Leigos Missionários Combonianos

O papel ministerial do irmão

Joel Cruz
Joel Cruz

ENCARNAÇÃO DA PALAVRA, FRATERNIDADE E PROMOÇÃO HUMANA

O Irmão Joel Cruz Reyes, comboniano mexicano, trabalhou cerca de 12 anos no Equador. Aqui, conta-nos a sua experiência missionária, destacando as características do ministério do Irmão a partir da promoção humana que tem como fundamento a Palavra.

1. Encontro com a missão

Em 1997, cheguei ao Equador, para ir trabalhar no Centro Cultural Afro-Equatoriano, na cidade de Guayaquil. Nessa altura, o acompanhamento dos afrodescendentes girava em torno da religiosidade, da formação litúrgico-sacramental e sociopolítica, com o objectivo de os tornar social e eclesialmente visíveis. Com esta finalidade, procurava-se o apoio de especialistas leigos em psicologia, antropologia, sociologia e política.

Pelo comportamento, pelas atitudes e motivações que percebi nos Afros que vinham ao Centro, dei-me conta que a sua dependência do missionário era crónica. Tinham-se habituado a considerar-se material, espiritual e moralmente indigentes. Certamente, este comportamento era o reflexo das sombras da sua história que se reflectiam no presente, mas também era consequência da visão paternalista de quem os acompanhavam. Esta realidade impedia-os de crescer humana e espiritualmente, reduzindo-os mais à condição de objecto do que de sujeitos, desde o ponto de vista eclesial e social.

2. Entender e iniciar processos

Pouco a pouco, fui compreendendo que estes processos, embora fossem muito bons, estavam desligados da fé e da Palavra, como se a regeneração do ser humano afro fosse apenas um problema humano e social. Dei-me conta de que os processos não chegavam à compreensão do afrodescendente como filho de Deus, imagem e semelhança d’Ele, esculpido pela história, por circunstâncias sociais e eclesiais adversas, sim, mas no fim de contas um ser humano pensado, querido por Deus e com uma missão específica na Igreja, na sociedade e no mundo.

Os resultados eram lógicos porque, por um lado, o acompanhamento piramidal herdado pela tradição pastoral predominante na Igreja tornava-os objecto dependentes da acção do sujeito que era o missionário. Por outro lado, a intervenção de especialistas leigos sem uma visão religiosa, de fé e desligados da Palavra de Deus, não podia oferecer mais do que uma forma de ver o afrodescendente e a sua história, como um problema pessoal e social. Não se viam a si próprios como seres humanos, mas como um problema social e um objecto de abuso, de maus tratos e de exclusão. Estavam convencidos de que eram apenas vítimas e não seres humanos com uma responsabilidade eclesial e social.

3. Presença que partilha a vida

Quando comecei a caminhar com eles, percebi que a presença do Irmão que, pela sua natureza vocacional, está despojado do sagrado (do sacramento da ordem), pouco a pouco vai arredondando a pirâmide relacional nas estruturas culturais, sociais e eclesiais, até consolidar a circularidade da fraternidade ministerial querida por Jesus. O Irmão, precisamente por ser religioso, é capaz de contemplar a humanidade das pessoas que acompanha e de pôr essa humanidade em movimento (promoção humana) na Igreja e na sociedade.

Compreendi que o Irmão é uma ponte entre a ciência e a fé, entre o Evangelho e a sociedade, entre a Igreja e o mundo, entre a vida religiosa e a secular, entre o ministério sacerdotal e laical. Sem a sua presença, muitas vezes, os processos tornam-se polarizadores: de um lado, o litúrgico-sacramental, e do outro, o político-social. E o Irmão tem um pé em cada extremidade. Portanto, o Irmão é capaz de equilibrar os processos de evangelização e de fazer com que o ser humano não veja a sua história como uma tragédia humana sem Deus, mas sim uma história sagrada de salvação, onde Deus não só está presente como também se faz carne e assume as causas do ser humano como suas.

