Leigos Missionários Combonianos

Mensagem de solidariedade para com a Família Comboniana na emergência do coronavírus

Comboni
Comboni

Roma, 15 de março de 2020

Dia do nascimento de São Daniel Comboni

«… Sinto tal peso no coração, que me vejo obrigado a voar ao Céu com as minhas ideias e a pensar que vós tendes um apoio mais sublime, seguro e infalível que o meu, que estais mais protegidos sob a custódia de Deus do que sob a minha.» (Escritos 219)

S. Daniel Comboni ao pai pela mãe doente

Queridas irmãs e irmãos,

Saudamos-vos com carinho neste momento de emergência que, em nome de nosso Senhor Jesus e juntamente com nosso Pai São Daniel Comboni, nos une ainda mais como família comboniana.

Vivemos uma situação sem precedentes, causada pela pandemia de coronavírus, que já está presente em mais de 100 países dos cinco continentes. Um dos países mais afectados é a Itália, que luta com todos os meios possíveis para interromper o contágio. Os mais vulneráveis aos efeitos deste vírus são os idosos ou pessoas que sofrem de doenças crónicas, categoria na qual se encontram vários dos nossos irmãos e irmãs.

Essa situação inesperada deixou-nos perplexos e baralhou todos os nossos planos. Fomos obrigados a adoptar medidas preventivas muito severas, seguindo as indicações das autoridades competentes. Este ano, vivemos a Quaresma de uma maneira muito especial, mas o Senhor acompanha-nos nesta realidade desconhecida para a qual nenhum de nós estava preparado. No entanto, na fraqueza, confusão, medo, Cristo manifesta-se na cruz, sofre e morre por toda a humanidade: «pelas suas chagas fostes curados» (1 Pedro 2, 24). Mas, além da cruz, cremos que, com a Sua ressurreição, as se abrem as portas da Vida na sua plenitude: «para que tenham vida e a tenham em abundância» (João 10, 10). Além disso, dentro deste limite imposto, somos chamados a viver a nossa missão: antes de tudo, partilhando a vida dos nossos povos em solidariedade com a realidade que vivem como sinal de esperança. Em segundo lugar, mesmo que, em algumas partes do mundo, não possamos fazer celebrações litúrgicas e orar com as pessoas, podemos intensificar a nossa vida de oração pessoal e comunitária, procurando a Deus que nos fala do profundo.

Este vírus abateu as barreiras e fronteiras entre povos e nações. Toda a humanidade se sente unida na mesma luta para o parar. No entanto, é um momento para descobrir a nossa vulnerabilidade. Para lá das nossas culturas e nacionalidades, somos todos irmãos e irmãs de uma única família humana peregrina com um destino comum. É por isso que sentimos que, como uma família comboniana, hoje mais do que nunca, somos chamados a viver mais unidos, rezando uns pelos outros, com um olhar atento sobre o que está a acontecer em todo o mundo, porque isso faz parte do nosso carisma. Diante da impotência de não poder ajudar neste momento os mais necessitados, lembremos as palavras de São Daniel Comboni: «A omnipotência da oração é a nossa força» (Escritos 1969). Que esta crise nos ajude a reconhecer aquilo que é essencial na nossa vida e a colocar-nos nas mãos de Deus.

Seguimos atentamente o evoluir da situação. Imploramos ao Senhor da Vida que proteja todos os seus filhos e filhas neste tempo de incerteza. Agradecemos ao Senhor pela coragem de todos os que cuidam dos doentes e, especialmente, daqueles que vivem nas nossas casas de repouso. Rezamos também por todos os que são mais vulneráveis aos efeitos deste vírus: as pessoas idosas e sós, os migrantes, os sem abrigo e os prisioneiros. Que o Senhor nos dê todas as forças para viver este momento com responsabilidade, na solidariedade e na fé.

Novena Comboniana

Ó Pai,

que mostras a tua caridade infinita

na obra de quem deu a vida

pelas irmãs e irmãos que sofrem,

pedimos-te, pela intercessão dos nossos Veneráveis

Giuseppe Ambrosoli e Giuseppa Scandola,

que libertes o mundo do flagelo do vírus

que atinge povos e continentes

semeando morte, sofrimento, medo, privações.

Ó Pai,

mostra-nos o teu Rosto de misericórdia

e salve-nos no teu imenso amor por toda a humanidade.

To pedimos pela intercessão de Maria,

Mãe da saúde,

Tu que vives e reinas com o teu Filho Jesus e o Espírito Santo

pelos séculos dos séculos. Amém.

