Leigos Missionários Combonianos

Ciclone Gombe em Moçambique

Carapira Gombe

Compartilho uma triste notícia desde o norte de Moçambique, missão de Carapira, enviadas por Regimar e Tito:

“Oi. Estamos bem. Mas a situação aqui tá bem complicada. Um Ciclone devastou Carapira na última sexta-feira. 90% das casas destruídas, toda machamba (horta) desapareceu. 10 mortes e 3 feridos graves. É o que sei. Com certeza são mais. Não temos notícias de muitas comunidades.

Falta comida e roupa. A fome já é uma realidade.

Estamos em busca de ajuda. O mundo não sabe do que aconteceu aqui.

Até nossas roupas doamos.

Não temos rede de celular nem energia. Agora é que conseguimos sinal.

Estou tentando ajuda com a Cáritas, com Helena. Marcamos uma conversa.

Abrigamos na sexta-feira 46 famílias, 150 pessoas no centro de Carapira. No centro catequético tem outras. Já não sei quantas porque a toda hora chega gente. Tem família com 30 pessoas acolhidas e sem comida.”

Coloquemos em nossas orações e vejamos o que de concreto conseguimos fazerem conjunto!

Um abraço fraterno.

Mapeamento da pastoral social da Família Comboniana

niños jugando

A Família Comboniana – combonianos, combonianas, seculares e leigos combonianos – decidiu fazer um estudo sobre a sua presença entre os empobrecidos e sobre a eficácia da sua pastoral social no âmbito da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). O objectivo primordial da pesquisa era verificar até que ponto a pastoral social comboniana tem contribuído para a transformação social das comunidades e dos povos com os quais trabalha. Neste sentido, fez-se um mapeamento das suas principais actividades ou projectos sociais no mundo, desde a perspectiva do novo paradigma missionário que, cada vez mais, se alicerça numa visão ministerial. Aqui, publicamos uma primeira reflexão, tendo em conta os indicadores mais relevantes dos 205 projectos até agora registados e analisados.

Compromisso social da Família Comboniana
Um contributo para a transformação social das comunidades no meio das quais trabalha

Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula, iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

A Família Comboniana (FC) enveredou, há já vários anos, por um percurso missionário em comunhão com os movimentos populares e sociais, empenhados na regeneração de um mundo no qual o grito dos empobrecidos e da própria Terra levanta o véu sobre a sua insustentabilidade socioeconómica e ambiental.

É desde 2007 que a FC participa, activamente, no Fórum Social Mundial, que se organiza, em princípio, de dois em dois anos e em diferentes cidades do mundo. Na mesma ocasião, tem-se organizado também um Fórum Comboniano, com o objectivo de promover uma reflexão teológica e carismática a partir das realidades sociais nas quais os missionários e as missionárias estão inseridos.

Em 2018, publicou-se um livro, intitulado “Sede a mudança que quereis ver no mundo”, uma obra que documenta o percurso feito – de 2007 a 2018 – e reflecte sobre os desafios da missão. Em Maio de 2020, seguiu-se um segundo volume, desta vez intitulado “Somos missão: testemunhos de ministerialidade social na Família comboniana”, no qual se apresenta a imersão da missão comboniana na realidade da vida, nos vários contextos culturais e sociais, e se exalta a originalidade e vitalidade do carisma comboniano no serviço ministerial com abordagens, métodos, dinâmicas e meios variados.

Mapeamento dos ministérios sociais da Família Comboniana no mundo

Para dar continuidade a este processo de acção-reflexão, decidiu-se fazer um mapeamento dos ministérios sociais da FC no mundo, com três objectivos: avaliar a significatibilidade do ministério social comboniano; fazer emergir como a FC vive a ministerialidade neste tempo de transição epocal face a um novo paradigma de missão emergente; e promover um percurso sinodal.

