Leigos Missionários Combonianos

Minério de ferro, viagem sem retorno

Brasil“Minério de ferro, viagem sem retorno: da Amazónia Brasileira às montadoras alemãs” é o título de uma produção cinematográfica, promovida pela “Rede Justiça nos Trilhos” e financiada pela Misereor, uma organização dos bispos católicos alemães, que há 50 anos trabalha no combate à pobreza em países da África, Ásia e América Latina. A produção conta, em 28 minutos, o quotidiano das comunidades impactadas pelo Programa Grande Carajás, o maior projecto de extracção de minério de ferro do mundo, nos estados brasileiros de Maranhão e Pará.

A Misereor apoia os projectos desenvolvidos pela “Rede Justiça nos Trilhos”, uma coalizão de comunidades atingidas pelos empreendimentos minerários no norte do Brasil, organizações, grupos pastorais, movimentos sociais e grupos de pesquisa académica em busca da justiça ambiental naquela região. Esta Rede conta também com o apoio dos Missionários Combonianos.

O documentário reflecte sobre o processo de extracção e exportação do minério de ferro, da Serra de Carajás, no estado do Pará, ao porto de São Luís, no Estado do Maranhão. Cerca de cem comunidades sofrem os diversos impactos e as consequências desta viagem do ferro, como a expulsão das famílias das suas terras, a poluição do ar e do ambiente, os atropelamentos, entre outros.

Mais de 50 por cento da importação do minério de ferro da Alemanha vem do Brasil, mas as empresas de automóveis não estão interessadas em verificar se as matérias primas para a sua produção carregam consigo um rastro de violações de direitos humanos e de injustiça ambiental.

Este documentário levanta perguntas, provoca e aponta para novas estratégias de acção conjunta na cadeia de produção do aço.

Chamada dos povos para invalidação imediata da “auscultação pública do plano director do prosavana”

prosavanaNós, povos de Moçambique, Brasil e Japão, mobilizados e engajados na articulação dos Povos, temos vindo a monitorizar e a acompanhar de perto o Programa de Cooperação Triangular para o Desenvolvimento da Agricultura da Savana Tropical em Moçambique, mais conhecido por ProSavana, uma iniciativa que desperta muitas preocupações pela sua concepção e potenciais consequências para a agricultura camponesa, meio ambiente e Direitos Humanos. Nos meses de Abril e Maio de 2015 participamos e observamos as “reuniões de auscultação pública sobre o Draft Zero do Plano Director do ProSavana”, convocadas pelo Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar de Moçambique e já realizadas no nível distrital e provincial.

O presente documento reflecte e expressa a profunda indignação e insatisfação dos três Povos sobre este processo da auscultação pública, sobretudo, pela forma como as reuniões foram planificadas, convocadas e realizadas. Os assinantes deste documento são movimentos do campo, movimentos sociais e ambientais e organizações da sociedade civil e de base religiosa que, de forma conjunta, têm vindo a realizar acções de advocacia e resistência ao ProSavana em diferentes frentes em prol da causa comum na protecção e em defesa dos direitos e soberania dos camponeses que dominam a maioria dos residentes da região do Corredor de Nacala e que são os principais afectados pelo plano e circunstâncias do programa.

Neste âmbito foram realizadas a I e a II Conferência dos Povos, organizada pelos três povos, em 2013 e 2014 respectivamente, em seguimento à Carta Aberta para Deter e Reflectir o ProSavana endereçada ao Presidente da República de Moçambique, Presidente do Brasil e ao Primeiro-ministro Japonês em 2013. Ao longo deste período, o ex- Ministério de Agricultura (MINAG) actual Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar, sempre que solicitado, informou que estava em curso o processo de elaboração do Plano Director do ProSavana, o qual seria supostamente divulgado e discutido, em consultas, com organizações e partes interessadas oportunamente.

