Para que a ocorrência da primeira celebração da memória do Beato Giuseppe Ambrosoli (28 julho) ajude todos os comboni-anos e combonianas empenhados no serviço à fragilidade, a renovar o empenho por um caminho de santidade na fidelida-de às circunstâncias de um serviço humilde e continuado aos doentes, aos sofredores e às pessoas frágeis. Oremos.
Espiritualidade
Solenidade do Coração de Jesus
INTRODUÇÃO
Partilhamos este opúsculo como um guia para nos ajudar a viver mais intensamente a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus (16 de Junho), acolhendo o convite que nos foi dirigido pelo XIX Capítulo Geral: aprofundar e assumir a nossa espiritualidade, marcada por alguns elementos específicos que criam a nossa identidade de Missionários Combonianos do Coração de Jesus.
Pedimos aos irmãos de cada comunidade que estudem e encontrem o melhor modo de preparar a solenidade: poderíamos optar por um dia de retiro, ou por uma série de encontros de oração e/ou partilha…
O texto fundamental que nos deve guiar nesta reflexão é o nº 3 da Regra de Vida:
O Fundador encontrou no mistério do Coração de Jesus o impulso para o seu empenho missionário. O amor incondicional de Comboni pelos povos africanos tem a sua origem e o seu modelo no amor salvífico do Bom Pastor, que ofereceu a sua vida na cruz pela humanidade: “E confiando naquele Coração sacratíssimo… sinto-me ainda mais disposto a sofrer… e a morrer por Jesus Cristo e pela saúde dos infelizes povos da África Central” (Escritos, 4290).
E eis as palavras do XIX Capítulo Geral sobre o assunto:
12. Sonhamos com uma espiritualidade que nos permita continuar a crescer como família fraterna de pessoas consagradas enraizadas em Jesus, na sua Palavra e no seu Coração, e contemplá-lo no rosto dos pobres e na experiência vivida por São Daniel Comboni para ser missionários.
14.3 Queremos sensibilizar-nos para os aspectos fundamentais do carisma (por exemplo, a Cruz, o Coração de Jesus, a opção pelos mais pobres e abandonados) através da visão, do espírito e da sensibilidade de Comboni, para ir às raízes da sua espiritualidade e reapropriar-nos dela.
Podemos pensar na nossa vida missionária como um “caminho” que parte do Coração de Jesus e chega ao nosso coração, para depois chegar ao coração das pessoas com quem partilhamos a história e o destino. Ser – ou melhor, tornar-se – “consagrados enraizados em Jesus, no seu Coração” significa tornar-se aquilo que somos, realizar a identidade que recebemos do Senhor, graças a São Daniel Comboni. Missionários do Coração de Jesus é o nosso nome.
O livro da nossa Regra de Vida contém, no final, uma Carta sobre o novo nome do Instituto, especificando o que inspirou a nova escolha em 1979. É bom reler e meditar este texto, como um primeiro momento de aprofundamento.
A nossa Regra de Vida, no nº 3, propõe-nos a experiência de Comboni: o seu empenho missionário e o seu amor incondicional pelos povos da África Central tiveram a sua origem e o seu modelo “no amor salvífico do Bom Pastor” que se deixou trespassar pelo Coração. O próprio Comboni, relendo a sua experiência com uma consciência cada vez maior, fala de si como alguém que
“transportado pelo ímpeto daquela caridade acesa com uma chama divina na encosta do Gólgota, e que saía do lado do Crucificado para abraçar toda a família humana, sentia bater mais frequentemente o seu coração; e uma virtude divina parecia impeli-lo para aquelas terras…, para tomar nos braços e dar o beijo de paz e de amor àqueles… seus irmãos” (Escritos, 2742).
O Coração de Jesus é a alma da missão e a sua motivação fundamental.
É certamente bom procurar e criar programas, estratégias, estruturas para a missão, mas não esqueçamos que somos sobretudo chamados a “reavivar o dom” (2Tm 1,6s). A tentação pode ser o cansaço (acedia) que seca a alma e cria pessimismo, fatalismo, desconfiança e tibieza, ou o desejo de nos tornarmos “protagonistas”, como se fôssemos o fim da missão.
