Outubro – Para que todos os cristãos se sintam «enviados» ad gentes e levem a sério a missão de construir um ambiente de acolhimento e de encontro para os pobres e os imigrantes, promovendo processos de conhecimento e respeito mútuos. Oremos.
Alberto de la Portilla
Casa Familiar Rural de Açailândia: uma trajetória de lutas
Por Zé Luís Costa. Da Página do MST. (Editado por Fernanda Alcântara)
A Casa Familiar Rural (CFR) de Açailândia, no estado do Maranhão, foi constituída como associação, em 2001, depois que um pequeno grupo de pessoas militantes sociais se reuniu e começou a discutir formas de melhorar a questão da educação do campo para a realidade local.
De prontidão, entidades iniciaram a proposta da casa familiar e entraram nesse debate desse projeto político e social, como o MST, que estava recém instalado na cidade, a ordem religiosa dos combonianos, Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da cidade.
A experiência desse tipo de escola já é antiga no mundo, e no estado do Maranhão elas estão presentes em várias cidades diferentes. Em outras partes do mundo essa modalidade de escola é conhecida como “Escola Família Agrícola”.
A partir das primeiras discussões, as organizações interessadas realizaram vários encontros, inclusive em outras cidades dos arredores, como lembra Xoan Carlos (LMC). “Realizamos uma série de reuniões nas comunidades. Foram mais 60 reuniões nos municípios de Açailândia, São Francisco do Brejão, Itinga, Bom Jesus das Selvas. E então se constitui a associação”.
Ele continua: “A partir daí, conseguimos um terreno, cedido pela igreja católica. Porém, não tínhamos condições de construir o prédio, de pagar funcionários. Então foram mais alguns anos de luta e articulação na busca de projetos, e conseguimos alguns apoios internacionais”.
Posteriormente, em 2003, as organizações envolvidas na ideia conseguiram começar o que sonhavam para a cidade e entorno, tendo em vista a grande quantidade de assentamentos e comunidades rurais que tinham nas proximidades da cidade, hoje com 110 mil habitantes. Era um sonho para o distante futuro.
Os pioneiros da ideia conseguiram, com muita luta, parcerias com a prefeitura, como afirma Xoan Carlos. “Em 2005 iniciamos as primeiras atividades da CFR. Começamos com curso de ensino fundamental, a gente tinha conseguido estruturar várias unidades produtivas na agricultura, na apicultura, de criação de gado, porco… O governador Jackson Lago teve a intenção de fazer curso de ensino médio integrado à educação profissional, e aí iniciou-se um novo momento para a CFR”, conclui.
Com essas articulações, em 2006, iniciou-se o curso Nível médio, que foi se adequando melhor às necessidades dos jovens do campo. Principalmente porque, quando em 2001, muitas comunidades só tinham jovens com no máximo até quarta série. Essa era então a necessidade: uma escola com características diferentes das convencionais, para o campo.
Jarbe Firmino foi aluno da primeira turma da Casa Familiar Rural de Açailândia, e posteriormente entrou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Ele cursou Licenciatura em Educação do Campo e retorna à CFR, agora como monitor/professor, passando depois a ocupar cargo na instituição como coordenador geral.
Ele conta da experiência fazendo críticas à posição do poder público: “Essa experiência a qual me refiro, de coordenador, bem como em outros momentos, foi de grande dificuldade em termos de apoio do poder público. Foram períodos em que os contratos não eram cumpridos por parte do Estado, fragilizando o movimento do qual CFR faz parte”, encerra.
Após toda essa luta, veio o reconhecimento e conquistas. A principal delas foram a formação dos jovens em técnico em agropecuária para atuar nos assentamentos junto às suas famílias e em alguns órgãos do estado. Houve reconhecimento por parte do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, o CREA, para que pudessem trabalhar de formas oficiais prestando assistência técnica em projetos.
Entretanto, o desejo da coordenação e do grupo que organiza a associação e a CFR é que os alunos, formados, trabalhem com as suas famílias desenvolvendo o que eles aprenderam, nas propriedades familiares, como a maioria são de assentamentos da reforma agrária.
A CFR é administrada por uma associação, e atualmente o presidente é Xoan Carlos. A coordenação é escolhida pela associação e tem dez professores que são contratados pela Secretaria de Estado de Educação do Maranhão.
