Leigos Missionários Combonianos

Mapeamento da pastoral social da Família Comboniana

niños jugando

A Família Comboniana – combonianos, combonianas, seculares e leigos combonianos – decidiu fazer um estudo sobre a sua presença entre os empobrecidos e sobre a eficácia da sua pastoral social no âmbito da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). O objectivo primordial da pesquisa era verificar até que ponto a pastoral social comboniana tem contribuído para a transformação social das comunidades e dos povos com os quais trabalha. Neste sentido, fez-se um mapeamento das suas principais actividades ou projectos sociais no mundo, desde a perspectiva do novo paradigma missionário que, cada vez mais, se alicerça numa visão ministerial. Aqui, publicamos uma primeira reflexão, tendo em conta os indicadores mais relevantes dos 205 projectos até agora registados e analisados.

Compromisso social da Família Comboniana
Um contributo para a transformação social das comunidades no meio das quais trabalha

Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula, iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

A Família Comboniana (FC) enveredou, há já vários anos, por um percurso missionário em comunhão com os movimentos populares e sociais, empenhados na regeneração de um mundo no qual o grito dos empobrecidos e da própria Terra levanta o véu sobre a sua insustentabilidade socioeconómica e ambiental.

É desde 2007 que a FC participa, activamente, no Fórum Social Mundial, que se organiza, em princípio, de dois em dois anos e em diferentes cidades do mundo. Na mesma ocasião, tem-se organizado também um Fórum Comboniano, com o objectivo de promover uma reflexão teológica e carismática a partir das realidades sociais nas quais os missionários e as missionárias estão inseridos.

Em 2018, publicou-se um livro, intitulado “Sede a mudança que quereis ver no mundo”, uma obra que documenta o percurso feito – de 2007 a 2018 – e reflecte sobre os desafios da missão. Em Maio de 2020, seguiu-se um segundo volume, desta vez intitulado “Somos missão: testemunhos de ministerialidade social na Família comboniana”, no qual se apresenta a imersão da missão comboniana na realidade da vida, nos vários contextos culturais e sociais, e se exalta a originalidade e vitalidade do carisma comboniano no serviço ministerial com abordagens, métodos, dinâmicas e meios variados.

Mapeamento dos ministérios sociais da Família Comboniana no mundo

Para dar continuidade a este processo de acção-reflexão, decidiu-se fazer um mapeamento dos ministérios sociais da FC no mundo, com três objectivos: avaliar a significatibilidade do ministério social comboniano; fazer emergir como a FC vive a ministerialidade neste tempo de transição epocal face a um novo paradigma de missão emergente; e promover um percurso sinodal.

Nesta primeira fase do mapeamento, foram recolhidas, documentadas e analisadas 205 experiências de ministério especificamente social. Esta quantidade excepcional de experiências, embora seja ainda apenas uma parte, dá-nos já a possibilidade de ter uma percepção real sobre o que se está a fazer e qual o seu impacto. Pela primeira vez, é possível ter-se uma visão global empírica sobre a dimensão social da pastoral da FC, baseada em dados concretos e sistemáticos sem precedentes, e fazer-se um estudo comparativo, cruzando os dados obtidos. Contudo, este deve ser considerado apenas o início de um longo processo. Isto porque há ainda muitas outras experiências que poderão vir a ser registadas, documentadas e, posteriormente, analisadas. Portanto, este mapeamento pode continuar a ser enriquecido não só com novas experiências, mas também com a actualização contínua das experiências já documentadas.

Analisando o banco de dados das 205 experiências em curso, ajudados por uma aplicação web, podemos tecer algumas considerações, que a seguir passamos a expor.

Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula, iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha

Considerações gerais sobre os dados obtidos

Uma primeira consideração diz respeito à abordagem do ministério social em si mesmo. Do ponto de vista histórico, a práxis social da Igreja conjugou-se entre dois eixos: por um lado, o serviço aos últimos e aos excluídos (também chamado serviço directo), que, por sua vez, se desdobra em duas direcções, ou seja, as obras de misericórdia e a promoção humana; e, por outro lado, ainda a justiça e paz (ou acção social), uma dimensão profética, baseada seja na denúncia, seja na formação/conscientização de agentes de transformação, seja na promoção de alternativas estruturais.