Para a surpresa de todos e passados quase dois anos, sem as prometidas previas consultas e nenhuns esforços para a partilha de informações com estas organizações dos três países, o Governo de Moçambique, por intermedio do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar em representação dos governos de Brasil e Japão, convocou e realizou as chamadas “reuniões de auscultação pública sobre o Draft Zero do Plano Director do ProSavana”, entre os dias 20 a 29 de Abril de 2015, em 19 sedes distritais e alguns postos administrativos das províncias de Niassa, Nampula e Zambézia. Nas capitais destas três províncias, as referidas reuniões decorreram nos dias 30 de Abril na cidade de Quelimane, 8 de Maio na cidade de Lichinga e 13 de Maio na cidade de Nampula, faltando apenas a realização da reunião nacional, em Maputo, já marcada para o dia 12 de Junho corrente.

Saiba-se que a publicação do chamado “Draft Zero do Plano Director do ProSavana”, que foi sendo adiada por mais de dois anos, acontece um mês após os governos de Moçambique e Brasil terem assinado um polémico acordo para a facilitação e protecção do investimento brasileiro em Moçambique, uma das condições que era exigida pelas empresas brasileiras, promovidas pelo ProSavana.

As ditas sessões de auscultação pública surgem como resposta dos governos de Moçambique,

Brasil e Japão às críticas e demandas soberanas das comunidades do Corredor de Nacala, organizações da sociedade civil e movimentos do campo que dizem não ao ProSavana e exigem, desde 2012, a instauração de um diálogo democrático, transparente e inclusivo na definição das prioridades de desenvolvimento da agricultura no país. Por outro lado, as reuniões de auscultação pública acontecem num contexto em que os três governos procuram, a tudo o custo e de forma forçosa, legitimar o ProSavana, depois de terem implantado, no Corredor de Nacala, os pilares para o desenvolvimento da agricultura de grande escala, entre os quais: os laboratórios de solos e plantas com os campos de ensaio de novas variedade de monoculturas como a soja, em Nampula e Niassa, e criar de forma arbitraria os “beneficiários locais” através dos “projectos-pilotos”. Sabe-se que o laboratório de solos e plantas será inaugurado no dia 08 de Junho de 2015 pelo Presidente de Moçambique, Filipe Jacinto Nyusi.

O processo de auscultação pública do “Draft Zero do Plano Director” foi manchado por muitas e graves irregularidades que, uma vez mais, confirmam a prevalência de vícios insanáveis de concepção e de procedimentos de que padece o programa ProSavana e que devem, por isso, ser pública e amplamente denunciados pela sociedade moçambicana, brasileira, japonesa e não só. Assim, mobilizados e engajados, nós, camponeses e camponesas, membros das comunidades do Corredor de Nacala, organizações da sociedade civil e de base religiosa participamos e observamos em quase todas as reuniões, embora com gravíssimos impedimentos impostos pelos organizadores, tendo constatado:

1.    Omissão da base jurídico-legal da “reuniões de auscultação pública”.

Em todas as reuniões realizadas, nenhum representante do ProSAVANA e do Governo Moçambicano sabia ao certo a base jurídico-legal que orienta este processo de auscultação pública do Plano Director do ProSavana, ignorando os instrumentos legais que definem as directrizes que orientam as consultas públicas e asseguram a máxima divulgação, ampla participação democrática, disponibilização e acessibilidade de informação adequada, representatividade, independência, funcionalidade, negociação e responsabilidade.

2.    Violação dos princípios constitucionais pela exigência de registo prévio dos participantes.

A necessidade de registo prévio como requisito para participação nas sessões da auscultação pública anunciada pelo MASA e pelos jornais perturbou a ampla e livre participação dos camponeses sob a circunstância sócia-política e económica do meio- rural. Na hora de sessões, os organizadores aceitaram os participantes sem registo, mas este facto não foi anunciado, e em alguns locais na Província de Nampula, os interessados sem o convite e registo foram mandados embora, contrariando os princípios de participação pública constitucionalmente estabelecidos.

