida Consagrada, para rever como estamos a viver a nossa consagração e qual é a nossa ligação com o Evangelho, com o Instituto e com a missão.
P. Rogelio Bustos Juárez, mccj