Leigos Missionários Combonianos

O Plano de Comboni e a ministerialidade

ComboniFazendo uma leitura actualizada – segundo os desafios missionários de hoje – do Plano de Daniel Comboni, descobrimos duas intuições proféticas cujo valor, com o passar do tempo, não fez outra coisa senão aumentar:

1. «A regeneração da África com a África» (Escritos 2753).

Daniel Comboni está convicto, mediante a sua experiência e a dos outros grandes apóstolos, que para esta «regeneração» não há outro caminho senão o de envolver o povo africano como autêntico protagonista da sua história e construtor da sua libertação.

2. «[Encontrar] um eco de aprovação e um impulso favorável e de ajuda no coração dos católicos de todo o mundo, identificados e fundidos com sobre-
-humana caridade que abrange a totalidade do universo e que o divino Salvador veio trazer à terra»
(E 2790).

Com audácia ainda maior, Daniel Comboni declara que a realização deste Plano para a regeneração da África tem necessidade da colaboração incondicional de todas as instâncias da Igreja e da sociedade civil, ultrapassando qualquer tipo de barreira, preconceito ou mesquinha argumentação.

Nestas páginas ocupar-nos-emos deste último aspecto, isto é, a urgência de unir o empenho de todos os «católicos» em favor de uma única missão. O termo «ministerialidade» (ministerium = diakonia = serviço) ajuda-nos a traduzir melhor o pensamento e a praxis de Daniel Comboni, embora conscientes do facto de que no Plano ele não utiliza nunca esta palavra e que se trata de um conceito que não corresponde nem à linguagem barroca nem à teologia tridentina do seu tempo. Por «ministerialidade» entendemos a responsabilidade missionária de todos os baptizados, sem excepções, de fazer emergir o Reino de amor e justiça (fraternidade universal) instaurado pela pessoa e pelo acontecimento de Jesus Cristo no meio de nós. Daniel Comboni não propunha simplesmente uma estratégia organizativa mas um modo de ser Igreja madura.

Vamos directamente ao texto do Plano, para nos darmos conta da amplitude do seu horizonte (cf. a última edição datada Verona 1871, E 2741-2791):

A) Qual é o fundamento teológico que Daniel Comboni coloca na base do seu Plano?

Trata-se de um fundamento cristológico e de uma resposta martirial:

—          O católico olha para a África «não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé» ali descobre «uma infinidade de irmãos pertencentes à mesma família humana, que tem nos Céus um pai comum…». Então «levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família…» sente que o seu coração palpita mais fortemente; e «uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus…»
(E 2742).

—          E precisamente pela força desta caridade que brota do lado de Cristo, Daniel Comboni está disposto a «derramar o nosso sangue até à última gota»
(E 2753) pelos seus irmãos mais pobres e abandonados. Podemos portanto dizer que a motivação que impulsiona toda a vida de Comboni é o reflexo de uma fé sólida na redenção que o mistério pascal de Cristo nos mereceu e que constitui o princípio de toda a acção missionária. Por outras palavras, a «ministerialidade» (serviço missionário) que Daniel Comboni pede no seu Plano está ligada a Jesus Cristo, servo por excelência do Pai, para realizar o seu Plano de salvação, e à Igreja, que é enviada a servir a humanidade para continuar a missão misericordiosa do seu Senhor.

B) Qual visão tem, da Igreja, Daniel Comboni ao pedir um empenho de tal alcance aos católicos, sem distinção?

É um desafio que também naquela época, como hoje, se apresenta quase impossível, sobretudo se se pensar no desencorajamento e na frustração que se aninham em muitos responsáveis eclesiásticos.

O amor que Comboni nutre pela Nigrícia leva-o a pedir concretamente:

  • a ajuda e a cooperação de Vicariatos, Prefeituras e Dioceses já estabelecidos à volta de África (E 2763);
  • a criação de institutos para meninos e meninas de raça negra, em lugares estratégicos ao redor de toda a África (E 2764-65);
  • que as Ordens religiosas e as instituições católicas masculinas e femininas aprovadas pela S. Congregação de Propaganda Fide dirijam estes Institutos
    (E 2767);
  • a fundação na Europa de pequenos colégios para as missões africanas para abrir o caminho do apostolado da África a todos os eclesiásticos seculares das nações católicas que fossem chamados por Deus a tão sublime e importante missão (E 2769);
  • a possibilidade de estabelecer Institutos religiosos femininos da Europa nos países do interior da África menos letais, visto que a mulher europeia demonstrou uma maior resistência que os missionários, devido à sua capacidade de adaptação física, ao seu temperamento e aos seus hábitos de vida familiar e social (E 2780);
  • que se construa, para coordenar todo este projecto, uma sociedade composta de pessoas inteligentes, magnânimas e muito activas, capazes de tratar com todas as Associações que possam assegurar os meios económicos e materiais
    (E 2785) e convoquem todas as forças do catolicismo em favor da África (E 2784-88).

