Leigos Missionários Combonianos

Celebrando os nossos talentos e experiências como LMC II

LMC Europa

Após uma merecida pausa para o almoço, retomámos os workshops com o testemunho missionário da comunidade portuguesa de Fetais. Os LMC portugueses decidiram no ano passado abrir uma presença comunitária na periferia de Lisboa. Num bairro com uma grande diversidade de nacionalidades onde se destacam migrantes de antigas colónias portuguesas em África, mas onde também há uma presença de latino-americanos e de pessoas de origem asiática. Tudo isto com os portugueses, muitos deles de etnia cigana.

Toda esta grande diversidade faz com que a vida ali seja muito diferente do que é habitual no país. Sem dúvida um cadinho de culturas que traz muita riqueza, mas por vezes com muitas dificuldades ligadas à sua condição de exclusão.

Esta experiência também deu origem a um debate sobre os direitos dos migrantes na União Europeia, a política comum que não facilita a imigração e como as exigências desiguais de um ou outro país podem também fazer com que as pessoas sejam mais desfavorecidas em função da legislação local.

Depois os LMC de Espanha ajudaram-nos a entrar numa apresentação muito elaborada sobre a importância da advocacia na nossa acção missionária na Europa. Tomar consciência de como o Papa Francisco nos encoraja a tomar uma posição política e uma responsabilidade cada vez maior como leigos, porque a política, como um serviço ao bem comum, marca definitivamente a vida das pessoas. Quão importante é a influência na alteração da legislação, a sensibilização das pessoas para as diferentes questões que afectam tanto como os cuidados com o planeta, as migrações, etc.

A apresentação foi acompanhada pela intervenção externa da Irmã Benjamine que nos falou do trabalho realizado por Talita Kum contra o tráfico de seres humanos a nível internacional. O irmão Simone falou-nos do trabalho da VIVAT Internacional e da pressão que estão a tentar exercer sobre a ONU e Genebra para mudar as políticas globais, e o Padre Lorenzo partilhou connosco a luta da rede Igreja e Mineira contra as actividades mineiras abusivas na América Latina. Todos eles reforçaram a responsabilidade e a necessidade de trabalho neste sector que temos na Europa.

A última sessão do dia esteve a cargo dos LMC de Itália, que apresentaram vários dos projectos que estão a desenvolver em diferentes partes do país. Desde o acolhimento de migrantes na comunidade de La Zattera em Palermo. Um lugar onde poder organizar as suas vidas, descansar e começar a integrar-se na nova sociedade.

Nesta linha, Venegono explicou os projectos que desenvolvem desde Combinazione, tais como os vários abrigos de refugiados que dirigem, onde actuam desde o primeiro acolhimento até um último recurso na estrada para uma vida independente, onde facilitam a saída dos recursos anteriores.

Também explicaram o trabalho que fazem para aumentar a sensibilização nas escolas. Levar as realidades do mundo às crianças e jovens, com projectos de sensibilização adaptados a diferentes grupos etários, por vezes com o testemunho de migrantes africanos. Ou mesmo com a publicação de um livro que ajuda a compreender a realidade de uma sociedade em mudança e o papel de todos nesta sociedade, especialmente os mais jovens.

Finalmente, Simone partilhou connosco a sua experiência de vida como LMC na comunidade religiosa comboniana de Castel Voturno e, em particular, o seu trabalho na associação Black and White que tenta oferecer alternativas educativas e de lazer aos filhos dos migrantes que chegaram a Itália e que no entanto nasceram em Itália e que nem sequer têm direito à cidadania italiana. Também como este recurso se torna o único local de lazer ou possibilidades de estudo para estes rapazes e raparigas devido às más condições do bairro onde eles vivem.

No final deste dia intenso pudemos ter um tempo de silêncio e oração juntos, organizado a partir de Espanha. Uma oração simples nas diferentes línguas, onde pudemos colocar aos pés do Senhor tudo o que partilhámos, as necessidades de todas as pessoas que servimos e a nossa vontade de continuar o caminho para onde quer que Ele nos chame.