A este respeito, poderíamos citar alguns textos da Evangelii Gaudium: 26; 259; 264; 266-267.
CONTEMPLAR E ASSUMIR
Para nos enraizarmos nos sentimentos do Coração do Filho de Deus, Jesus, o caminho proposto pela nossa Regra de Vida, como fruto de uma experiência consciente, desenvolve-se à volta de duas palavras: contemplar e assumir.
Noutras palavras, que encontramos nos Evangelhos, podemos dizer: “vir a Jesus“, “ver nele o Filho amado e consagrado pelo Espírito do Pai”, “alimentar-se dele para assimilar cada vez mais os seus sentimentos“…
Isto acontece, sobretudo, quando deixamos que o Senhor Jesus penetre nas profundezas do nosso coração e traga à luz sentimentos, pensamentos, atitudes e desejos que não são os de um consagrado ao Senhor.
Deixemos que Jesus nos cure, renove e transforme. Então tornar-nos-emos pessoas “conquistadas por Cristo” e animadas pelo desejo de conquistar os outros para Ele (cf. Fil 3, 2).
“Contemplar” e “assumir” não se tornam acções “voluntaristas”, porque, na verdade, são “graça” à qual respondemos com a nossa consciência e disponibilidade.
a) Podemos descrever “contemplar” da seguinte forma
- “ter os olhos fixos em Jesus”;
- “estar aos pés da Cruz”, como uma etapa importante de um longo itinerário, durante o qual vimos os gestos e ouvimos as palavras de Jesus, mesmo sem compreender totalmente o seu significado;
- “estar aos pés do crucificado”, para receber os dons que nos vieram do seu Coração: o seu Espírito, a água e o sangue; Maria…;
- “revestirmo-nos de Cristo”, fazendo nossas as suas “vestes”, isto é, os seus sentimentos;
- “revestirmo-nos de Cristo”, fazendo nossas as suas “vestes”, isto é, os seus sentimentos; “deixar que o nosso coração seja trespassado”, para que os dons do Senhor não se limitem a repousar à superfície do nosso coração, mas penetrem no seu interior.
b) “Assumir” sugere:
- fazer nossos os sentimentos de Jesus, para que entrem realmente em nós, dispostos a assimilá-los progressivamente, para que determinem as nossas linhas de acção ou de conduta, toquem os nossos critérios de escolha, moldem os nossos desejos e reforcem os nossos objectivos;
- ao assumirmos os sentimentos de Jesus, descobrimos em nós – ou perto de nós – obstáculos, impedimentos, fragilidades;
- isso leva-nos a “contemplar” Jesus de novo e mais profundamente, deixando-nos animar pela força de atracção que ele exerce, pedindo o seu perdão, a sua força e a sua graça;
- assim, as dificuldades que encontramos não extinguem a vida espiritual, mas fortalecem-na e fazem-na crescer;
- “assumir os sentimentos de Jesus” torna-se em nós uma necessidade interior de “permanecer enxertados nele”.
ALGUNS TEXTOS QUE NOS PODEM ILUMINAR
“Derramarei sobre a casa de David e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de consolação: olharão para aquele que trespassaram. Chorá-lo-ão como se chora um filho único; chorá-lo-ão como se chora o primogénito” (Zacarias 12,10).
Outra passagem da Escritura diz ainda: “Voltarão os olhos para aquele que trespassaram” (João 19,17).
Veja também: Apocalipse 1:1-48; João 15.
Das Regras do Instituto de Missões para a Nigrizia – 1871:
“[Os alunos do Instituto] formarão esta disposição essencial, mantendo sempre os olhos fixos em Jesus Cristo, amando-o ternamente e esforçando-se por compreender cada vez melhor o que significa um Deus morto na cruz para a salvação das almas” (Escritos 2721).
A nossa Regra de Vida, no nº 3.2, enumera três atitudes interiores de Cristo, que o comboniano é chamado, em virtude da mesma vocação de Jesus e de Comboni, a contemplar e assumir
- a sua doação incondicional ao Pai
- a universalidade do seu amor pelo mundo;
- o seu envolvimento no sofrimento e na pobreza da humanidade.[1]
1. A doação incondicional de Jesus ao Pai
Poderíamos rezar com estes textos, tirados de João:
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. O mercenário, pelo contrário, que não é pastor e a quem as ovelhas não pertencem, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo rapta-as e dispersa-as; é um mercenário e não quer saber das ovelhas.