História das Casas Familiares Rurais
As Casas Familiares Rurais tiveram origem na França, em 1935, numa situação de forte êxodo rural, quando um grupo de famílias, com o apoio da igreja católica, reuniu-se para repensar essa situação. Chamaram-no de “Casa” para diferenciar da escola convencional e porque começou na casa de uma família; “Familiar” porque era uma organização das famílias e não do governo; e “Rural” porque o objeto da experiência era no meio rural na sua globalidade: técnica, humana, cultura, etc.
Hoje, na França, existem 450 CFRs. A partir dos anos 60, a experiência alastrou-se pela Espanha e a Itália com o nome de “Escola Família Agrícola”. Existem cerca de 1.000 CFRs nos cinco continentes, em trinta países.
No Brasil, as CFRs começaram a surgir no final dos anos 60, existindo na atualidade uns 150 centros educativos rurais que funcionam usando a “Pedagogia da Alternância”. No Maranhão são aproximadamente 27 escolas com esses princípios formativos. A pedagogia da alternância desenvolvido dentro dos métodos de Paulo Freire, em uma construção da formação técnica, é unida com a formação para a vida, no caso de Açailândia, amplia a parceria nas lutas por um modelo de agricultura diferenciado.
Intenções de Oração da Família Comboniana Setembro 2020
Setembro – Para que as Missionárias Seculares Combonianas, que realizam a sua décima Assembleia Geral em torno do ícone do grão de mostarda, vivam na certeza de que Cristo fará germinar abundantemente as sementes do Evangelho por elas semeadas. Oremos.
Paróquia missionária e ministerial
«A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária» (AG 2; cf. Mt 28, 16-20; Mc 16, 15-20), mas, por sua natureza, é também ministerial (cf. Rm 12, 4-8). Ministerialidade e missão estão profundamente unidas porque a missão concretiza-se e realiza-se através da diversidade de ministérios. Um ministério é um serviço pelo bem comum ou pelo desenvolvimento da missão da Igreja. Consequentemente, podemos dizer que a Igreja é missionária pois é substancialmente ministerial, servidora. No contexto do ano da ministerialidade que estamos a viver no Instituto, neste artigo, iremos deter-nos em particular sobre a questão ministerial e carismática da missão evangelizadora da Igreja na paróquia.
À luz do Concílio Vaticano II sabemos que cada baptizado é chamado a ser evangelizador, uma vez que participa nas três funções de Cristo, Sacerdote, Profeta e Rei, e partilha a sua missão (LG 30-38). Os ministérios podem ser classificados em dois grandes grupos: Ministérios Laicais e Ministérios da Ordem Sacerdotal. Se se parte de uma visão hierárquica da Igreja e de uma visão clerical da pastoral, os ministérios laicais são sufocados ou reduzidos a serviços e apoio ao sacerdote e à sua missão. Por conseguinte, os agentes pastorais tornam-se simples colaboradores, ajudantes, «meninos de coro do sacerdote» (altar boys) ou, como aconteceu em tantas missões, «mission boys», embora se tratasse de adultos. Há também sacerdotes que dedicam grande parte do seu tempo a actividades próprias dos Irmãos ou de outros ministérios laicais, deixando pouco tempo para os ministérios próprios do seu sacerdócio.
Uma outra prática difusa é a de dividir a paróquia em zonas pastorais, confiadas, cada uma, a um sacerdote. Cada um organiza e administra a própria zona, a própria pastoral, a própria equipa, os próprios projectos, a própria gente, a própria missão, o próprio dinheiro. Esta zona torna-se uma área da sua propriedade, onde os outros missionários não podem intervir e sobre a qual, por vezes, não podem sequer exprimir uma opinião. Cada um deve respeitar o território do outro. O XVIII Capítulo Geral e a Evangelii Gaudium do Papa Francisco exortam-nos a entrar num processo de conversão, para passar de modelos clericais e hierárquicos da missão e da pastoral a modelos baseados nos ministérios suscitados pelo Espírito Santo, a viver o espírito do Concílio Vaticano II. Em virtude do baptismo, todos somos iguais: discípulos de Jesus, mas com diversas vocações e dons (cf. LG 30). Utilizando a expressão criada pelos bispos latino-americanos em Aparecida e utilizada pelo Papa Francisco, afirmamos que somos todos discípulos de Jesus Cristo (cf. EG 119-121, 130-13; Aparecida 184-224).