Com o Pai-Nosso em cada uma das nossas línguas, encerramos este belo dia de partilha e sonho juntos a partir dos dons e serviços que cada um de nós desenvolve. Certamente que terá iluminado muitos para novas iniciativas e encorajado a todos sabendo que estamos juntos nesta causa comum que é o Reino de Deus.

Um grande abraço a todos vós e graças àqueles que participaram, pois com as vossas contribuições fizeram-nos crescer.

Alberto de la Portilla. Comité Central dos LMC

Celebrando os nossos talentos e experiências como LMC

LMC Europa
LMC Europa

Com este sugestivo título, os LMC europeus realizaram um dia importante no sábado passado.

Antes de mais, gostaríamos de agradecer ao Comité Europeu pela organização deste encontro, o qual teve lugar durante meses. Não foi fácil, mas no final funcionou muito bem e as traduções simultâneas tornaram possível aos LMC de diferentes países participar e aproveitar todas as trocas de ideias.

A finalidade do encontro era oferecer uma variedade de conteúdos e experiências de acordo com os interesses, actividades e compromissos que nós, como LMC, desenvolvemos na Europa ou desde a Europa.

LMC Europa

A reunião começou com a intervenção dos LMC alemães que partilharam o seu grande trabalho sobre o tema da Paz. Começaram por apoiar projectos combonianos para o desenvolvimento da paz no Sudão e têm vindo a alargar esta gama às diferentes realidades conflituosas que enfrentamos no planeta e mesmo a nível local no nosso ambiente em que vivemos. Tudo isto com uma metodologia de abordagem que procura compreender o conflito e promover soluções que sejam válidas para todos.

Posteriormente, os LMC polacos encorajaram-nos a reflectir sobre a forma de sensibilizar e financiar o trabalho que realizamos. A importância de incluir parceiros foi muito enfatizada, não apenas alguém que pode dar uma ajuda única, mas também estabelecer uma ligação que nos permita o acompanhamento do trabalho que estamos a fazer e fazer com que as pessoas se sintam parte dele. Foram-nos apresentadas várias iniciativas e possibilidades. Posteriormente, foram partilhadas diferentes iniciativas de outros países que estão a ser levadas a cabo e que estão a dar pequenos frutos.

LMC Europa

Tivemos seguidamente um momento de reflexão sobre a missão como família. Foi um tempo rico em que, a partir da experiência, partilhámos o que significa estar em missão como uma família. A incompreensão por vezes por parte de algumas pessoas que pensam que estar em missão significa ter muito tempo para fazer actividades, ao passo que por experiência percebemos que é realmente o nosso testemunho de vida, neste caso como família, que nos aproxima do povo, da sua vida quotidiana.

Reflectimos também sobre a importância de escolher lugares onde a família possa estar. Onde o nível de violência não é elevado e ao mesmo tempo é possível ter um nível mínimo de educação e cuidados de saúde para as crianças. Também a importância do diálogo na família, especialmente quando as crianças chegam à adolescência e à juventude e estão a tomar as suas próprias decisões e escolhas de vida. Em geral, descobrimos que se trata de um grande enriquecimento para as crianças. É sem dúvida um tema muito bonito e muito ligado à nossa realidade laical.

LMC Europa

Assim, terminámos as sessões da manhã e fomos almoçar.

Amanhã terminaremos de vos falar sobre o encontro 😉

Saudações a todos e a cada um de vocês.

Alberto de la Portilla. Comité Central dos LMC

Ciclone Gombe em Moçambique

Carapira Gombe

Compartilho uma triste notícia desde o norte de Moçambique, missão de Carapira, enviadas por Regimar e Tito:

“Oi. Estamos bem. Mas a situação aqui tá bem complicada. Um Ciclone devastou Carapira na última sexta-feira. 90% das casas destruídas, toda machamba (horta) desapareceu. 10 mortes e 3 feridos graves. É o que sei. Com certeza são mais. Não temos notícias de muitas comunidades.