Eu sou o bom pastor, conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. E tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; também a estas tenho de conduzir; elas ouvirão a minha voz e tornar-se-ão um só rebanho e um só pastor. É por isso que o Pai me ama: porque ofereço a minha vida, para a retomar. Ninguém ma tira, mas eu ofereço-a de mim mesmo, porque tenho o poder de a oferecer e o poder de a retomar. Esta ordem recebi-a de meu Pai” (Jo 10,11-18).
“É preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e que faço o que o Pai me mandou” (Jo 14,31).
“Não falei de mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, mandou-me falar e dizer o que devo dizer. E eu sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu digo, digo-o a vós como o Pai mo disse” (Jo 12,49-50).
Contemplamos Jesus como o Filho que vive e actua segundo o projecto do Pai, que Ele viu, ouviu (Jo 5) e assumiu na liberdade do amor do seu Filho amado. Jesus pode dizer que o Pai actua nele:
“Eu estou no Pai e o Pai está em mim. As palavras que vos digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai que está comigo é que faz as suas obras” (Jo 14,10).
A sua vida é uma resposta de amor ao amor do Pai (cf. Jo 13,1-4).
2. A universalidade do amor de Cristo pelo mundo
“Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
“O amor de Cristo impele-nos a pensar que um morreu por todos e, por isso, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Cor 5,14-15).
Pensemos no testemunho que o Evangelho nos dá de Jesus peregrino, que percorre as cidades e as aldeias. Onde quer que vivam homens e mulheres, Jesus faz-se presente:
Disse-lhes: “Vamos para as aldeias vizinhas, para que eu possa pregar também lá, pois foi para isso que eu vim!” (Mc 1,38).
Jesus vai ao encontro das pessoas em todo o lado: nas sinagogas e nas casas, nas praças e ao longo das estradas, na montanha e junto ao lago… Encontra homens e mulheres, adultos e crianças, judeus e prosélitos, siro-fenícios e gregos. Não se desloca apenas na Palestina, mas ultrapassa as fronteiras da Terra Prometida. Encontramo-lo em Jerusalém e na Decápolis…
Fala e discute com fariseus, saduceus, publicanos, pecadores… Faz tudo com grande amor – amor que dá a todos, sem exclusão. Mesmo que tenha uma clara preferência pelos últimos e pelos excluídos.
3. O envolvimento de Jesus na dor e na pobreza dos homens e das mulheres
Eis outros textos bíblicos que nos podem inspirar na nossa oração:
“Ao cair da tarde, trouxeram-lhe muitos possessos, e ele expulsou os espíritos com a sua palavra e curou todos os doentes, para que se cumprisse o que tinha sido dito pelo profeta Isaías:
Ele tomou sobre si as nossas enfermidades
e tomou sobre si as nossas doenças” (Mt 8,16-17). [2]
Os textos bíblicos que mostram o envolvimento de Jesus nos sofrimentos das pessoas são diversos. O importante é captar o “movimento de Jesus” que assume o sofrimento das pessoas, sem julgar nem condenar. Jesus envolve-se tanto que é ferido por todas essas feridas. As “chagas de Jesus” são a nossa salvação, porque são as nossas chagas assumidas pelo Ressuscitado.
O ENVOLVIMENTO DE COMBONI
“Embora enfraquecido no corpo, pela graça do Coração de Jesus, o meu espírito está firme e vigoroso; e estou decidido… a sofrer tudo e a dar a minha vida mil vezes pela Redenção da África Central e da Nigéria” (Escritos 5523).
“Estou disposto a sacrificar mil vezes a minha vida pelos cem e mais milhões de africanos que vivem naquelas regiões ardentes” (Escritos 2409).
