Leigos Missionários Combonianos

[Portugal] Vivemos o chamamento à missão como cristãos movidos pela fé e não pelo trabalho

LMC PortugalNa passada sexta-feira dia 22 de maio teve início mais um encontro dos formandos dos LMC na casa de Viseu. O tema desta unidade formativa foi, Leigos na Igreja – Espiritualidade laical e missionária, apresentado pelo Carlos Barros.

Começamos por ver um filme que muito me tocou “Selma a marcha da liberdade” o qual relata a luta que Martin Luther King teve que travar para ser concedido o direito ao voto a todas as pessoas, que termina com uma marcha épica desde a cidade de Selma até Montgomery, no Alabama, e que levou o presidente Lyndon B. Johnson a assinar a Lei dos Direitos de Voto em 1965.

No sábado o Carlos começou por nos falar sobre Espiritualidade, muito foi dito mas algumas das frases que mais me marcaram foram “espiritualidade é um caminho com Deus”, “é um namoro com Cristo”, é a “vida alimentada com Cristo”. A Espiritualidade cristã não é só de alguns, é um estilo de vida…

Tivemos a oportunidade de refletir sobre a identidade dos LMC através dos artigos 4º e 5º do diretório, onde nos foi pedido que pensássemos sobre algumas questões:

  • Como é que eu interpreto a minha espiritualidade à luz destes artigos do directório LMC?
  • Ao longo desta caminhada formativa já fui ganhando consciência sobre alguns aspetos que constam nestes artigos?
  • Existem alguns pontos nestes artigos, cuja finalidade eu considero que ainda não consigo alcançar? Quais? E Porquê?
  • Pensas que um dia será possível orientar a tua vida pelos princípios que constam nestes artigos?

Durante a manhã de sábado tivemos ainda a surpresa de sermos visitados pela recém chegada da missão Palmira Pinheiro – Missionária Secular Comboniana, que partilhou connosco um pouco da sua vida na missão.

LMC PortugalApós o almoço, que foi muito agradável e com as energias reforçadas, foi tempo de voltarmos ao trabalho. O Carlos continuou a falar de espiritualidade mas mais concretamente de Espiritualidade Laical onde nos falou do papel dos Leigos na Igreja, e sem dúvida alguma que seguir Jesus é “uma tarefa exigente e comprometida”, temos que ter um papel activo, estarmos disponíveis para SERVIR e não para ser servidos, há que ser radicais para assumirmos que “vivemos o chamado à missão como cristãos movidos pela fé e não pelo trabalho”.

Durante a oração da tarde reflectimos sobre “Ide também vós para a Minha vinha” onde Jesus convida a fazer parte da vinha d’Ele não apenas os religiosos ou religiosas mas sim todos os fiéis leigos, todos os batizados pois estamos todos unidos pelo Batismo. Cada um de nós é parte da Igreja, quando alguém não está presente, a igreja fica mais pobre.

Jesus convida-nos ainda a viver uma vida diferente enquanto Leigos, convida-nos a vivermos desapegados dos bens materiais, dos laços familiares (que é para mim o mais dificil de pensar ou sequer imaginar…) e termos a coragem de ir… de não termos medo de dizer “Sim Pai, aqui estou…”

Ao final do dia fomos mais uma vez presenteados pelo testemunho do Pe. Ginno Pastor que nos chegou através do Skype (as novas tecnologias fazem maravilhas como esta), onde ouvimos falar sobre a sua experiência na missão, sempre em Moçambique, e notava-se perfeitamente que o Pe. Ginno falava desta com muito amor. O seu sorriso ao falar da missão, as suas palavras transpiravam amor pelo próximo, pelo mais pobre pelo mais necessitado, é um exemplo vivo de quem foi pobre com os pobres, alguém que foi sem dúvida um deles enquanto viveu na missão… A frase que mais me tocou no seu testemunho foi “o sorriso do outro paga tudo 🙂 ”.