4. Os milagres da fraternidade

O Senhor deu-me a oportunidade de ver os milagres da fraternidade que brotam da consciência de saber que somos todos irmãos e irmãs, filhos do mesmo Pai; com a mesma dignidade e responsabilidade missionária de Cristo e, por isso, entendendo-se como o Corpo Negro de Cristo nessa sociedade discriminatória e exclusiva que tanto ofuscou a Igreja nesse contexto. Deu-me a oportunidade de experimentar o poder libertador deste tornar-se mais um entre eles, de não ter medo de rebaixar-se, tal como Jesus, e de procurar com eles os caminhos, as respostas e as soluções.

Este estar entre os afrodescendentes como companheiro de viagem, e não como guia ou mestre, fez com que as pessoas começassem a saborear e a gostar da comunhão e da participação, a compreender o valor e o poder do cenáculo de apóstolos, sonhado por São Daniel Comboni. Assim, nasceu a Fraternidade dos Missionários Afro-Equatorianos, o Caminho Bíblico Afro, processos de etno-educação e recreação cultural num contexto urbano, organizações e associações afro com objectivos culturais e sócio-políticos, e a pastoral da juventude afro.

O caminho fraterno com os Afros permitiu-me constatar como o objecto foi transformado em sujeito social e eclesial. E tudo começou quando eles se descobriram como seres humanos, filhos de Deus, missionários do Pai. E esta consciência semeia-se vivendo com eles, discutindo com eles, como Jesus fez com os seus discípulos: na estrada, na casa, na festa, nos seus lugares… conversando, respondendo a preocupações, explicando, partilhando sem pressa, sem lugares fixos… muitas vezes longe do templo.

Esta consciência semeia-se vivendo com eles, discutindo com eles, como Jesus fez com os seus discípulos: caminhando, em casa, nas festas, por toda a parte… conversando, respondendo às inquietações, explicando, partilhando sem pressa, sem lugares fixos… muitas vezes longe do templo.

Tendo experimentado o poder regenerador da fraternidade no ser humano, fez-me pensar e imaginar o Irmão Missionário Comboniano como uma parteira de ministérios laicais que vão para além das estruturas do templo e das questões religiosas. De uma ministerialidade que toca as realidades humanas e sociais; como companheira daqueles ministérios que nascem com uma projecção secular, a fim de lhes infundir o Espírito e possam ser a força transformadora de Deus na sociedade.

O caminhar com as pessoas fez-me reconhecer como um Irmão religioso, ou seja, um perito em estabelecer a profunda ligação entre o mundo e Deus, entre a carne e o espírito, entre o humano e o divino. Um especialista em ajudar o ser humano a conceber a Deus como um cidadão que actua naquele meio social em que se encontra, através do ser humano que se reconhece a si próprio como a sua presença.

5. Questionamentos olhando para o futuro

Como assegurar que a fraternidade que promove a humanidade das pessoas se fortaleça e não termine diluída na tradição evangelizadora que olha mais para o litúrgico-sacramental? Como tornar mais visível e significativo o ministério da encarnação da Palavra nos ministérios que tocam as questões humanas e sociais no Instituto, na Igreja e na sociedade? Estas perguntas encontrarão a resposta na proposta feita por São Daniel Comboni de estabelecer Centros de Formação onde o africano não se alteraa e o missionário não morre.

Esta estratégia pareceu-me ser a mais apropriada para a realidade numérica e dispersa do Irmão no Instituto e, assim, poder pensar numa figura física que acompanhe o ministério do Irmão, o identifique, o defina e o torne mais compreensível. Por isso, tal como o padre se relaciona com a imagem da paróquia, uma estrutura que explica e torna compreensível o seu ministério, assim também comecei a imaginar uma obra que pudesse revelar toda a força ministerial da fraternidade no Instituto. Assim nasceu a ideia das Obras Combonianas de Promoção Humana (OCPHs) e o Centro Cultural Afro-Equatoriano de Guayaquil tornou-se a primeira destas obras.