Falta comida e roupa. A fome já é uma realidade.

Estamos em busca de ajuda. O mundo não sabe do que aconteceu aqui.

Até nossas roupas doamos.

Não temos rede de celular nem energia. Agora é que conseguimos sinal.

Estou tentando ajuda com a Cáritas, com Helena. Marcamos uma conversa.

Abrigamos na sexta-feira 46 famílias, 150 pessoas no centro de Carapira. No centro catequético tem outras. Já não sei quantas porque a toda hora chega gente. Tem família com 30 pessoas acolhidas e sem comida.”

Coloquemos em nossas orações e vejamos o que de concreto conseguimos fazerem conjunto!

Um abraço fraterno.

Mapeamento da pastoral social da Família Comboniana

niños jugando

A Família Comboniana – combonianos, combonianas, seculares e leigos combonianos – decidiu fazer um estudo sobre a sua presença entre os empobrecidos e sobre a eficácia da sua pastoral social no âmbito da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). O objectivo primordial da pesquisa era verificar até que ponto a pastoral social comboniana tem contribuído para a transformação social das comunidades e dos povos com os quais trabalha. Neste sentido, fez-se um mapeamento das suas principais actividades ou projectos sociais no mundo, desde a perspectiva do novo paradigma missionário que, cada vez mais, se alicerça numa visão ministerial. Aqui, publicamos uma primeira reflexão, tendo em conta os indicadores mais relevantes dos 205 projectos até agora registados e analisados.

Compromisso social da Família Comboniana
Um contributo para a transformação social das comunidades no meio das quais trabalha

Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula, iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

A Família Comboniana (FC) enveredou, há já vários anos, por um percurso missionário em comunhão com os movimentos populares e sociais, empenhados na regeneração de um mundo no qual o grito dos empobrecidos e da própria Terra levanta o véu sobre a sua insustentabilidade socioeconómica e ambiental.

É desde 2007 que a FC participa, activamente, no Fórum Social Mundial, que se organiza, em princípio, de dois em dois anos e em diferentes cidades do mundo. Na mesma ocasião, tem-se organizado também um Fórum Comboniano, com o objectivo de promover uma reflexão teológica e carismática a partir das realidades sociais nas quais os missionários e as missionárias estão inseridos.

Em 2018, publicou-se um livro, intitulado “Sede a mudança que quereis ver no mundo”, uma obra que documenta o percurso feito – de 2007 a 2018 – e reflecte sobre os desafios da missão. Em Maio de 2020, seguiu-se um segundo volume, desta vez intitulado “Somos missão: testemunhos de ministerialidade social na Família comboniana”, no qual se apresenta a imersão da missão comboniana na realidade da vida, nos vários contextos culturais e sociais, e se exalta a originalidade e vitalidade do carisma comboniano no serviço ministerial com abordagens, métodos, dinâmicas e meios variados.

Mapeamento dos ministérios sociais da Família Comboniana no mundo

Para dar continuidade a este processo de acção-reflexão, decidiu-se fazer um mapeamento dos ministérios sociais da FC no mundo, com três objectivos: avaliar a significatibilidade do ministério social comboniano; fazer emergir como a FC vive a ministerialidade neste tempo de transição epocal face a um novo paradigma de missão emergente; e promover um percurso sinodal.