3.    Obstrução da participação de organizações dos camponeses e da sociedade civil.

As consultas públicas caracterizaram-se por graves atrasos, limitações e selecção de participantes e alterações às datas, horário e até locais previamente anunciados, sem o “Plano Director Draft Zero”, documento discutido nos encontros de consulta pública, foi disponibilizado via internet e estava supostamente disponível ao nível dos governos distritais e provinciais, no entanto, para a grande maioria dos afectados, o acesso a uma cópia do documento está à uma grande distância e o próprio documento é volumoso (204 páginas) e técnico, requerendo bastante tempo para uma análise cuidadosa, não sendo portanto considerado informação acessível e adequada para a grande maioria do público-alvo destas supostas reuniões de auscultação publica. Nesse sentido, a informação partilhada nestes encontros foi tendenciosa e insuficiente para uma discussão informada, inapropriada e desviada do conteúdo do Plano Director para manipular os participantes.

Refira-se que as observações feitas neste documento por organizações e académicos dos três países já foram enunciadas em vários outros comunicados1 publicados logo após a realização das reuniões. Nestes documentos, conclui-se que o MASA violou de forma grosseira os artigos 6, 7 e 8 relativos ao princípio da máxima divulgação, princípio da transparência e princípio da participação democrática estabelecidos pela Lei do Direito à informação ao não mandar publicar e fixar o “Comunicado de Imprensa”, datado de 31 de Março de 2015, “sobre a auscultação pública do Draft Zero do Plano Director do ProSavana”. Igualmente violou os sete princípios básicos do processo de participação pública estabelecidos pela “Directiva Geral para o Processo de Participação Pública no processo de Avaliação de Impacto Ambiental” através do Diploma Ministerial nº 130/2006 de 19 de Julho invocada. A referida Directiva estabelece: a) o Princípio de disponibilização e acessibilidade de informação adequada e possibilidade de aprendizagem durante o processo, incluindo suporte técnico; b) o Princípio de ampla participação; c) o Princípio de representatividade; d) o Princípio da independência; e) o Princípio da funcionalidade; f) o Princípio de negociação e g) Princípio da responsabilidade2.

O Princípio de representatividade determina que “no processo de auscultação ou consulta devem se fazer representar todos os segmentos específicos da sociedade civil e outros interessados, principalmente os directamente afectados. É de carácter obrigatório que no mínimo seja assegurada a participação de 20% do universo das pessoas afectadas da área de influência da actividade. Em caso de reuniões que decorrem longe da área de inserção geográfica da actividade deverá, igualmente, ser garantida a participação de pelo menos 50% de instituições/ organizações directamente afectadas ou interessadas na actividade”. Por seu turno, o Princípio de negociação estabelece “que deverá ser entendida como um mecanismo de aproximação de interesses divergentes e estabelecimento de uma base de confiança entre as partes afectadas e interessadas, devendo concorrer para a divulgação das informações sobre as consequências da actividade e formas de minimização e repercussões a advirem da implementação da actividade. Deverá ajudar a administrar e reduzir os conflitos de interesses de diferentes grupos sociais”. O Princípio da responsabilidade defende que “o processo de auscultação e consulta pública deverá representar de uma forma fiel e responsável as preocupações de todos os intervenientes no processo”.

Sob ponto de vista técnico e metodológico, o “Draft Zero do Plano Director do ProSavana’ apresenta vícios insanáveis. Uma análise preliminar aponta apenas alguns aspectos pontuais problemáticos:

1.    Agricultura dos camponeses locais como principal culpado para todos os problemas.

O documento revela que os seus proponentes desconhecem e ignoram profundamente o contexto, os entraves e as prioridades para o desenvolvimento da agricultura em Moçambique. O “Draft Zero do Plano Director do ProSavana” assume a produtividade agrícola como o objectivo central, no entanto, ao dimensionar as causas da baixa produtividade aponta a agricultura de pousio como o principal factor. Tal conclusão é falaciosa, manipuladora e assenta-se sob uma base científica bastante errónea e tendenciosa, pois a agricultura de pousio é o principal factor da conservação da fertilidade dos solos e por via disso do aumento da produtividade, como vários estudos constataram nos ganhos obtidos nas duas últimas décadas nas culturas de milho, feijões e amendoim.