Como tendência, resulta que o serviço directo entre os mais vulneráveis e empobrecidos prevalece sobre a dimensão pastoral no âmbito da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC). Em particular, o aspecto que aparece mais débil é o da denúncia aberta das injustiças. Uma possível explicação para esta debilidade é o facto de alguns missionários e missionárias trabalharem em países onde vigoram regimes ditatoriais e opressores, o que requer dos mesmos uma singular prudência na denúncia das violações sistemáticas dos direitos humanos e das mais flagrantes injustiças estruturais. Apesar disso, nota-se um esforço por parte dos mesmos missionários e missionárias em encontrar um ou outro tipo de alternativa, menos frontal, o que revela, desde já, a opção deliberada contra toda a espécie de injustiças e opressões.

Na prática, o serviço directo vem apresentado como estruturalmente integrado nos ministérios sociais, enquanto a justiça e paz (JPIC) ainda não, pelo menos de forma evidente, apesar das várias actividades registadas neste âmbito. Contudo, evitem-se quaisquer interpretações apressadas: estes são valores médios que descrevem a realidade como um todo, e não cada uma das experiências singulares no seu contexto. Sendo assim, seria necessário analisar caso a caso. No entanto, o conhecimento destes valores médios é muito útil, porque nos ajuda a compreender as tendências e as prioridades actuais, numa abordagem global, do desempenho da ministerialidade social a nível de FC.

Em África, em particular, a prevalência do serviço directo é ligeiramente mais evidente – por exemplo, nas áreas da Educação e do Desenvolvimento Humano –, enquanto na América e na Europa, se verifica um maior equilíbrio entre o serviço directo e a justiça e paz. Isto pode depender seja do contexto – em geral, em África, não só as necessidades básicas são maiores e mais urgentes, como também o acesso aos serviços básicos é mais limitado –, seja da história ou tradição missionária do próprio continente. No que diz respeito à Ásia, a presença da FC é ainda numericamente reduzida, pelo que é prematuro tirar conclusões particulares.

Uma segunda consideração, que emerge dos dados do mapeamento, é a imagem gráfica dos sectores ministeriais em que a FC está envolvida. Em comunhão com o Magistério e a práxis social da Igreja, emergem dois sectores que não estão ligados a áreas de serviço, mas sim a processos de transformação social, a saber, o Desenvolvimento humano integral e a JPIC.

No sector do Desenvolvimento humano integral, por exemplo, encontramos o socorro (relief), o desenvolvimento socioeconómico, a dimensão da transformação social, ou seja, a mudança estrutural através da boa governance e advocacy. Além disso, a formação de líderes locais – uma característica muito peculiar do carisma comboniano – aparece como uma das importantes prioridades da pastoral social.

Na área de JPIC, encontramos tipos diversos de engagement como, por exemplo, a nível de direitos humanos, ecologia e ambiente, paz e reconciliação, justiça social e inclusão, diálogo inter-religioso e intercultural, sempre com o objectivo de se criar mais fraternidade e construir um mundo mais justo.

Nesta infografia, apresentamos os compromissos sociais da Família Comboniana no continente africano, divididos em quatro sectores: Saúde, JPIC, Educação e Desenvolvimento. No sector da Saúde (32 projectos): hospitais e centros de saúde (15), saúde preventiva sobre o território (13), reabilitação (2), psicologia mental (2). Na área da Justiça, Paz e Integridade da Criação (107 projectos): direitos humanos (40), ecologia e ambiente (5), paz e reconciliação (22), justiça social e inclusão (27), diálogo interreligioso (13). No domínio da Educação (125 projectos): primária (37), secundária (12), terciário ou superior (12), informal (54), pastoral juvenil (10). Na área do Desenvolvimento humano integral (125 projectos): socorro/relief (15), desenvolvimento socioeconómico (73), governance/advocacy (6), formação de líderes (31)

Outras considerações sobre os dados obtidos

Depois de ter verificado e analisado as tendências globais, detectadas nos dados do mapeamento dos ministérios sociais da FC, entrevemos ainda outros indicadores relevantes que caracterizam a missão comboniana desde as suas origens.

Em primeiro lugar, resulta evidente a proximidade de vida dos missionários e missionárias entre os mais pobres e excluídos, fazendo causa comum com eles. Não em sentido paternalista, mas numa óptica de serviço que faz dos destinatários os protagonistas do seu próprio caminho de regeneração, como prova também o recorrente esforço dos missionários e missionárias em promover a participação e o empowerment das pessoas e das comunidades nos seus projectos e actividades. Um indicador chave desta atitude é a inserção, vivida em contextos e modalidades diferentes tais como, por exemplo: entre os grupos humanos mais excluídos, as comunidades desfavorecidas e marginalizadas, e em contextos sócio-culturais particulares, nos quais a comunidade cristã não é somente uma minoria, mas também sujeita a várias restrições, como é o caso nos países de predominância islâmica.