Já a noite ia longa e como era uma Grande Noite, Noite de Pentecostes, fizemos uma pequena vigilia onde cada um de nós pode partilhar o “ser Igreja” escrevendo num bago do cacho de uvas quando é que nos sentiamos Igreja… “Sou igreja quando…” …

No domingo pela manhã participámos na Eucaristia com a comunidade de Viseu, e foi muito bonito poder sentir a presença do Espírito Santo… foi um momento muito especial. Senti mais uma vez a vontade se ser Radical, ser diferente e de fazer o que faço pela fé e não por obrigação, como alguém dizia “ Se for de interior e não de obrigação isso se reflecte”. Há que acreditar como nos dizia o Papa João Paulo II “Cristo não tira nada, só dá” e é com a certeza desse amor por nós, que continuo empenhada enquanto cristã… e espero a cada dia conseguir dizer ao Senhor “Eis-me aqui…

Andreia Martins (candidata LMC)

Viver o presente com paixão

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Fr. Fernando Domingues

As reflexões que se seguem pretendem ser simples comentários ao segundo objectivo proposto pelo Papa Francisco na sua Carta Apostólica a todos os religiosos por ocasião do Ano da Vida Consagrada do passado mês de Novembro de 2014, a fim de ajudar-nos a viver como missionários combonianos o nosso tempo. “A paixão por um ideal, no nosso caso, a missão, está ligada ao entusiasmo. A paixão não se conquista de uma vez para sempre. É como uma planta que devemos cuidar e alimentar todos os dias. Por isso é preciso tirar proveito de iniciativas como a que propõe o Papa no Ano da Vida Consagrada, para rever como estamos a viver a nossa consagração e qual é a nossa ligação com o Evangelho, com o Instituto e com a missão”, escreve o P. Rogelio Bustos Juárez, mccj.

VIVER O PRESENTE COM PAIXÃO

“O passado que é memória e o futuro que é imaginação evocamo-los pelo presente”
(Santo Agostinho)

  1. A sequela de Cristo, como referência principal

Quando se fala de nascimento dos carismas, a história da vida religiosa ensina-nos que a primeira coisa da qual partiram os fundadores e as fundadoras foi o Evangelho. Pela leitura atenta da Boa Nova conheceram Jesus Cristo, receberam a Palavra e descobriram como podiam segui-lo. Alguns deram atenção ao Jesus taumaturgo que curava os doentes, outros ao Jesus Mestre que, com autoridade, ensinava coisas novas; nós fomos interpelados pelo Jesus itinerante que deve anunciar o Evangelho a todos os povos, porque para isso foi enviado.

Nasceram daí as Regras ou Constituições como base teórica para tornar viva a intuição carismática. Nas Regras de 1871, o nosso Fundador dizia: certamente um espírito humilde que ame sinceramente a sua vocação e queira ser generoso com o seu Deus, observá-las-á de coração considerando-as como o caminho traçado pela Providência, mas é importante dizer claramente que as Constituições, a Regra de Vida e as tradições de qualquer Instituto só conservam o seu vigor se e quando continuarem a inspirar-se nos valores evangélicos.

Por isso o Papa escreve: «A pergunta que somos chamados a fazer neste Ano é se e como nos deixamos interpelar pelo Evangelho; se este é verdadeiramente o vade-mécum para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer. Isto é exigente e pede para ser vivido com radicalismo e sinceridade. Não basta lê-lo (embora a leitura e o estudo permaneçam de extrema importância), nem basta meditá-lo (e fazemo-lo, com alegria, todos os dias). Jesus pede para pô-lo em prática, para viver as suas palavras.

Não tenho a certeza se, depois de termos concluído a nossa formação de base, todos tomamos a sério a nossa formação permanente. Hoje fala-se de sociedade líquida e amor líquido (cf. Z. Bauman) para aludir àquela rapidez com que estamos a mudar o mundo, a sociedade, a Igreja e a vida religiosa.

O Evangelho é a fonte que, com o seu dinamismo e a sua actualidade, pode indicar-nos caminhos sobre os quais orientar os nossos passos. A propósito, um instrumento útil pode ser o terceiro capítulo da Evangelli gaudium (n. 111-173) na qual o Papa Francisco nos convida a rever o modo como nos abeiramos da Palavra e a anunciamos.