Nesta primeira fase do mapeamento, foram recolhidas, documentadas e analisadas 205 experiências de ministério especificamente social. Esta quantidade excepcional de experiências, embora seja ainda apenas uma parte, dá-nos já a possibilidade de ter uma percepção real sobre o que se está a fazer e qual o seu impacto. Pela primeira vez, é possível ter-se uma visão global empírica sobre a dimensão social da pastoral da FC, baseada em dados concretos e sistemáticos sem precedentes, e fazer-se um estudo comparativo, cruzando os dados obtidos. Contudo, este deve ser considerado apenas o início de um longo processo. Isto porque há ainda muitas outras experiências que poderão vir a ser registadas, documentadas e, posteriormente, analisadas. Portanto, este mapeamento pode continuar a ser enriquecido não só com novas experiências, mas também com a actualização contínua das experiências já documentadas.

Analisando o banco de dados das 205 experiências em curso, ajudados por uma aplicação web, podemos tecer algumas considerações, que a seguir passamos a expor.

Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula, iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha

Considerações gerais sobre os dados obtidos

Uma primeira consideração diz respeito à abordagem do ministério social em si mesmo. Do ponto de vista histórico, a práxis social da Igreja conjugou-se entre dois eixos: por um lado, o serviço aos últimos e aos excluídos (também chamado serviço directo), que, por sua vez, se desdobra em duas direcções, ou seja, as obras de misericórdia e a promoção humana; e, por outro lado, ainda a justiça e paz (ou acção social), uma dimensão profética, baseada seja na denúncia, seja na formação/conscientização de agentes de transformação, seja na promoção de alternativas estruturais.

Como tendência, resulta que o serviço directo entre os mais vulneráveis e empobrecidos prevalece sobre a dimensão pastoral no âmbito da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). Em particular, o aspecto que aparece mais débil é o da denúncia aberta das injustiças. Uma possível explicação para esta debilidade é o facto de alguns missionários e missionárias trabalharem em países onde vigoram regimes ditatoriais e opressores, o que requer dos mesmos uma singular prudência na denúncia das violações sistemáticas dos direitos humanos e das mais flagrantes injustiças estruturais. Apesar disso, nota-se um esforço por parte dos mesmos missionários e missionárias em encontrar um ou outro tipo de alternativa, menos frontal, o que revela, desde já, a opção deliberada contra toda a espécie de injustiças e opressões.

Na prática, o serviço directo vem apresentado como estruturalmente integrado nos ministérios sociais, enquanto a justiça e paz (JPIC) ainda não, pelo menos de forma evidente, apesar das várias actividades registadas neste âmbito. Contudo, evitem-se quaisquer interpretações apressadas: estes são valores médios que descrevem a realidade como um todo, e não cada uma das experiências singulares no seu contexto. Sendo assim, seria necessário analisar caso a caso. No entanto, o conhecimento destes valores médios é muito útil, porque nos ajuda a compreender as tendências e as prioridades actuais, numa abordagem global, do desempenho da ministerialidade social a nível de FC.

Em África, em particular, a prevalência do serviço directo é ligeiramente mais evidente – por exemplo, nas áreas da Educação e do Desenvolvimento Humano –, enquanto na América e na Europa, se verifica um maior equilíbrio entre o serviço directo e a justiça e paz. Isto pode depender seja do contexto – em geral, em África, não só as necessidades básicas são maiores e mais urgentes, como também o acesso aos serviços básicos é mais limitado –, seja da história ou tradição missionária do próprio continente. No que diz respeito à Ásia, a presença da FC é ainda numericamente reduzida, pelo que é prematuro tirar conclusões particulares.

Uma segunda consideração, que emerge dos dados do mapeamento, é a imagem gráfica dos sectores ministeriais em que a FC está envolvida. Em comunhão com o Magistério e a práxis social da Igreja, emergem dois sectores que não estão ligados a áreas de serviço, mas sim a processos de transformação social, a saber, o Desenvolvimento humano integral e a JPIC.

No sector do Desenvolvimento humano integral, por exemplo, encontramos o socorro (relief), o desenvolvimento socioeconómico, a dimensão da transformação social, ou seja, a mudança estrutural através da boa governance e advocacy. Além disso, a formação de líderes locais – uma característica muito peculiar do carisma comboniano – aparece como uma das importantes prioridades da pastoral social.