Em segundo lugar, chamam-nos a atenção a vitalidade e a articulação da colaboração ministerial. Na verdade, as experiências recolhidas mostram como a evangelização é tanto mais fecunda quanto mais se faz em comunidade – não individualmente –, se insere no tecido social e eclesial, e se age em estreita relação com a Igreja local, tendo em conta os diversos contextos e realidades. É também relevante a densa rede de cooperação da FC com outros actores da sociedade civil, mesmo fora das fronteiras da própria Igreja.

Em terceiro lugar, é notável o papel central da espiritualidade e da identidade eclesial no ministério social comboniano. Isto vem confirmado na descrição das actividades de acompanhamento espiritual e na preocupação séria pela transformação da realidade social, na óptica do Reino de Deus. Uma maneira de proceder que se torna fundamental no processo de edificação de um “povo” (cfr. Fratelli tutti e Evangelii gaudium). Neste sentido, a dimensão social e a dimensão espiritual da pastoral são consideradas indissociáveis e vividas como um todo interligado.

Em quarto lugar, a dimensão da Educação emerge de modo claro, o que significa que, em termos quantitativos, se lhe dá uma importância proeminente, seguindo, sem dúvida alguma, a mesma visão missionária de São Daniel Comboni.

Se a missão requer, hoje, uma revolução cultural, esta ênfase no campo da Educação constitui uma condição importante para a transformação social. A importância a dar à Educação confirma-se na iniciativa do Pacto Educativo Global, promovida pelo Papa Francisco, que alerta para a necessidade de uma transformação social que envolva a consciência das pessoas e dos povos, tendo em conta que a raiz da insustentabilidade do mundo de hoje reside numa visão do mundo que perdeu o sentido autêntico da humanidade e da vida.

P. Arlindo Ferreira Pinto na Faculdade de Educação e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, onde trabalhou 13 anos (1997 – 2010) como capelão, docente, e responsável pelo Departamento de Comunicação.

Áreas e desafios actuais a ter em consideração

Apesar de tudo quanto já se está a realizar, identificamos também algumas áreas que poderiam vir a ser ainda mais exploradas e alguns desafios a ter em conta, se considerados como oportunidades de presença profética em resposta aos sinais dos tempos. É o caso das actividades e dos projectos relacionados, por exemplo, com a justiça social e ambiental, a reconciliação e a promoção da paz, que embora apareçam de modo significativo em algumas das experiências recolhidas, ainda não são consideradas, em geral, como eixo transversal da pastoral social. Hoje, a preocupação social pela ecologia e o ambiente requer um maior interesse e dedicação por parte dos missionários, no sentido de promover uma nova economia sustentável e equitativa. De forma análoga, o diálogo inter-religioso e intercultural, que desempenham um papel importante sobretudo nos ministérios sociais em contexto islâmico ou de pluralismo religioso, poderiam ser quantitativamente mais promovidos em outros contextos e em outras áreas da pastoral.

Conclusão

Tendo presente toda a documentação destes 205 projectos e experiências pastorais em curso, agora disponíveis também online, poder-se-á fazer uma reflexão ainda mais detalhada e aprofundada, cruzando os dados registados e construindo elos de ligação entre as iniciativas ou experiências similares. Este tipo de análise permitirá construir percursos que conduzam à elaboração de práticas pastorais específicas tais como, por exemplo, as relacionadas com o ambiente, a reconciliação entre os povos, e a atenção às minorias.

Depois desta leitura atenta aos dados do mapeamento, podemos concluir que existem ainda alguns âmbitos da pastoral social aos quais se poderia dar maior atenção como Família Comboniana, nomeadamente no âmbito da denúncia, com o objectivo de desconstruir as estruturas de pecado, lesivas da dignidade humana, da justiça social e do bem comum.

De igual importância, poder-se-ia, também, aumentar a integração de algumas dimensões fundamentais na estrutura dos ministérios sociais tais como, por exemplo: a ecologia integral, a paz, a reconciliação, o diálogo inter-religioso e intercultural, a economia sustentável e equitativa, e o acompanhamento dos jovens.

Finalmente, queremos reafirmar a centralidade da dimensão da profecia, que, antes de mais, requer abertura, humildade e disponibilidade para nos deixarmos transformar a nós próprios. Uma profecia que se pode exprimir na cultura do encontro, na ternura, na compaixão, no fazer causa comum com os empobrecidos, no evangelizar como comunidade e no criar comunhão entre os ministérios. A dimensão profética é essencial para se chegar à transformação social, para fazer apressar a vinda do Reino de Deus, para dar maior visibilidade ao Ressuscitado que tudo regenera e a tudo e a todos quer dar vida em plenitude.

