Leigos Missionários Combonianos

Romaria do Servo de Deus Pe Ezequiel Ramin – 2020

Ezequiel

“Mártir da terra e do sonho de Deus! Memória dos 35 anos de seu martírio! ”

Ezequiel

No dia 24 de julho de 2020 celebraremos 35 anos de memória do martírio do Servo de Deus padre Ezequiel Ramin, missionário comboniano, morto em Rondônia por defender a vida de Povos Indígenas e famílias sem terra.

Este ano não será possível celebrar a Romaria de padre Ezequiel como sempre fazemos em Cacoal/RO e Rondolância/MT, com muita gente por conta do COVID 19.

O COVID ao mesmo tempo nos chama a prudência e a solidariedade, especialmente com os territórios mais ameaçados, com a Amazônia querida, os Povos Indígenas e as populações originárias. Assim celebraremos esta Romaria no compromisso com eles, de forma diferente, envolvendo muito mais gente no Brasil todo.

Teremos ao longo dos dias uma programação com diversas atividades que serão transmitidas ao vivo, sempre no horário das 20h (de Brasília) e pelo canal do youtube Combonianos.Brasil. Além de vídeos diários com testemunhos em memória de pe Ezequiel Ramin.

Estamos juntos nesta Romaria de padre Ezequiel que vai se espalhar pelo Brasil todo. Caminhemos em defesa da Vida! Em defesa da Amazônia!

Programação:

Dia 19/07 ás 20h – Vigília Missionária Vocacional em Memória a pe Ezequiel Ramin.  Escolasticado Internacional Comboniano /SP

Dia 20/07 ás 20hRoda de Conversa com Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho/RO e presidente do CIMI, com a CPT/RO e padre Dario Bossi, Missionário Comboniano.  “35 Anos do Martírio de padre Ezequiel Ramin: Testemunho profético em defesa dos Povos indígenas e famílias sem terra”.

TRÍDUO EM MEMÓRIA a padre Ezequiel Ramin:

DIA 21/07 – ás 20h  – 1º dia do Tríduo (da Comunidade de Curitiba/PR)

Dia 22/07 – ás 20h  –  2º dia Tríduo (da Comunidade de Contagem/MG)

Dia 23/07 – ás 20h  – 3º dia do Tríduo (da Comunidade de Piquiá/MA)

Dia 24/07 – ás 20h – Celebração eucarística em ação de graças por padre Ezequiel Ramin e como compromisso coletivo em defesa da Vida. (da Comunidade de SP).

Família Comboniana Brasil

Ir. Alberto Parise: “Que metodologia para a Igreja ministerial?”

Alberto Parise
Alberto Parise

Na série de partilhas e reflexões que propomos neste ano dedicado à ministerialidade, não pode faltar um contributo sobre a questão metodológica. Na Evangelii Gaudium (EG 24), o Papa Francisco ilustra com cinco verbos os elementos salientes de um agir ministerial: tomar a iniciativa, envolver-se, acompanhar, frutificar, festejar. Mas do ponto de vista prático, como se pode pôr em prática todo este modo orgânico, sistemático? Nesta reflexão sugerimos que a metodologia do ciclo pastoral seja um património eclesial que muito tem a oferecer a este propósito.

O ciclo pastoral

O ciclo pastoral é uma evolução do método da «revisão de vida» desenvolvido por Joseph Cardijn nos anos 1920, conhecido como «ver – julgar – agir». O presbítero belga, que vinha de uma formação sociopolítica, tinha desenvolvido esta abordagem no contexto do seu ministério com o movimento da juventude operária cristã, para um acompanhamento dos jovens em ambientes em que proliferava a orientação socialista e comunista, com preconceitos anticlericais. Tinha intuído, de facto, a necessidade de um método adequado à pastoral de uma Igreja em saída.

A grande intuição de Cardijn foi a de ligar ciências sociais e ministério pastoral, num processo integrado. Na altura, esta metodologia difundiu-se em todo o mundo católico, até ser oficialmente reconhecida na encíclica Mater et Magistra (1961) como a metodologia da pastoral social (n.º 217 na versão italiana da encíclica – curiosamente encontra-se no n.º 236 da versão inglesa do texto). Em seguida, encontra acolhimento na América Latina, graças ao movimento da teologia da libertação e continua a difundir-se em diversos contextos, adaptando-se a lugares e tempos particulares. Assim, hoje esta metodologia é conhecida com nomes diferentes (círculo pastoral, ou ciclo, ou espiral, etc.) e é articulada em quatro, cinco ou mesmo seis fases, mas, fundamentalmente, trata-se do mesmo método. O esquema de base permanece o do ver – julgar – agir. Mas depois acrescenta-se um primeiro momento de inserção, passagem fundamental para uma abordagem ministerial. A isto seguem-se a análise sociocultural (ver), que faz uso das ciências humanas e sociais, e a reflexão teológica (julgar), em que se confronta com o Evangelho e a tradição social da Igreja. A fase do agir, depois, pode ser formalmente articulada em várias passagens para sublinhar a importância de alguns aspectos que frequentemente são esquecidos ou descurados, como por exemplo a verificação e a celebração.