Nesta primeira fase do mapeamento, foram recolhidas, documentadas e analisadas 205 experiências de ministério especificamente social. Esta quantidade excepcional de experiências, embora seja ainda apenas uma parte, dá-nos já a possibilidade de ter uma percepção real sobre o que se está a fazer e qual o seu impacto. Pela primeira vez, é possível ter-se uma visão global empírica sobre a dimensão social da pastoral da FC, baseada em dados concretos e sistemáticos sem precedentes, e fazer-se um estudo comparativo, cruzando os dados obtidos. Contudo, este deve ser considerado apenas o início de um longo processo. Isto porque há ainda muitas outras experiências que poderão vir a ser registadas, documentadas e, posteriormente, analisadas. Portanto, este mapeamento pode continuar a ser enriquecido não só com novas experiências, mas também com a actualização contínua das experiências já documentadas.

Analisando o banco de dados das 205 experiências em curso, ajudados por uma aplicação web, podemos tecer algumas considerações, que a seguir passamos a expor.

Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula, iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha

Considerações gerais sobre os dados obtidos

Uma primeira consideração diz respeito à abordagem do ministério social em si mesmo. Do ponto de vista histórico, a práxis social da Igreja conjugou-se entre dois eixos: por um lado, o serviço aos últimos e aos excluídos (também chamado serviço directo), que, por sua vez, se desdobra em duas direcções, ou seja, as obras de misericórdia e a promoção humana; e, por outro lado, ainda a justiça e paz (ou acção social), uma dimensão profética, baseada seja na denúncia, seja na formação/conscientização de agentes de transformação, seja na promoção de alternativas estruturais.

Como tendência, resulta que o serviço directo entre os mais vulneráveis e empobrecidos prevalece sobre a dimensão pastoral no âmbito da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). Em particular, o aspecto que aparece mais débil é o da denúncia aberta das injustiças. Uma possível explicação para esta debilidade é o facto de alguns missionários e missionárias trabalharem em países onde vigoram regimes ditatoriais e opressores, o que requer dos mesmos uma singular prudência na denúncia das violações sistemáticas dos direitos humanos e das mais flagrantes injustiças estruturais. Apesar disso, nota-se um esforço por parte dos mesmos missionários e missionárias em encontrar um ou outro tipo de alternativa, menos frontal, o que revela, desde já, a opção deliberada contra toda a espécie de injustiças e opressões.

Na prática, o serviço directo vem apresentado como estruturalmente integrado nos ministérios sociais, enquanto a justiça e paz (JPIC) ainda não, pelo menos de forma evidente, apesar das várias actividades registadas neste âmbito. Contudo, evitem-se quaisquer interpretações apressadas: estes são valores médios que descrevem a realidade como um todo, e não cada uma das experiências singulares no seu contexto. Sendo assim, seria necessário analisar caso a caso. No entanto, o conhecimento destes valores médios é muito útil, porque nos ajuda a compreender as tendências e as prioridades actuais, numa abordagem global, do desempenho da ministerialidade social a nível de FC.

Em África, em particular, a prevalência do serviço directo é ligeiramente mais evidente – por exemplo, nas áreas da Educação e do Desenvolvimento Humano –, enquanto na América e na Europa, se verifica um maior equilíbrio entre o serviço directo e a justiça e paz. Isto pode depender seja do contexto – em geral, em África, não só as necessidades básicas são maiores e mais urgentes, como também o acesso aos serviços básicos é mais limitado –, seja da história ou tradição missionária do próprio continente. No que diz respeito à Ásia, a presença da FC é ainda numericamente reduzida, pelo que é prematuro tirar conclusões particulares.

Uma segunda consideração, que emerge dos dados do mapeamento, é a imagem gráfica dos sectores ministeriais em que a FC está envolvida. Em comunhão com o Magistério e a práxis social da Igreja, emergem dois sectores que não estão ligados a áreas de serviço, mas sim a processos de transformação social, a saber, o Desenvolvimento humano integral e a JPIC.

No sector do Desenvolvimento humano integral, por exemplo, encontramos o socorro (relief), o desenvolvimento socioeconómico, a dimensão da transformação social, ou seja, a mudança estrutural através da boa governance e advocacy. Além disso, a formação de líderes locais – uma característica muito peculiar do carisma comboniano – aparece como uma das importantes prioridades da pastoral social.

