Leigos Missionários Combonianos

O segundo dia da Assembleia Continental dos LMC da América

rosario misionero

Começámos o dia com a celebração da Eucaristia, onde todo o grupo viveu o seu compromisso com a missão e como LMC. Salientou-se a ideia que o LMC é sempre missionário, quando está no seu país de origem ou quando está fora.

As atividades do dia começaram com trabalhos de grupo com base no questionário enviado previamente para este IV Encontro. Cada grupo trabalhou alguns pontos do questionário. Todos ficámos enriquecidos com a exposição e partilha do que é realizados nos outros países e no nosso. É sempre enriquecedor ver o que os outros fazem nos seus países e como evoluíram nos trabalhos de missão desde o nosso ultimo encontro Continental. Cada representante de cada país expôs e apresentou com clareza os tópicos previamente discutidos.

Na segunda parte da manhã retomamos a discussão dos acordos previamente feitos em Guatemala em 2014 por cada país. O grupo da Colombia não se encontra presente no encontro, mas enviaram o seu informe por escrito que foi lido pelo Alberto. Fisher, coordenador do Perú, deu a sua contribuição seguida de um breve diálogo, tal como o México. Yessenia de la O, representante de Paul Wheeler apresentou o Informe da NAP. O Brasil também fez a sua contribuição através de Cristina, representante do Brasil e da equipa continental. Guatemala apresenta o seu informe através de Mirella, sua coordenadora.

De seguida fez-se trabalhos de grupo para responder a aspetos ainda não discutidos do questionário enviado previamente para o encontro. No plenário, os grupos expuseram o que foi falado e concluído nos trabalhos de grupo, com base no acompanhamento dos acordos feitos na Guatemala e se estes foram realizados ou não. Depois de cada exposição seguiu-se um frutífero diálogo que ajudou a esclarecer alguns aspetos dos acordos feitos no encontro de Guatemala em 2014.

Valentín e Yessenia de la O

IV encontro continental LMC da América (18 – 24 de setembro 2016)

LMC America

Começou no domingo, dia 18 de Setembro, o IV Encontro Continental dos Leigos Missionários Combonianos da América, com a apresentação pela Equipa Coordenadora Continental e pelo P. Erasmo, Provincial Comboniano do México. Começou-se com uma dinâmica original dirigida pela Letícia, para nos conhecermos melhor uns aos outros e como grupo. Também se dividiram algumas tarefas e responsabilidades práticas para estes dias.

Começou-se o dia de segunda-feira com uma eucaristia muito colorida orientada pelos missionários latinos. A eucaristia é o centro e a força para todos os missionários, isso esteve presente através de palavras e gestos nas ofertas apresentadas.

LMC AmericaAs atividades da manhã foram marcadas pelo recordar dos compromissos assumidos nos encontros anteriores, sobretudo, no encontro de Guatemala, que serviu para confirmarmos o nosso compromisso como leigos. Foram revistos os acordos feitos em vista a que vivamos melhor os nossos compromissos nos diferentes países. As concretizações nestes anos foram notáveis, sobretudo, a nível da comunicação. No entanto, é necessário mais compromisso de todos os LMC e provinciais para que haja um bom acompanhamento em todas as províncias.

O Comité Central explicou o seu papel e funções no movimento Internacional. Alberto, o Coordenador do Comité Central, explicou o seu funcionamento de uma forma muito clara e recordou os vários acordos feitos nas diferentes Assembleias Continentais de uma forma muito clara e concisa. Na Assembleia da Maia foi definida a base para o seu desempenho e lembrou-nos da importância da coordenação entre os diferentes agentes na missão LMC.

Os LMC estão presentes em 20 países. Hoje, como LMC, temos vários desafios nos diferentes continentes. Um dos desafios é clarificar a nossa relação com os MCCJ a todos os níveis. Outro aspeto a dar enfâse é a contribuição económica que cada membro e país pode dar de forma a ajudar os que têm menos. É necessário que todos os MCCJ e provinciais tenham muita capacidade de aceitação e colaboração com os LMC nos países. Temos desafios importantes como grupo a vários níveis e é importante tomar consciência disso e sermos mais coerentes.