É importante sublinhar que o baptizado é, antes de mais, um discípulo de Jesus Cristo e o encontro com Jesus transforma-o num missionário. Este Jesus que o fascinou, envia-o a evangelizar. «Cada cristão e cada comunidade há-de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (EG 20). Todo o discípulo missionário deveria tornar sua a paixão de Paulo pela missão e exclamar: «Ai de mim, se eu não pregar o Evangelho!» (1Cor 9,16). Evangelizar não é só um dever, mas é sobretudo um direito de cada discípulo missionário de Jesus Cristo.
Hoje é fundamental crescer na pluralidade e diversidade ministerial. Os ministérios ordenados e laicais são dons do Espírito Santo, dados precisamente para que sejam complementares em ordem a um fim comum: «Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum» (1Cor 12, 4-7). A missão hoje requer modelos pastorais ministeriais. Uma paróquia missionária ministerial é dinâmica porque, mediante a escuta do Espírito Santo e a leitura dos sinais dos tempos, descobre, concebe, cria e desenvolve novos ministérios e estratégias pastorais.
Seguidamente, proponho dois esquemas pastorais baseados nos ministérios, já operantes em diversas partes do mundo.
Não menciono os ministérios ordenados porque são inerentes à vocação sacerdotal, mas enfatizo os ministérios leigos.
- Em algumas Comunidades Eclesiais de Base. 1. Em relação à Palavra de Deus: animador bíblico para coordenar a reflexão bíblica nas pequenas comunidades. 2. Em relação à formação da comunidade: catequistas para a preparação para os sacramentos e para o acompanhamento mesmo depois do sacramento. 3. Em relação às celebrações litúrgicas: ministros para o acolhimento, cantores, leitores, ministros extraordinários da Comunhão. 4. Em relação à solidariedade social: formadores de consciência política e direitos humanos, ministério da caridade e solidariedade com os necessitados, ministério para a organização e mobilização comunitária.
- Organização para pastorais. Algumas paróquias integram a diversidade de ministérios em três pastorais: Profética, Litúrgica, Social. 1. Pastoral profética: catequistas para a formação de base para os sacramentos, professores para dar uma formação contínua a todas as pessoas que exercem um ministério, coordenadores para acompanhar os vários grupos paroquiais, escola de pastoral e uma publicação periódica para a formação de todos os responsáveis e da comunidade paroquial. 2. Pastoral litúrgica: ministros para o acolhimento, coros, cantores, proclamadores da Palavra, acólitos, ministros extraordinários da Comunhão, coordenadores dos grupos da liturgia, actores para a representação do Evangelho nas missas das crianças. 3. Pastoral social: ministros da solidariedade e caridade, visitadores dos doentes, formadores da consciência social, sobre os direitos humanos e sobre a doutrina social da Igreja, hospitalidade.
Para que uma paróquia ministerialmente organizada funcione bem é fundamental poder contar com um conselho paroquial que inclua responsáveis quer dos ministérios ordenados, quer dos laicais, para que em comunhão acompanhem o processo evangelizador, discirnam os sinais dos tempos para compreender quais devam ser as opções pastorais adequadas ao contexto e aos tempos actuais e quais os ministérios necessários para levar em frente o trabalho missionário. É igualmente importante contar com uma espiritualidade que ajude todos os evangelizadores a conhecer e a amar mais a sua própria vocação de discípulos missionários de Jesus Cristo.
P. Fernando Mal Gatkuoth
Missão na Etiópia
Descobrir a missão e cuidá-la é também olhar para pequenos retratos e imagens que captam a alegria imensa que é ser missão, neste caso, entre os GUMUZ. Os Gumuz (habitantes na região de Benishangul-Gumuz) são o povo que Deus destinou aos nossos amigos LMC na Etiópia como lugar de missão e de partilha. Foi para ali que foram ao encontro do amor e hoje, neste vídeo, vemos um pouco (só um pouquinho…) daquilo que é o trabalho missionário. O resto do que possa ser partilhado (e que é tanto) fica para uma boa dose de conversa e escuta sobre o testemunho destes missionários.
LMC Etiópia