Mas não é suficiente ser peritos em teologia bíblica ou bons pastoralistas se não formos capazes de pôr em prática o que anunciamos. Somos convidados a rever o lugar que a Palavra ocupa na nossa vida; se ela é verdadeiramente aquele guia seguro ao qual recorremos diariamente e que pouco a pouco nos faz assemelhar ao Mestre.

  1. Conformar a nossa vida ao modelo do Filho
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P Manuel Pinheiro. Peru

Se é Jesus Cristo que seguimos, ser-nos-á de ajuda reflectir sobre a segunda parte do nosso nome, «do Coração de Jesus», porque nos permitirá aprofundar a nossa identidade. Quando em 1885, através de D. Sogaro, a Santa Sé nos concedeu ser congregação religiosa, fomos chamados: Filhos do Sagrado Coração de Jesus. Em 1979 chegou-se à reunificação e renascemos com o nome de Missionários Combonianos do Coração de Jesus. É interessante o facto de se ter mantido a referência ao Coração de Jesus.

O Papa Francisco na sua carta advoga que se o Senhor é o nosso primeiro e único amor, poderemos aprender dele o que é o amor e saberemos como amar porque teremos o seu próprio coração, isto é, identificar-nos-emos com Ele. Foi isso mesmo que meditaram e partilharam connosco alguns Padres da Igreja.

Santo Ireneu, por exemplo, fala de «Jesus Cristo que, pela superabundância do seu amor, se tornou aquilo que somos nós para fazer de nós o que Ele é» (Contra as heresias, Prefácio do livro V).

São Gregório Nazianzeno desenvolve um outro aspecto: «Pela minha condição terrena, estou ligado à vida cá de baixo, mas sendo também uma partícula divina, trago em mim este desejo da vida futura».

O homem não é apenas ordenado moralmente, regulado por um decreto sobre o divino, mas é ghenos, da estirpe divina, como diz São Paulo, é «estirpe de Deus» (Act 17, 29).

Santo Atanásio, no Tratado sobre a Encarnação do Verbo, afirma que o Logos divino se fez carne, tornando-se como nós, para a nossa salvação. E, com uma frase que se tornou célebre, escreve que o Verbo de Deus «se fez homem para que nós chegássemos a ser Deus; tornou-se visível corporalmente para que tivéssemos uma ideia do Pai invisível, e suportou a violência dos homens para que herdássemos a incorruptibilidade» (54, 3).

O nosso Fundador, São Daniel Comboni, fazendo sua a espiritualidade do seu tempo, soube responder aos desafios da missão inspirando-se na espiritualidade do Sagrado Coração, ampliando o seu significado, dando-lhe um cunho mais social e missionário.

Resumindo, se aqueles que aprovaram o nosso nome julgaram oportuno e necessário incluir nele a referência ao Coração de Jesus, é pois necessário que nos identifiquemos cada vez mais com os seus sentimentos e o traduzamos em atitudes. Seguimos Jesus não de um modo qualquer, mas esforçando-nos por ser «cordiais» no nosso modo de agir, de ser reflexo e expressão dos sentimentos do Filho de Deus. Tudo isto tem consequências na vida pessoal e comunitária. A ponto de fazer de nós parábola existencial, sinal da presença do próprio Deus no mundo (Cf. Vida Consagrada n. 22).

  1. Fiéis à missão a nós confiada

O terceiro ponto convida-nos a rever a nossa fidelidade ao mandato que recebemos dos nossos fundadores. Uma intuição carismática é, ao mesmo tempo, dom e responsabilidade. Dom, porque não fizemos nada para o receber através da pessoa e do trabalho dos nossos fundadores, que todavia foi reconhecido pela Igreja, pelo que temos a responsabilidade de não o desvirtuar nem alterar, mas ser os continuadores deste presente que nos foi colocado nas nossas mãos.

E aqui é possível fazer-se duas leituras: ou agarrar-nos ao pensamento e à obra do nosso Padre Fundador pretendendo, por fidelidade carismática, reproduzir sine glossa o que ele fez ou então agir de modo tal que tudo o que fazemos não se assemelhe de modo algum a quanto sugerido ou proposto pelos nossos fundadores e mover-nos em total liberdade, interpretando os novos desafios a nosso gosto e escrevinhando a herança que recebemos há 150 anos.