2.    Consequências negativas pela visão de “culturas de rendimento” como soja.

O documento baseia-se em uma visão de culturas de rendimento, como soja e algodão, agricultura de contracto, uso massivo e intensivo de agro-químicos e fertilizantes; sistemas que têm causado graves violações aos direitos humanos, ao meio ambiente e aos ecossistemas, ao direito à terra, à segurança e soberania alimentar e nutricional, bem como exploração de camponeses pela cadeia empresarial no Brasil onde um programa idêntico vem sendo implementado.

3. Negligência do principal carácter da Lei de Terra e FGGT da FAO para possibilitar a usurpação de terra pelo investimento.

O documento declara o combate ao pousio por via da titularização individual da terra para os camponeses da região fixarem e limitarem as suas machambas. A titularização individual da terra e “a utilização dos Princípios do Investimento Agrícola Responsável (IAR)” são designadas como única solução da “prevenção da usurpação de terra”. Mas, a Lei de Terra, que se considera a mais “pró-camponeses no mundo” até hoje, estabelece e protege os direitos do uso de terra dos camponeses sem a titularização individual, e que o mais importante seja o cumprimento desta Lei. Mas, o documento não menciona muito menos se importa com este facto. Também, esta versão do Plano Director do ProSavana ignora completamente “Directorizes Voluntárias sobre a Governação Responsável da Posse de Terra, Pescas e Florestas” (FGGT), desenvolvidas pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) com várias organizações de camponeses e da sociedade civil no mundo, atormentadas por problemas do IAR. Estes factos foram intencionalmente excluídos dos materiais usados na auscultação e não explicados, mas os representantes do ProSavana e dos governos locais enfatizaram que o Plano Director e o ProSavana sejam a única solução para evitar a usurpação de terra. Mas, a análise cuidadosa do Draft Zero mostra claramente que o Plano Director tem como objectivo final encontrar terras para promover investimentos, ou seja, é um mecanismo de usurpação de terra que pretende ser legitimado por uma política pública.

Perante os factos acima apresentados, nós, Povos de Moçambique, Brasil e Japão, assinantes desta chamada, manifestamos a nossa profunda preocupação e indignação e repudiamos a propositada desorganização, politização, exclusão, falta de transparência, intimidação, tribalização, partidarização e manipulação das reuniões de auscultação pública da versão “Draft Zero ou versão inicial” do Plano Director do ProSavana, protagonizada pelos representantes do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar-MASA e Governos distritais envolvidos, e tentativas de renúncia aparente das responsabilidades pelos governos japonês e brasileiro e pelas suas agências da cooperação internacional, Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e Agência Brasileira de Cooperação (ABC) neste momento crítico apesar das tantas promessas de cumprimento da sua responsabilidade.

Assim, vimos a publico denunciar todo o processo de divulgação e das auscultações públicas do Draft Zero do Plano Director do ProSavana incluindo a violação dos direitos humanos dos participantes e;

  1. Exigimos dos Governos de Moçambique, Japão e Brasil a restituição imediata dos direitos humanos dos participantes das auscultações;
  1. Exigimos a invalidação imediata das consultas ou auscultações públicas realizadas nos dias 20 à 29 de Abril nas Províncias de Nampula, Niassa e Zambézia incluindo as de nível provincial havidas nos dias 30 de Abril, 8 e 13 de Maio de
  1. Exigimos também que os três Governos assumam com responsabilidade os mandatos que lhes foram delegados pelos três Povos, garantindo o cumprimento escrupuloso da

Finalmente, reiteramos a nossa disponibilidade e o nosso convite e apelo a todos os movimentos de camponeses, ambientais e sociais, organizações da sociedade civil, comunidades rurais e todos os cidadãos em geral para uma ampla mobilização, engajamento e organização de uma frente comum de resistência ao ProSavana. Enquanto povos unidos continuaremos engajados na luta contra as desigualdades, as injustiças ambientais, sociais, económicas e políticas, bem como na defesa de direitos humanos e interesses relativos ao acesso e controlo de terra, água, florestas, ar, bens e património culturais e históricos comuns.