Gloria.

Conselho Geral das IMC

Conselho Geral dos MCCJ

Conselho Central das MSC

Comissão Central dos LMC

O XVIII Capítulo Geral e a ministerialidade

Hno. Alberto Parise
Hno. Alberto Parise

Na visão da Evangelli Gaudium (EG), a missão da Igreja e todos os ministérios no seu interior são orientados a construir o Reino de Deus, esforçando-se por criar espaços no nosso mundo em que todas as pessoas, especialmente os pobres e os excluídos, possam experimentar a salvação de Jesus Ressuscitado. Os ministérios, portanto, assumem uma importância crucial enquanto lugar de encontro entre humanidade, Palavra e Espírito na história. (Ir. Alberto Parise, na foto)

O XVIII CAPÍTULO GERAL E A MINISTERIALIDADE

Ir. Alberto Parise

Há momentos na história que marcam passagens epocais ou transições de um sistema sociocultural a um outro, que é inédito, marcando uma importante descontinuidade. O tempo em que Comboni viveu foi certamente um destes momentos históricos. Era o tempo da revolução industrial, fruto de um grande salto que ciência e tecnologia estavam a operar, também a nível económico e político. A Igreja encontrava-se na defensiva, perante o chamado «modernismo» que entendia como uma ameaça. Era uma Igreja assediada, politicamente e culturalmente; e na sua resistência, corria o risco da autorreferencialidade. E, todavia, precisamente naquele tempo tão difícil, experimentou um grande renascimento: entre as contradições e os males sociais que emergiam com o novo sistema económico capitalista industrial, emergiu também um ímpeto para o apostolado social, através do serviço de leigos e de um grande número de novos institutos religiosos. O movimento colonial – que respondia a lógicas político-económicas e à ideologia dos estados nacionais em competição – era, por outro lado, acompanhado de um grande interesse cultural pelas explorações, o exótico, o espírito de aventura. Mas houve também o nascimento de um novo movimento missionário em direcção a terras e povos distantes. A Igreja entrava assim numa nova época, com um forte renovamento espiritual – como testemunha a espiritualidade do Sagrado Coração, que marcou aquele tempo – fazendo emergir um novo modelo missionário.

O XVIII Capítulo Geral foi celebrado numa viragem epocal análoga para a Igreja. O discernimento do Capítulo sintonizou-se na leitura de tal viragem que o Papa Francisco tinha feito na Evangelli Gaudium (EG): uma leitura teológica da nova época que abre, na prática pastoral, a um novo ímpeto missionário. Novo, no sentido de superação do paradigma a que estamos habituados: uma missão baseada no modelo geográfico, em que os protagonistas são «corpos especiais» missionários, autênticos pioneiros, cujo papel é fundar Igrejas locais. A realidade da globalização e a devastadora crise socioambiental do nosso tempo – consequência do preponderante modelo de desenvolvimento que é insustentável e que quase nos levou ao ponto de não retorno – requerem uma renovada abordagem de evangelização. De resto, tendo presente tão-somente a nossa realidade comboniana, apercebemo-nos que o modelo do passado já está ultrapassado nos factos. Por exemplo, o esquema de províncias (do norte do mundo) que enviam e províncias (do sul) que recebem missionários não corresponde mais àquilo que está realmente a acontecer. Tal como a ideia de que nos países do sul se faça «evangelização» e nos do norte «animação missionária». Nota-se a urgência da animação missionária, por exemplo, em África e – como depois indicou o Capítulo – da missão na Europa.

A Evangelli Gaudium indica então um novo paradigma de missão. Não mais simplesmente geográfico, mas existencial. A Igreja é chamada a superar a sua auto-referencialidade e a sair em direcção a todas as periferias humanas, onde se sofre a exclusão e se vivem todas as contradições devidas às desigualdades económicas, à injustiça social e ao empobrecimento. Tudo isso não é mais um aspecto disfuncional do sistema económico, mas um requisito sobre o qual este mesmo sistema prospera e se perpetua. A missão torna-se o paradigma de toda a acção pastoral e a Igreja local é o seu sujeito. Qual é então o papel dos institutos missionários? É o de animar as Igrejas locais para que vivam o seu mandato de ser missionárias, Igrejas em saída em direcção às periferias existenciais. Trata-se de caminhos de comunhão, no seio de realidades conotadas por diversidade e pluralismo, construindo juntas uma perspectiva comum, que valorize as diferenças e as «supere», sem as anular, construindo uma unidade a um nível superior. São caminhos caracterizados pela proximidade aos últimos, pelo serviço, pela capacidade de anunciar o Evangelho na essencialidade do kerigma com as palavras e com a vida. O Papa Francisco relança a visão de Igreja do Concílio Vaticano II, como «o sacramento, ou seja, o sinal e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano». No novo mundo plasmado pela revolução digital e pela globalização dos mercados do capitalismo financeiro, a Igreja é chamada a convocar um «povo» que supere as fronteiras de pertença e caminhos em direcção ao Reino de Deus. Então, o testemunho cristão do Ressuscitado será generativo e também a Igreja crescerá: por atracção, não por proselitismo.