P. Arlindo Pinto, missionário comboniano

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Fontes:
Irmão Alberto Parise, “L’impegno sociale comboniano: una mappatura – per cambiare il mondo”; revista Nigrizia, Julho/Agosto de 2021, pp. 56-59.

Irmã Maria Teresa Ratti, Irmão Alberto Lamana, Irmão Alberto Parise; “Presentazione della Mappatura dei ministeri sociali nella Famiglia comboniana”, MCCJ Bulletin, n° 287, aprile 2021, pp. 45-76.

Para descarregar o Mapa que apresenta os detalhes de cada uma das 205 experiências registadas até agora, em língua italiana, clique aqui.

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Legenda das fotos:

Foto 1: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 2: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 3: Centro Social Polivalente da Paróquia de Santa Cruz, em Nampula (Moçambique), iniciado pelos Missionários Combonianos e as Irmãs de São João Baptista e de Maria Rainha.

Foto 4: Infográfico: Nesta infografia, apresentamos os compromissos sociais da Família Comboniana no continente africano, divididos em quatro sectores: Saúde, JPIC, Educação e Desenvolvimento. No sector da Saúde (32 projectos): hospitais e centros de saúde (15), saúde preventiva sobre o território (13), reabilitação (2), psicologia mental (2). Na área da Justiça, Paz e Integridade da Criação (107 projectos): direitos humanos (40), ecologia e ambiente (5), paz e reconciliação (22), justiça social e inclusão (27), diálogo interreligioso (13). No domínio da Educação (125 projectos): primária (37), secundária (12), terciário ou superior (12), informal (54), pastoral juvenil (10). Na área do Desenvolvimento humano integral (125 projectos): socorro/relief (15), desenvolvimento socioeconómico (73), governance/advocacy (6), formação de líderes (31).

Foto 5: P. Arlindo Ferreira Pinto, comboniano, na Faculdade de Educação e Comunicação, da Universidade Católica de Moçambique, em Nampula, onde trabalhou 13 anos (1997 – 2010) como capelão, docente, e coordenador do Departamento de Comunicação.

Compromisso Missionário de Mónica Denisse Cervantes Suárez

Monica
Monica

“Eu rezei por esta menina e Yavhé me concedeu o que eu pedi, agora eu a mando para Yavhé pelo resto de seus dias, ela será doada para Yavhé. Assim ficou ao serviço de Yavhe ”. Sam 1, 27-28

Escolhi essa citação bíblica porque minha mãe sempre pedia a Deus que eu o conhecesse e me apaixonasse por suas coisas antes de ir para a universidade; Por isso ela pediu tanto para que ela tivesse concedido, ela foi escutada para que eu não me perdesse e para que eu permanecesse sempre firme nos valores que ela me ensinou.

Hoje agradeço a Deus por me permitir estar mais perto Dele, agradeço pela minha família que sempre me apoiou em meus projetos, agradeço a Ele pelos amigos que me aproximam de Cristo e por todas as pessoas que me apoiaram nisso caminho, de alguma forma especialmente com a oração, graças aos Missionários Combonianos e aos Leigos Missionários Combonianos que se tornaram uma verdadeira família para mim; Eu compartilhei muitas experiências lindas com eles no curto prazo desta jornada missionária, e …

Monica y familia

“HOJE DIANTE DE DEUS APRESENTO ESTA CARTA DE COMPROMISSO NA QUAL EXPRESSO MEU DESEJO DE CONTINUAR A FORMAÇÃO COM O GRUPO LMC MESMO QUANDO CONTINUAR ESCLARECENDO MINHA VOCAÇÃO, ME SINTO PROFUNDAMENTE ATRAÍDO PARA SEGUIR CRISTO NO CARISMO DE SÃO DANIEL. ”Lendo um dos escritos de Comboni que dizia:“ O SENHOR DEU-LHE MUITO, MAS TAMBÉM SABIA QUE FAZER BOM USO DELE ”. Refleti que Deus também tem colocado em minhas qualidades e talentos que posso colocar a serviço dos outros e assim “SEJA UM INSTRUMENTO DELE E REFLETE-O COM O MEU AGIR”.

Monica

LMC México

Um lugar chamado missão

Este é o “episódio zero” do #PodcastMissionário da série de textos do livro “Um lugar chamado missão”, crônicas de viagem do pe. Fernando Domingues, missionário comboniano, publicado pela Editora Além-mar (Portugal).