O objectivo que Daniel Comboni quer atingir é o de dar dignidade a todo o povo africano:

  • não só aos negros da África interior, mas também aos das costas e de todas as outras partes da grande ilha… a toda a raça dos negros (E 2755-56);
  • os jovens negros serão formados como catequistas, mestres e artesãos – virtuosos e hábeis agricultores, médicos, carpinteiros, alfaiates, pedreiros, sapateiros, etc. (E 2773);
  • as jovens negras, por sua vez, receberão formação como instrutoras, mestras e mães de família que deverão promover a instrução feminina… (E 2774);
  • no grupo dos catequistas criar-se-á uma secção com os indivíduos mais distintos pela sua piedade e saber, nos quais se descubra uma provável disposição para o estado eclesiástico (clero indígena), e esta será destinada ao serviço do ministério divino (E 2776);
  • no grupo das jovens negras, entre as que não sintam inclinação ao estado conjugal criar-se-á a secção das Virgens da Caridade, formada pelas que se distinguirem pela piedade e conhecimento prático do catecismo, das línguas e dos trabalhos femininos (E 2777);
  • a fim de cultivar aquelas inteligências que se revelarem mais destacadas, para os formar como hábeis e iluminados responsáveis das missões e das cristandades do interior da Nigrícia, poderão fundar-se pequenas universidades teológicas e científicas nos pontos mais importantes da periferia da grande ilha africana (Argel, o Grande Cairo, St. Denis na Ilha da Reunião, e diante do Oceano Atlântico). Noutros pontos poderiam fundar-se, com o passar do tempo, pequenas oficinas de aperfeiçoamento para os artesãos considerados mais hábeis (E 2782-83);

Resumindo, nesta proposta de Daniel Comboni encontramos uma visão eclesiológica extremamente aberta e integral, que tem em conta todos os ministérios (desde o do Papa até ao do mais humilde catequista ou artesão) quando se trata de levar por diante a missão a favor dos mais necessitados. E não por simples filantropia nem por um sentido romântico de ingénuo heroísmo pela sólida motivação que brota do acontecimento baptismal, que nos revela existencialmente o amor de Deus e nos torna irmãos na mesma vocação de santidade e capacidade. Este modo prático de criar ministerialidade encontrará eco só um século mais tarde na teologia pós-conciliar com o Vaticano II.

Embora os aspectos que indicámos merecessem um estudo mais completo, por motivos de espaço apresentamos, sob a forma de um decálogo, uma série de ensinamentos que podemos tomar do Plano de Comboni:

1) Daniel Comboni reconhece a importância do ministério do Papa (com o qual dialoga pessoalmente em diversas ocasiões) e de Propaganda Fide. A eles endereça o seu Plano dando provas de comunhão eclesial.

2) A audácia dos seus «sonhos» nasce do seu confrontar-se com a realidade do sofrimento e da opressão em que vivem os seus irmãos e irmãs. O seu Plano é fruto da solidariedade no interior de um método missionário de encarnação.

3) Por detrás da sua atitude está a capacidade de interagir com qualquer género de pessoas com maturidade humana e espiritual. A ministerialidade do Plano pressupõe pessoas integradas e capazes de relações autênticas.

4) Está presente uma antropologia que vai para além da sua época e olha as pessoas reconhecendo a sua plena dignidade.

5) No Plano emerge um modelo de ser Igreja em comunhão e participação, nascida da consagração baptismal e da comum vocação à vida plena em Deus.

6) O laicado encontra a sua total expressão ministerial. Não em sentido piramidal mas como povo de Deus em corresponsabilidade.

7) A mulher, em particular, encontra o devido espaço pela sua valorização enquanto tal e na sua consagração. Nisto, Comboni é verdadeiramente um pioneiro.