Tal como o foi para Comboni no tempo da revolução industrial, assim para nós hoje a época da revolução digital é uma grande oportunidade missionária. Tratando-se de um novo paradigma, o desafio é o de pensar, estruturar-nos e formar-nos consequentemente. O primeiro passo é reconhecer a graça do carisma comboniano, muito actual e talhado à medida para o novo paradigma de missão. Antes de mais, a ideia central da «regeneração da África com a África», uma imagem sintética que relata uma história muito complexa e articulada: há a ideia da geração de um «povo», capaz de construir uma sociedade alternativa, em sintonia com a acção do Espírito. O anúncio do Evangelho ajuda a levar a cumprimento aquelas «sementes do verbo» já presentes nas culturas e na espiritualidade das gentes. Comboni sublinhava também a importância de que esta obra devesse ser «católica», isto é, universal: longe da auto-referencialidade, via-se como parte integrante de um movimento missionário muito maior, muito mais articulado, com diversidade de dons e carismas. Compreendia o seu papel como o de um animador que «manifestou particularmente através de incansáveis esforços para sacudir as consciências dos pastores da Igreja sobre as suas responsabilidades missionárias, para que a hora da África não passasse em vão» (RV 9). Na visão da EG, a missão da Igreja e todos os ministérios no seu interior são orientados a construir o Reino de Deus, esforçando-se por criar espaços no nosso mundo em que todas as pessoas, especialmente os pobres e os excluídos, possam experimentar a salvação de Jesus Ressuscitado.

Os ministérios, portanto, assumem uma importância crucial enquanto lugar de encontro entre humanidade, Palavra e Espírito na história. Um encontro regenerativo, como muito bem tinha compreendido Comboni. Por isso tinha pensado no seu Plano em toda uma série de pequenas universidades teológicas e científicas ao longo das costas do continente africano, para preparar ministros em vários campos que se irradiariam depois para o interior, para fazer suscitar comunidades pelo espírito evangélico, capazes de transformação social, como nos testemunha o modelo de Malbes e de Gezira.

No espírito do Capítulo, a requalificação sobre linhas ministeriais do nosso serviço missionário requer, como tinha intuído Comboni, uma nova «arquitectura» da missão, que sustente e promova:

  • = uma requalificação ministerial do nosso empenho, desenvolvendo participativamente e em comunhão pastorais específicas, segundo as prioridades continentais. No Capítulo, de facto, emergiu que se, por um lado, estamos presentes nestas «fronteiras» da missão, por outro, muitas vezes carecemos de abordagens contextuais aos grupos humanos que acompanhamos;
  • = o ministério colaborativo, ao longo de caminhos de comunhão. Somos ainda sujeitos de práticas e modos de operar individualistas e fragmentados;
  • = o repensar as nossas estruturas, à procura de maior simplicidade, partilha e capacidade de acolhimento, para ser mais próximos às gentes, mais humanos e mais felizes;
  • = a reorganização das circunscrições. O discurso sobre a unificação não tem meramente uma justificação na insuficiência do pessoal, mas sobretudo tem um valor em relação à passagem de um modelo geográfico a um ministerial, que necessita de coligação, trabalho em rede, partilha de recursos e percursos;
  • = a reorganização da formação, para desenvolver as competências necessárias nas várias pastorais específicas.

Em síntese, como atestam os Documentos Capitulares, «cresce a consciência de um novo paradigma de missão que nos impele a reflectir e a reorganizar as actividades sobre linhas ministeriais» (DC 2015, n. 12). Retomando o convite do Papa Francisco (EG 33), o Capítulo indicou o caminho de uma conversão pastoral, abandonando o critério do «sempre se fez assim» e iniciando percursos de acção-reflexão para repensar os objectivos, as estruturas, o estilo e os métodos de evangelização (DC 2015, n. 44.2-3). (Ir. Alberto Parise).