Hoje publicamos o #Prefácio que abre o livro, escrito pelo ir. Bernardino Frutuoso, diretor da revista Além-mar, que nos traz uma breve e profunda reflexão sobre a natureza missionária da Igreja, e como o Papa Francisco destaca isso na exortação apostólica “A alegria do Evangelho”!

De hoje em diante, a cada segunda-feira, durante os meses de Agosto a Outubro, publicaremos um dos textos da partilha missionária deste livro.

Não perca o próximo! Inscreva-se no canal e ative as notificações para ser avisad@ destes e outros vídeos. Comente e compartilhe, para chegar a outras pessoas interessadas pela missão!

Leigos e leigas missionários combonianos do Brasil

Visita do pe.. Ottorino ao grupo LMC méxico

Visita

Como bem sabemos, os leigos têm um assessor a nível continental, na América estamos acompanhados pelo Pe. Ottorino que presta serviço na província do Equador e esteve fisicamente presente no nosso país por ocasião dos votos por o já escolástico Larzon Alexandre Angulo Burbano.

Tive a oportunidade de ir à Cidade do México, para acompanhar sua visita e assim pude partilhar um pouco acompanhado com o Pe. Juan Diego Provincial da América Central, o Pe. Gabriel e o Pe. Filomeno, visitando à Nossa Senhora de Guadalupe. Além de caminhar, falamos como poderia ser o encontro com os leigos, já que estamos em cidades diferentes e tínhamos que definir a melhor opção. A data foi acertada com o grupo da Cidade do México e o encontro aconteceu sem problemas. A forma de se encontrar com os outros grupos teve que ser ajustada, pois pensava-se poder visitar cada uma das casas onde houvesse presença dos leigos, mas por sugestão do Provincial Pe. Enrique ficou decidido que ele só estaria em Sahuayo, assim os LMC de Guadalajara e San Francisco del Rincón tentaram chegar lá para estar presentes. Para facilitar a presença da equipe coordenadora onde todos os grupos estão presentes, foi organizado um encontro virtual onde todos os grupos puderam estar presentes, Vero de San Francisco del Rincón não conseguiu chegar a Sahuayo por motivos de força maior, mas esteve conectada virtualmente, so faltou Juan José de Sahuayo, responsável pela Formação Nacional.

visita

Fomos todos motivados pelo Padre Ottorino na sua visita, ele ouviu atentamente cada um e tomou nota de cada coisa que falamos, é muita informação em pouco tempo. Ele propôs que pudéssemos nos encontrar logo, fazer nossa assembléia, apresentar relatórios, fazer acordos, é muito bom ter um assessor como ele que se interessa por cada pessoa e pelo grupo para saber como ele está caminhando, ele também nos disse que ele já estava vacinado e que teve uma viagem tranquila.

No dia 10 de maio, que é comemorado como “Dia das Mães no México”, tivemos a oportunidade de passear na cidade de Sahuayo, visitar os “Lugares Sagrados” como o Santuário de Joselito, Cristo Rei, as Catacumbas do Sagrado Coração e a capela de São Francisco onde trabalha o MCCJ Pe. Tonino; também fomos às lojas de Artesanías, Huaraches (sapato tecido) y o Mercado Municipal onde o padre pôde saudar a família da Mónica visto que possuem uma barraca de sementes e malaguetas seca. À tarde fomos almoçar com a família em uma fazenda e à noite a tomar um café em frente à praça principal. Sabemos que em seu retorno ele conheceria Katarzyna e Adán, um casal do CD. Do México e antes de fazer sua viagem de volta, ele se encontrou com o MCCJ Pe. Gustavo, assessor dos LMC no México.

“Que a sua visita tenha Frutos Misioneros” Obrigado pela sua partilha, Pe. Ottorino.

Beatriz, LMC México

190º Aniversário do nascimento de São Daniel Comboni

Daniel Comboni

«Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!»

Manter Vivo o Fogo

Daniel Comboni

Introdução. Com a celebração do 190º aniversário do nascimento de São Daniel Comboni (Limone Sul Garda, 15 de Março de 1831) e o 140º aniversário da sua morte (Cartum, 10 de Outubro de 1881), somos convidados a celebrar o nosso memorial carismático e a invocar a força da presença do Espírito que iluminou a sua vida, desde o nascer ao morrer. A sua beatificação (17 de Março de 1996), da qual ocorre o 25º aniversário este ano, foi um dom carismático para toda a família comboniana. Naquele momento[1], os conselhos gerais publicaram uma mensagem e uma carta conjunta para encorajar os membros da nossa família missionária à alegria e ao olhar espiritual para com o nosso pai, em busca de inspiração e fecundidade para o serviço missionário. Por fim, com a canonização, a Igreja inscreveu-o no álbum dos Santos, reconhecendo a validade e actualidade do carisma missionário e propondo São Daniel Comboni como modelo de vida cristã e de missão, exemplo e paradigma de um empenho missionário universal, que une continentes e povos diversos na paixão por Deus e pela Humanidade. Também então, os nossos conselhos gerais nos ofereceram uma mensagem[2] e uma carta[3] convidando-nos a olhar para São Daniel como testemunha e mestre da santidade a que somos chamados e da missão que vivemos. A presente carta insere-se neste movimento de memória e actualização do dom carismático confiado a São Daniel e, nele, a todos nós: dom de Deus reavivado em cada geração comboniana.

