Leigos Missionários Combonianos

Conclusões do 2º Encontro dos LMC em África

CoordinacionO segundo Encontro continental dos Leigos Missionários Combonianos decorreu de 21 a 25 de Julho de 2014, em Kinshasa (RDC). Estavam presentes: 5 sacerdotes, 2 irmãs, 18 leigos, entre os quais 2 representantes do Comité Central. Os participantes representavam 6 províncias da África francófona e inglesa.

O objectivo desta Assembleia de Kinshasa era estabelecer um plano de acção concreto, partindo das conclusões das assembleias anteriores – a Assembleia Continental de Layibi (2011) e a Assembleia Internacional na Maia (2012) –, sob o tema: “Começar com aquilo que temos e a partir da nossa realidade”.

Tendo em conta os desafios actuais da nossa realidade africana, em que Deus nos chama a viver a nossa vocação como um testemunho do Seu amor, segundo o carisma de São Daniel Comboni, ao serviço da missão, que é dom de Deus, e, após uma reflexão conjunta, tiramos algumas conclusões que permitirão agora a cada província estabelecer um plano de acção. Estas conclusões são:

1. Vocação

Nós encorajamos cada LMC a viver a vocação, de acordo com o já definido em Layibi, a ultrapassar as dificuldades da vida e a manter os diferentes compromissos que temos, enquanto pais, trabalhadores e cristãos, dando assim testemunho da nossa vocação.

Como foi dito na Maia, as comunidades LMC precisam de elaborar processos que permitam o pleno cumprimento da vocação pessoal dos seus membros, ao longo de toda a vida; e de estabelecer um calendário de oração, de retiros, de sacramentos e de revisão de vida comunitária.

Para facilitar um caminho comum da nossa vocação, como Família Internacional de LMC, incentivamos os novos grupos a comunicar regularmente com os Comités Central e Continental para obter ajuda dos responsáveis da coordenação. Acreditamos que isto seja necessário para que se sigam linhas comuns, segundo as directivas internacionais.

2. Relação entre os LMC

O movimento tem uma mesma visão. Todos devem colaborar e trabalhar em conjunto para viver harmoniosamente a vida comunitária.

A fim de facilitar a integração de novos LMC nos grupos LMC locais, temos de reforçar a comunicação e o trabalho em rede entre a equipa coordenadora que envia e a equipa coordenadora que recebe, entre os Comités Central e Continental e os Superiores Provinciais MCCJ.

Para uma plena integração, os novos LMC estão convidados a participar na vida do grupo: na formação permanente, nas assembleias, nos retiros, na contribuição económica, nos processos de administração, etc.

Encorajamos os LMC que trabalham num país onde não existem LMC locais, a promoverem a nossa vocação, formando um grupo local.

3. Formação

Como movimento LMC da África, comprometemo-nos a fazer um caminho formativo conjunto, para seguir Cristo segundo o carisma de São Daniel Comboni, que nos chama a fazer causa comum com os povos aos quais somos enviados.

As decisões tomadas nas assembleias anteriores guiam-nos no percurso formativo, o qual deveria ter em conta os seguintes aspectos:

  1. As províncias devem colaborar na elaboração dos diferentes programas e subsídios formativos.
  2. Devemos partilhar os programas e os temas de formação entre as diferentes províncias e o Comité Central.
  3. Devemos traduzir os documentos da formação nas diversas línguas.

4. Economia

Queremos incluir na nossa vida espiritual a economia pessoal, para viver uma vida fundada na Providência. Neste sentido, pedimos aos grupos para terem em consideração nos seus programas de formação, uma rubrica sobre a relação com o dinheiro, colocando a nossa estabilidade e confiança em Deus.

No processo de chegar a uma autonomia financeira, convidamos os diferentes grupos a formar os seus membros nos diversos aspectos financeiros, tais como: projectos de desenvolvimento baseados nas necessidades locais, angariação de fundos, contabilidade, etc.

Sabendo que pertencemos à família LMC, estamos chamados a ser responsáveis pela sustentabilidade do grupo. Neste sentido, todos os LMC devem contribuir para o fundo local do grupo. Deste fundo local, o grupo deverá, igualmente, dar a sua contribuição para o fundo comum internacional, gerido pelo Comité Central.