Na área de JPIC, encontramos tipos diversos de engagement como, por exemplo, a nível de direitos humanos, ecologia e ambiente, paz e reconciliação, justiça social e inclusão, diálogo inter-religioso e intercultural, sempre com o objectivo de se criar mais fraternidade e construir um mundo mais justo.

Nesta infografia, apresentamos os compromissos sociais da Família Comboniana no continente africano, divididos em quatro sectores: Saúde, JPIC, Educação e Desenvolvimento. No sector da Saúde (32 projectos): hospitais e centros de saúde (15), saúde preventiva sobre o território (13), reabilitação (2), psicologia mental (2). Na área da Justiça, Paz e Integridade da Criação (107 projectos): direitos humanos (40), ecologia e ambiente (5), paz e reconciliação (22), justiça social e inclusão (27), diálogo interreligioso (13). No domínio da Educação (125 projectos): primária (37), secundária (12), terciário ou superior (12), informal (54), pastoral juvenil (10). Na área do Desenvolvimento humano integral (125 projectos): socorro/relief (15), desenvolvimento socioeconómico (73), governance/advocacy (6), formação de líderes (31)

Outras considerações sobre os dados obtidos

Depois de ter verificado e analisado as tendências globais, detectadas nos dados do mapeamento dos ministérios sociais da FC, entrevemos ainda outros indicadores relevantes que caracterizam a missão comboniana desde as suas origens.

Em primeiro lugar, resulta evidente a proximidade de vida dos missionários e missionárias entre os mais pobres e excluídos, fazendo causa comum com eles. Não em sentido paternalista, mas numa óptica de serviço que faz dos destinatários os protagonistas do seu próprio caminho de regeneração, como prova também o recorrente esforço dos missionários e missionárias em promover a participação e o empowerment das pessoas e das comunidades nos seus projectos e actividades. Um indicador chave desta atitude é a inserção, vivida em contextos e modalidades diferentes tais como, por exemplo: entre os grupos humanos mais excluídos, as comunidades desfavorecidas e marginalizadas, e em contextos sócio-culturais particulares, nos quais a comunidade cristã não é somente uma minoria, mas também sujeita a várias restrições, como é o caso nos países de predominância islâmica.

Em segundo lugar, chamam-nos a atenção a vitalidade e a articulação da colaboração ministerial. Na verdade, as experiências recolhidas mostram como a evangelização é tanto mais fecunda quanto mais se faz em comunidade – não individualmente –, se insere no tecido social e eclesial, e se age em estreita relação com a Igreja local, tendo em conta os diversos contextos e realidades. É também relevante a densa rede de cooperação da FC com outros actores da sociedade civil, mesmo fora das fronteiras da própria Igreja.

Em terceiro lugar, é notável o papel central da espiritualidade e da identidade eclesial no ministério social comboniano. Isto vem confirmado na descrição das actividades de acompanhamento espiritual e na preocupação séria pela transformação da realidade social, na óptica do Reino de Deus. Uma maneira de proceder que se torna fundamental no processo de edificação de um “povo” (cfr. Fratelli tutti e Evangelii gaudium). Neste sentido, a dimensão social e a dimensão espiritual da pastoral são consideradas indissociáveis e vividas como um todo interligado.

Em quarto lugar, a dimensão da Educação emerge de modo claro, o que significa que, em termos quantitativos, se lhe dá uma importância proeminente, seguindo, sem dúvida alguma, a mesma visão missionária de São Daniel Comboni.

Se a missão requer, hoje, uma revolução cultural, esta ênfase no campo da Educação constitui uma condição importante para a transformação social. A importância a dar à Educação confirma-se na iniciativa do Pacto Educativo Global, promovida pelo Papa Francisco, que alerta para a necessidade de uma transformação social que envolva a consciência das pessoas e dos povos, tendo em conta que a raiz da insustentabilidade do mundo de hoje reside numa visão do mundo que perdeu o sentido autêntico da humanidade e da vida.