Na área de JPIC, encontramos tipos diversos de engagement como, por exemplo, a nível de direitos humanos, ecologia e ambiente, paz e reconciliação, justiça social e inclusão, diálogo inter-religioso e intercultural, sempre com o objectivo de se criar mais fraternidade e construir um mundo mais justo.

Nesta infografia, apresentamos os compromissos sociais da Família Comboniana no continente africano, divididos em quatro sectores: Saúde, JPIC, Educação e Desenvolvimento. No sector da Saúde (32 projectos): hospitais e centros de saúde (15), saúde preventiva sobre o território (13), reabilitação (2), psicologia mental (2). Na área da Justiça, Paz e Integridade da Criação (107 projectos): direitos humanos (40), ecologia e ambiente (5), paz e reconciliação (22), justiça social e inclusão (27), diálogo interreligioso (13). No domínio da Educação (125 projectos): primária (37), secundária (12), terciário ou superior (12), informal (54), pastoral juvenil (10). Na área do Desenvolvimento humano integral (125 projectos): socorro/relief (15), desenvolvimento socioeconómico (73), governance/advocacy (6), formação de líderes (31)

Outras considerações sobre os dados obtidos

Depois de ter verificado e analisado as tendências globais, detectadas nos dados do mapeamento dos ministérios sociais da FC, entrevemos ainda outros indicadores relevantes que caracterizam a missão comboniana desde as suas origens.

Em primeiro lugar, resulta evidente a proximidade de vida dos missionários e missionárias entre os mais pobres e excluídos, fazendo causa comum com eles. Não em sentido paternalista, mas numa óptica de serviço que faz dos destinatários os protagonistas do seu próprio caminho de regeneração, como prova também o recorrente esforço dos missionários e missionárias em promover a participação e o empowerment das pessoas e das comunidades nos seus projectos e actividades. Um indicador chave desta atitude é a inserção, vivida em contextos e modalidades diferentes tais como, por exemplo: entre os grupos humanos mais excluídos, as comunidades desfavorecidas e marginalizadas, e em contextos sócio-culturais particulares, nos quais a comunidade cristã não é somente uma minoria, mas também sujeita a várias restrições, como é o caso nos países de predominância islâmica.

Em segundo lugar, chamam-nos a atenção a vitalidade e a articulação da colaboração ministerial. Na verdade, as experiências recolhidas mostram como a evangelização é tanto mais fecunda quanto mais se faz em comunidade – não individualmente –, se insere no tecido social e eclesial, e se age em estreita relação com a Igreja local, tendo em conta os diversos contextos e realidades. É também relevante a densa rede de cooperação da FC com outros actores da sociedade civil, mesmo fora das fronteiras da própria Igreja.

Em terceiro lugar, é notável o papel central da espiritualidade e da identidade eclesial no ministério social comboniano. Isto vem confirmado na descrição das actividades de acompanhamento espiritual e na preocupação séria pela transformação da realidade social, na óptica do Reino de Deus. Uma maneira de proceder que se torna fundamental no processo de edificação de um “povo” (cfr. Fratelli tutti e Evangelii gaudium). Neste sentido, a dimensão social e a dimensão espiritual da pastoral são consideradas indissociáveis e vividas como um todo interligado.

Em quarto lugar, a dimensão da Educação emerge de modo claro, o que significa que, em termos quantitativos, se lhe dá uma importância proeminente, seguindo, sem dúvida alguma, a mesma visão missionária de São Daniel Comboni.

Se a missão requer, hoje, uma revolução cultural, esta ênfase no campo da Educação constitui uma condição importante para a transformação social. A importância a dar à Educação confirma-se na iniciativa do Pacto Educativo Global, promovida pelo Papa Francisco, que alerta para a necessidade de uma transformação social que envolva a consciência das pessoas e dos povos, tendo em conta que a raiz da insustentabilidade do mundo de hoje reside numa visão do mundo que perdeu o sentido autêntico da humanidade e da vida.