LMC AmericaAlberto de la Portilla recorda os desafios

  • Consolidar os grupos LMC nos nossos países e promover a vocação LMC
  • Envolver todos de uma forma sistemática como família LMC internacional
  • Conseguir uma comunicação fluida e mais responsabilidade nas decisões
  • Levar adiante os desafios e compromissos da Assembleia da Maia
  • Possibilitar uma coordenação internacional estável.
  • Realizar um trabalho de fundo que nos ajude a crescer.
  • Procurar o estilo de Família Comboniana idealizada por Comboni

A reflexão da tarde foi sobre o cuidado da criação e a vocação do leigo na igreja, que foi apresentada pela Cristina do Comité Central. Os LMC são chamados a continuar o estilo vida que Jesus nos deixou, assim como Comboni. Também somos chamados a continuar fazendo animação missionária.

Cada país apresentou as respostas ao questionário enviado previamente a cada coordenador: Colombia, Guatemala, México, Perú, NAP, Brasil. À noite o Perú apresentou dois testemunhos muito interessantes de Arequipa e Trujillo.

(P. Valentín García e Yessenia de la O)

 

Tenho, ainda, a terra vermelha nos meus chinelos

LMC BrasilA terra que eu gostaria de permanecer como um eterno presente, uma terra sagrada, rica em história e memória. A memória é uma caixa de imagens, emoções, fatos, palavras, que não devemos permitir amarelar ou deixar cheia de poeira. A memória me permite compreender o meu presente e o do mundo, permite-me construir o meu futuro e o futuro do mundo.

A memória me permite alimentar o meu coração e recarregá-lo.

Esta memória, para comemorar o encontro que faz parte da Romaria dos Mártires que é realizado em uma pequena cidade do interior de Mato Grosso, Ribeirão Cascalheira, a cada 5 anos.

Na Romaria se lembram de todas aquelas pessoas na América Latina que deram suas vidas pela causa da justiça: para defender a terra, para defender a vida, contra a violência, contra a ditadura, contra a opressão dos poderosos, contra a arrogância do poder político e económico.

Homens, mulheres, jovens, crianças, povos indígenas, agricultores, trabalhadores, advogados, jornalistas, missionários, militantes da Pastoral da Terra, dos direitos humanos, sindicalistas e pessoas que lutaram corajosamente pela justiça, pela liberdade, pela paz, pela verdade. A luta pela terra é sempre forte aqui no Brasil, é uma ameaça que ainda mata. Matando qualquer um que se opõe e denuncia situações de violência e bullying nas terras indígenas, nos campos de Sem Terra, em comunidades de camponeses e pescadores.

Os grandes interesses económicos conduzidos por multinacionais e os interesses privados continuam a destruir, para ameaçar, para expropriar terras e povos. Mártires do passado, mas também os mártires do presente, as lutas que vivem nas pessoas da América Latina e do mundo inteiro. Todas as situações de injustiça, violência e desigualdade são um grito para o mundo, um grito que não pode ser mantido quieto,  esquecido …; lembrar-se, para estar presente na memória.

Nesta terra vermelha e sagrada, a presença de um homem, um profeta de esperança, de que, apesar de seus 88 anos trazidos em um corpo doente e cansado, queria participar, talvez, a sua última Romaria:

Dom Pedro Casaldáliga! A vida de Dom Pedro é um testemunho do evangelho feito de carne e ossos, uma testemunha que vale mais do que um livro de teologia. Uma vida gasta no serviço dos últimos, uma voz importante na luta contra o latifúndio e sua crueldade. Várias vezes ele foi ameaçado de morte, tanto em tempos de ditadura, como recentemente. Ele nunca desistiu, nunca mais se deixou intimidar.