Para a reflexão pessoal e comunitária:

  1. O que é que me chama mais à atenção nesta experiência religiosa? Porquê?
  2. O que suscita em mim esta experiência? Porquê?
  3. O que é que nos diz a nós mesmos como comunidade?
  4. Que parte ou partes desta experiência podem iluminar o trabalho paroquial ou projectos missionários nas nossas comunidades/missões?

PARA APROFUNDAR O TEMA

Orientações do Papa Francisco e Bento XVI sobre a fraternidade

Reflexões retiradas do documento “Notas para uma espiritualidade missionária da fraternidade” do Irmão Alberto Degán.

Neste terceiro milénio, o Papa propõe uma missão fascinante: combater a “globalização da indiferença” através da construção da “globalização da fraternidade”.  Naturalmente, este é um apelo para todos os cristãos, mas, sobretudo para nós Irmãos, este apelo suscita, sem dúvida, um sentimento de alegria e reclama uma responsabilidade particular.

  • As duas primeiras mensagens do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz (em 2014 e 2015) são inteiramente dedicadas ao tema da fraternidade. “A fraternidade é o fundamento e o caminho para a paz”, diz-nos Francisco. De facto, a paz e a justiça não são apenas uma questão técnica de fazer mudanças estruturais para diminuir as desigualdades escandalosas que caracterizam o mundo de hoje, nem são apenas uma questão política. Paz e justiça são, acima de tudo, um desafio espiritual: só se nos sentirmos irmãos, filhos do mesmo Pai, é que as pessoas estarão prontas a fazer as mudanças e os sacrifícios necessários para dar vida a uma sociedade justa e fraterna. Como disse Francisco na mensagem Urbi et orbi no Natal de 2018, “sem a fraternidade que Jesus Cristo nos testemunhou, os nossos esforços por um mundo mais justo não iriam muito longe” (Salmo 84, 11-12).
  • O Papa Bento XVI propôs a fraternidade como princípio económico: “O desenvolvimento económico, social e político necessita, para ser autenticamente humano, de dar lugar ao princípio da gratuidade como expressão de fraternidade”, afirma na sua encíclica Caritas in Veritate (CV), n. 34. E acrescenta: “O grande desafio que temos… é mostrar… que nas relações comerciais o princípio da gratuidade e a lógica do dom, como expressão de fraternidade, pode e deve ter lugar na actividade económica ordinária” (CV 36). Bento XVI propõe que a lógica da fraternidade deve reconfigurar o nosso sistema económico.
  • Mais recentemente, o Papa Francisco dedicou toda a mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2014 ao tema da fraternidade: “A fraternidade, fundamento e caminho para a paz”. Os subtítulos das diferentes partes deste documento são: “Sois todos irmãos, (Mt 23,8)”, “A fraternidade, premissa para vencer a pobreza“, “A redescoberta da fraternidade na economia“, “A fraternidade extingue a guerra“, “A fraternidade gera paz social“, “A fraternidade ajuda a proteger e a cultivar a natureza“. Basta dar uma olhadela rápida a estes subtítulos para se entender que, para o papa Francisco, a fraternidade – longe de ser um conceito aleatório e romântico – é um princípio de fé muito concreto com inevitáveis implicações sociais, políticas e económicas. Segundo o Papa, a justiça social não pode ser construída se não cultivarmos primeiro um profundo sentido de fraternidade nos nossos corações.
  • A primeira parte deste documento intitula-se “Onde está o teu irmão? (Gn 4,9). Na Bíblia, esta é a segunda pergunta que Deus dirige ao homem, e isto significa que para Deus é uma questão fundamental. O ser humano, tal como foi concebido pelo nosso Criador, realiza a sua humanidade quando deixa o seu egoísmo e se preocupa com as condições de vida dos seus irmãos e irmãs, quando entra numa lógica de comunhão e fraternidade que o faz perceber que a sua vida só tem sentido se for vivida numa atitude de solidariedade para com os seus semelhantes. Por outras palavras, para Deus ser humanos significa ser e sentirmo-nos irmãos.
  • Jesus apresenta-se a nós como o “primogénito no meio de muitos irmãos” (Rom 8,29): a fraternidade é o caminho traçado por Deus para a realização da nossa humanidade. Como diz um provérbio africano: “Eu sou um ser humano porque tu és um ser humano”, ou seja: “Sinto-me bem e posso realizar a minha humanidade quando vejo que os meus irmãos também estão bem e podem realizá-la”. Mas na nossa sociedade prevalece a lógica oposta, a do velho adágio latino “Mors tua vita mea“, que significa: “A tua morte é a minha vida“; “só se eu te matar e tomar posse dos teus bens poderei viver feliz”.