Actualidade do ciclo pastoral: a força da inserção

Hoje é evidente que esta metodologia é preciosíssima não só para a pastoral social, mas para uma qualquer iniciativa de tipo ministerial. Antes de mais porque o acompanhamento pastoral implica o desenvolver de relações que geram vida, o ver a experiência humana, as situações, as problemáticas das pessoas do seu ponto de vista, com empatia. Sobretudo, é fundamental o saber colher o ponto de partida para um acompanhamento que conduza à regeneração das pessoas e das comunidades, que geralmente está ligado à sua experiência de vida, à motivação e energia emotiva que pode gerar, e à criticidade da situação. É graças à inserção que um agente pastoral está em condições de colher tudo isto, de tomar a iniciativa, sair em direcção às periferias humanas e existenciais e envolver-se. Do ponto de vista comboniano, a inserção é uma característica carismática (cf. Ratio missionis), em que se exprime o fazer causa comum e se colhe a hora de Deus no contexto em que se desenvolve o ministério, especialmente nas situações de crise.

Uma análise sociocultural que desperta a esperança

Aqui se entronca o acompanhamento pastoral, entendido no sentido de tornar a gente protagonista do seu caminho, superando paternalismos e situações de dependência (cf. a regeneração da África com a África). Trata-se de caminhar com a gente em direcção a uma regeneração no Ressuscitado, um caminho de transformação que nasce das situações particulares em que cada um se encontra. Situações que hão-de ser compreendidas não só a nível dos sintomas, mas das causas profundas dos problemas. Quando uma comunidade, um grupo humano não entende com clareza as causas da sua condição de mal-estar, ou de pobreza, não é capaz de a influenciar significativamente e tende a desencorajar-se, a resignar-se, a dobrar-se no próprio íntimo para reconquistar um espaço próprio de controlo na sua vida. Além disso, torna apetecíveis grandes simplificações, leituras desviantes da realidade, instrumento muito usado hoje para manipular as pessoas numa lógica de domínio. Mas quando compreende criticamente a sua condição e o contexto global, renasce a esperança e reapropria-se do seu poder de mudar as coisas.

A reflexão teológica: chave da transformação

A fase de análise ajuda também a fazer emergir as próprias contradições e dilemas, que oferecem um óptimo ponto de partida para uma reflexão sobre a experiência, em chave de fé, que completa o discernimento. Esta é a reflexão teológica que caracteriza o ciclo pastoral e que resulta numa decisão de empreender um curso de acção. É verdadeiramente o ponto de viragem do caminho de regeneração no Ressuscitado, um dom de graça. E é também o lugar em que acontece o diálogo entre a experiência, o vivido da gente, e as perspectivas de sentido que a guiam, que interpretam acontecimentos e situações: um diálogo entre os valores culturais, uma cosmovisão e o Evangelho, ou mesmo um processo que oferece as condições para uma encarnação do Evangelho. Trata-se de um momento propício para a conversão do coração, para a consciência de um encontro autêntico com o Ressuscitado, descobrindo assim também uma vocação a responder à situação sobre a qual se reflectiu.

Como sobressai também no Plano de Comboni (E 2742), esta reflexão leva a encarar a realidade com os olhos da fé e a responder com determinação, consistência e profecia aos convites do Espírito.

O estilo colaborativo da acção

A fase da acção, por fim, é mais articulada. Habitualmente, requer uma programação e, por vezes, pode mesmo requerer tempo e energias para apetrechar-se de modo a obter ou desenvolver as competências necessárias. De facto, o acompanhamento ministerial implica facilitar uma contínua formação e organização dos grupos e comunidades com as quais se partilha o caminho, que é tanto mais eficaz quanto mais participado, a partir da própria programação. É bom que esta preveja os mecanismos de monitorização e verificação, que doutro modo são facilmente esquecidos ou ignorados.