P. Arlindo Ferreira Pinto na Faculdade de Educação e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, onde trabalhou 13 anos (1997 – 2010) como capelão, docente, e responsável pelo Departamento de Comunicação.

Áreas e desafios actuais a ter em consideração

Apesar de tudo quanto já se está a realizar, identificamos também algumas áreas que poderiam vir a ser ainda mais exploradas e alguns desafios a ter em conta, se considerados como oportunidades de presença profética em resposta aos sinais dos tempos. É o caso das actividades e dos projectos relacionados, por exemplo, com a justiça social e ambiental, a reconciliação e a promoção da paz, que embora apareçam de modo significativo em algumas das experiências recolhidas, ainda não são consideradas, em geral, como eixo transversal da pastoral social. Hoje, a preocupação social pela ecologia e o ambiente requer um maior interesse e dedicação por parte dos missionários, no sentido de promover uma nova economia sustentável e equitativa. De forma análoga, o diálogo inter-religioso e intercultural, que desempenham um papel importante sobretudo nos ministérios sociais em contexto islâmico ou de pluralismo religioso, poderiam ser quantitativamente mais promovidos em outros contextos e em outras áreas da pastoral.

Conclusão

Tendo presente toda a documentação destes 205 projectos e experiências pastorais em curso, agora disponíveis também online, poder-se-á fazer uma reflexão ainda mais detalhada e aprofundada, cruzando os dados registados e construindo elos de ligação entre as iniciativas ou experiências similares. Este tipo de análise permitirá construir percursos que conduzam à elaboração de práticas pastorais específicas tais como, por exemplo, as relacionadas com o ambiente, a reconciliação entre os povos, e a atenção às minorias.

Depois desta leitura atenta aos dados do mapeamento, podemos concluir que existem ainda alguns âmbitos da pastoral social aos quais se poderia dar maior atenção como Família Comboniana, nomeadamente no âmbito da denúncia, com o objectivo de desconstruir as estruturas de pecado, lesivas da dignidade humana, da justiça social e do bem comum.

De igual importância, poder-se-ia, também, aumentar a integração de algumas dimensões fundamentais na estrutura dos ministérios sociais tais como, por exemplo: a ecologia integral, a paz, a reconciliação, o diálogo inter-religioso e intercultural, a economia sustentável e equitativa, e o acompanhamento dos jovens.

Finalmente, queremos reafirmar a centralidade da dimensão da profecia, que, antes de mais, requer abertura, humildade e disponibilidade para nos deixarmos transformar a nós próprios. Uma profecia que se pode exprimir na cultura do encontro, na ternura, na compaixão, no fazer causa comum com os empobrecidos, no evangelizar como comunidade e no criar comunhão entre os ministérios. A dimensão profética é essencial para se chegar à transformação social, para fazer apressar a vinda do Reino de Deus, para dar maior visibilidade ao Ressuscitado que tudo regenera e a tudo e a todos quer dar vida em plenitude.

P. Arlindo Pinto, missionário comboniano

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Fontes:
Irmão Alberto Parise, “L’impegno sociale comboniano: una mappatura – per cambiare il mondo”; revista Nigrizia, Julho/Agosto de 2021, pp. 56-59.

Irmã Maria Teresa Ratti, Irmão Alberto Lamana, Irmão Alberto Parise; “Presentazione della Mappatura dei ministeri sociali nella Famiglia comboniana”, MCCJ Bulletin, n° 287, aprile 2021, pp. 45-76.

Para descarregar o Mapa que apresenta os detalhes de cada uma das 205 experiências registadas até agora, em língua italiana, clique aqui.

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Legenda das fotos:

Foto 1: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 2: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 3: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 4: Infográfico: Nesta infografia, apresentamos os compromissos sociais da Família Comboniana no continente africano, divididos em quatro sectores: Saúde, JPIC, Educação e Desenvolvimento. No sector da Saúde (32 projectos): hospitais e centros de saúde (15), saúde preventiva sobre o território (13), reabilitação (2), psicologia mental (2). Na área da Justiça, Paz e Integridade da Criação (107 projectos): direitos humanos (40), ecologia e ambiente (5), paz e reconciliação (22), justiça social e inclusão (27), diálogo interreligioso (13). No domínio da Educação (125 projectos): primária (37), secundária (12), terciário ou superior (12), informal (54), pastoral juvenil (10). Na área do Desenvolvimento humano integral (125 projectos): socorro/relief (15), desenvolvimento socioeconómico (73), governance/advocacy (6), formação de líderes (31).