Assim, não nos surprende que Helmut Maucher – presidente da multinacional Nestlé nos anos 80 e 90 – tenha mesmo dito que precisava de executivos com instinto assassino. Desta forma, como afirma o economista Hinkelammert, “a luta para matar o outro é vista como fonte de prosperidade e de vida”. Assim, o evangelizador propõe o modelo e a espiritualidade do homem-irmão contra o modelo e a espiritualidade do homem-assassassino.

Para combater a injustiça e a pobreza, precisamos de uma revolução espiritual, de uma espiritualidade de fraternidade que nos faça compreender que a derrota e a morte do meu irmão será também, mais cedo ou mais tarde, a minha derrota e a minha morte. Como disse Martin Luther King, “ou conseguiremos viver todos como irmãos ou morreremos todos como néscios”.

  • Na Evangelii Gaudium (n.186), Francisco afirma que o nosso amor pelos “mais abandonados da sociedade” depende “da nossa fé em Cristo que está sempre próximo dos pobres“. Sem dúvida, face a tantos desafios enormes, sentimo-nos frequentemente pequenos e impotentes: não temos respostas imediatas sobre O QUE FAZER. Mas Jesus dá-nos uma indicação muito clara sobre ONDE ESTAR: hoje, como ontem, Jesus “sempre perto dos pobres” chama-nos a estar PERTO DOS POBRES, PERTO DOS ÚLTIMOS.

O nosso Capítulo Geral de 2015 aceitou este convite do Papa e, por conseguinte, indicou como primeiro critério para requalificar os nossos compromissos o critério da “proximidade aos pobres” (DC’ 15, n.44.5). Este é um critério que para nós, os Irmãos Combonianos, tem um valor especial, porque o nosso Fundador nos via como aqueles que estão mais próximos das pessoas, porque passamos mais tempo com elas: Na África Central os irmãos artesãos bem preparados contribuem mais para o nosso apostolado que os sacerdotes para a conversão, porque os alunos negros e os neófitos (a maior parte dos quais, seja para aprender o ofício seja para trabalhar, há-de permanecer um espaço de tempo bastante longo com os «mestres» e os «especialistas», que com as palavras e o exemplo são verdadeiros apóstolos para os seus alunos) estão com os irmãos leigos e observam-nos e escutam-nos mais do que podem observar e escutar os sacerdotes.(E 5831).

Nota: Ver também a última encíclica do Papa Francisco “Fratelli Tutti” sobre a fraternidade e amizade social (3 de Outubro de 2020).