Considerar as próprias raízes. Fazer memória do nascimento de São Daniel Comboni convida-nos, antes de mais, a considerar as suas raízes familiares, eclesiais e sociais, que tanto o influenciaram e às quais voltava frequentemente[4]. O seu nascimento dá-se entre dificuldades e constrangimentos. Os seus pais eram migrantes, vindos para Limone em busca de trabalho. O pai, Luigi Comboni, com 15 anos de idade, em Dezembro de 1818 viera para Limone proveniente de Bogliaco. A mãe, Domenica Pace, nascera em Limone (31 de Março de 1801) mas a família provinha de Magasa, nas montanhas. Luigi e Domenica casaram-se a 21 de Julho de 1826, na igreja de San Benedetto e tiveram, segundo o registo dos baptismos, seis filhos; a estes seria de juntar dois gémeos mortos, que não foi possível baptizar[5].

«Daniel Comboni cresceu na modesta casa do Tesol com os pais, vivendo as alegrias e os sofrimentos da família. Dos seus irmãos sobreviveram só Vigilio (1827-1848) e Marianna (1832-1836)»[6]. Ele teve grande afecto e estima pela sua mãe e o seu pai. A mãe morreu a 14 de Julho de 1858, durante a sua primeira viagem a África, e foi com o pai Luigi que Daniel manteve uma intensa correspondência, na qual reconhecia a religiosidade dos pais e a influência que tiveram na sua vida e vocação missionária. Nestas cartas comprovam-se os elementos humanos e cristãos que constituíram o húmus que fez crescer a vocação e a missão de São Daniel (o apelo da beleza do lago e das montanhas, o brio da fé e vida cristã, a devoção à Cruz do Salvador, a contemplação do Seu amor e do Coração transpassado, a paixão por Deus e pelos mais necessitados): «Ânimo, pois, meu querido pai! Eu tenho o coração sempre voltado para vós, falo convosco todos os dias, sou parte dos vossos afãs e saboreio de antemão as delícias que Deus vos reserva no Céu. Coragem, portanto. Seja Deus o centro de comunicação entre vós e mim. Ele guie os nossos empreendimentos, os nossos assuntos, os nossos destinos e alegremo-nos, que temos um bom amo, um fiel amigo, um pai amoroso»[7]. A celebração do 190º aniversário do seu nascimento oferece-nos uma nova oportunidade de aproximar-nos a ele e às suas raízes familiares e eclesiais, reforçando a consciência das nossas próprias raízes, como fundo espiritual que assegura estabilidade às nossas personalidades e fecundidade espiritual à nossa vida missionária. E esta celebração dá-nos a oportunidade de aprofundar, como família comboniana, o papel de Limone e de continuar a colaboração, empreendida na terra natal de São Daniel Comboni.

Fidelidade no meio das adversidades. A memória do 140º aniversário da morte de Daniel Comboni convida-nos a olhar a sua vida desde o momento supremo do dom de si pela regeneração da nigrícia. Nas cartas escritas nos últimos meses da sua vida, ele surge como um missionário cercado pelas dificuldades, mas radicado na fé: carestia, pestilência e fome, falta de água, escassez de meios materiais para sustentar as iniciativas missionárias, doença e morte dos seus missionários… Nas suas palavras, são «tempos de desolação» em que «são demasiados os sofrimentos que há que aliviar»[8].

Perante estas dificuldades, Comboni permanece ancorado na fé em Deus e na visão missionária que inspirou e susteve a sua vida. «Eu sou feliz na cruz, que levada de boa vontade por amor de Deus gera o triunfo e a vida eterna»: estas palavras[9] encerram, num momento crucial, o estado de ânimo de toda a sua vida. Este regresso aos pés da Cruz, à contemplação do Coração transpassado, onde tudo começou, enche de luz e de coragem o tempo do regresso ao Pai e está na origem da confiança e da «coragem para o presente e, sobretudo, para o futuro»[10] que Comboni impregna nos seus missionários, no momento do Adeus: «Eu morro, mas a obra não morrerá!»[11].