A abordagem ministerial funda-se na colaboração de equipas pastorais, na sinodalidade, no fazer redes e no estilo de serviço, tudo numa óptica de processo partilhado. Claramente, tudo isto não se improvisa, requer organização e atitudes de abertura, humildade e confiança. Não basta agir, é preciso também reflectir juntos sobre o que se faz, sobre como se o faz, sobre os resultados da acção, sobre o que se está a aprender e sobretudo sobre a presença e acção de Deus ao longo de todo o percurso. É no momento da celebração que tudo isto sobressai, se aprofunda, se enriquece de nova consciência, de novos dons, de renovada inspiração, como também da possibilidade de regenerar relações e construir comunhão. Assim se festeja a vida doada e recebida ao longo do percurso, que não significa tanto «celebrar sucessos», mas reconhecer que «as obras de Deus nascem aos pés da cruz». Daqui brota o impulso para inaugurar um ulterior ciclo ministerial.

Em conclusão, impõem-se duas considerações: em primeiro lugar, que o ciclo pastoral, como metodologia ministerial, requer competências que devem ser adquiridas e desenvolvidas. Não que todos devam saber tudo, mas num contexto de equipas ministeriais é bom que se consiga dominar um conjunto articulado de instrumentos, uma espécie de «caixa de ferramentas». E depois devemos perguntar-nos como podemos facilitar a aquisição destas competências, quer a nível de formação de base, quer de missão, num contexto de formação permanente que tenha presente a especificidade das situações e necessidades.
Ir. Alberto Parise, mccj

Agroecologia no Brasil

Brasil

A agroecologia ainda é muito tímida na região tocantina do Maranhão. Esperamos que esta iniciativa consiga facilitar a adoção dessa inovação, que é ao mesmo tempo um conjunto de práticas agrícolas, uma ciência e um movimento social. Para isso é muito importante a parceria e o diálogo com distintos atores, como instituições de ensino e pesquisa (Casas Familiares Rurais, IFMAs, UEMASUL…), sindicatos, assentamentos, movimentos sociais do campo, órgãos de assistência técnica, secretarias municipais de agricultura e sociedade em geral. Mas sobretudo com os agricultores e agricultoras inovadores e inquietos. Estamos dispostos a somar nessa caminhada.

Com legendas em português, espanhol, inglês, italiano e francês.

LMC em Brasil

Laicado e Ministerialidade

Laicado
Laicado

Laicado e ministerialidade

Tentaremos fazer uma reflexão sobre a ministerialidade de uma perspectiva laical, em particular do ponto de vista da vocação missionária comboniana. Mas antes de adentrar-nos nestes ministérios e serviços do ponto de vista da fé, creio que seja importante enquadrar o assunto.

A nossa vida dá uma reviravolta quando fazemos um encontro pessoal com Jesus de Nazaré. Partilhamos esta sociedade com muitos homens e mulheres de boa vontade. Cada um, com princípios e valores que orientam as suas acções e as suas escolhas de vida. Mas para nós existe um «antes de» e um «depois de» ter conhecido Jesus. Como os primeiros discípulos, um dia encontrámos Jesus no nosso caminho. O nosso coração estremeceu e os nossos lábios perguntaram «Onde moras?». E a sua resposta foi «vem e vê». A partir daquele momento a nossa vida mudou.

São muitos os caminhos através dos quais chegamos a este encontro: para muitos foi graças às nossas famílias, às nossas comunidades cristãs, aos nossos amigos, a circunstâncias da vida que nos aconteceram… indubitavelmente a casuística é muito vasta. Mas o que é realmente determinante, é a resposta dada, a partir da liberdade, e as consequências desta resposta em cada uma das nossas vidas. A resposta é livre, ninguém nos obriga a dá-la, é uma graça que recebemos e, consequentemente, o reconhecimento de uma nova vida.

O leigo acima de tudo é um seguidor de Cristo. Não se trata de seguir uma ideologia nem simplesmente de lutar por causas justas que contribuam para uma nova humanidade mais justa e digna para todos, nem significa seguir todos os preceitos da religião que podem ajudar-nos na nossa relação com Deus. Ser cristãos significa antes de mais seguir Jesus, sair da nossa zona de conforto e pôr-nos a caminho. Pegar no necessário para caminhar ligeiros e estar sempre abertos e disponíveis neste avançar. Jesus nos mostrará, ao longo do caminho, qual é a nossa parte de responsabilidade no anúncio e construção do Reino.

Nós dizemos estar em constante discernimento que não é um estado de diálogo constante com o Senhor. É verdade que existem momentos especiais de discernimento na vida de cada pessoa. São aqueles momentos que dizem respeito à nossa vocação principal, como no caso do matrimónio ou da vocação à qual nos sentimos chamados, como a vocação missionária, e também o género de profissão através da qual queremos ou sentimos poder servir os outros, escolhendo um certo tipo de estudos ou outro, um dado trabalho ou outro. É fundamental para a vida de toda a pessoa compreender esta chamada a ser enfermeiro, médico, professor, dirigente de uma empresa, advogado, educador, trabalhar no campo social, ou ser político, artesão, etc.