Foto 5: P. Arlindo Ferreira Pinto, comboniano, na Faculdade de Educação e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, onde trabalhou 13 anos (1997 – 2010) como capelão, docente, e coordenador do Departamento de Comunicação.

No deserto com Comboni: desafios e alegrias da missão na pandemia.

Casa Comboni
Casa Comboni

Os desafios de hoje lembram-me os desafios de Comboni. Não que sejam iguais. É claro que no tempo de Comboni era bem mais desafiador. A travessia no deserto, as várias malárias, febres, o braço quebrado, que para colocar no lugar teve que ser quebrado novamente (me arrepia em imaginar), etc.

Vivemos também um tempo de deserto. A expectativa da viagem a África, o envio dos documentos, a pandemia, a espera da vacina, o pedido da renovação dos documentos e novamente a espera. Tudo por uma causa maior que é Jesus.

Mas durante tudo isso, não posso reclamar. Fui acolhida com muito amor e o trabalho está produzindo frutos.

Depois de uma parada pela vida: porque o vírus não brinca e prezamos o bem estar e a vida de nossa gente, o povo de Deus. Estamos aos poucos e seguindo todas as orientações da OMS retomando alguns trabalhos pastorais.

Reiniciamos o coral adulto e infantil, mas com apenas dois membros de cada vez. (fotos dos ensaios).

A catequese está sendo online para preservar a saúde das crianças. A participação é muito boa, mesmo com algumas dificuldades como a falta de internet em algumas famílias, algumas crianças usam o aparelho dos pais e os mesmos trabalham, ficam o dia inteiro fora. Para essas crianças não se prejudicarem, adotamos a visita sem entrar nas casas e sem eles saírem. É uma catequese a porta de casa, mas na rua, sem contato físico, sem proximidade.

Grupo de catequista da comunidade Nossa Senhora Aparecida (bairro Ipê Amarelo).

Retomamos a formação litúrgica com a equipe da comunidade, como são poucas pessoas fazemos presencial sem esquecer os cuidados.

Fizemos parte do tríduo do mártir pe. Ezequiel Ramín, juntamente com a paróquia e o grupo paroquial de espiritualidade comboniana.

Temos feito e participado de algumas lives.

Para os próximos dias temos a semana nacional da família na paróquia, o encontro de catequese com a turma do crisma, além dos trabalhos já existentes.

Alguns dias atrás descobri um talento escondido (risos), descobri-me pintora de parede. Junto com a família Camey, da Guatemala, pintamos a fachada da casa comboniana. Modéstia à parte, ficou lindo!

Casa Comboni
Casa Comboni

No social estamos junto cadastrando e distribuindo cestas básicas. Uma parceria com a cúria diocesana. Essas cestas vêm da multa que a mineradora Vale paga referente ao desastre de Brumadinho.

reparto

E assim vamos seguindo a missão do jeito que o Senhor nos apresenta.

É gratificante e posso dizer com certeza que vou sentir falta do Ipê Amarelo, das pessoas, em especial das crianças.

Maria Regimar, LMC na casa de missão Santa Teresinha, no Ipê Amarelo, em Contagem/MG. Brasil.

Laudato si’ e Ciranda: juntos para fortalecer a agricultura familiar no Maranhão

Ciranda

Fonte: Vatican news

Ciranda
A cisterna concluída com sucesso em trabalho de equipe

O Ciranda, um acrônimo para Centro de Inovação Rural e de Desenvolvimento Agroecológico, dá formação teórica e técnica em agroecologia para 70 famílias da cidade de Açailândia, como alternativa econômica à cadeia de mineração e ao agronegócio da região, que se encontra bem no meio do percurso da Estrada de Ferro Carajás (EFC). Segundo o coordenador Xoán Couto, o projeto brasileiro se inspira na Laudato si’, já que percorre o mesmo caminho que une a fé e a ciência, em “resposta às necessidades das comunidades, valorizando também os conhecimentos tradicionais.”