Na sua homilia programática proferida em Cartum a 11 de Maio de 1873, as suas palavras são uma profecia:
“O primeiro amor da minha juventude foi pela infeliz Nigrizia e, deixando tudo o que me era mais caro no mundo, vim, já com dezasseis anos, para estas terras oferecer o meu trabalho para aliviar as suas antigas desgraças. Mais tarde, a obediência fez-me regressar à minha pátria, por causa da minha saúde frágil… mas os meus pensamentos e os meus passos foram sempre para ti.
E hoje, finalmente, recupero o meu coração, voltando ao meio de vós para abri-lo, na vossa presença, ao sentimento sublime e religioso da paternidade espiritual…
Sim, eu já sou vosso Pai, e vós sois meus filhos, e como tal, a primeira vez que vos abraço e vos tenho no meu coração…
Tende a certeza de que a minha alma vos corresponde com um amor ilimitado para todos os tempos e para todas as pessoas. Regresso entre vós para nunca mais deixar de ser vosso, e tudo para o vosso bem maior consagrado para sempre. Dia e noite, sol e chuva, encontrar-me-ão igualmente e sempre pronto para as vossas necessidades espirituais: o rico e o pobre, o são e o doente, o jovem e o velho, o patrão e o servo terão sempre igual acesso ao meu coração. O vosso bem será o meu, e as vossas dores serão também as minhas….
Faço causa comum com cada um de vós, e o mais feliz dos meus dias será aquele em que puder dar a minha vida por vós” (Escritos 3156-3159).
… e o nosso
Através destas atitudes, contempladas e assumidas, o Espírito de Jesus consagra-nos no mais profundo do nosso coração.
É possível reinterpretar os três votos nestas atitudes:
- a obediência, como doação incondicional ao Pai;
- a castidade, na universalidade do amor;
- a pobreza, na comunhão com os mais pobres e abandonados.
No dia da Solenidade do Coração de Jesus, poderemos renovar a nossa consagração missionária com maior consciência!
Estas três atitudes não podem ser separadas, nem podemos fazer delas compartimentos separados. Uma remete para a outra, um voto exige o outro. O crescimento num voto traduz-se também no crescimento dos outros dois.
No entanto, podemos perguntar-nos qual dos três votos desafia mais o nosso crescimento pessoal e a nossa resposta.
Boa celebração da Solenidade do Coração de Jesus!
Pelo Secretariado Geral da Formação
P. Fermo Bernasconi, mccj
P. Alberto de Oliveira Silva, mccj
P. David Kinnear Glenday, mccj
Original: https://www.comboni.org/pt/contenuti/115443
[1] No n° 3.3, a RV acrescenta: «a contemplação do Coração trespassado de Cristo […]
- é um estímulo à acção missionária como empenho pela libertação integral do homem,
- e àquela caridade fraterna que deve ser um sinal distintivo da comunidade comboniana».
Queremos, porém, deixar estes dois pontos para outro momento.
[2] Este ‘sumário’ evoca uma série de curas realizadas por Cristo; Mateus interpreta-as à luz de Is 53,4. Significativo também o quarto canto do Servo de Javé, em Isaías 52,13-53,12.
Oração da Família Comboniana Maio 2023

Para que a celebração da Jornada Mundial de oração pelas vocações suscite no coração dos jovens e das jovens a consci-ência de que a missão precisa que a sua liberdade responda ao convite de Jesus para ir por todo o mundo testemunhá-Lo. Oremos.
Mensagem de Páscoa do Conselho Geral MCCJ: “Coragem e Esperança”
«No primeiro dia da semana…» (Jo 20, 1)
Caríssimos Confrades,
chegue a todos os nossos votos de Cristo Ressuscitado!
O capítulo 20 do Evangelho de João, ao contar a experiência da manhã de Páscoa, convida-nos a contemplar o caminho de fé de três protagonistas: Maria Madalena, Pedro e o discípulo amado. O seu itinerário de fé é também um itinerário do ver: passa-se do parar diante da evidência de um sepulcro vazio (Maria), ao olhar mais atento aos particulares (Pedro), até a um observar acompanhado da memória que envolve mente e coração (o outro discípulo).