Momentos vitais que na nossa adolescência, juventude e idade adulta se apresentam de maneira significativa. Mas, para lá destes momentos, que nos manterão no caminho nos momentos difíceis, neste caminhar queremos manter-nos em escuta. Não queremos acomodar-nos. Na vida apresentam-se continuamente novos desafios e novas chamadas da parte de Jesus. Para nós, como missionários, ter a mala pronta é algo que faz parte da nossa vocação. Somos chamados a acompanhar as pessoas, as comunidades durante um determinado período, para depois ir embora, porque o ir embora é parte essencial. Sair ou continuar a crescer. Não permanecemos sempre iguais durante anos porque reconhecemos que as necessidades mudam. Somos chamados a deixar a nossa terra e a viajar para outros países, para outras culturas; somos chamados a desenvolver novos serviços, a regressar aos nossos lugares de origem, a assumir novos empenhos: tudo isto faz parte da nossa vocação. Em cada chamada, em cada nova mudança, devemos compreender quais são os planos do Senhor para nós. Porque é que nos pede para ir para outro continente ou para regressar ao nosso lugar de origem quando estávamos a fazer tão bem junto daquela gente, quando inclusive parecíamos tão necessários naquele lugar, a vida leva-nos a mudar de lugar, a começar de novo…

Porque é que quando nos parece ter chegado a um porto definitivo, há alguma coisa dentro de nós que nos interroga, nos inquieta? É o Senhor que nos fala. Com Ele temos uma relação de amizade que nos ajuda a crescer. Como amigos partilhamos a vida e os nossos projectos que a atravessam. Com momentos de maior estabilidade, mas também com momentos de novos desafios. Não viemos para descansar nesta terra, mas para fazer frutificar a vida e para permitir e lutar a fim de que também outros possam usufruir dela.

Nós respondemos a esta chamada não só de maneira individual, mas também a partir de dentro de uma comunidade. Não caminhamos sozinhos. Isto é parte da nossa vocação cristã, a pertença à Igreja, tal como nos sentimos parte também de toda a humanidade. E como parte desta Igreja sentimo-nos chamados a um serviço comum. Como Leigos Missionários Combonianos (LMC) sentimos esta pertença à Igreja de Jesus. E sentimos que esta vocação específica que recebemos é uma vocação e uma responsabilidade comunitária. Temos uma chamada pessoal, mas também uma chamada como comunidade e comunidade de comunidades. Reconhecemos a Igreja como sacramento universal de salvação, cada um com a sua especificidade, dons e carisma para o anúncio e a construção do Reino.

Jesus chama os seus discípulos a viver, a percorrer o caminho em comunidade. Sabemos que só com a ajuda de Jesus podemos caminhar e como comunidade temos necessidade desta espiritualidade profunda que nos une a Jesus, ao Pai e ao Espírito. Um caminho onde a oração, a vida de fé e a comunidade se tornam alimento e referência para a vida do LMC.

A centralidade da missão em Comboni. A Igreja ao serviço da missão

Comboni tinha bem clara a centralidade da missão na sua vocação e a necessidade desta na Igreja. Perante as necessidades dos nossos irmãos e irmãs mais necessitados somos chamados a dar uma resposta. E esta resposta é de tal modo necessária e complexa que não somos chamados a dá-la individualmente, mas como Igreja. Todos e cada um de nós cristãos somos chamados a responder a esta chamada. Independentemente do nosso estado eclesial, cada um de nós deve dar uma resposta de fé. Jesus chama cada um a caminhar. E é pela complexidade das necessidades existentes que o Espírito suscita no mundo e na sua Igreja vocações diferentes, carismas diferentes que dêm o seu contributo a esta realidade. Identificar a Igreja com o clero ou com os religiosos e as religiosas significa não compreender Jesus, significa não escutar o Espírito.

A actividade e a chamada ao sacerdócio ou à vida religiosa nos seus numerosos aspectos é fundamental para o mundo, mas não mais do que o empenho de todos e de cada um dos leigos. A Igreja não tem só uma responsabilidade ligada à religiosidade e espiritualidade das pessoas. Temos uma responsabilidade social, familiar, ambiental, educativa, sanitária, etc. com todo o mundo.