P. Arlindo Ferreira Pinto na Faculdade de Educação e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, onde trabalhou 13 anos (1997 – 2010) como capelão, docente, e responsável pelo Departamento de Comunicação.

Áreas e desafios actuais a ter em consideração

Apesar de tudo quanto já se está a realizar, identificamos também algumas áreas que poderiam vir a ser ainda mais exploradas e alguns desafios a ter em conta, se considerados como oportunidades de presença profética em resposta aos sinais dos tempos. É o caso das actividades e dos projectos relacionados, por exemplo, com a justiça social e ambiental, a reconciliação e a promoção da paz, que embora apareçam de modo significativo em algumas das experiências recolhidas, ainda não são consideradas, em geral, como eixo transversal da pastoral social. Hoje, a preocupação social pela ecologia e o ambiente requer um maior interesse e dedicação por parte dos missionários, no sentido de promover uma nova economia sustentável e equitativa. De forma análoga, o diálogo inter-religioso e intercultural, que desempenham um papel importante sobretudo nos ministérios sociais em contexto islâmico ou de pluralismo religioso, poderiam ser quantitativamente mais promovidos em outros contextos e em outras áreas da pastoral.

Conclusão

Tendo presente toda a documentação destes 205 projectos e experiências pastorais em curso, agora disponíveis também online, poder-se-á fazer uma reflexão ainda mais detalhada e aprofundada, cruzando os dados registados e construindo elos de ligação entre as iniciativas ou experiências similares. Este tipo de análise permitirá construir percursos que conduzam à elaboração de práticas pastorais específicas tais como, por exemplo, as relacionadas com o ambiente, a reconciliação entre os povos, e a atenção às minorias.

Depois desta leitura atenta aos dados do mapeamento, podemos concluir que existem ainda alguns âmbitos da pastoral social aos quais se poderia dar maior atenção como Família Comboniana, nomeadamente no âmbito da denúncia, com o objectivo de desconstruir as estruturas de pecado, lesivas da dignidade humana, da justiça social e do bem comum.

De igual importância, poder-se-ia, também, aumentar a integração de algumas dimensões fundamentais na estrutura dos ministérios sociais tais como, por exemplo: a ecologia integral, a paz, a reconciliação, o diálogo inter-religioso e intercultural, a economia sustentável e equitativa, e o acompanhamento dos jovens.

Finalmente, queremos reafirmar a centralidade da dimensão da profecia, que, antes de mais, requer abertura, humildade e disponibilidade para nos deixarmos transformar a nós próprios. Uma profecia que se pode exprimir na cultura do encontro, na ternura, na compaixão, no fazer causa comum com os empobrecidos, no evangelizar como comunidade e no criar comunhão entre os ministérios. A dimensão profética é essencial para se chegar à transformação social, para fazer apressar a vinda do Reino de Deus, para dar maior visibilidade ao Ressuscitado que tudo regenera e a tudo e a todos quer dar vida em plenitude.

P. Arlindo Pinto, missionário comboniano

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Fontes:
Irmão Alberto Parise, “L’impegno sociale comboniano: una mappatura – per cambiare il mondo”; revista Nigrizia, Julho/Agosto de 2021, pp. 56-59.

Irmã Maria Teresa Ratti, Irmão Alberto Lamana, Irmão Alberto Parise; “Presentazione della Mappatura dei ministeri sociali nella Famiglia comboniana”, MCCJ Bulletin, n° 287, aprile 2021, pp. 45-76.

Para descarregar o Mapa que apresenta os detalhes de cada uma das 205 experiências registadas até agora, em língua italiana, clique aqui.