Homem pequeno de grande fé e coragem.

Quando foi nomeado bispo de São Félix do Araguaia, em sua consagração, Dom Pedro estava usando um chapéu de palha dos camponeses como sua mitra, uma vara de madeira de índios Tapirapé como báculo, e um anel de madeira de Tucum em vez do de ouro.

Tem sido sempre ao lado dos camponeses e dos índios, sempre uma defesa forte.

À vista, mesmo se em uma cadeira de rodas, em um corpo curvo e sofrido, para mim foi uma grande emoção, porque o seu espírito ainda emana energia e sua pessoa fala mais que mil palavras.

Dom Pedro grande, grande querer estar presente nesta celebração!! Ele não queria perder.

Eu fiz quase 30 horas de ônibus percorrendo do estado do Minas Gerais para entrar no estado de Mato Grosso, cochilando numa cadeira e parando em diversas estações de serviço.

Muitas pessoas participaram nesta Romaria, de todas as partes do Brasil.

Fui com um grande grupo de Minas (dois ônibus cheios) de vários grupos da pastoral social. Tem sido boa a convivência e a riqueza de nos conhecer. Tem sido boa a partilha e a energia positiva que se fez sentir em todos os momentos, e o desejo de estar lá e continuar uma parte da história.

Alegria, partilha, luta, oração, comunhão, solidariedade, construção, amizade, memória, são as palavras-chaves desta Romaria e que ficou comigo.

Eu amo este país, eu amo o espírito de construção e “luta” que faz parte das Comunidades Eclesiais de Base, que apesar de enfraquecido, existem e continuam. Acredito que a Teologia da Libertação não é algo que diz respeito ao passado, ainda existe, existe! Existe na causa indígena, está na luta pela defesa da Terra e da Natureza, está na luta pelos direitos humanos, na luta em defesa das mulheres e contra uma cultura machista, no interior das prisões e nos presos, na luta contra o racismo, contra o preconceito, contra uma cultura que separa e não recebe, na causa dos migrantes, numa igreja caminhando com pessoas que conhecem a Terra e não permanecem fechadas em palácios luxuosos, está em uma Igreja que caminha descalça, capaz de tirar os sapatos e sentir a vida na pele nua.

Eu vou ser romântica, eu vou ser nostálgica, mas também realista e capaz de manter o entusiasmo, coragem e a vontade de acreditar, mais uma vez, que um outro mundo é possível (considerando-se o aniversário dos dias do G8 em Gênova) e que nós, somente nós podemos construí-lo, com o nosso trabalho, nossas escolhas, nossas lutas, os nossos testemunhos, fiéis ao amor que move tudo e tudo edifica. Vidas pela Vida, Vidas pelo Reino.

LMC Brasil

Emma Chiolini, LMC

Testemunhas da Esperança

Emma

Testemunhas da Esperança é um grupo que se reúne, há cinco anos, na casa Combonian Justiça e Paz.