Andressa Collet – Vatican News

A “ciranda” faz parte do patrimônio cultural da maioria das crianças brasileiras. Uma música, com dança de roda, que lembra as mulheres de pescadores do nordeste do país que cantavam esperando os maridos chegarem do mar. Uma dança comunitária, sempre à espera de mais um, assim como acontece com um projeto desenvolvido na cidade de Açailândia, no Estado do Maranhão, em plena Amazônia.

Uma brincadeira levada a sério desde 2018. O Ciranda, um acrônimo para Centro de Inovação Rural e de Desenvolvimento Agroecológico, resolveu apostar na agroecologia como alternativa econômica à cadeia de mineração e ao agronegócio da região, que se encontra bem no meio do percurso da Estrada de Ferro Carajás (EFC), que liga a maior mina de minério de ferro a céu aberto no mundo, em Carajás, no sudeste do Pará, ao Porto de Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão.

A ecologia integral, assim, surge como uma possibilidade real para que as famílias não dependam somente da mineração, mas que consigam resgatar a economia local, gerando renda pra dentro de casa, com menos impacto ao meio ambiente. O coordenador do Ciranda, Xoán Carlos Sanches Couto, leigo missionário comboniano, é quem explica essa nova relação com a Casa Comum que consegue ser adaptada à realidade de cada um: “O Ciranda promove tecnologias apropriadas para agricultores familiares e os camponeses. Aqui testamos e aplicamos tecnologias e formas de produção que são bem adaptadas à escala de tamanho das propriedades dos agricultores familiares aos seus conhecimentos, à força de trabalho que eles têm nas suas famílias, e ao meio ambiente que temos aqui nesta região.”

Ciranda
Os jovens do projeto Ciranda em estudo de campo

A agroecologia inspirada na Laudato si’

O engenheiro agrônomo é espanhol, há 20 anos no Brasil, trabalhando junto às famílias da Amazônia do Maranhão. No início, Xoán criou a Casa Família Rural, um tipo de escola agrícola comunitária para melhorar a vida e a educação dos jovens do campo. Hoje, junto com o Ciranda, os dois projetos ajudam na formação teórica e técnica de 70 famílias da região.

Nos cursos, os filhos de agricultores aprendem a se familiarizar com as formas de produzir as culturas agroecológicas, podendo reproduzir nas suas propriedades. São tecnologias apropriadas para a agricultura familiar que, uma vez aprendidas na escola, são repassadas para as famílias e comunidades num fluxo permanente de incentivo para permanecer no meio rural. Esse é um dos bons exemplos que vêm do Brasil, uma ação que não resolve os problemas globais, mas confirma “que o ser humano ainda é capaz de intervir de forma positiva” para melhorar o meio ambiente (Papa Francisco, Laudato si’, p. 40).

“Esta ideia do trabalho com agroecologia se inspira muito na Encíclica Laudato si’, assim como a encíclica que é uma junção da ciência e da fé – o Papa para dar essas exortações que ele dá na encíclica e a sua equipe buscaram o melhor que a ciência tem produzido para explicar a crise ambiental, para dar uma resposta desde a fé, mas também com base científica. Então, o Centro Ciranda também faz esse mesmo caminho. A gente usa o conhecimento científico, nós temos parceria com instituições de pesquisa, com universidades, mas, ao mesmo tempo, a nossa resposta é desde as necessidades das comunidades, valorizando também os conhecimentos tradicionais.”