Maputo, 04 de Junho de 2015

 

Organizações da Sociedade Civil, Movimentos Sociais e Ambientais Signatárias

1. Associação de Apoio e Assistência Jurídica às Comunidades (AAAJC) – Mozambique
2. Acção Académica para o Desenvolvimento das Comunidades Rurais (ADECRU) – Mozambique
3. Africa Japan Forum (AJF) – Japan
4. Advocacy and Monitoring Network on Sustainable Development (AMnet) – Japan
5. Alternative People’s Linkage in Asia – Japan
6. Amigos da Terra – Brazil
7. Amigos de la Tierra (COECOCEIBA) – Costa Rica
8. Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale – Brazil
9. As Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo – Brazil
10. Associação Moçambicana de Amor à Justiça, Paz e Solidariedade (AMAJPS) – Mozambique
11. Association for the Taxation of Financial Transactions for the Aid of Citizens (ATTAC) – Japan
12. Associação Ambiente, Conservação e Educação de Moçambique (ACEM) – Mozambique
13. Blue Planet Project – South Africa
14. Centar za životnu sredinu/FoE Bosnia and Herzegovina – Bosnia and Herzegovina
15. Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados (CEMIRD) – Mozambique
16. Comissão Justiça e Paz Arquidiocese de Nampula – Mozambique
17. Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Nacala – Mozambique
18. Concerned Citizens Group with the Development of Mozambique – Japan
19. Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) – Brazil
20. Council of Canadians – Canada
21. CSO Network – Japan
22. Earthlife Africa – South Africa
23. Eat Locally, Live Locally Akita – Japan
24. Federação de Orgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) – Brazil
25. Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar /CUT – Brazil
26. Federation of Farmer’s Unions of Japan – Japan
27. Friends of the Earth Japan – Japan
28. Fórum Mulher – Mozambique
29. Globalization Watch Hiroshima – Japan
30. GRAIN – Canada
31. GroundWORK – South Africa
32. HUTAN Group
33. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) – Brazil
34. Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC) – Brazil
35. Instituto Equit – Brazil
36. Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) – Brazil
37. Japan Center for a Sustainable Environment and Society (JACSES) – Japan
38. Japan Family Farmers Movement “NOUMINREN” – Japan
39. Japan International Volunteer Center (JVC) – Japan
40. Justiça Ambiental (JA) – Mozambique
41. Justiça Nos Trilhos – Brazil
42. Justiça Global – Brazil
43.“Justiça, Paz e Integridade da Criação” do Instituto dos Missionários Combonianos – Italy
44. Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH) – Mozambique
45. Livaningo – Mozambique
46. Marcha Mundial das Mulheres – Mozambique
47. Mekong Watch – Japan
48. Movimento de Atingidos por Barragens/Via Campesina (MAB) – Brazil
49. Movimento de Mulheres Camponesas/Via Campesina (MMC) – Brazil
50. Movimento de Pequenos Agricultores/Via Campesina (MPA) – Brazil
51. Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra/Via Campesina (MST) – Brazil
52. Mura-­‐Machi Net – Japan
53. No! to Landgrab – Japan
54. NPO WE21 – Japan
55. NPO WE21 Hiratsuka – Japan
56. NPO WE21 Kanagawa – Japan
57. ODA Reform Network – Japan
58. People’s Dialogue – South Africa
59. Plataforma Provincial das Organizações da Sociedade Civil de Nampula – Mozambique
60. Rainforest Rescue – Germany
61. Rede Brasileira pela Integração dos Povos (REBRIP) – Brazil
62. Rede de Mulheres Negras para Segurança Alimentar e Nutricional – Brazil
63. Robin Wood– Germany
64. Rural Women’s Assembly (RWA) – South Africa
65. South Durban Community Environmental Alliance – South Africa
66. The Timberwatch Coalition – South Africa
67. União Nacional de Camponeses (UNAC) – Mozambique
68. WE21 Zama – Japan
69. Womin on Mining – South Africa