É um grupo de auto-ajuda composto por pessoas com problemas de dependência com o álcool, drogas, depressão ou qualquer vício que aprisiona e não permite viver bem. É freqüentado principalmente por mulheres, mães, esposas, com filhos ou maridos a enfrentar o terrível vício do álcool e as drogas. A ferramenta deste grupo é simplesmente a palavra e a partilha. Narrar-se, falando de si mesmo, como uma forma terapêutica de compartilhar sua dor, para encontrar força e apoio. Aprender a acolher se e aprender a ouvir se. Porque é na partilha que uma pessoa não se sente sozinha, que as histórias que descreve são histórias comuns, semelhante a muitas mães, mulheres, famílias que lutam com a dependência física, emocional que escraviza. A beleza deste grupo é que ele é uma “pequena família”, onde as pessoas estão unidas por confiança e relações de amizade. Tudo o que resta é compartilhado no grupo, confiança e credibilidade são os princípios básicos que construí-lo. São mais de dois anos que eu participo como voluntária e sinto-me parte de “esta família”, toda terça feira à noite às 19:30 vou a atender e ouvir. Há momentos em que muitas pessoas participam, outros que participam poucos, mas qualquer que seja o número cada terça-feira noite a Casa Comboniana permanece aberta para criar um espaço onde se pode hospedar e compartilhar o proprio dor, mas tambem momentos de sorrisos e momentos de riso. Há pesos que a gente faz fatiga a carregar sonzinha, há vergonhas que impedem falar, para isto nasceu Testemunhas da Esperança, para atender pessoas com quem andar juntos e encontrar ajuda de gestos simples e concretos. Eu e a Regina (psicologa e voluntaria) começamos a partir da um tema que pode iniciar uma reflexão sobre os problemas que as pessoas vivem, a partir de si mesmos e de sua própria experiência, um trabalho que leva ao auto-conhecimento, da propria história e, especialmente, à valorização humana, para voltar a tomar a vida nas  próprias mãos, com coragem e determinação.

Eu saio sempre, de cada encontro, emocionada, tanto através da partilha de momentos de alegria, assim como intensos e profundos momentos, feitos de feridas ainda abertas. Cada história é uma leitura do Evangelho cotidiano, feito de luta, batalhas, vitórias, derrotas, decepções, procurando o Amor que cuide, porque è somente o Amor que salva: o amor por si mesmo, o amor pelos outros, o amor para a Vida.

Em uma periferia do mundo onde não há serviços, é bom  ver como as pessoas estão organizadas, sem perder coração e simplesmente buscando soluções, como por exemplo dar à luz a um grupo de auto-ajuda para encontrar a força e o desejo de mudar. Juntos, nós podemos!

Emma, LMC

 

O sinônimo de “hoje” é “presente”

hoje

Qual é a força que nos sustenta? De onde vem tanta esperança para continuar a sonhar, para resistir e para querer uma sociedade mais humana e feliz, mais fraterna para todos e para todos? O que nos move são os sonhos de uma realidade que nós queremos, uma realidade que não inclui situações de injustiça imposta pelas desigualdades sociais e económicas. Uma realidade que se transforma, porque somos nós quem a transformamos, com os nossos esforços, com os nossos sentidos, com as nossas escolhas. Podemos e devemos ser construtores de um nosso destino pessoal e coletivo, da nossa liberdade criativa. A nossa paixão e a nossa fé ganha força quando se está em contato direito com as vítimas da violência e da injustiça contra os direitos sagrados e fundamentais que são chamados de Direitos Humanos. Os sinais e Ressurreições nascem de nós mesmos, a partir da união e da força dos movimentos sociais e outras articulações que vêm de baixo, da sociedade civil e organizada… de nós! É possível fazer chover Justiça, fecundar a terra e obter os frutos que nascerão. É possível, porque queremos, acreditamos, lutamos, o construímos. A fadiga, a deceção, o desânimo, o medo se torna uma sombra gigante se o permitirmos, mas pequena e insignificante se permanecemos unidos e se a luta de um é a luta de todos. Entre os males mais fortes está a absoluta indiferença, é aquele que domina a nossa vida diária, uma espécie de cegueira global que leva as pessoas a viver em uma bolha, cega e estéril, incapaz de ouvir os batimentos do coração do mundo, esquecendo que, nessas batidas está também a nossa. Nós somos o mundo, a história é nossa, ninguém se senta excluído, nas palavras de uma canção de De Gregori, nós é que estamos escrevendo a história! Somos parte de um alfabeto que é capaz de escrever coisas maravilhosas, se escolhermos. Coragem, sonhos, esperanças, dignidade, liberdade, justiça, respeito, imaginação, fraternidade… tantas canetas com as quais começar a escrever, nós somos as folhas brancas sobre as que iniciar a fazê-lo.

Emma. LMC