8) O trabalho de evangelização que o Plano deixa entrever é integral, nenhuma dimensão humana é excluída. Todas as dimensões humanas entram no projecto de Deus.

9) A inserção estratégica que é proposta para que o trabalho seja possível sem ulteriores tragédias, pressupõe uma preocupação de planificação e avaliação louvável.

10) Tudo isto é circunscrito no ministério da Cruz, sabendo que se trata de uma entrega consciente da própria vida mas sobretudo confiando no facto de que as obras de Deus nascem e crescem aos pés do calvário. E que é o Espírito Santo que guia – ontem e hoje – a missão.

P. Rafael González Ponce mccj

[Portugal] Animação Missionária em Meixomil

IMG_20140315_140833No fim-de-semana de 14, 15 e 16 de Março a comunidade de vida do Porto reuniu-se na casa dos MCCJ da Maia para mais um encontro de animação missionária na paróquia de Meixomil em Paços de Ferreira. O encontro iniciou-se em oração no dia em que se comemorou o 183º aniversário do nascimento de S. Daniel Comboni. Envolvidos no carisma deste dia especial disse-nos Deus pela liturgia diária: “E o Senhor te escolheu, hoje, para que sejas para ele um povo particular, como te prometeu, a fim de observares todos os seus mandamentos” Dt 26, 18. Foi assim que Deus nos chamou a mais um dia de consagração a Ele, mais um dia em que alegremente nos sentimos escolhidos para cumprir os seus mandamentos, para ser povo de Deus.

Embebidos neste ambiente partilhámos a alegria do dom de ser Leigos Missionários Combonianos, incentivámos a percorrer caminhos de fé procurando ter sempre a felicidade de viver em comunhão para com todos. Desta forma compartilhámos com todos os catequizados a felicidade de termos em comum com todas as pessoas do mundo este Deus que nos ama tanto, cantámos os parabéns a S. Daniel Comboni, desafiámos jovens em preparação para o crisma a envolverem-se no projeto JIM através do grupo JIM Meixomil Ativo.

Durante este fim-de-semana nesta mesma paróquia iniciou-se também uma campanha de angariação de fundos, organizada pelo grupo JIM Meixomil Ativo, para o projeto ZO KWE ZO – “Toda a pessoa é pessoa”. Assim, no decorrer do fim-de-semana demos voz a este projeto partilhando com todas as pessoas as inúmeras dificuldades do povo pigmeu que todos os dias vê vetado alguns dos direitos humanos fundamentais. Aproveitamos para agradecer a todos aqueles que contribuíram para que este fim-de-semana fosse possível, ao grupo JIM Meixomil Ativo, ao pároco, aos catequistas, aos catequizados bem como a toda a comunidade paroquial que tão bem nos recebeu.

No decorrer deste percurso houve sempre a alegria de servir, de ser povo de Deus. Como disse Deus nas leituras dominicais “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te indicar.” Gn 12, 1 É este apelo contínuo de ir sem medo para servir que nos faz consagrar o nosso dia-a-dia a esta missão, que nos faz evangelizar e ser evangelizados. Como nos diz o Papa Francisco: Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria.

por Paula Sousa

[Moçambique] Animação missionária com jovens na Paróquia de Carapira

03-Animacao ChegadaNo dia 16 de Março do ano corrente houve um encontro dos jovens na região de Mutoro, uma das 3 regiões da paróquia, onde participaram 96 jovens sendo eles coordenadores e animadores da infância missionária e dos jovens das 40 comunidades e 10 zonas desta região. Neste encontro os LMC e leigos em formação deram a sua presença para um momento de animação missionária com os jovens. Este encontro começou às 13 horas com apresentação de cada um, onde os leigos em formação falaram da sua história com o grupo.

Assim, Moçambique conta com 3 LMC estrangeiros e 4 leigos missionários moçambicanos em formação. Os leigos missionários combonianos partilharam a história de São Daniel Comboni que era um filho de família pobre e nacionalidade italiana, partilharam também da família comboniana que é composta por padres, irmãos, irmãs, leigos e seculares.

Durante a conversa um jovem perguntou o que era secular. Secular significa leiga missionária consagrada, mas que vive a sua vocação dentro da sua família sem união marital.

Falaram também de alguns requisitos para ser leigo missionário comboniano.

O encontro da animação missionária terminou com um canto <<ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR>>.