Após um ano nas terras de Gumuz, na Etiópia.

LMC Etiopia
LMC Etiopia

Queridos familiares, amigas e amigos,

Espero que este e-mail vos encontre bem. Espero que toda a família esteja bem.

Graças a Deus estou bem.

Começo a sentir o forte calor, quase sempre de 40 graus que aqui se faz sentir. O calor que não se compara ao mesmo calor que sinto quando visito famílias, brinco com crianças ou trabalho com esta gente maravilhosa. Como dizia São Pedro, “como é bom estar aqui” (Mt 17,4).

Continuo envolvido na Biblioteca. Graças a Deus e à generosidade de algumas pessoas, foi possível comprar mais alguns livros para a Biblioteca. Os estudantes que aparecem podem ter acesso aos livros escolares básicos. Duas senhoras portuguesas, que aqui vieram trouxeram calculadoras e outro material. Muitas vezes procuro ter cadernos escolares e canetas e oferecer àqueles que não têm possibilidades económicas mas que revelam grande interesse. Sempre que solicitam algum livro em específico tentamos comprar. O seu tempo não é como o meu e posso ter dias em que me aparecem 2 ou 3 como ter dias em que me aparecem 20. Mas, como os compreendo. Jovens, com trabalho a fazer no campo, a estudar, com família e alguns com 2 ou 3 filhos, já. Como poderão ter tempo para a Biblioteca. A verdade é que arranjam e quando vêm estudam, há silêncio e isso deixa-me bastante alegre.

LMC Etiopia

Continuo a ter um grupo fiel nas aulas de inglês e de informática. Eles gostam, têm desejo de aprender e eu, não sendo um especialista, tenho muito gosto em ensinar-lhes.

Tenho um grupo de estudo da Bíblia, em inglês, com 4 catequistas. Lemos a Bíblia, explico palavras em inglês, meditamos os textos, por vezes vemos filmes religiosos em inglês. Sinto-me muito feliz com eles.

Costumo ir brincar na escola que ainda alberga famílias refugiadas. Comprámos uma bola e isso é suficiente para reunir os jovens e para desfrutarmos de bons momentos.

Duas vezes por semana, no mínimo, acompanhamos os catequistas nas aldeias, visitamos famílias, brincamos com as crianças. São momentos que nos enchem o coração. Estar com as pessoas é fundamental na vocação missionária.

Com os Missionários Combonianos, com quem vivemos, todos os dias temos missa às 6.30 e todos os sábados fazemos uma hora de adoração eucarística. Às quintas-feiras vamos a casa das Irmãs Missionárias Combonianas, também com elas, temos uma hora de adoração eucarística e jantamos juntos. Às quartas-feiras eu e o David temos oração comunitária.

Apesar de todo este trabalho é desejo dos Leigos Missionários Combonianos, eu e o David (meu companheiro de comunidade) incluídos, iniciar uma nova presença missionária entre o povo Gumuz. Não somos os primeiros LMC na Etiópia mas somos os primeiros a trabalhar e a viver entre os Gumuz.

LMC Etiopia

Assim sendo, estamos a visitar as comunidades, falamos com as pessoas, analisamos a situação concreta de cada vila e das famílias.

Infelizmente o carro que temos não nos permite esse trabalho contínuo. As estradas são péssimas e requerem uma carrinha razoável. Depois de um mês, só agora retomámos a brincar com as crianças das aldeias pois o nosso carro estava no mecânico, o que acontece com muita frequência. Para além de que continuamente estamos a pagar essas despesas. Será necessário comprar um novo carro que nos permita continuar o nosso trabalho.

Para além disso é nossa intenção construir uma casa numa das aldeias, junto das pessoas, e viver com elas. Juntamente com a casa iremos iniciar projectos. Ainda estamos a definir os projectos mas a construção de um jardim de infância para as crianças que passam o dia sozinhas, sem qualquer adulto e de um Lar de estudantes, que permita a alunos irem à escola, quando muitos não podem ir ou fazem 30 quilómetros diários para irem à escola são os projectos que nos parecem mais viáveis, tendo em conta o que já analisámos e ouvimos de jovens e adultos.