PARA A Oração pessoal

E o Verbo fez-se homem e veio habitar connosco. E nós contemplámos a sua glória, a glória que possui como Filho Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade.” (Jo 1,14)

Reflexões a partir dos encontros continentais de Irmãos na América:

  • No meio de uma mentalidade e tradição eclesial que aprisiona a Palavra de Deus nos templos, nos discursos teóricos e que dificilmente ousa ir além das estruturas eclesiais e tocar as questões humanas e sociais, insere-se a figura ministerial do Irmão Missionário Comboniano.
  •  A sua vocação de “fazer carne a palavra”, no contexto onde vive e convive, e para modelar o ser humano como filho de Deus e irmão de todos, leva-o a abrir caminhos e a tomar iniciativas que não se limitem às estruturas e tradições eclesiais, porque a “encarnação missionária da Palavra” vive-se em harmonia com os tempos e lugares onde se encontra.
  • O espírito fraterno de Deus leva-o à inserção na vida e no quotidiano das pessoas, pelo que é capaz de descobrir e resgatar a riqueza e experiência de cada pessoa e dos grupos humanos que acompanha missionariamente, com o objectivo de valorizar a Igreja e a sociedade e de promover o verdadeiramente humano dos povos por onde passa, como obra e revelação de Deus que deve ser conhecida, reconhecida, valorizada, assumida e proposta pela Igreja ao mundo.
  • A convivência fraterna com as pessoas, a partir da consciência e do espírito missionário, faz do Irmão um radar que capta os sinais, os ruídos, e os desafios que, naquele lugar e naquele momento, se estão a viver. Por isso, a sua palavra e o seu contributo são decisivos para o dinamismo, a criatividade e a actualização da missão comboniana.
  • O seu rosto fraterno evangélico e social, faz do Irmão uma ponte entre a sociedade e a Igreja, entre o secular e o religioso, entre os leigos e o clero. É precisamente por esta razão que se torna a face social do compromisso missionário da Igreja. Esta dimensão vocacional insere-o no núcleo da sensibilidade humana que procura solidariedade, justiça, paz, e um compromisso de transformação social. A sua vocação faz dele uma presença que fortalece a consciência e o espírito do ser humano a viver o Reino como justiça, paz, alegria (Rm 14, 17ss.
  • O papel do Irmão como pessoa consagrada e ministro de Cristo, então, é a edificação e o crescimento humano e cristão das pessoas e das comunidades, desde a perspectiva do Evangelho; pelo que, a sua acção não exclui o ministério da Palavra. A sua presença evangelizadora entre as pessoas enfatiza a dimensão da fraternidade em todos os seus aspectos: o desenvolvimento integral das pessoas, a promoção da justiça, da paz, dos direitos humanos… ou seja, o seu ministério toca directamente as questões sociais, antropológicas e culturais, na óptica do Reino de Deus.

PARTILHA COMUNITÁRIA
E PISTAS DE ACÇÃO

  1. Numa atmosfera de oração e escuta mútua, partilhemos em comunidade os frutos da oração pessoal.
  2. Reflitamos juntos:
    1. O que te faz pensar, tendo presente o que partilhámos e rezámos sobre o ministério do Irmão?
    1. A que é que o Espírito nos convida a nível pessoal, comunitário, de Província e de Instituto?
    1. Como é que podemos responder de maneira concreta aos apelos do Espírito?

“O ministério dos Irmãos, discípulos de Cristo fraterno, presta atenção à dimensão da fraternidade em todos os seus aspectos, incluindo o desenvolvimento integral das pessoas, a promoção da justiça, da paz e dos direitos humanos. É, portanto, um ministério predominantemente aberto às dimensões social, antropológica e cultural do Reino de Deus, orientado para a transformação social, o testemunho e a proclamação da fraternidade e a animação da comunidade cristã”.

SUGESTÕES PARA A CELEBRAÇÃO DA EUCARISTIA:

No momento do PAI-NOSSO, fazer um momento prolongado de silêncio para pensar na fraternidade que nasce de Deus.