São três olhares que abrem o coração da comunidade e a tornam protagonista no escrever “uma história ‘outra’”, porque tornados conscientes de que a ressurreição se compreende na medida em que se crê na Palavra do Evangelho, e se faz do amor o motivo da própria existência, de forma a ultrapassar os momentos de dor, desconfiança, desencorajamento e, sobretudo, de “não esperança”.
«Onde há amor, ali há um olhar».
Citando esta frase de Riccardo di San Vittore, Bernardo Francesco Maria Gianni, abade de San Miniato al Monte, durante um curso de Exercícios Espirituais por ele pregados ao Papa e à Cúria Romana, recordou a necessidade de reconhecer «os sinais e os indícios que o Senhor nunca se cansa de deixar na sua passagem nesta nossa história, nesta nossa vida». É naquele amor que é preciso ler o olhar de Jesus sobre todos aqueles que encontrava. Esta é uma perspectiva que hoje incute em nós «uma dinâmica pascal» que nos torna conscientes de que «o momento histórico é grave», porque «o fôlego universal da fraternidade se mostra muito enfraquecido», quando «é precisamente a força da fraternidade a nova fronteira do cristianismo».
O itinerário de fé vivido pela comunidade primitiva na manhã de Páscoa é não só um belíssimo testemunho, mas também – e sobretudo – um convite dirigido a nós a saber parar diante dos acontecimentos hodiernos, das pessoas e dos confrades. O nosso Fundador, São Daniel Comboni, soube “parar” diante dos acontecimentos do seu tempo, procurando imitar Cristo, que soube «ver os pobres e partilhar a sua sorte, confortar os infelizes, curar os enfermos e dar aos defuntos a vida; chamar os transviados e perdoar os arrependidos; moribundo na Cruz, orar pelos seus próprios crucificadores; e, ressuscitado glorioso, mandar os apóstolos a pregar a salvação ao mundo inteiro» (cf. Escritos, 3223).
Pessoas que têm olhos que “sabem olhar” e estão dispostas a “perder tempo” pelos outros conseguem criar espaços de relação, fazer-se dom, em vista de uma cura recíproca.
Relação, dom, cura, vividos na óptica do amor-dom – com ritmos e sensibilidades diversas, como acontece “naquele primeiro dia de manhã cedo” – permitem-nos transformar a nossa fé em corajosa esperança, e resgatar a história e a dignidade de tantos irmãos e irmãs sobre os quais as sociedades de hoje colocaram – e continuam a colocar – “uma grande pedra”, porque são reféns de interesses egoístas, desprezo e indiferença.
Coragem e esperança foram as atitudes várias vezes referidas durante o nosso encontro com os superiores de circunscrição, que se concluiu a 19 de Março passado. Estamos plenamente conscientes das situações – muitas vezes difíceis e absorventes – em que vivemos e que poderiam levar-nos a viver a vida do Instituto como um facto comemorativo e, por isso, só a ter na lembrança. Devemos, pelo contrário, ter a coragem de reactivar um circuito humano e fraterno, que nos permita imprimir uma nova aceleração ao trabalho de evangelização que estamos a desenvolver nas diversas realidades em que vivemos, sempre mais convictos de que «um anúncio renovado proporciona aos crentes – mesmo tíbios ou não praticantes – uma nova alegria na fé e uma fecundidade evangelizadora. Na realidade, o seu centro e a sua essência são sempre o mesmo: o Deus que manifestou o seu amor imenso em Cristo morto e ressuscitado. Ele torna os seus fiéis sempre novos; ainda que sejam idosos, renovam as suas forças. Têm asas como a águia, correm sem se cansar, marcham sem desfalecer (Is 40, 31)» (Evangelii Gaudium, 11).
Dirigimos uma palavra especial aos nossos confrades idosos e doentes, às populações atingidas, neste período, por terramotos na Turquia, Síria e tremendas calamidades ambientais no Maláui, uma parte de Moçambique e no Equador, e a todas as pessoas que sofrem os horrores da guerra em diversas partes do mundo.
Que o Ressuscitado ampare com a sua graça a todos nós e o nosso empenho missionário, para que, movidos pela força do Espírito, continuemos a ser fecundos operadores de justiça, paz e fraternidade pela humanidade que nos está confiada.
Boa Páscoa!
O Conselho Geral MCCJ