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Legenda das fotos:

Foto 1: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 2: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 3: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 4: Infográfico: Nesta infografia, apresentamos os compromissos sociais da Família Comboniana no continente africano, divididos em quatro sectores: Saúde, JPIC, Educação e Desenvolvimento. No sector da Saúde (32 projectos): hospitais e centros de saúde (15), saúde preventiva sobre o território (13), reabilitação (2), psicologia mental (2). Na área da Justiça, Paz e Integridade da Criação (107 projectos): direitos humanos (40), ecologia e ambiente (5), paz e reconciliação (22), justiça social e inclusão (27), diálogo interreligioso (13). No domínio da Educação (125 projectos): primária (37), secundária (12), terciário ou superior (12), informal (54), pastoral juvenil (10). Na área do Desenvolvimento humano integral (125 projectos): socorro/relief (15), desenvolvimento socioeconómico (73), governance/advocacy (6), formação de líderes (31).

Foto 5: P. Arlindo Ferreira Pinto, comboniano, na Faculdade de Educação e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, onde trabalhou 13 anos (1997 – 2010) como capelão, docente, e coordenador do Departamento de Comunicação.

No deserto com Comboni: desafios e alegrias da missão na pandemia.

Casa Comboni
Casa Comboni

Os desafios de hoje lembram-me os desafios de Comboni. Não que sejam iguais. É claro que no tempo de Comboni era bem mais desafiador. A travessia no deserto, as várias malárias, febres, o braço quebrado, que para colocar no lugar teve que ser quebrado novamente (me arrepia em imaginar), etc.

Vivemos também um tempo de deserto. A expectativa da viagem a África, o envio dos documentos, a pandemia, a espera da vacina, o pedido da renovação dos documentos e novamente a espera. Tudo por uma causa maior que é Jesus.

Mas durante tudo isso, não posso reclamar. Fui acolhida com muito amor e o trabalho está produzindo frutos.

Depois de uma parada pela vida: porque o vírus não brinca e prezamos o bem estar e a vida de nossa gente, o povo de Deus. Estamos aos poucos e seguindo todas as orientações da OMS retomando alguns trabalhos pastorais.

Reiniciamos o coral adulto e infantil, mas com apenas dois membros de cada vez. (fotos dos ensaios).

A catequese está sendo online para preservar a saúde das crianças. A participação é muito boa, mesmo com algumas dificuldades como a falta de internet em algumas famílias, algumas crianças usam o aparelho dos pais e os mesmos trabalham, ficam o dia inteiro fora. Para essas crianças não se prejudicarem, adotamos a visita sem entrar nas casas e sem eles saírem. É uma catequese a porta de casa, mas na rua, sem contato físico, sem proximidade.

Grupo de catequista da comunidade Nossa Senhora Aparecida (bairro Ipê Amarelo).

Retomamos a formação litúrgica com a equipe da comunidade, como são poucas pessoas fazemos presencial sem esquecer os cuidados.

Fizemos parte do tríduo do mártir pe. Ezequiel Ramín, juntamente com a paróquia e o grupo paroquial de espiritualidade comboniana.

Temos feito e participado de algumas lives.

Para os próximos dias temos a semana nacional da família na paróquia, o encontro de catequese com a turma do crisma, além dos trabalhos já existentes.

Alguns dias atrás descobri um talento escondido (risos), descobri-me pintora de parede. Junto com a família Camey, da Guatemala, pintamos a fachada da casa comboniana. Modéstia à parte, ficou lindo!

Casa Comboni
Casa Comboni

No social estamos junto cadastrando e distribuindo cestas básicas. Uma parceria com a cúria diocesana. Essas cestas vêm da multa que a mineradora Vale paga referente ao desastre de Brumadinho.

reparto

E assim vamos seguindo a missão do jeito que o Senhor nos apresenta.

É gratificante e posso dizer com certeza que vou sentir falta do Ipê Amarelo, das pessoas, em especial das crianças.

Maria Regimar, LMC na casa de missão Santa Teresinha, no Ipê Amarelo, em Contagem/MG. Brasil.