Estamos chamados também a animar a Igreja local e a todas as pessoas de boa vontade para colaborarem nas nossas actividades missionárias.

Para chegar à nossa autonomia financeira, convidamos os grupos a iniciarem actividades auto-sustentáveis, geradoras de rendimentos (agricultura, pecuária, farmácia, cinema, centro de fotocópias e internet, artesanato local, conferências, formações, colóquios, animação de eventos, etc.).

Não basta comprometermo-nos nos diversos projectos, devemos também apresentar as contas com transparência (caderno de contas, contas bancárias com mais de uma assinatura, etc.).

5. Organização

5.1 Cada província deve ter:

  1. Uma equipa coordenadora composta por: um coordenador, um secretário e um tesoureiro. Esta equipa deve enviar relatórios ao Comité Africano e ao Comité Central.
  2. Uma pessoa responsável pela comunicação (blog, facebook; twitter).
  3. Uma equipa de formação. Esta equipa deve programar e preparar os temas de formação, assegurar o acompanhamento e a avaliação das formações realizadas.
  4. Cada grupo deve ter um responsável de formação que trabalhe em rede com os responsáveis nacionais.

5.2 Comité Africano:

  1. A equipa coordenadora continental é composta por: um coordenador, um secretário e um tesoureiro.
  2. As suas funções são:
  1. Assegurar a comunicação com o Comité Central.
  2. Preparar e convocar os encontros continentais.
  3. Assegurar a comunicação entre as diversas províncias.
  4. Fazer com que as decisões tomadas nas diferentes Assembleias sejam postas em prática.

Grupo

Segunda Assembleia africana dos LMC

KinshasaOs coordenadores dos Leigos Missionários Combonianos (LMC) das províncias combonianas de África, e os respectivos responsáveis missionários combonianos que os acompanham, realizaram a sua segunda assembleia africana de 21 a 26 de Julho, na casa comboniana de Kinshasa-Kimwenza, na República Democrática do Congo (RDC). Foi um encontro de reflexão sobre o passado e de programação das próximas actividades dos LMC a nível do continente africano.

A segunda assembleia africana dos LMC contou com a participação permanente de 25 pessoas: 18 leigos, 5 combonianos e 2 combonianas, incluindo os responsáveis da comissão central dos LMC, o Alberto de la Portilla e o P. Arlindo Ferreira Pinto.

A primeira manhã da segunda assembleia africana dos LMC foi dedicada a dois temas formativos, com o objectivo de introduzir os participantes nos trabalhos da assembleia, um tema sobre a realidade actual congolesa e outro sobre a visão da missão na “Evangelii gaudium”.

Iniciou-se a assembleia com a apresentação dos participantes, orientada pelos membros leigos da comissão africana dos LMC: o Dieudonné Likambo (Dido), congolês; o Innocent Mweteise Karabareme, ugandês; e a Márcia Costa, portuguesa a trabalhar em Moçambique. Desta mesma comissão fazem parte também os provinciais P. José Luis Rodríguez López, de Moçambique, e o P. Joseph Mumbere Musanga, do Congo. O P. José Luis encontra-se no México e o P. Joseph participou apenas nos últimos dias da assembleia, por motivo das suas ocupações pessoais.

Seguiu-se a distribuição das diversas tarefas para toda a semana.

A Márcia Costa aproveitou do momento para recordar os principais objectivos da assembleia, nomeadamente aprofundar os temas da identidade, da formação e da autonomia económica, rever e programar as actividades dos LMC a nível do continente africano e de cada uma das províncias, tendo presente as conclusões das assembleias intercontinentais dos LMC, em particular da última assembleia na Maia (Portugal), em Dezembro de 2012, e da primeira assembleia africana em Dezembro de 2011, em Layibi (Uganda).

As palavras de boas-vindas a todos os participantes da assembleia foram dadas através da mensagem do P. Joseph Mumbere Musanga (lida pelo P. Enrique Bayo Mata), e pela Irmã Espérance Bamiriyo Togyayo, respectivamente superiores provinciais dos combonianos e das combonianas no Congo. Ambos sublinharam o valor da colaboração entre os Institutos nascidos do mesmo carisma de Comboni e a importância da oração e do testemunho missionário como família comboniana.