Xoán dá exemplos das técnicas ensinadas, que vão desde a bioconstrução, uma forma de construção tradicional muito praticada na região com barro e telhas de material reciclado, até a fabricação de biogás e captação da água da chuva com cisternas. Mas também é praticada a avicultura caipira, a minhocultura, a piscicultura e a apicultura; os suínos são criados ao ar livre e os sistemas agroflorestais são incentivados através do plantio de árvores madeireiras e frutíferas, e também de culturas anuais que são a base alimentar dos moradores: “como milho, feijão, mandioca e etc. Tudo isso é plantado junto na forma chamada policultivo, onde não existe monocultura e uma espécie ajuda a outra de forma que temos um ambiente equilibrado e muito difícil de acontecer uma praga, algum inseto vir atacar e dar algum prejuízo econômico. Então, na forma de se inspirar na natureza – que tem a sua base científica também”.

Ciranda
A técnica da bioconstrução, com barro e telhas de material reciclado

Os desafios do Ciranda: das queimadas ao agronegócio

Apesar dos bons resultados, os desafios existem: é o caso das queimadas que chegam de outras propriedades. Xoán conta que geralmente conseguem salvar as culturas permanentes, mas as outras áreas, com experiências de pastagem ecológica e reserva de mata, são muito castigadas pelo fogo, como aconteceu nos dois últimos anos consecutivos. “Isso é um desafio que nos leva a pensar como, para os próximos anos, a gente pode fazer barreiras florestais que sejam menos suscetíveis ao fogo e que a gente consiga vencer esse problema. Mesmo assim, os resultados são promissores: a gente vê nas famílias essa empolgação e vontade de permanecer trabalhando na terra, sabendo que tem essa missão de fornecer alimento para humanidade e que isso pode ser feito preservando a nossa Casa Comum, sem degradar o meio ambiente.”

A aliança com a natureza já está muito presente na vida da maioria dos camponeses. Porém, não são todos que têm essa consciência, pois o agronegócio está muito presente localmente, “transformando economias, paisagens e mentes”. Como confirma o Papa, na Laudato si’ (p. 38), “com muita facilidade, o interesse econômico chega a prevalecer sobre o bem comum” e “qualquer tentativa das organizações sociais para alterar as coisas será vista como um distúrbio provocado por sonhadores românticos”.

Ciranda
Xoan, ao centro, com um grupo de agricultores familiares

Xoán tem plena consciência de que o Ciranda é uma experiência que “contraria profundamente as bases do mercado capitalista, onde mais vale quem mais tem e quem mais ganha dinheiro”. “Por isso, muitas vezes, as famílias tendem ser ridicularizadas, a ser minimizadas, a dizer que isso não dá certo, que isso não consegue alimentar a humanidade, quando nós temos já várias pesquisas que dizem que, por exemplo: 1 hectare de agrofloresta – que é o método que nós trabalhamos, de sistema agroflorestal – se for considerar todos os serviços ambientais prestados, ele é mais produtivo que 1 hectare de monocultura de soja. Isso em termos monetários, mas também em termos ecológicos. Então, desmontar essa racionalidade monetarista é um dos desafios que nós temos e nisso iremos trabalhar nos próximos anos.”

Ciranda
Os jovens do projeto Ciranda em estudo de campo

Ouça a reportagem especial:

*Fotos e vídeo produzidos antes das últimas medidas tomadas para enfrentar a emergência da Covid-19

Sobre a missão entre os Gumuz

Gumuz situation
Gumuz situation

Quando, em Novembro de 2020, regressei de Portugal, nunca pensei viver os momentos que tenho experienciado nestes últimos meses.

Vivo em Guilguel Beles, na Região de Benishangul-Gumuz, Etiópia e, na missão, trabalhamos essencialmente com o povo Gumuz (nós, Leigos Missionários Combonianos, vivemos com os Missionários Combonianos, na mesma missão). Não fechamos as portas a ninguém, mas este é um dos povos mais esquecido e abandonado da Etiópia e do mundo.

Várias pessoas de outras etnias, tais como Amara, Agaw, Chinacha, também aqui vivem. O solo é fértil e isso leva a que seja uma zona apetecível. E, por isso, muitas vezes, os Gumuz perderam terrenos que lhes pertenciam.

Mas, mesmo assim, as pessoas viviam em paz, sem grandes problemas. Em 2019, já eu estava na Etiópia, uma aldeia Gumuz foi atacada, pessoas mortas, casas queimadas. A nossa missão foi pioneira em prestar auxílio aos deslocados.