As coisas do dia a dia são as coisas de Deus. As pequenas coisas são as coisas de Deus. A atenção a cada pessoa no concreto e nas necessidades globais são responsabilidade dos seguidores de Jesus. E em todas estas coisas, o papel do laicado é fundamental, do homem e da mulher, em campo material e espiritual… assim o entendeu Comboni e assim o entendemos nós também.

Comboni

O leigo no mundo

Nesta chamada global que recebemos, a Igreja apresenta-se como comunidade de referência. É nutrimento para o serviço. Lugar onde retomar as forças, onde nutrir-se de maneira privilegiada mesmo se não única.

Como leigos somos chamados a fazer nascer raízes que estabilizem o terreno e o enriqueçam, somos chamados a criar redes de solidariedade e de relação que articulem a sociedade, através da família, das pequenas comunidades de condomínio, de bairro, entidades sociais, empresas… somos grandes criadores de redes de relação, colaboração e trabalho. Vivemos envolvidos em todas estas redes e somos chamados a animá-las, a dar-lhes uma espiritualidade para que estejam ao serviço das pessoas, sobretudo dos mais fracos. Somos chamados a incluir todas as pessoas. O nosso olhar deve concentrar-se nos mais pobres e abandonados de que falava Comboni, nos excluídos desta sociedade, deve ser um olhar que nos impele a estar nas periferias porque é a partir de baixo que as coisas se vêem de maneira diferente. Não podemos adaptar-nos a uma sociedade onde não todos têm uma vida digna. Uma sociedade onde se premeia o ter e não o ser e o consumo que está a devastar um planeta finito que grita e reclama a nossa responsabilidade global.

Esta visão que deve interrogar a nossa vida pede-nos acções concretas.

A chamada do leigo é uma chamada ao serviço da humanidade. Uma chamada que para alguns será de serviço no interior da nossa Igreja. Não podemos pensar que o bom leigo seja aquele que ajuda na paróquia e perder de vista a nossa vocação de serviço ao mundo. Alguns serviços internos são necessários, mas a Igreja é chamada a sair.  A ir com Jesus para o caminho, a ir de terra em terra, de casa em casa, a ajudar nas pequenas e grandes coisas. Somos chamados a ser sal que dá sabor, fermento na massa… chamados a estar no mundo e a contribuir de maneira significativa. Não podemos permanecer em casa onde nos sentimos bem, onde nos compreendemos uns aos outros. Somos chamados a sair. A Igreja não nasce para si mesma, mas para ser comunidade de crentes que segue Jesus e serve os mais necessitados. Por isso sentimo-nos chamados a ser de ajuda no crescimento das comunidades humanas (também as cristãs).

Qual é a resposta que estamos a dar a esta chamada como LMC?

Actualmente há uma ampla reflexão em toda a Igreja sobre o específico missionário. Sobre quais são e deveriam ser os nossos serviços enquanto missionários, os nossos ministérios específicos. Perdeu-se já a referencialidade geográfica da missão, a referência entre um Norte rico e um Sul a desenvolver, onde as desigualdades e as dificuldades estão presentes em todos os países, apesar de em alguns continuar a concentrar-se a maior parte das riquezas e das possibilidades enquanto noutros as dificuldades são muito mais graves… De facto, a miséria alastra entre os sem abrigo nos chamados países ricos, as migrações forçadas por causa da pobreza, das guerras, das perseguições por motivos diversos, as alterações climáticas e outros factores estão a fazer com que um fenómeno desde sempre presente na humanidade se esteja a agravar. A pandemia do COVID-19 recorda-nos a globalidade da nossa humanidade acima de barreiras e fronteiras. Atinge-nos a todos e a todas do mesmo modo. Até agora o dinheiro parecia ser o único capaz de viajar sem passaporte, mas agora parece que possa fazê-lo também o vírus.

Só num mundo justo todos poderemos viver em paz e prosperidade. As desigualdades salariais, os conflitos, o consumo desatinado ao ponto de derreter os gelos dos polos e assim por diante acabam por influenciar e ter consequências sobre toda a humanidade. As barreiras e a polícia, que estejam nas fronteiras ou nas casas ou nas zonas urbanas de quem tem mais, não obterão um mundo melhor para todos nem para os que aí se refugiam.

Perante tudo isto, o debate e a reflexão sobre o específico do laicado missionário nesta nova época é claro.  Não terei a pretensão de entrar no assunto de maneira teórica. Apresentar-vos-ei simplesmente algumas das actividades em que estamos presentes como leigos para dar uma resposta à chamada recebida.

É esta a nossa ministerialidade, o serviço a que nos sentimos chamados. Uma resposta de vida, não teórica, que estamos a dar. Não me alongarei. Indicarei só alguns exemplos que possam clarificar; tantos outros permanecerão no anonimato… não por acaso somos chamados a ser pedras escondidas.