Julgo que seja bem evitar estes dois extremos. É necessário de facto receber a chama das mãos de quantos nos precederam conservando a lucidez para descobrir como devemos responder aos desafios do presente sem enfraquecer a originalidade carismática. Foi este, creio, o objectivo da Ratio Missionis e do trabalho de requalificação dos nossos empenhos sobre os quais o Instituto insistiu nos últimos anos.

O Papa Francisco exorta-nos a perguntar-nos, neste Ano da Vida Consagrada, se os nossos ministérios, as nossas obras e presenças respondem aos que o Espírito Santo pediu aos nossos fundadores. Numa palavra, convida-nos a viver numa atitude de discernimento constante para não errar e ser assim reflexo e expressão daquele carisma eclesial que recebemos.

  1. Ser peritos em comunhão
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P Gino Pastore. Moçambique

Sendo assim e considerando o valor que tem para a nós a vida fraterna, seria oportuno que nos interrogássemos sobre a qualidade da nossa vida em comum. A este propósito, o nosso Fundador foi muito claro ao descrever as características do seu Instituto: «Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao centro da Nigrícia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios, que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessariamente a natureza do centro de onde procedem» (E 2648).

É interessante a imagem que São Daniel Comboni utiliza: «cenáculo de apóstolos». O cenáculo é a sala do piso superior, onde o Mestre confiou aos seus discípulos o que tinha no seu coração na véspera do mais alto gesto de doação. O estar juntos é aquela realidade que nos transcende e nos aproxima de Deus quando vivemos em comunhão com os irmãos. É também espaço de intimidade, onde podemos abrir o nosso coração aos companheiros de caminho e mostrar-nos como somos. Ali partilhamos aquilo que somos, descobrindo os nossos dons e limites e os de quantos vivem connosco. Teologicamente, a Trindade é o nosso modelo: três pessoas distintas mas um só Deus. Viver juntos ajuda-nos a partilhar os nossos dons e a acolher a riqueza de quantos vivem ao nosso lado. Somos diferentes, mas cultivamos e promovemos a unidade, através do respeito e da tolerância. Num Instituto internacional como o nosso, o desafio é maior mas não impossível.

Na imagem utilizada faz-se referência também à apostolicidade. Deste «cenáculo de apóstolos» sairão como que «raios» missionários solícitos e virtuosos para iluminar situações de obscuridade: o Papa fala de choques, de difícil convivência entre culturas diferentes, de prepotência sobre os mais frágeis, de desigualdade e poderíamos continuar com uma lista de situações que conhecemos e que encontramos pela frente no nosso serviço nas diversas partes do mundo, onde trabalhamos. A todas elas somos chamados a levar uma palavra de esperança e de encorajamento, iluminando as obscuridades e partilhando uma experiência de fraternidade, fruto da comunhão que experienciámos. E não basearemos a força e a eficácia da nossa vocação missionária sobre os recursos materiais que podemos levar à missão, mas sobre a disponibilidade a partilhar a experiência autêntica de Deus que temos e sobre a dose de humanidade que podemos transmitir. A qualidade da vida missionária dependerá do tempo que estivermos dispostos a dedicar às pessoas marginalizadas da sociedade. O nosso lugar, como missionários – e isto reconhecem-no-lo a maior parte das Igrejas locais – é onde há tensões e desconfianças, onde há situações que são contrárias à condição humana. É aí que devemos levar a presença do Espírito, procurando dar testemunho de unidade (Jo 17, 21), como nos recorda o Papa.

Tudo isto traduz-se num estilo próprio que deve ser de escuta, de diálogo e de colaboração com as pessoas com quem entramos em contacto. Até podemos ser pessoas dinâmicas e capazes, mas se não soubermos trabalhar em grupo, dificilmente daremos testemunho do amor trinitário sobre o qual se funda a vida comunitária. As diferenças não devem impedir-nos de dar testemunho de unidade perante a Igreja e o mundo.