As duas datas do memorial que fazemos este ano delineiam um percurso de vida, no qual a força do Espírito toma forma na vida de São Daniel e torna perceptível e vivo um calce «do amor ilimitado» de Deus[12]; ele deixa-se «formar» pelo Amor que contempla, tendo o olhar fixo em Jesus crucificado. São Daniel deixa-nos um testemunho que é gerador de vida para o nosso hoje.

Entre nascer e morrer. Celebramos estas datas da vida de São Daniel Comboni depois de um ano, o 2020, marcado pela pandemia do coronavírus. E o novo, 2021, iniciou em todo o mundo ainda sob o signo da incerteza e da crise sanitária e económica. Na família comboniana sofremos pelas consequências desta situação: perdemos missionários e missionárias que, após anos de missão, nos enriqueciam com o seu testemunho e que esperavam uma velhice serena[13]; o ritmo das nossas actividades sofreu uma interrupção e os nossos planos e projectos ficaram suspensos; as limitações às deslocações puseram-nos à prova, desafiando a criatividade para permanecer próximo dos pobres e dos últimos, de quem sofre mais as consequências da pandemia; sentimo-nos incapazes de divisar um caminho e um tempo de saída e partilhamos o sentimento de desorientação e de perda que está a arrastar tantos dos nossos irmãos e irmãs.

Olhando para São Daniel Comboni, no arco da sua vida e vocação missionária, entre o nascimento e a morte, vemos como, no momento da crise e da incerteza, soube reconhecer e acatar os movimentos do Espírito, rever os seus planos e renovar o seu empenho missionário, abraçar a Cruz e as dificuldades, ver nelas o sinal de uma presença amorosa e de um agir misterioso de Deus, de uma hora divina com a sua promessa de vida renovada. Em todas estas situações, ele deixa-se atrair pelo Amor de Deus pela África, e não se assusta se é parte de um pequíssimo grupo; persevera, sonha, assume os riscos e é capaz de oferecer a sua vida, sem medir os esforços. Dele aprendemos as atitudes de que temos necessidade para viver este nosso tempo, tão incerto, como uma hora de Deus: a paciência e a fidelidade à vocação missionária; a capacidade de envolver-nos com criatividade, colocando sempre as pessoas e Deus no centro; o sentido da comunhão (ser cenáculo) que mantém unidos e reforça a nossa identidade carismática e a nossa vocação missionária na Igreja de hoje.

Daniel Comboni impele-nos a não deixar que o peso do covid e as reincidências negativas do distanciamento físico, fecham-nos em nós mesmos; a superar competição e conflito, recuperando o espírito de colaboração entre leigas, leigos, irmãs, irmãos, sacerdotes; a fazer crescer o sentido de comunhão e a jovialidade do viver juntos que Comboni recomendava aos seus; a manter viva a esperança mesmo na escuridão, redescobrindo a força do cuidar e da resiliência; a aceitar as mudanças em curso e ver oportunidades onde outros vêem fracasso; a assumir o nascer e o morrer como portas de passagem, desafios à criatividade e ocasião para apoiar-nos mutuamente; a considerar as perdas (de vidas, postos de trabalho, saúde e segurança sanitária e económica…) como ocasião de conversão e de apoio entre nós, indivíduos, famílias e comunidades. Na pandemia mantivemo-nos em comunhão, trocamos informações e demos vida a processos como o Fórum da Ministerialidade Social, cujos encontros se fizeram via zoom; a presente situação desafia-nos a procurar caminhos novos para manter-nos unidos como família comboniana e enfrentar juntos momentos difíceis e mudanças e continuar os processos de colaboração[14].

A luz do testemunho de São Daniel Comboni ilumina o nosso discernimento nos tempos que estamos a viver e no que somos chamados a fazer no futuro imediato, que não será um simples regresso ao passado que conhecemos. Oferece-nos os critérios para assumir os valores que temos a peito, a amizade e o afecto de familiares e amigos; para compreender o destino comum da humanidade, ameaçada pela pandemia e pela catástrofe ecológica; para empenhar-nos na transformação social (da mudança climática ao cuidado pela casa comum e a saúde para todas as pessoas…) dando o nosso contributo com criatividade, renunciando ao supérfluo e favorecendo a solidariedade.