 

1 http://farmlandgrab.org/post/view/24909-­‐processo-­‐de-­‐auscultacao-­‐publica-­‐do-­‐plano-­‐director-­‐versao-­‐zero-­‐ doprosavana;http://farmlandgrab.org/post/view/24893-­‐exigimos-­‐a-­‐suspensao-­‐e-­‐invalidacao-­‐imediata-­‐da-­‐auscultacao-­‐publica-­‐ do-­‐plano-­‐ director-­‐do-­‐prosavana; http://farmlandgrab.org/post/view/24805-­‐pronunciamento-­‐urgente-­‐protesto-­‐e-­‐pedidos-­‐ sobre-­‐o-­‐processo-­‐da-­‐ divulgacao-­‐e-­‐do-­‐dialogo-­‐da-­‐versao-­‐inicial-­‐do-­‐plano-­‐director-­‐do-­‐programa-­‐prosavana; http://farmlandgrab.org/post/view/24926-­‐emergency-­‐request-­‐for-­‐re-­‐constituting-­‐public-­‐consultation-­‐process-­‐about-­‐the-­‐ formulation-­‐of-­‐the-­‐ master-­‐plan-­‐of-­‐the-­‐prosavana-­‐program

2 https://adecru.wordpress.com/2015/05/11/exigimos-­‐a-­‐suspensao-­‐e-­‐invalidacao-­‐imediata-­‐da-­‐auscultacao-­‐publica-­‐do-­‐plano-­‐ director-­‐do-­‐ prosavana/#more-­‐343

Igrejas e mineração na América Latina

MInas

Um vídeo de denúncia e esperança: Megaminas a céu aberto, desmatamento e expulsão de famílias e inteiras comunidades. Povos indígenas e comunidades quilombolas ameaçados por interesses minerários sobre seus territórios. Poluição das águas, da terra e do ar. Processos de escoamento do minério que impactam centenas de comunidades ao longo dos minerodutos ou das ferrovias que exportam a grandíssima maioria de nossos minérios. Conflitos e manifestações populares, espionagem e criminalização das lideranças.

 

Apesar de tudo isso, a mineração no Brasil pretende aumentar de 3 a 5 vezes nos próximos 20 anos. A proposta do novo Código de Mineração, cada vez mais criticada por comunidades, sindicatos, movimentos sociais e entidades do País inteiro, visa flexibilizar a legislação para facilitar os interesses das empresas mineradoras.

Diversas comunidades atingidas são apoiadas, assessoradas e defendidas também pelas igrejas. A Igreja Católica se posicionou com críticas contundentes contra a nova proposta de Marco Legal da Mineração. Várias lideranças cristãs de América Latina estão se articulando para buscar alternativas às agressões da mineração.

‘Iglesias y Minería’ é um grito de sobrevivência, resistência e esperança, o grito das comunidades e da vida que não se deixará arrancar.

Iglesias y Minería é um grupo ecumênico de leigos, leigas, religiosas e religiosos empenhados em defesa das comunidades afetadas por mineração nos diversos países do Continente. Desde 2013 o grupo articula os atingidos entre si, com a hierarquia das igrejas que queiram e possam apoiá-los, e com instituições internacionais de defesa dos direitos humanos.
[iglesiasymineria@gmail.com]

 

Moçambique: NÃO aos açambarcadores de terras

Mozambique

Uma trintena de missionários e missionárias combonianos que trabalham nas províncias combonianas da Europa participaram no “Simpósio de Limone 2015”, um evento organizado pelo Grupo Europeu de Reflexão Teológica (GERT), de 7 a 11 de Abril de 2015, na casa natal de Comboni, em Limone sul Garda (Itália). O tema deste ano foi: “Ser boa notícia hoje na Europa: consolidar, aprofundar e imaginar”. No final do Simpósio, os participantes assinaram um comunicado para condenar o projecto do Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar do Governo de Moçambique que vai conceder 102 mil quilómetros quadrados de terras férteis (a superfície total de Portugal é de 92.090 quilómetros quadrados) ao consórcio privado ProSAVANA, constituído por empreendedores moçambicanos, japoneses e brasileiros. Publicamos de seguida o comunicado dos missionários.