  1. Apaixonados pelo Reino

Uma última consideração: seguir Jesus, desejar assemelhar-se ao seu coração, permanecer apaixonados pela missão e ser construtores – e não meros consumidores – de comunidade, será possível na medida em que mantivermos sempre viva a paixão pelo Reino. Se virmos bem, muitos de nós manifestam uma certa dose de irresponsabilidade pelo modo como administramos o tempo e os bens que chegam às nossas mãos. Se perdemos o contacto com as pessoas, será difícil imaginar as carências que vive a maior parte da nossa gente. Na carta, citando João Paulo II, o Papa Francisco afirma: «A mesma generosidade e abnegação que impeliram os Fundadores devem levar-vos a vós, seus filhos espirituais, a manter vivos os seus carismas que, continuam, com a mesma força do Espírito que os suscitou, a enriquecer-se e a adaptar-se, sem perder o seu carácter genuíno, para se porem ao serviço da Igreja e levarem à plenitude a implantação do seu Reino».

Porque é que alguns dos nossos candidatos perdem o entusiasmo inicial quando fazem parte do Instituto? Porque é que para muitos de nós é tão fácil deixar de ser combonianos, quando surgem dificuldades ou desacordos? Porque nos é cada vez mais difícil obedecer e responder aos desafios que se nos apresentam? Porque é diminuta a nossa paixão pelo Evangelho e por tudo aquilo que diz respeito á missão? Porque é que tantos vivem como reformados antes do tempo? Não será porventura porque negligenciamos algumas referências fundamentais ligadas à nossa identidade, pelo que saímos do caminho e perdemos a rota?

A paixão por um ideal, no nosso caso, a missão, está ligada ao entusiasmo. A paixão não se conquista de uma vez para sempre. É como uma planta que devemos cuidar e alimentar todos os dias. Por isso é preciso tirar proveito de iniciativas como a que propõe o Papa no Ano da Vida Consagrada, para rever como estamos a viver a nossa consagração e qual é a nossa ligação com o Evangelho, com o Instituto e com a missão.
P. Rogelio Bustos Juárez, mccj

Não podemos enterrar nosso espírito missionário!

BrasilNo dia 15 de março nos reunimos na cidade de Curitiba para dar continuidade aos encontros de acompanhamento aos interessados no chamado á vocação leiga missionaria comboniana desta região. Neste segundo encontro, dando prosseguimento ao tema Vocação e Missão, tivemos a oportunidade e o compromisso de rezarmos juntos no dia do nascimento de São Daniel Comboni. Unidos a toda a Família Comboniana nos dedicamos a rezar e refletir sobre sua vida e o nosso compromisso com a Missão para a Humanidade.

É inspirador perceber que Comboni não mediu esforços para encontrar a Cristo no rosto dos irmãos africanos, percorreu grandes distancias, ajudou a animar a Igreja e a fazê-la enxergar onde a vida estava ameaçada. Seu testemunho conseguiu atrair muitos outros consigo, foi ao encontro, colocou-se a caminho, usou todos os recursos disponíveis em sua época, não teve medo das dificuldades.

Para refletimos sobre a atualidade do chamado missionário, assistimos também ao documentário “Missão e Comunhão Eclesial” da Campanha Missionária 2010.

A Missão também nos nossos dias pede uma resposta urgente e corajosa. Missão Além Fronteiras e Animação Missionária, dois pontos essenciais do chamado de todo batizado. E estes momentos são importantes para reacender nossa chama missionária e ajudar a despertar a consciência missionária da Igreja, desejosos que mais pessoas despertem para este chamado.

BrasilBrasilAproveitamos também para partilhar como nasceu a organização dos LMC no Brasil, num breve relato destes quase 20 anos de caminhada. Vale recordar sempre o que recomenda o papa Francisco na Mensagem do Mês Missionário “continua a revestir-se de grande urgência a missão Ad gentes, na qual são chamados a participar todos os membros da Igreja, pois esta é, por sua natureza missionária: a Igreja nasceu em “saída”.

Continuemos a caminhada, sendo um pequeno sinal, na partilha da vida e na defesa e promoção da Vida para todos.