Quando regresso, em Novembro de 2020, rebeldes Gumuz começaram a atacar não Gumuz. Com grande dor soube da morte de muitos inocentes. A vida humana é preciosa.

Porém, assisti também à persecução de Gumuz. Pessoas fugiram para a floresta, casas queimadas, dezenas de jovens presos sem qualquer justificação.

Recordo-me de ir com o David, LMC, meu colega de missão, até Debre Markos, na região Amara, com dois Gumuz, pois tinham receio de ser mortos. Várias vezes fomos prestar auxílio a detidos na estação policial.

Entretanto, o Governo começou a negociar com os rebeldes Gumuz e, durante quase dois meses conseguimos abrir escolas, clínica, biblioteca.

Porém, as negociações falharam e os rebeldes Gumuz mataram mais pessoas. Nem sempre é fácil concluir negociações quando as propostas exigidas são impossíveis de concretizar.

Como resposta, rebeldes Amara e Agaw, atacaram aldeias, mataram pessoas, queimaram casas. Os jovens com quem convivia, as mulheres do grupo que seguia, as crianças da escola e jardim-de-infância tiveram que fugir para a floresta: sem comida, sem roupa, sem nada. Pessoas que eu conhecia foram mortas: inocentes!

Na nossa missão muitas têm sido as pessoas que aqui vêm para pedir comida, dinheiro para comprar comida, assistência médica …

No início preparámos comida para todos os necessitados que vinham ao nosso encontro [“dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16)]; depois com a ajuda da Diocese oferecemos massa e, diariamente, todas as manhãs oferecemos uma refeição a mais de 200 crianças. Aos Domingos oferecemos uma refeição, depois da missa.

O David todos os dias se responsabiliza pela gestão das refeições e a Irmã Nives (irmã comboniana) diariamente presta cuidados médicos a dezenas de pessoas.

Eu alterno entre ajudar no trabalho com as crianças e ir a Mandura, à missão das Irmãs Combonianas (que tiveram que deixar a missão, devido a esta situação de guerrilha, vivendo por agora na nossa missão. Mas durante o dia procuram estar na missão onde estavam, Mandura, para acolherem as pessoas que aparecerem) onde ajudo com as tarefas doméstica, tais como buscar água para os animais, para a casa (pois as irmãs estão sem água em casa), entre outros e recebemos (eu e as irmãs Combonianas Vicenta e Cristiane) as pessoas que aparecem para cumprimentar ou pedir ajuda. Muitas delas arriscam vir à missão, depois de 3/4 horas a caminhar, para buscar cereais que guardaram na casa das Irmãs ou pedir ajuda.

Tem sido muito duro escutar tanto sofrimento: pessoas que estão a sofrer, subnutrição, crianças gravemente doentes, pessoas que perderam familiares, que perderam os seus cereais. Quantas vezes me é difícil adormecer a pensar nesta realidade.

Gumuz situation

A missão são rostos e tenho presente tantos rostos sofridos. Quando na Igreja rezo e olho para a cruz de Jesus vejo imensos rostos, contemplo esta realidade sofredora e percebo que Jesus está naquela cruz por nós e que continua a sofrer diariamente por nós. Mas, ao mesmo tempo, sinto estas palavras na minha mente: não tenhais medo! Eu estou convosco!

Não é fácil viver estes momentos de sofrimento, mas a vivência da fé em Jesus, que passou a vida fazendo o bem, que sofreu, foi morto mas ressuscitou ajuda-nos a ser testemunhas do Amor de Deus entre as pessoas.

Obrigado a todos e todas que têm contribuído a vários níveis, de oração, amizade, carinho e ajuda para a missão. Sem a vossa partilha não teríamos hipótese de prestar auxílio. Muito obrigado de coração!

As tribulações não faltam, mas estai certos de que a vossa oração nos sustenta. A missão é de Deus e é nEle que devemos colocar a nossa confiança.

Abraço fraterno,

Pedro Nascimento, LMC en Etiópia