O P. Arlindo Pinto, coordenador dos LMC a nível do Instituto comboniano, informou que o P. Enrique Sánchez, superior geral, e o P. Antonio Villarino, assistente geral, mandam saudações para todos os participantes desta assembleia e que seguem com atenção as diversas realidades dos LMC no continente africano. Por sua vez, o Alberto de la Portilla, membro e coordenador da comissão central dos LMC, disse que esta assembleia é um acontecimento que interessa não só aos LMC africanos, mas a todos os outros LMC dos continentes europeu e americano que vivem em contextos e realidades diferentes, mas com um forte sentido de pertença aos mesmos LMC.

O P. Jean Claude Kobo Badianga, comboniano congolês, fez uma apresentação breve da história da República Democrática do Congo (RDC) para se poder compreender a situação sociopolítica e económica actual do país. Relacionou a história da RDC com a história e os conflitos passados e recentes dos países vizinhos (Angola e Congo Brazzaville, Ruanda e Burundi, Uganda, Sul do Sudão, e República Centro-Africana,). Falou das principais dificuldades que impedem uma governação estável e verdadeiramente democrática na RDC como, por exemplo, o tribalismo, o regionalismo e a corrupção.

Referiu-se aos diversos grupos rebeldes armados que actuam sobretudo no Norte e no Nordeste do País com a cumplicidade política nacional conjugada com os interesses internacionais relacionados com os riquíssimos recursos naturais do solo e do subsolo congolês. O petróleo, o ouro, o coltan e tantos outros recursos minerais preciosos são a real fonte das contradições sociais, das desigualdades económicas e dos conflitos armados na RDC.

A Igreja católica e as centenas de outras Igrejas e seitas religiosas tomam posições diferentes perante a realidade por que está a passar o país, na maior parte das vezes para favorecer o “status quo” e, poucas vezes, para denunciar as injustiças de que são vítimas os congoleses de Norte a Sul do país.

O P. Jean Claude recordou que os LMC têm aqui nesta realidade social, na RDC e nos demais países africanos, uma responsabilidade cristã e moral que pode e deve estar presente nas suas actividades pastorais e profissionais.

KinshasaP. Enrique Bayo Mata, comboniano espanhol a trabalhar na RDC, apresentou o tema da missão a partir da exortação apostólica pós-sinodal “Evangelii gaudium” do papa Francisco. Depois de uma apresentação geral do documento, o P. Enrique sublinhou a perspectiva da nova evangelização marcada pela alegria do anúncio e do testemunho do Evangelho de Jesus Cristo nas diversas periferias humanas do mundo actual. Falou da urgência da conversão pastoral para levar a Igreja a sair de si mesma e a tornar-se missionária, isto é, de se colocar ao serviço das pessoas e dos povos, sobretudo dos excluídos, dos mais carenciados da alegria da fé e da vida cristã, e dos mais distantes dos valores do Evangelho.

Referiu que os leigos, formados profissional e intelectualmente, têm uma missão particular no processo pastoral da evangelização que visa a transformação da sociedade e a inclusão social dos pobres na vida activa dos seus países.

Na tarde do primeiro dia, o Innocent deu uma panorâmica geral sobre quem são os LMC e o que eles esperam de si mesmos, recordando que se começa sempre de uma pequena realidade e com poucas coisas, mas que se cresce e se amadurece se se tem uma visão clara da identidade, de quem somos, e se se tem um plano concreto de acção, do que devemos fazer, num contexto permanente de escuta da Palavra de Deus, de oração e de discernimento vocacional no espírito de São Daniel Comboni. Uma vez concluída a exposição de Innocent seguiu-se uma longa partilha de ideias e de experiências das diversas realidades dos LMC em África.