LMC Brasil

Fortalecei os vossos corações

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA A QUARESMA DE 2015

 Fortalecei os vossos corações (Tg 5, 8)

Papa FranciscoAmados irmãos e irmãs,

Tempo de renovação para a Igreja, para as comunidades e para cada um dos fiéis, a Quaresma é sobretudo um «tempo favorável» de graça (cf. 2 Cor 6, 2). Deus nada nos pede, que antes não no-lo tenha dado: «Nós amamos, porque Ele nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19). Ele não nos olha com indiferença; pelo contrário, tem a peito cada um de nós, conhece-nos pelo nome, cuida de nós e vai à nossa procura, quando O deixamos. Interessa-Se por cada um de nós; o seu amor impede-Lhe de ficar indiferente perante aquilo que nos acontece. Coisa diversa se passa connosco! Quando estamos bem e comodamente instalados, esquecemo-nos certamente dos outros (isto, Deus Pai nunca o faz!), não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença: encontrando-me relativamente bem e confortável, esqueço-me dos que não estão bem! Hoje, esta atitude egoísta de indiferença atingiu uma dimensão mundial tal que podemos falar de uma globalização da indiferença. Trata-se de um mal-estar que temos obrigação, como cristãos, de enfrentar.

Quando o povo de Deus se converte ao seu amor, encontra resposta para as questões que a história continuamente nos coloca. E um dos desafios mais urgentes, sobre o qual me quero deter nesta Mensagem, é o da globalização da indiferença.

Dado que a indiferença para com o próximo e para com Deus é uma tentação real também para nós, cristãos, temos necessidade de ouvir, em cada Quaresma, o brado dos profetas que levantam a voz para nos despertar.

A Deus não Lhe é indiferente o mundo, mas ama-o até ao ponto de entregar o seu Filho pela salvação de todo o homem. Na encarnação, na vida terrena, na morte e ressurreição do Filho de Deus, abre-se definitivamente a porta entre Deus e o homem, entre o Céu e a terra. E a Igreja é como a mão que mantém aberta esta porta, por meio da proclamação da Palavra, da celebração dos Sacramentos, do testemunho da fé que se torna eficaz pelo amor (cf. Gl 5, 6). O mundo, porém, tende a fechar-se em si mesmo e a fechar a referida porta através da qual Deus entra no mundo e o mundo n’Ele. Sendo assim, a mão, que é a Igreja, não deve jamais surpreender-se, se se vir rejeitada, esmagada e ferida.

Por isso, o povo de Deus tem necessidade de renovação, para não cair na indiferença nem se fechar em si mesmo. Tendo em vista esta renovação, gostaria de vos propor três textos para a vossa meditação.

1. «Se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros» (1 Cor 12, 26): A Igreja.

Com o seu ensinamento e sobretudo com o seu testemunho, a Igreja oferece-nos o amor de Deus, que rompe esta reclusão mortal em nós mesmos que é a indiferença. Mas, só se pode testemunhar algo que antes experimentámos. O cristão é aquele que permite a Deus revesti-lo da sua bondade e misericórdia, revesti-lo de Cristo para se tornar, como Ele, servo de Deus e dos homens. Bem no-lo recorda a liturgia de Quinta-feira Santa com o rito do lava-pés. Pedro não queria que Jesus lhe lavasse os pés, mas depois compreendeu que Jesus não pretendia apenas exemplificar como devemos lavar os pés uns aos outros; este serviço, só o pode fazer quem, primeiro, se deixou lavar os pés por Cristo. Só essa pessoa «tem a haver com Ele» (cf. Jo 13, 8), podendo assim servir o homem.

A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo. Neste corpo, não encontra lugar a tal indiferença que, com tanta frequência, parece apoderar-se dos nossos corações; porque, quem é de Cristo, pertence a um único corpo e, n’Ele, um não olha com indiferença o outro. «Assim, se um membro sofre, com ele sofrem todos os membros; se um membro é honrado, todos os membros participam da sua alegria» (1 Cor 12, 26).