Infelizmente para realizar estes projectos será necessário dinheiro. Por isso peço a vossa oração para que possamos realizar a vontade de Deus junto deste povo lindo. Caso saibam de ONG´s que financiam este tipo de projectos, informem-nos, por favor. Toda a ajuda, por mínima que seja, é preciosa para Deus. E como sei que não estou sozinho aqui, tenho a certeza que estais comigo!

As adversidades por vezes aparecem, tais como tifo ou tifóide, mas estou alegre por ter sido enviado para este lugar onde Deus já se encontrava no meio destas pessoas.

Estou quase a completar um ano neste país lindo! Não duvido disso! É um país lindo! Estou feliz! Sinto-me feliz! Vivo feliz! Isso não significa que, não haja sofrimento. Significa que, apesar de todas as contrariedades que aparecem, vale a pena estar aqui, significa que Deus nos fortalece e nos dá os instrumentos necessários para realizar a sua vontade!

Continuo a ter-vos presentes na minha oração, continuo a sentir a vossa amizade bem perto de mim, continuo a aprender que a distância não quebra laços antes os fortalece, recordando-me diariamente o quanto a vossa amizade e amor são importantes para mim.

Beijinhos e abraços deste amigo que muito vos quer,

Pedro Nascimento, LMC Etiópia

2020: Ano da Ministerialidade

Trabajo en equipo
Trabajo en equipo

O magistério do Papa Francisco insiste sobre a visão de uma Igreja ministerial, isto é, fraterna, impregnada do «cheiro das ovelhas», sinodal, colaborativa e que testemunha a alegria do Evangelho com o anúncio, com o estilo de vida e com o serviço. Uma Igreja que empreende um caminho de conversão e que supera o clericalismo e o cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim» (EG 33). O XVIII Capítulo Geral acolheu esta orientação da Igreja universal e assumiu-a, auspiciando um caminho de regeneração e requalificação do nosso empenho missionário no sentido da ministerialidade (DC ’15, 21-26; 44-46).

CARTA PARA INTRODUZIR O ANO DE APROFUNDAMENTO DA MINISTERIALIDADE

«Lendo o que escrevi podeis fazer uma ideia da compreensão que tenho do mistério de Cristo, que, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, em gerações passadas, como agora foi revelado aos seus santos Apóstolos e Profetas, no Espírito: os gentios são admitidos à mesma herança, membros do mesmo Corpo e participantes da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho. Dele me tornei servidor, pelo dom da graça de Deus que me foi dada, pela eficácia do seu poder» (Ef 3, 4-7)

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«Deve considerar-se como um indivíduo anónimo numa série de operários, que tem de esperar resultados não tanto do seu trabalho pessoal, mas de uma acumulação e continuação de trabalhos misteriosamente conduzidos e utilizados pela Providência» (E 2889).

Trabajo en equipo

Caríssimos confrades, saudações de Santo Tempo Natalício e Bom Início do Novo Ano de 2020!

Como todos sabemos, a exortação apostólica Evangelii Gaudium revelou a mudança epocal do nosso tempo e a necessidade de uma profunda renovação na Igreja, para viver com alegria o Evangelho e ser fiéis à própria vocação de discípulos-missionários de Jesus. Com esta visão renovada da Igreja, continua a emergir sempre mais uma Igreja «em saída», em que a missão é paradigma do seu ser e do seu agir, em escuta do Espírito através do grito da humanidade que sofre, dos pobres e da Criação. O magistério do Papa Francisco insiste sobre a visão de uma Igreja ministerial, isto é, fraterna, impregnada do «cheiro das ovelhas», sinodal, colaborativa e que testemunha a alegria do Evangelho com o anúncio, com o estilo de vida e com o serviço. Uma Igreja que empreende um caminho de conversão e que supera o clericalismo e o cómodo critério pastoral do «fez-se sempre assim». (EG 33)

O XVIII Capítulo Geral acolheu esta orientação da Igreja universal e assumiu-a, auspiciando um caminho de regeneração e requalificação do nosso empenho missionário no sentido da ministerialidade (DC ’15, 21-26; 44-46). O Espírito chama-nos a sonhar e a converter-nos, como missionários «em saída», que vivem o Evangelho através da partilha da alegria e da misericórdia, cooperando para o crescimento do Reino, a partir da escuta de Deus, de Comboni e da humanidade. Um sonho que é sonho de Deus, que nos leva a ousar, não obstante a nossa pequenez, conscientes de não estar isolados, mas ser membros de uma Igreja ministerial. Somos chamados a evangelizar como co-munidade, numa comunhão e colaboração com toda a Igreja, para promover juntamente com os pobres a globalização da fraternidade e da ternura. Tudo isto se concretiza em escolhas de redução e requali-ficação dos empenhos, desenvolvendo serviços pastorais específicos, saindo em direcção aos grupos humanos marginalizados ou em situa-ções de fronteira.