Campanha sobre o impacto prejudicial da atividade mineradora sobre a saúde e o meio ambiente

Piquia
Piquia

Hoje, 29 de outubro, a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), juntamente a Justiça nos Trilhos, lançam uma campanha para alertar os cidadãos e cidadãs do mundo que inconscientemente consomem os produtos das empresas mineradoras e siderúrgicas que há mais de três décadas vêm deteriorando a saúde e poluindo o meio ambiente da comunidade de Piquiá de Baixo, na Amazônia brasileira.

A Campanha marca os 30 anos do Grupo Ferroeste no município de Açailândia e convida a todos a apoiar a luta pelos direitos desta comunidade, para a qual as empresas e o Estado fecharam os olhos durante tanto tempo.

Saiba mais: https://bit.ly/3kFKur8

Casa Familiar Rural de Açailândia: uma trajetória de lutas

CFR Brasil

Por Zé Luís Costa. Da Página do MST. (Editado por Fernanda Alcântara)

CFR Brasil

A Casa Familiar Rural (CFR) de Açailândia, no estado do Maranhão, foi constituída como associação, em 2001, depois que um pequeno grupo de pessoas militantes sociais se reuniu e começou a discutir formas de melhorar a questão da educação do campo para a realidade local.

De prontidão, entidades iniciaram a proposta da casa familiar e entraram nesse debate desse projeto político e social, como o MST, que estava recém instalado na cidade, a ordem religiosa dos combonianos, Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da cidade.

A experiência desse tipo de escola já é antiga no mundo, e no estado do Maranhão elas estão presentes em várias cidades diferentes. Em outras partes do mundo essa modalidade de escola é conhecida como “Escola Família Agrícola”.

A partir das primeiras discussões, as organizações interessadas realizaram vários encontros, inclusive em outras cidades dos arredores, como lembra Xoan Carlos (LMC). “Realizamos uma série de reuniões nas comunidades. Foram mais 60 reuniões nos municípios de Açailândia, São Francisco do Brejão, Itinga, Bom Jesus das Selvas. E então se constitui a associação”.

Ele continua: “A partir daí, conseguimos um terreno, cedido pela igreja católica. Porém, não tínhamos condições de construir o prédio, de pagar funcionários. Então foram mais alguns anos de luta e articulação na busca de projetos, e conseguimos alguns apoios internacionais”.

CFR Brasil

Posteriormente, em 2003, as organizações envolvidas na ideia conseguiram começar o que sonhavam para a cidade e entorno, tendo em vista a grande quantidade de assentamentos e comunidades rurais que tinham nas proximidades da cidade, hoje com 110 mil habitantes. Era um sonho para o distante futuro.

Os pioneiros da ideia conseguiram, com muita luta, parcerias com a prefeitura, como afirma Xoan Carlos. “Em 2005 iniciamos as primeiras atividades da CFR. Começamos com curso de ensino fundamental, a gente tinha conseguido estruturar várias unidades produtivas na agricultura, na apicultura, de criação de gado, porco… O governador Jackson Lago teve a intenção de fazer curso de ensino médio integrado à educação profissional, e aí iniciou-se um novo momento para a CFR”, conclui.

Com essas articulações, em 2006, iniciou-se o curso Nível médio, que foi se adequando melhor às necessidades dos jovens do campo. Principalmente porque, quando em 2001, muitas comunidades só tinham jovens com no máximo até quarta série. Essa era então a necessidade: uma escola com características diferentes das convencionais, para o campo.

Jarbe Firmino foi aluno da primeira turma da Casa Familiar Rural de Açailândia, e posteriormente entrou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Ele cursou Licenciatura em Educação do Campo e retorna à CFR, agora como monitor/professor, passando depois a ocupar cargo na instituição como coordenador geral.

Ele conta da experiência fazendo críticas à posição do poder público: “Essa experiência a qual me refiro, de coordenador, bem como em outros momentos, foi de grande dificuldade em termos de apoio do poder público. Foram períodos em que os contratos não eram cumpridos por parte do Estado, fragilizando o movimento do qual CFR faz parte”, encerra.