A Igreja é communio sanctorum, não só porque, nela, tomam parte os Santos mas também porque é comunhão de coisas santas: o amor de Deus, que nos foi revelado em Cristo, e todos os seus dons; e, entre estes, há que incluir também a resposta de quantos se deixam alcançar por tal amor. Nesta comunhão dos Santos e nesta participação nas coisas santas, aquilo que cada um possui, não o reserva só para si, mas tudo é para todos. E, dado que estamos interligados em Deus, podemos fazer algo mesmo pelos que estão longe, por aqueles que não poderíamos jamais, com as nossas simples forças, alcançar: rezamos com eles e por eles a Deus, para que todos nos abramos à sua obra de salvação.

2. «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9): As paróquias e as comunidades

Tudo o que se disse a propósito da Igreja universal é necessário agora traduzi-lo na vida das paróquias e comunidades. Nestas realidades eclesiais, consegue-se porventura experimentar que fazemos parte de um único corpo? Um corpo que, simultaneamente, recebe e partilha aquilo que Deus nos quer dar? Um corpo que conhece e cuida dos seus membros mais frágeis, pobres e pequeninos? Ou refugiamo-nos num amor universal pronto a comprometer-se lá longe no mundo, mas que esquece o Lázaro sentado à sua porta fechada (cf. Lc 16, 19-31)?

Para receber e fazer frutificar plenamente aquilo que Deus nos dá, deve-se ultrapassar as fronteiras da Igreja visível em duas direcções.

Em primeiro lugar, unindo-nos à Igreja do Céu na oração. Quando a Igreja terrena reza, instaura-se reciprocamente uma comunhão de serviços e bens que chega até à presença de Deus. Juntamente com os Santos, que encontraram a sua plenitude em Deus, fazemos parte daquela comunhão onde a indiferença é vencida pelo amor. A Igreja do Céu não é triunfante, porque deixou para trás as tribulações do mundo e usufrui sozinha do gozo eterno; antes pelo contrário, pois aos Santos é concedido já contemplar e rejubilar com o facto de terem vencido definitivamente a indiferença, a dureza de coração e o ódio, graças à morte e ressurreição de Jesus. E, enquanto esta vitória do amor não impregnar todo o mundo, os Santos caminham connosco, que ainda somos peregrinos. Convicta de que a alegria no Céu pela vitória do amor crucificado não é plena enquanto houver, na terra, um só homem que sofra e gema, escrevia Santa Teresa de Lisieux, doutora da Igreja: «Muito espero não ficar inactiva no Céu; o meu desejo é continuar a trabalhar pela Igreja e pelas almas» (Carta 254, de 14 de Julho de 1897).

Também nós participamos dos méritos e da alegria dos Santos e eles tomam parte na nossa luta e no nosso desejo de paz e reconciliação. Para nós, a sua alegria pela vitória de Cristo ressuscitado é origem de força para superar tantas formas de indiferença e dureza de coração.

Em segundo lugar, cada comunidade cristã é chamada a atravessar o limiar que a põe em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. A Igreja é, por sua natureza, missionária, não fechada em si mesma, mas enviada a todos os homens.

Esta missão é o paciente testemunho d’Aquele que quer conduzir ao Pai toda a realidade e todo o homem. A missão é aquilo que o amor não pode calar. A Igreja segue Jesus Cristo pela estrada que a conduz a cada homem, até aos confins da terra (cf. Act 1, 8). Assim podemos ver, no nosso próximo, o irmão e a irmã pelos quais Cristo morreu e ressuscitou. Tudo aquilo que recebemos, recebemo-lo também para eles. E, vice-versa, tudo o que estes irmãos possuem é um dom para a Igreja e para a humanidade inteira.

Amados irmãos e irmãs, como desejo que os lugares onde a Igreja se manifesta, particularmente as nossas paróquias e as nossas comunidades, se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!

3. «Fortalecei os vossos corações» (Tg 5, 8): Cada um dos fiéis

Também como indivíduos temos a tentação da indiferença. Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência?

Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa 24 horas para o Senhor, que espero se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração.