Para nos ajudar a crescer neste caminho, o Guia para a actualização do XVIII Capítulo Geral reservou o ano 2020 à reflexão sobre o tema da ministerialidade. Desejamos propor uma acção-reflexão, isto é, uma abordagem que parta da experiência, reflicta criticamente sobre o seu potencial transformativo e as suas criticidades, para discernir cursos de acção renovados.

É o que fazia o próprio Comboni: chegou ao Plano de Regeneração da África com a África na base de uma experiência directa da missão, de estudos de aprofundamento e de confronto com outras experiências, encontrando no estilo ministerial a resposta ao desafio «impossível» da evangelização da África. O seu Plano reflecte uma compreensão sistémica de abordagem ministerial: uma obra colectiva e «universal», que cria redes de colaboração que reúnem todas as forças eclesiais, reconhecendo a cada uma a sua especificidade e originalidade. Uma obra que dá vida a uma pluralidade de serviços, em resposta às necessidades humanas e sociais, para os quais prepara cientificamente ministros ad hoc, e que prevê a fundação de comunidades missionárias sustentáveis do ponto de vista ministerial, socioeconómico e da significância social. Como nos recordam também Bento XVI e Francisco, a Igreja cresce por atração, não por proselitismo.

Portanto, a nossa reflexão sobre a ministerialidade requer que nos po-nhamos à escuta do Espírito, motor e protagonista dos ministérios na Igreja discípula-missionária. Propomo-nos aprofundar esta temática em relação à nossa vida missionária e experiência ministerial, pessoal e comunitária, através da partilha, principalmente, de dois subsídios:

  1. Suplementos na Família Comboniana;

  1. Um ágil subsídio com fichas que facilitará a partilha, o aprofundamento, a reflexão e o discernimento a nível comunitário.

Convidamos-vos a aproveitar estes instrumentos para um percurso de formação permanente a nível pessoal e comunitário, facilitado por um guia escolhido no seio de cada comunidade, que poderá valer-se de exaustivas notas de facilitação fornecidas juntamente com o subsídio.

Também o Sínodo para a Amazónia, celebrado recentemente, revelou a urgência de uma conversão pastoral da Igreja: o crescimento na mi-nisterialidade é uma chave fundamental deste caminho. Temos, por-tanto, uma grande oportunidade de crescimento e renovamento, e ca-be a cada um de nós e a cada comunidade tirar proveito disso. Mas é também um caminho que não percorremos sós, mas em comunhão com a Igreja. Aliás, auguramo-nos que o nosso empenho em colocar-nos neste caminho de renovamento missionário-ministerial possa ser de estímulo e de apoio – numa dinâmica maiêutica recíproca – à Igreja local em que vivemos: não será somente um percurso de formação permanente, mas também de missão/animação missionária.

Em 2020 teremos também um evento especial, a nível de Família Comboniana, sobre a ministerialidade social, que se realizará em Roma de 18 a 22 de Julho. Este fórum é parte de um caminho mais amplo que estamos a percorrer como Família comboniana, que prevê também um mapeamento de todas as experiências de ministério social da Família Comboniana. Queremos chegar a construir sinergias, a desenvolver uma visão e uma linguagem partilhadas, a fazer redes e a construir movimentos de transformação evangélica da realidade social. No médio prazo, este percurso ajudar-nos-á a desenvolver participativamente pastorais específicas, como nos pediu o Capítulo de 2015. Temos necessidade da vossa participação, com entusiasmo, neste processo, que quanto mais inclusivo for, mais rico e significativo será.

Por fim, em apoio da dimensão de JPIC (Justiça, Paz e Integridade da Criação), eixo transversal dos ministérios missionários, temos o gosto de vos apresentar dois instrumentos práticos que serão publicados em 2020:

= Subsídio para a formação comboniana de base e permanente sobre valores de JPIC

= O segundo volume sobre a JPIC da Família Comboniana, a cargo de P. Fernando Zolli e do P. Daniel Moschetti, que se segue ao volume Sede a mudança que quereis ver no mundo.

Que São Daniel Comboni interceda por nós: nos torne «santos e capazes» de fazer frutificar o dom da ministerialidade.

O Conselho Geral O Secretariado Geral da Missão