Temos amigos e amigas que trabalham com os pigmeus e com o resto da população na República Centro-africana, um país onde estamos há mais de 25 anos. No meio de quantos são considerados como servos da maioria da população; fazendo de ponte de inclusão ou tomando a nosso cargo a responsabilidade de uma rede de escolas primárias num país que está a atravessar vários golpes de estado e se encontra desde há anos numa situação de guerra que não permite ao Estado fornecer estes serviços.

No Perú acompanhamos a gente na periferia das grandes cidades. Nos estabelecimentos abusivos onde quem vem do campo arranca um pedaço de terra à cidade para viver, sem luz, sem água nem esgotos. Poucas famílias que lutam por uma vida digna, que trocaram as suas aldeias pelas cidades para poder comer e dar uma vida melhor aos seus filhos. Onde há muita solidariedade entre vizinhos e acolhimento, mas também problemas causados pelo álcool, pela violência doméstica e pela desagregação de muitas famílias.

Em Moçambique colaboramos na educação dos jovens, rapazes e raparigas, que saindo das suas comunidades do interior, esperam poder formar-se para reerguer o país. Precisam de escolas que lhes dêem esta formação profissional e internatos que lhes permitam viver durante o período escolar, dado que as suas casas ficam muito distantes. Também acompanhar estes jovens e as comunidades cristãs faz parte da nossa chamada.

Por outro lado, estamos presentes no Brasil, na luta contra as grandes companhias extractivitas que expulsam as comunidades das suas terras, envenenam os rios e o ar, interrompem as comunicações ou isolam-nas com os seus comboios intermináveis que extraem os minérios da zona sem se preocuparem com o ambiente ou com o bem-estar das pessoas.

Além disso, em muitos países europeus estamos envolvidos no acolhimento aos imigrantes. Procuramos restituir quanto recebemos quando também nós éramos estrangeiros. Somos chamados a receber quantos fogem da miséria e das guerras, quantos estão à procura de um futuro melhor para as suas famílias e que à sua chegada se encontram perante muros não só de cimento e redes metálicas, mas também de medo e de incompreensão por parte da população. Fazer de ponte com uma população que continua a ser hospitaleira e solidária, presentes nas organizações socais e eclesiais que se mobilizam para acolher e integrar os novos vizinhos. Do acolhimento na praia até à ajuda na língua, procura de um trabalho, de uma casa, nos trâmites administrativos, ou a reconhecer a riqueza que nos trazem e o valor acrescentado que representam para a nova sociedade. Valorizando o que são e as suas culturas e sendo referentes para estas últimas num mundo que nem sempre as compreende.

Quando a sociedade desaba e o ser humano é destroçado não sabemos o que fazer com estas pessoas. A reclusão na prisão é a solução que demos enquanto sociedade. Mas estas prisões muitas vezes tornam-se escola de delinquência e não de reabilitação, como deveriam. Entre estas encontram-se a APAC que nasceram no Brasil e que pouco a pouco se estão a difundir. Um sistema de reclusão onde a pessoa que chega é considerada como alguém a recuperar e não um detido, mas é chamada com o seu nome e não com um número. Protagonista da sua vida, é ajudada a compreender o seu erro e a necessidade de pedir perdão e a reinserir-se como membro activo na sociedade. Um método onde a comunidade opera uma mudança e cria pontes recuperando os seus filhos e as suas filhas que um dia cometeram um erro; onde estas pessoas a recuperar têm as chaves das portas e pouco a pouco juntamente com os outros compreendem a dignidade de ser filhos de Deus, o arrependimento e o seu valor como pessoas para a sociedade.

O modo como se vive nos países com maiores recursos está a esgotar um planeta finito. As relações comerciais internacionais estão a empobrecer muitos em benefício de poucos… promover um novo estilo de vida é fundamental para mudar os paradigmas e os valores que se mostram como os únicos válidos para um êxito social e para a felicidade. Numa sociedade em que a posse e o consumo prevalecem sobre o ser, á preciso propor novos estilos de vida. Também nisto estamos envolvidos na Europa: propondo novos estilos de vida, de empenho, de responsabilidade no consumo, na economia, etc.

Poderemos assim prosseguir com actividades ligadas a uma educação empenhada com os excluídos das periferias das nossas cidades, na atenção aos doentes mostrando o rosto de Deus que os acompanha e a mão de Deus que cuida, na atenção aos sem-abrigo, às pessoas com dependências, etc.