A Márcia Costa apresentou, de seguida, uma síntese da primeira assembleia africana em Layibi, sobretudo do que diz respeito à identidade e à missão dos LMC. Realçou que faz parte da vocação dos LMC sair da sua realidade ou do seu país, por um determinado período, para uma actividade missionária concreta, e que os LMC assumem um compromisso por toda a vida. Os LMC têm uma formação humana, espiritual e missionária específicas e procuram os meios para se tornarem economicamente autónomos nas suas várias actividades. Terminada a apresentação, seguiu-se uma partilha abundante à volta dos temas do documento de Layibi. Insistiu-se, mais uma vez, que é importante que os LMC façam uma experiência de missão fora do seu contexto geográfico.

O segundo dia das actividades foi dedicado à apresentação dos relatórios das actividades da comissão africana, da comissão central e das diversas províncias africanas presentes: Egipto-Sudão, Sudão do Sul, Togo-Gana-Benim, República Centro-Africana, Congo, Moçambique e Uganda. O Dido Licambo apresentou o relatório dos trabalhos da comissão africana desde a assembleia de Layibi até à preparação da actual assembleia de Kinshasa, e o Alberto apresentou os relatórios da comissão central e das províncias que não estiveram representadas na assembleia, mas têm LMC nos seus países (Chade, Malawi/Zâmbia, e Etiópia).

Um dos problemas mais comentados foi a falta de comunicação entre a comissão africana e as diversas províncias de África. Uma das razões apresentadas para a pouca partilha de informações e experiências foram as dificuldades naturais provenientes das diferentes línguas, faladas em cada uma das províncias, e a dificuldade de acesso às novas tecnologias da comunicação, sobretudo através da Internet, na maior parte dos países africanos.

Com o objectivo de se preparar a formulação das conclusões da assembleia, seguiu-se o método de encontros por grupos seguidos de plenário, nos dia 23 e 24, para responder sucessivamente às seguintes perguntas: Qual é a relação que existe entre os LMC locais e os LMC estrangeiros que se encontram no teu país? Quais são os desafios e as estratégias a ter em conta para se fazer um caminho comum? Como podemos partilhar os conteúdos da formação dos vários países para se chegar a ter uma mesma base formativa a nível continental? O que nos está a faltar para que possamos viver a vocação de LMC, segundo as conclusões de Layibi? Quais estratégias seguir para podermos viver plenamente a vocação LMC? Quais estratégias podemos adoptar para chegar à autonomia económica? Como podemos organizar o movimento dos LMC a todos os níveis: formação, relação entre os LMC dos diferentes países de África, vocação, organização, e economia.

Na tarde do dia 24 e na manhã do dia 25, os leigos encontraram-se entre si para formularem as conclusões da assembleia, enquanto os combonianos e as combonianas, à parte, aproveitaram deste tempo para falar sobre a sua colaboração com os LMC e para partilhar algumas ideias e experiências sobre como podem e devem ajudar os LMC a consolidarem-se em todas as províncias combonianas. Recordou-se que este compromisso foi assumido pelos combonianos no Capítulo Geral de 2009.

Na última tarde de trabalho, leram-se, discutiram-se e aprovaram-se as conclusões, seguindo os temas debatidos durante a assembleia. Seguiu-se a eleição do comité africano, tendo sido reeleitos para os próximos três anos: o Dieudonné (Congo); o Innocent (Uganda); e a Márcia (Moçambique). Por fim, sugeriu-se que o próximo encontro se realize em Julho de 2017, em Lomé (Togo), data e lugar a serem confirmados pelos superiores provinciais do sector.

Kinshasa

No sábado, o grupo foi visitar o jardim botânico de “Kisantu-bas Congo” e a catedral de Kisantu, a cerca de 120 km da cidade de Kinshasa.

A assembleia concluiu-se, no domingo, com uma reunião conjunta com os LMC congoleses de Kinshasa na comunidade provincial de Kinshasa-Kingabwa, tendo-se seguido a Eucaristia, presidida pelo P. Joseph Mumbere, e um almoço fraterno.

Arlindo Ferreira Pinto.

[Moçambique] Formação de monitores para alfabetização e educação de adultos

Nos dias 24 a 26 de Abril, no centro pastoral de Mutoro, teve lugar a formação de alfabetizadores. Nesta formação participaram 33 monitores vindos de várias zonas da paróquia de Carapira, tendo como orador principal o professor doutor Adelino Zacarias Ivala. Decorreu num ambiente favorável, havendo boa colaboração entre o formador e os formandos. Participaram também os três leigos missionários combonianos da comunidade de Carapira e a irmã Paula, missionária comboniana. Dentre os 33 participantes estavam três LMC moçambicanos em formação. Agradecemos por ter participado desta formação que vai nos ajudar no enriquecimento da nossa formação missionária. Que Deus nos abençoe na nossa caminhada!