 

Moçambique: NÃO aos açambarcadores de terras Mozambique

Acaba de se abrir nestes dias, em Moçambique, mais um gravíssimo capítulo de açambarcamento de terras, problema usualmente conhecido por ‘land grabbing’.

Na verdade, o Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar do Governo de Maputo publicou, recentemente, um documento de 204 páginas, nas quais se refere à concessão de 102 mil quilómetros quadrados de terras aráveis (recorde-se de que a superfície total de Portugal é de 92.090 quilómetros quadrados) ao Consórcio ProSAVANA, que é constituído por empreendedores moçambicanos, japoneses e brasileiros. Estas terras fertilíssimas encontram-se na região norte do País, nomeadamente nas províncias de Nampula, Niassa e Zambézia. Neste mesmo território, habitam cerca de quatro milhões e duzentas mil pessoas; deste modo, é inacreditável como Moçambique, que conta com aproximadamente 30 milhões de hectares de terras cultiváveis, ceda cerca de 10,2 milhões de hectares a um consórcio privado.

O Governo de Maputo afirma que este projecto beneficiará os pequenos agricultores e contribuirá para a alimentação da população, enquanto se sabe muito bem que tal projecto utilizará muito pouca mão de obra local, porque serão utilizados meios mecânicos de alta tecnologia e o produto final servirá exclusivamente para a exportação.

Assim, perguntamo-nos aonde irá toda aquela população que será obrigada a abandonar as suas terras? E, depois, qual será o impacto ambiental de um tal megaprojecto? Que consequências terá sobre as águas subterrâneas? E, finalmente, quais efeitos políticos terá sobre o já frágil equilíbrio por que se rege hoje a paz em Moçambique?

Em apoio às associações de agricultores locais e aos nossos confrades e co-irmãs que com eles trabalham, nós missionários, missionárias, seculares e leigos combonianos da Itália e da Europa, reunidos em Limone sul Garda, na Itália, na casa natal de São Daniel Comboni, lançamos um grito de alarme contra este mesmo acto de ‘land grabbing’ que, mais uma vez, será pago dolorosamente pelos mais de quatro milhões de pessoas pobres que vivem naquelas regiões.

Mozambique

Limone sul Garda, 10 de Abril de 2015

Padre Alberto Pelucchi, vigário-geral dos Missionários Combonianos
Padre Alex Zanotelli, Director de Mosaico di Pace, Napoli (Itália)
Padre Antonio Guarino, Castel Volturno, Napoli (Itália)
Padre Antonio Porcellato, vigário-geral da Società Missioni Africane (SMA), Roma
Padre Arlindo Pinto, Coordenador de Justiça e Paz do Instituto comboniano, Roma
Padre Benito De Marchi, Inglaterra
Padre Dario Balula Chaves, Portugal
Padre Domenico Guarino, Palermo (Itália)
Padre Efrem Tresoldi, Director da revista Nigrizia, Verona (Itália)
Padre Fernando Zolli, Firenze (Itália)
Padre Gianluca Contini, Roma
Padre Gino Pastore, Troia (Itália)
Padre Giorgio Padovan, Brasil
Padre Giovanni Munari, Superior Provincial dos Combonianos de Itália
Padre Guillermo Aguinaga, Polónia
Padre Juan Antonio Fraile, Espanha
Padre Karl Peinhopf, Superior Provincial dos Combonianos de língua alemã
Padre Martin Devenish, Superior Provincial dos Combonianos do Reino Unido
Padre Ottavio Raimondo, Bari (Itália)
Padre Palmiro Mileto, Bari (Itália)
Padre Pierpaolo Monella, Limone sul Garda (Itália)
Irmã Dorina Tadiello, Superiora Provincial das Combonianas de Itália
Irmã Fernanda Cristinelli, Comboniana, Roma
Irmã Kathia Di Serio, Comboniana, Verona (Itália)
Prof. Carmelo Dotolo, Pontifícia Universidade Urbaniana, Roma
Clara Carvalho, Secular Comboniana, Portugal
Comunidade dos Laici Missionari Comboniani, La Zattera, Palermo (Itália)
Dra. Felicetta Parisi, Napoli (Itália)
Irmão Friedbert Tremmel, Alemanha
Maria Lucia Ziliotto, Secular Comboniana, Treviso (Itália)