Como missionários, somos e devemos tornar todos conscientes da realidade de um mundo globalizado que requer uma acção conjunta, uma nova tomada de posição. Por isso, cada nossa pequena acção, todos os nossos grãozinhos de areia dão forma a pequenas montanhas onde subir, ver e sonhar um mundo diferente.

Subir com a gente com quem vivemos todos os dias. Chamados em particular a quantos vivem submersos sem possibilidade de ver um horizonte, de sair das próprias dificuldades, somos chamados a levantar a cabeça e a olhar em frente, a animar e acompanhar estas comunidades. Somos chamados a estar ali aonde ninguém quer ir.

Todos chamados a lutar de maneira global pelos problemas que são globais, a unir-nos e a ser promotores de redes de solidariedade nesta humanidade que habita a casa comum, que demonstra cada dia ser mais pequena.

E no centro, colocar Jesus, a pessoa que mudou a nossa vida. Deus é um direito de cada homem e de cada mulher. Sentimo-nos responsáveis por dar a conhecer a Boa Nova, por apresentar um Deus vivo que está no meio de nós, que caminha connosco, que, como nos mostrou Jesus de Nazaré, não nos abandona e nos acompanha sempre. Dentro de cada pessoa, no mais necessitado, na comunidade, Deus espera cada um de nós, para transformar a nossa vida, enchê-la de felicidade, de uma felicidade profunda. Deus espera-nos para nos dar a água viva, aquela água que sacia a sede do ser humano.

Que o Senhor nos dê as forças para poder estar sempre presentes e acompanhar, ser um instrumento que leva as pessoas a encontrá-lo e nos mantenha sempre ao seu lado no caminho.

LMC

Alberto de la Portilla, LMC

2020: Ano da Ministerialidade

Trabajo en equipo
Trabajo en equipo

O magistério do Papa Francisco insiste sobre a visão de uma Igreja ministerial, isto é, fraterna, impregnada do «cheiro das ovelhas», sinodal, colaborativa e que testemunha a alegria do Evangelho com o anúncio, com o estilo de vida e com o serviço. Uma Igreja que empreende um caminho de conversão e que supera o clericalismo e o cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim» (EG 33). O XVIII Capítulo Geral acolheu esta orientação da Igreja universal e assumiu-a, auspiciando um caminho de regeneração e requalificação do nosso empenho missionário no sentido da ministerialidade (DC ’15, 21-26; 44-46).

CARTA PARA INTRODUZIR O ANO DE APROFUNDAMENTO DA MINISTERIALIDADE

«Lendo o que escrevi podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, que, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito: os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho. Dele me tornei servidor, pelo dom da graça de Deus que me foi dada, pela eficácia do seu poder» (Ef 3, 4-7)

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«Deve considerar-se como um indivíduo anónimo numa série de operários, que tem de esperar resultados não tanto do seu trabalho pessoal, mas de uma acumulação e continuação de trabalhos misteriosamente conduzidos e utilizados pela Providência» (E 2889).

Trabajo en equipo

Caríssimos confrades, saudações de Santo Tempo Natalício e Bom Início do Novo Ano de 2020!

Como todos sabemos, a exortação apostólica Evangelii Gaudium revelou a mudança epocal do nosso tempo e a necessidade de uma profunda renovação na Igreja, para viver com alegria o Evangelho e ser fiéis à própria vocação de discípulos-missionários de Jesus. Com esta visão renovada da Igreja, continua a emergir sempre mais uma Igreja «em saída», em que a missão é paradigma do seu ser e do seu agir, em escuta do Espírito através do grito da humanidade que sofre, dos pobres e da Criação. O magistério do Papa Francisco insiste sobre a visão de uma Igreja ministerial, isto é, fraterna, impregnada do «cheiro das ovelhas», sinodal, colaborativa e que testemunha a alegria do Evangelho com o anúncio, com o estilo de vida e com o serviço. Uma Igreja que empreende um caminho de conversão e que supera o clericalismo e o cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim». (EG 33)

O XVIII Capítulo Geral acolheu esta orientação da Igreja universal e assumiu-a, auspiciando um caminho de regeneração e requalificação do nosso empenho missionário no sentido da ministerialidade (DC ’15, 21-26; 44-46). O Espírito chama-nos a sonhar e a converter-nos, como missionários «em saída», que vivem o Evangelho através da partilha da alegria e da misericórdia, cooperando para o crescimento do Reino, a partir da escuta de Deus, de Comboni e da humanidade. Um sonho que é sonho de Deus, que nos leva a ousar, não obstante a nossa pequenez, conscientes de não estar isolados, mas ser membros de uma Igreja ministerial. Somos chamados a evangelizar como co-munidade, numa comunhão e colaboração com toda a Igreja, para promover juntamente com os pobres a globalização da fraternidade e da ternura. Tudo isto se concretiza em escolhas de redução e requali-ficação dos empenhos, desenvolvendo serviços pastorais específicos, saindo em direcção aos grupos humanos marginalizados ou em situa-ções de fronteira.