Ancha, Margarida e Zeferino, LMCs em formação.

O Plano de Comboni e a ministerialidade

ComboniFazendo uma leitura actualizada – segundo os desafios missionários de hoje – do Plano de Daniel Comboni, descobrimos duas intuições proféticas cujo valor, com o passar do tempo, não fez outra coisa senão aumentar:

1. «A regeneração da África com a África» (Escritos 2753).

Daniel Comboni está convicto, mediante a sua experiência e a dos outros grandes apóstolos, que para esta «regeneração» não há outro caminho senão o de envolver o povo africano como autêntico protagonista da sua história e construtor da sua libertação.

2. «[Encontrar] um eco de aprovação e um impulso favorável e de ajuda no coração dos católicos de todo o mundo, identificados e fundidos com sobre-
-humana caridade que abrange a totalidade do universo e que o divino Salvador veio trazer à terra»
(E 2790).

Com audácia ainda maior, Daniel Comboni declara que a realização deste Plano para a regeneração da África tem necessidade da colaboração incondicional de todas as instâncias da Igreja e da sociedade civil, ultrapassando qualquer tipo de barreira, preconceito ou mesquinha argumentação.

Nestas páginas ocupar-nos-emos deste último aspecto, isto é, a urgência de unir o empenho de todos os «católicos» em favor de uma única missão. O termo «ministerialidade» (ministerium = diakonia = serviço) ajuda-nos a traduzir melhor o pensamento e a praxis de Daniel Comboni, embora conscientes do facto de que no Plano ele não utiliza nunca esta palavra e que se trata de um conceito que não corresponde nem à linguagem barroca nem à teologia tridentina do seu tempo. Por «ministerialidade» entendemos a responsabilidade missionária de todos os baptizados, sem excepções, de fazer emergir o Reino de amor e justiça (fraternidade universal) instaurado pela pessoa e pelo acontecimento de Jesus Cristo no meio de nós. Daniel Comboni não propunha simplesmente uma estratégia organizativa mas um modo de ser Igreja madura.

Vamos directamente ao texto do Plano, para nos darmos conta da amplitude do seu horizonte (cf. a última edição datada Verona 1871, E 2741-2791):

A) Qual é o fundamento teológico que Daniel Comboni coloca na base do seu Plano?

Trata-se de um fundamento cristológico e de uma resposta martirial:

—          O católico olha para a África «não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé» ali descobre «uma infinidade de irmãos pertencentes à mesma família humana, que tem nos Céus um pai comum…». Então «levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família…» sente que o seu coração palpita mais fortemente; e «uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus…»
(E 2742).

—          E precisamente pela força desta caridade que brota do lado de Cristo, Daniel Comboni está disposto a «derramar o nosso sangue até à última gota»
(E 2753) pelos seus irmãos mais pobres e abandonados. Podemos portanto dizer que a motivação que impulsiona toda a vida de Comboni é o reflexo de uma fé sólida na redenção que o mistério pascal de Cristo nos mereceu e que constitui o princípio de toda a acção missionária. Por outras palavras, a «ministerialidade» (serviço missionário) que Daniel Comboni pede no seu Plano está ligada a Jesus Cristo, servo por excelência do Pai, para realizar o seu Plano de salvação, e à Igreja, que é enviada a servir a humanidade para continuar a missão misericordiosa do seu Senhor.

B) Qual visão tem, da Igreja, Daniel Comboni ao pedir um empenho de tal alcance aos católicos, sem distinção?

É um desafio que também naquela época, como hoje, se apresenta quase impossível, sobretudo se se pensar no desencorajamento e na frustração que se aninham em muitos responsáveis eclesiásticos.