Após toda essa luta, veio o reconhecimento e conquistas. A principal delas foram a formação dos jovens em técnico em agropecuária para atuar nos assentamentos junto às suas famílias e em alguns órgãos do estado. Houve reconhecimento por parte do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, o CREA, para que pudessem trabalhar de formas oficiais prestando assistência técnica em projetos.

Entretanto, o desejo da coordenação e do grupo que organiza a associação e a CFR é que os alunos, formados, trabalhem com as suas famílias desenvolvendo o que eles aprenderam, nas propriedades familiares, como a maioria são de assentamentos da reforma agrária.

CFR Brasil

A CFR é administrada por uma associação, e atualmente o presidente é Xoan Carlos. A coordenação é escolhida pela associação e tem dez professores que são contratados pela Secretaria de Estado de Educação do Maranhão.

História das Casas Familiares Rurais

As Casas Familiares Rurais tiveram origem na França, em 1935, numa situação de forte êxodo rural, quando um grupo de famílias, com o apoio da igreja católica, reuniu-se para repensar essa situação. Chamaram-no de “Casa” para diferenciar da escola convencional e porque começou na casa de uma família; “Familiar” porque era uma organização das famílias e não do governo; e “Rural” porque o objeto da experiência era no meio rural na sua globalidade: técnica, humana, cultura, etc.

Hoje, na França, existem 450 CFRs. A partir dos anos 60, a experiência alastrou-se pela Espanha e a Itália com o nome de “Escola Família Agrícola”. Existem cerca de 1.000 CFRs nos cinco continentes, em trinta países.

No Brasil, as CFRs começaram a surgir no final dos anos 60, existindo na atualidade uns 150 centros educativos rurais que funcionam usando a “Pedagogia da Alternância”. No Maranhão são aproximadamente 27 escolas com esses princípios formativos. A pedagogia da alternância desenvolvido dentro dos métodos de Paulo Freire, em uma construção da formação técnica, é unida com a formação para a vida, no caso de Açailândia, amplia a parceria nas lutas por um modelo de agricultura diferenciado.

CFR Brasil

Cultive um sonho

Ezequiel

Terminamos esta série de vídeos com os quais acompanhamos os 35 anos do martírio do padre Ezequiel Ramin. Nesta ocasião, os Leigos Missionários Combonianos do Brasil nos incentivam a cultivar e seguir um sonho na vida, como o Padre Ezequiel incentivou.

Sejamos fiéis à nossa vocação e sejamos corajosos. Que o exemplo do P. Ezequiel e de outros mártires da América Latina nos dê força e coragem para mudar as injustiças do mundo caminhando ao lado dos povos que a sofrem.

Recebamos a vela em nossas mãos e deixemo-la iluminar nossa caminhada.

Família Comboniana em Missão

Romaria com Testemunho da irmã Dina e Carta do P Ezequiel

Ezequiel

Enquanto celebramos os 35 anos do martírio do Servo de Deus, padre Ezequiel Ramin, a Ir. Dina Siquiera, missionária comboniana, partilha seu testemunho de vida e vocação e a Miriam lê uma das cartas do padre Ezequiel Ramin: “A situação está esquentando. A 25 de julho passado, a igreja católica organizou o Dia do Trabalhador. Entre cortejos, bandas e procissões, esperava-se ter promovido qualquer coisa. Em Cacoal, diante dos nossos olhos, a polícia prendeu o presidente do sindicato rural, um agricultor com a 2ª Classe. Fomos forçados a ir protestar com o perigo de sermos presos. Em Aripuanã, um lugar aqui perto, a polícia disparou durante a procissão. O bispo ia à frente. Três feridos, dos quais um muito grave. O carro da paróquia ficou que nem um crivo. Está se pedindo a reforma agrária. É evidente a reação de quem tem 10.000 hectares de terra! Mas o Senhor sempre nos protege e isto é suficiente.”

Família Comboniana em Missão