Flávio, LMC e Zeferino, formando dos leigos missionários combonianos

[Portugal] Ecos do encontro de Março 2014

Nos dias 8 e 9 de Março, decorreu o encontro de formação dos LMC, na casa de Coimbra. O tema do encontro foi “Os documentos da Igreja”. A formação foi orientada pela LMC Susana Vilas Boas, surpreendente, como sempre. Connosco, também a presença generosa do Sr. Pe. Manuel Lopes.

Apesar da complexidade e riqueza do tema, a criatividade das apresentações tornaram a formação num contacto agradável com os textos fundamentais da Igreja, suscitando a vontade de os conhecer. Reconhecemos a importância dos documentos para vivermos a fé e a missão em comunhão, como membros da Igreja de Cristo.

A ordem de trabalhos incluiu a apresentação dos documentos mais relevantes para a Missão seguida de leitura e discussão em grupo e posterior partilha. Transcrevo trechos dos textos selecionados:

  • A humanidade pode ter esperança e deve ter esperança: o Evangelho vivo e pessoal, Jesus Cristo em pessoa, é a “noticia” nova e portadora de alegria que a Igreja cada dia anuncia e testemunha a todos os homens. (Christifidelis Laici)

  • O enviado entra na vida e missão d’Aquele que “a si mesmo se aniquilou tomando a forma de servo”. Por conseguinte deve estar pronto a perseverar toda a vida na vocação, a renunciar a si e a todas as suas coisas, e a fazer-se tudo para todos. (Ad Gentes)

  • Com a mensagem evangélica, a Igreja oferece uma força libertadora e criadora do desenvolvimento, exatamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade, faz reconhecer a dignidade de cada pessoa, predispõe à solidariedade, ao compromisso e ao serviço dos irmãos, insere o homem no projeto de Deus que é a construção do Reino de Paz e Justiça, já a partir desta vida. (Redemptoris Missio)

  • A todo o discípulo de Cristo incumbe o encargo de difundir a fé, segundo a própria medida. (Lumen Gentium)

A partilha foi sintetizada por cada um, numa palavra, que rezamos na Oração da tarde: COMPROMISSO; COMUNIDADE; COMUNHÃO/COMUNIDADE; V(B)ONT(D)ADE; CO-RESPONSABILIDADE; HUMILDADE; GENEROSIDADE; MISSÃO.

Na manhã de Domingo, lemos a Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma. Inquietante e desafiadora: “Mas a razão de tudo isto é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. (…) Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói”

Os momentos de Oração pautaram o ritmo do encontro e deram sentido e força aos nossos propósitos de comunhão e missão em Igreja.

No encontro não faltaram a alegria, a partilha, a música, o sol e as flores…

Por tudo isto, agradecemos a bondade de Deus!

por Patrícia

[Moçambique] Votos perpétuos da Irmã Lilia (comboniana na Carapira)

A equipa missionária em Carapira teve uma grande festa no dia 15 de Março, celebrando o nascimento de São Daniel Comboni e as vidas que se seguem consagrando. Agora foi na pessoa da Ir. Lilia Karina Navarrete Solis, que fez a sua profissão perpétua, com o lela “Eu te consagrei e te constitui profeta das nações” (Jr. 1,5). Conhecida como Ir. Lily, é de nacionalidade mexicana e trabalha como diretora do Centro de Saúde de Carapira. Tudo aconteceu em um ambiente familiar, com a presença dos funcionários do Centro de Saúde, animadores da paróquia, religiosos e religiosas da Diocese de Nacala e Nampula, entre outros convidados. Após a celebração pelo Bispo da Diocese de Nacala, Dom Germano, foi realizada a partilha de um almoço. Os leigos combonianos integraram a equipa de trabalhos ajudando a ambientar o local, servir os alimentos, lavar a loiça, arrumar tudo de volta no lugar, apoiando a ir. Teresina, que, além de responsável da organização, também foi a madrinha da professa.

Este é sempre um momento oportuno para animação missionária. Sendo assim, o grupo de leigos preparou um painel intitulado “Daniel Comboni inspira”, que trazia imagens e pequenos textos sobre os quatro ramos da família comboniana: missionários combonianos, irmãs combonianas, irmãs seculares e leigos combonianos.

Rezemos pela irmã Lilia e por todas as vocações!

Estamos juntos!

LMC Carapira