O amor que Comboni nutre pela Nigrícia leva-o a pedir concretamente:

  • a ajuda e a cooperação de Vicariatos, Prefeituras e Dioceses já estabelecidos à volta de África (E 2763);
  • a criação de institutos para meninos e meninas de raça negra, em lugares estratégicos ao redor de toda a África (E 2764-65);
  • que as Ordens religiosas e as instituições católicas masculinas e femininas aprovadas pela S. Congregação de Propaganda Fide dirijam estes Institutos
    (E 2767);
  • a fundação na Europa de pequenos colégios para as missões africanas para abrir o caminho do apostolado da África a todos os eclesiásticos seculares das nações católicas que fossem chamados por Deus a tão sublime e importante missão (E 2769);
  • a possibilidade de estabelecer Institutos religiosos femininos da Europa nos países do interior da África menos letais, visto que a mulher europeia demonstrou uma maior resistência que os missionários, devido à sua capacidade de adaptação física, ao seu temperamento e aos seus hábitos de vida familiar e social (E 2780);
  • que se construa, para coordenar todo este projecto, uma sociedade composta de pessoas inteligentes, magnânimas e muito activas, capazes de tratar com todas as Associações que possam assegurar os meios económicos e materiais
    (E 2785) e convoquem todas as forças do catolicismo em favor da África (E 2784-88).

O objectivo que Daniel Comboni quer atingir é o de dar dignidade a todo o povo africano:

  • não só aos negros da África interior, mas também aos das costas e de todas as outras partes da grande ilha… a toda a raça dos negros (E 2755-56);
  • os jovens negros serão formados como catequistas, mestres e artesãos – virtuosos e hábeis agricultores, médicos, carpinteiros, alfaiates, pedreiros, sapateiros, etc. (E 2773);
  • as jovens negras, por sua vez, receberão formação como instrutoras, mestras e mães de família que deverão promover a instrução feminina… (E 2774);
  • no grupo dos catequistas criar-se-á uma secção com os indivíduos mais distintos pela sua piedade e saber, nos quais se descubra uma provável disposição para o estado eclesiástico (clero indígena), e esta será destinada ao serviço do ministério divino (E 2776);
  • no grupo das jovens negras, entre as que não sintam inclinação ao estado conjugal criar-se-á a secção das Virgens da Caridade, formada pelas que se distinguirem pela piedade e conhecimento prático do catecismo, das línguas e dos trabalhos femininos (E 2777);
  • a fim de cultivar aquelas inteligências que se revelarem mais destacadas, para os formar como hábeis e iluminados responsáveis das missões e das cristandades do interior da Nigrícia, poderão fundar-se pequenas universidades teológicas e científicas nos pontos mais importantes da periferia da grande ilha africana (Argel, o Grande Cairo, St. Denis na Ilha da Reunião, e diante do Oceano Atlântico). Noutros pontos poderiam fundar-se, com o passar do tempo, pequenas oficinas de aperfeiçoamento para os artesãos considerados mais hábeis (E 2782-83);

Resumindo, nesta proposta de Daniel Comboni encontramos uma visão eclesiológica extremamente aberta e integral, que tem em conta todos os ministérios (desde o do Papa até ao do mais humilde catequista ou artesão) quando se trata de levar por diante a missão a favor dos mais necessitados. E não por simples filantropia nem por um sentido romântico de ingénuo heroísmo pela sólida motivação que brota do acontecimento baptismal, que nos revela existencialmente o amor de Deus e nos torna irmãos na mesma vocação de santidade e capacidade. Este modo prático de criar ministerialidade encontrará eco só um século mais tarde na teologia pós-conciliar com o Vaticano II.

Embora os aspectos que indicámos merecessem um estudo mais completo, por motivos de espaço apresentamos, sob a forma de um decálogo, uma série de ensinamentos que podemos tomar do Plano de Comboni:

1) Daniel Comboni reconhece a importância do ministério do Papa (com o qual dialoga pessoalmente em diversas ocasiões) e de Propaganda Fide. A eles endereça o seu Plano dando provas de comunhão eclesial.

2) A audácia dos seus «sonhos» nasce do seu confrontar-se com a realidade do sofrimento e da opressão em que vivem os seus irmãos e irmãs. O seu Plano é fruto da solidariedade no interior de um método missionário de encarnação.