Estas atitudes têm as suas raízes na fé, no «forte sentimento de Deus» e no «interesse vivo pela Sua Glória e o bem das pessoas», sobretudo dos empobrecidos e marginalizados, que são o antídoto que São Daniel Comboni sugere para contrariar o stresse da pandemia e a incerteza dos tempos que vivemos. Ele inspira-nos a encarar o mundo e os acontecimentos que vivemos com o «puro raio da fé»[15] e adverte-nos que o missionário (a missionária) que não tivesse este olhar «acabaria por se encontrar numa espécie de vazio e de intolerável isolamento»[16]. E indica-nos o caminho para permanecer na fidelidade: «… ter sempre os olhos fixos em Jesus Cristo, amando-o ternamente e procurando compreender cada vez melhor o que quer dizer um Deus morto na cruz…»[17]. Comboni fala de «uma chama de fogo divino» que sai do Coração transpassado e que o missionário/a recebe aos pés da cruz para levar a toda a parte, qual fogo que alimenta o próprio empenho pela regeneração das pessoas e a transformação das sociedades em que vive[18].

Manter vivo este Fogo. A memória do nascimento e da morte de São Daniel Comboni recorda-nos que o maior desafio que vivemos neste momento é precisamente este, de manter vivo o fogo, acesa esta chama divina nos nossos corações e «sentir a beleza da paternidade espiritual de São Daniel, que tinha o coração ardente e (…) soube acender profeticamente o fogo do Evangelho atravessando fronteiras (…), incompreensões, visões limitantes, concretizando uma visão missionária inovadora». A fidelidade a Daniel Comboni joga-se no «permanecer no caminho por ele inaugurado» e «acreditar na força do fogo, do Espírito (…) que desce sobre nós para nos tornar corajosos frequentadores do futuro»[19].

Conselhos Gerais das SMC, MSC e dos MCCJ e o Comité Internacional dos LMC


[1] Carta de 23 de Fevereiro de 1996, para a Jornada de Reconciliação. A mensagem «Guardando alla Roccia dalla quale siamo stati tagliati» é de 6 de Abril de 1995.

[2] «Dono da Accogliere e Approfondire» de 15 de Março de 2003.

[3] «Daniele Comboni, Testimone di Santità e Maestro di Missione» de 1 de Setembro de 2003.

[4] Quer com as visitas à casa natal em Limone, quer, sobretudo, com as cartas aos pais, ao pai uma vez falecida a mãe, aos primos, aos párocos e aos cidadãos de Limone. O epistolário de Daniel Comboni com o pai reporta-nos 31 cartas. A primeira é escrita do Cairo a 19 de Outubro de 1857, a última a 6 de Setembro de 1881, um mês antes da morte.

[5] Positio, Roma 1988, Vol. I, p. 14.

[6] Mario Trebeschi e Domenico Fava, San Daniele Comboni e Limone, Limone sul Garda 2011, p. 39.

[7] Daniele Comboni, Os Escritos 188.

[8] Daniele Comboni, Os Escritos 6631.

[9] Carta a Sembianti, Os Escritos 7246.

[10] In Annali del Buon Pastore 27 de Janeiro de 1882.

[11] Giovanni Dichtl, carta ao Cardeal Simeoni de 29.9.1889.

[12] Daniele Comboni, Homilia de Cartum, Os Escritos 3158.

[13] Na primeira vaga da pandemia morreram 13 Irmãs Missionárias Combonianas, em Bergamo. Na segunda, entre 8 de Novembro de 2020 e 10 de Janeiro de 2021, morreram 20 Missionários Combonianos em Castel d’Azzano; e depois outros em Milão, em Ellwangen (Alemanha), em Guadalajara (México) e no Uganda; num total de 35. Globalmente, no final de Janeiro de 2021, são 48 os missionários e missionárias combonianos vítimas do covid-19.

[14] Os membros da comissão da família comboniana, durante a preparação do Fórum da Ministerialidade Social, reflectiram juntos sobre este tempo como uma grande oportunidade para novas modalidades de encontro, na expectativa de momentos melhores para encontrar-se pessoalmente. Para manter vivo o processo, foram programados dois webinar. No primeiro, em Dezembro, inscreveram-se 279 pessoas, representantes de toda a família comboniana espalhada pelo mundo.

[15] Daniele Comboni, Homilia em Cartum, Os Escritos 2745.

[16] Daniele Comboni, Regras de 1871, Capítulo X.

[17] Daniele Comboni, Regras de 1871, Capítulo X.

[18] Daniele Comboni, Piano per la Rigenerazione dell’Africa, IV Edição, Verona 1871, Escritos 2742. «… levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana…».

[19] Cardeal José Tolentino de Mendonça, Homilia na memória de São Daniele Comboni, Roma 10 de Outubro de 2020.