Para nos ajudar a crescer neste caminho, o Guia para a actualização do XVIII Capítulo Geral reservou o ano 2020 à reflexão sobre o tema da ministerialidade. Desejamos propor uma acção-reflexão, isto é, uma abordagem que parta da experiência, reflicta criticamente sobre o seu potencial transformativo e as suas criticidades, para discernir cursos de acção renovados.

É o que fazia o próprio Comboni: chegou ao Plano de Regeneração da África com a África na base de uma experiência directa da missão, de estudos de aprofundamento e de confronto com outras experiências, encontrando no estilo ministerial a resposta ao desafio «impossível» da evangelização da África. O seu Plano reflecte uma compreensão sistémica de abordagem ministerial: uma obra colectiva e «universal», que cria redes de colaboração que reúnem todas as forças eclesiais, reconhecendo a cada uma a sua especificidade e originalidade. Uma obra que dá vida a uma pluralidade de serviços, em resposta às necessidades humanas e sociais, para os quais prepara cientificamente ministros ad hoc, e que prevê a fundação de comunidades missionárias sustentáveis do ponto de vista ministerial, socioeconómico e da significância social. Como nos recordam também Bento XVI e Francisco, a Igreja cresce por atração, não por proselitismo.

Portanto, a nossa reflexão sobre a ministerialidade requer que nos po-nhamos à escuta do Espírito, motor e protagonista dos ministérios na Igreja discípula-missionária. Propomo-nos aprofundar esta temática em relação à nossa vida missionária e experiência ministerial, pessoal e comunitária, através da partilha, principalmente, de dois subsídios:

  1. Suplementos na Família Comboniana;

  1. Um ágil subsídio com fichas que facilitará a partilha, o aprofundamento, a reflexão e o discernimento a nível comunitário.

Convidamos-vos a aproveitar estes instrumentos para um percurso de formação permanente a nível pessoal e comunitário, facilitado por um guia escolhido no seio de cada comunidade, que poderá valer-se de exaustivas notas de facilitação fornecidas juntamente com o subsídio.

Também o Sínodo para a Amazónia, celebrado recentemente, revelou a urgência de uma conversão pastoral da Igreja: o crescimento na mi-nisterialidade é uma chave fundamental deste caminho. Temos, por-tanto, uma grande oportunidade de crescimento e renovamento, e ca-be a cada um de nós e a cada comunidade tirar proveito disso. Mas é também um caminho que não percorremos sós, mas em comunhão com a Igreja. Aliás, auguramo-nos que o nosso empenho em colocar-nos neste caminho de renovamento missionário-ministerial possa ser de estímulo e de apoio – numa dinâmica maiêutica recíproca – à Igreja local em que vivemos: não será somente um percurso de formação permanente, mas também de missão/animação missionária.

Em 2020 teremos também um evento especial, a nível de Família Comboniana, sobre a ministerialidade social, que se realizará em Roma de 18 a 22 de Julho. Este fórum é parte de um caminho mais amplo que estamos a percorrer como Família comboniana, que prevê também um mapeamento de todas as experiências de ministério social da Família Comboniana. Queremos chegar a construir sinergias, a desenvolver uma visão e uma linguagem partilhadas, a fazer redes e a construir movimentos de transformação evangélica da realidade social. No médio prazo, este percurso ajudar-nos-á a desenvolver participativamente pastorais específicas, como nos pediu o Capítulo de 2015. Temos necessidade da vossa participação, com entusiasmo, neste processo, que quanto mais inclusivo for, mais rico e significativo será.

Por fim, em apoio da dimensão de JPIC (Justiça, Paz e Integridade da Criação), eixo transversal dos ministérios missionários, temos o gosto de vos apresentar dois instrumentos práticos que serão publicados em 2020:

= Subsídio para a formação comboniana de base e permanente sobre valores de JPIC

= O segundo volume sobre a JPIC da Família Comboniana, a cargo de P. Fernando Zolli e do P. Daniel Moschetti, que se segue ao volume Sede a mudança que quereis ver no mundo.

Que São Daniel Comboni interceda por nós: nos torne «santos e capazes» de fazer frutificar o dom da ministerialidade.

O Conselho Geral O Secretariado Geral da Missão