3) Por detrás da sua atitude está a capacidade de interagir com qualquer género de pessoas com maturidade humana e espiritual. A ministerialidade do Plano pressupõe pessoas integradas e capazes de relações autênticas.

4) Está presente uma antropologia que vai para além da sua época e olha as pessoas reconhecendo a sua plena dignidade.

5) No Plano emerge um modelo de ser Igreja em comunhão e participação, nascida da consagração baptismal e da comum vocação à vida plena em Deus.

6) O laicado encontra a sua total expressão ministerial. Não em sentido piramidal mas como povo de Deus em corresponsabilidade.

7) A mulher, em particular, encontra o devido espaço pela sua valorização enquanto tal e na sua consagração. Nisto, Comboni é verdadeiramente um pioneiro.

8) O trabalho de evangelização que o Plano deixa entrever é integral, nenhuma dimensão humana é excluída. Todas as dimensões humanas entram no projecto de Deus.

9) A inserção estratégica que é proposta para que o trabalho seja possível sem ulteriores tragédias, pressupõe uma preocupação de planificação e avaliação louvável.

10) Tudo isto é circunscrito no ministério da Cruz, sabendo que se trata de uma entrega consciente da própria vida mas sobretudo confiando no facto de que as obras de Deus nascem e crescem aos pés do calvário. E que é o Espírito Santo que guia – ontem e hoje – a missão.

P. Rafael González Ponce mccj

[Portugal] Ecos do encontro de Março 2014

Nos dias 8 e 9 de Março, decorreu o encontro de formação dos LMC, na casa de Coimbra. O tema do encontro foi “Os documentos da Igreja”. A formação foi orientada pela LMC Susana Vilas Boas, surpreendente, como sempre. Connosco, também a presença generosa do Sr. Pe. Manuel Lopes.

Apesar da complexidade e riqueza do tema, a criatividade das apresentações tornaram a formação num contacto agradável com os textos fundamentais da Igreja, suscitando a vontade de os conhecer. Reconhecemos a importância dos documentos para vivermos a fé e a missão em comunhão, como membros da Igreja de Cristo.

A ordem de trabalhos incluiu a apresentação dos documentos mais relevantes para a Missão seguida de leitura e discussão em grupo e posterior partilha. Transcrevo trechos dos textos selecionados:

  • A humanidade pode ter esperança e deve ter esperança: o Evangelho vivo e pessoal, Jesus Cristo em pessoa, é a “noticia” nova e portadora de alegria que a Igreja cada dia anuncia e testemunha a todos os homens. (Christifidelis Laici)

  • O enviado entra na vida e missão d’Aquele que “a si mesmo se aniquilou tomando a forma de servo”. Por conseguinte deve estar pronto a perseverar toda a vida na vocação, a renunciar a si e a todas as suas coisas, e a fazer-se tudo para todos. (Ad Gentes)

  • Com a mensagem evangélica, a Igreja oferece uma força libertadora e criadora do desenvolvimento, exatamente porque leva à conversão do coração e da mentalidade, faz reconhecer a dignidade de cada pessoa, predispõe à solidariedade, ao compromisso e ao serviço dos irmãos, insere o homem no projeto de Deus que é a construção do Reino de Paz e Justiça, já a partir desta vida. (Redemptoris Missio)

  • A todo o discípulo de Cristo incumbe o encargo de difundir a fé, segundo a própria medida. (Lumen Gentium)

A partilha foi sintetizada por cada um, numa palavra, que rezamos na Oração da tarde: COMPROMISSO; COMUNIDADE; COMUNHÃO/COMUNIDADE; V(B)ONT(D)ADE; CO-RESPONSABILIDADE; HUMILDADE; GENEROSIDADE; MISSÃO.

Na manhã de Domingo, lemos a Mensagem do Santo Padre Francisco para a Quaresma. Inquietante e desafiadora: “Mas a razão de tudo isto é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. (…) Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói”

Os momentos de Oração pautaram o ritmo do encontro e deram sentido e força aos nossos propósitos de comunhão e missão em Igreja.

No encontro não faltaram a alegria, a partilha, a música, o sol e as flores…

Por tudo isto, agradecemos a bondade de Deus!

por Patrícia