Em segundo lugar, podemos levar ajuda, com gestos de caridade, tanto a quem vive próximo de nós como a quem está longe, graças aos inúmeros organismos caritativos da Igreja. A Quaresma é um tempo propício para mostrar este interesse pelo outro, através de um sinal – mesmo pequeno, mas concreto – da nossa participação na humanidade que temos em comum.

E, em terceiro lugar, o sofrimento do próximo constitui um apelo à conversão, porque a necessidade do irmão recorda-me a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos. Se humildemente pedirmos a graça de Deus e aceitarmos os limites das nossas possibilidades, então confiaremos nas possibilidades infinitas que tem de reserva o amor de Deus. E poderemos resistir à tentação diabólica que nos leva a crer que podemos salvar-nos e salvar o mundo sozinhos.

Para superar a indiferença e as nossas pretensões de omnipotência, gostaria de pedir a todos para viverem este tempo de Quaresma como um percurso de formação do coração, a que nos convidava Bento XVI (Carta enc. Deus caritas est, 31). Ter um coração misericordioso não significa ter um coração débil. Quem quer ser misericordioso precisa de um coração forte, firme, fechado ao tentador mas aberto a Deus; um coração que se deixe impregnar pelo Espírito e levar pelos caminhos do amor que conduzem aos irmãos e irmãs; no fundo, um coração pobre, isto é, que conhece as suas limitações e se gasta pelo outro.

Por isso, amados irmãos e irmãs, nesta Quaresma desejo rezar convosco a Cristo: «Fac cor nostrum secundum cor tuum – Fazei o nosso coração semelhante ao vosso» (Súplica das Ladainhas ao Sagrado Coração de Jesus). Teremos assim um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.

Com estes votos, asseguro a minha oração por cada crente e cada comunidade eclesial para que percorram, frutuosamente, o itinerário quaresmal, enquanto, por minha vez, vos peço que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, Festa de São Francisco de Assis, 4 de Outubro de 2014.

 

Francisco

Uma Igreja pobre para os pobres e o Pacto das Catacumbas

Catacumbas

Uns quarenta bispos que estavam a participar no Concílio Vaticano II reuniram-se nas Catacumbas de Domitilla para uma celebração eucarística, no dia 16 de Novembro de 1965. Depois da celebração, escreveram e assinaram um documento intitulado “Pacto das Catacumbas”, no qual se comprometiam a viver um estilo de vida pobre e a promover uma Igreja “serva e pobre”. Hoje, o papa Francisco insiste ainda sobre a urgência de termos uma “Igreja pobre para os pobres”. De facto, só uma Igreja pobre poderá caminhar com os pobres, fazendo-se voz dos seus direitos negados. Cinquenta anos depois do Pacto das Catacumbas, um grande número de religiosos, religiosas e leigos reuniram-se ontem, dia 16, para celebrar e fazer memória daquele grande evento eclesial.

Quando o Concílio Vaticano II se dirigia para a sua conclusão, no dia 16 de Novembro de 1965, quarenta Padres conciliares reuniram-se nas Catacumbas de Domitilla, em Roma, para uma celebração eucarística, depois da qual produziram um documento que representa um marco importante na vida da Igreja.

No texto, intitulado “Pacto das Catacumbas de Domitilla”, os Pastores comprometeram-se a viver um estilo de vida pobre e a promoverem uma Igreja serva dos pobres. O documento, com uma lucidez incomum, toca as questões mais prementes de então, mas que continuam sendo actuais, apesar da ausência da abordagem de temas como a ecologia e a globalização da guerra e do terrorismo.

Para comemorar o 50º aniversário do evento e do documento, convocados pelos coordenadores de Justiça e Paz dos institutos religiosos, masculinos e femininos, dezenas de religiosas, religiosos e cristãos comprometidos encontraram-se nas Catacumbas de Domitilla para uma celebração litúrgica de duas horas. Num clima de oração e de reflexão, leu-se o texto do Pacto e, em seguida, constituíram-se pequenos grupos, por línguas, para aprofundar a sua actualidade e apresentar algumas sugestões concretas para realizar nas comunidades religiosas de cada um.

Os organizadores expressaram a sua satisfação e reconhecimento pelo facto de o número dos participantes terem excedido as suas espectativas.