Adjunto:

Comunicado_de_imprensa_ProSAVANA.pdf

Master_Plan_ProSAVANA.pdf

“Estive preso e foste me visitar”

Emma

Entre as várias atividades pastorais da Paróquia São Domingos, dirigida pelos missionários Combonianos em Nova Contagem, há também a pastoral carceraria, realizada por 15 voluntários, incluindo os Leigos Missionários Combonianos, que são parte da paróquia.

Toda terça e quarta-feira de manhã, o grupo se reúne para visitar os pavilhões do presídio de segurança máxima Nelson Hungria, localizado em Nova Contagem, com cerca de 2.000 detentos. A concentração é às 08:00 na praça adjacente ao presídio.

A realidade prisional do Brasil, assim como em outras partes do mundo, sofre de uma alta superlotação devido a um sistema prisional com pouca atenção à recuperação dos detentos.

As prisões de Minas Gerais, por exemplo, podem receber 32.000 presos, divididos em 144 unidades prisionais, na verdade, são 54.000 as pessoas reclusas nas várias unidades. Esta situação só consegue agravar as condições de vida dos presos, visando mais o punir do que o reeducar e o ressocializar, com graves violações dos direitos humanos.

Emma A ação, e o compromisso do grupo da pastoral carcerária, formado principalmente por mulheres, é acreditar em um trabalho para promover a dignidade humana, o respeito pelos direitos humanos, e a superação dos limites do sistema prisional atual, em favor de um modelo que permita a recuperação efetiva e a reintegração da pessoa do recluso.

O mais importante da nossa atuação pastoral é o testemunho de um Deus que não discrimina a ninguém, em um lugar marcado pelo desprezo, o preconceito e a violência, fazendo nossas as palavras do Evangelho: “estive preso e foste me visitar”. É a pedagogia de Jesus, método, modelo, passo que direciona o caminho desta pastoral, reconhecendo o rosto de Deus em cada pessoa, mesmo nos presos.

Muitos são os desafios e as dificuldades enfrentadas na nossa atuação pastoral, como o excesso de burocracia que muitas vezes atrasa e dificulta o nosso trabalho, com controles, restrições às visitas, permissões limitadas; mas é com coragem que este pequeno grupo de voluntários enfrenta as dificuldades, isso possibilitou, também, em 2014, a criação de dois grupos de catequese dentro do presídio que deu a possibilidade, para alguns detentos que o haviam solicitado, de receber os sacramentos.

EmmaPara isso são fundamentais os momentos de formação permanente que realizamos todo final de mês, com um espaço dedicado à programação e à formação, que permite que os agentes de pastoral carcerária possam conhecer e aprender as ações e informações que vão ajudar a melhorar as visitas ao presídio e a relação com os presos. Nisto ajudam, também, as formações realizadas pela diocese.

Nisso em síntese o trabalho da Pastoral carcerária. Atuação singela apertando mãos, encontrando rostos concretos, escutando as histórias de vida, dos que estão do outro lado das grades com vista a testemunhar a justiça e a dignidade de cada ser humano, porque como nos diz o Evangelho é: “Nisso que reconhecerão que sois meus discípulos: no amor que tiverdes uns para os outros” (Jo 13, 35).

Emma Chiolini, Leiga Missionária Comboniana