Leigos Missionários Combonianos

Segunda Assembleia africana dos LMC

KinshasaOs coordenadores dos Leigos Missionários Combonianos (LMC) das províncias combonianas de África, e os respectivos responsáveis missionários combonianos que os acompanham, realizaram a sua segunda assembleia africana de 21 a 26 de Julho, na casa comboniana de Kinshasa-Kimwenza, na República Democrática do Congo (RDC). Foi um encontro de reflexão sobre o passado e de programação das próximas actividades dos LMC a nível do continente africano.

A segunda assembleia africana dos LMC contou com a participação permanente de 25 pessoas: 18 leigos, 5 combonianos e 2 combonianas, incluindo os responsáveis da comissão central dos LMC, o Alberto de la Portilla e o P. Arlindo Ferreira Pinto.

A primeira manhã da segunda assembleia africana dos LMC foi dedicada a dois temas formativos, com o objectivo de introduzir os participantes nos trabalhos da assembleia, um tema sobre a realidade actual congolesa e outro sobre a visão da missão na “Evangelii gaudium”.

Iniciou-se a assembleia com a apresentação dos participantes, orientada pelos membros leigos da comissão africana dos LMC: o Dieudonné Likambo (Dido), congolês; o Innocent Mweteise Karabareme, ugandês; e a Márcia Costa, portuguesa a trabalhar em Moçambique. Desta mesma comissão fazem parte também os provinciais P. José Luis Rodríguez López, de Moçambique, e o P. Joseph Mumbere Musanga, do Congo. O P. José Luis encontra-se no México e o P. Joseph participou apenas nos últimos dias da assembleia, por motivo das suas ocupações pessoais.

Seguiu-se a distribuição das diversas tarefas para toda a semana.

A Márcia Costa aproveitou do momento para recordar os principais objectivos da assembleia, nomeadamente aprofundar os temas da identidade, da formação e da autonomia económica, rever e programar as actividades dos LMC a nível do continente africano e de cada uma das províncias, tendo presente as conclusões das assembleias intercontinentais dos LMC, em particular da última assembleia na Maia (Portugal), em Dezembro de 2012, e da primeira assembleia africana em Dezembro de 2011, em Layibi (Uganda).

As palavras de boas-vindas a todos os participantes da assembleia foram dadas através da mensagem do P. Joseph Mumbere Musanga (lida pelo P. Enrique Bayo Mata), e pela Irmã Espérance Bamiriyo Togyayo, respectivamente superiores provinciais dos combonianos e das combonianas no Congo. Ambos sublinharam o valor da colaboração entre os Institutos nascidos do mesmo carisma de Comboni e a importância da oração e do testemunho missionário como família comboniana.

O P. Arlindo Pinto, coordenador dos LMC a nível do Instituto comboniano, informou que o P. Enrique Sánchez, superior geral, e o P. Antonio Villarino, assistente geral, mandam saudações para todos os participantes desta assembleia e que seguem com atenção as diversas realidades dos LMC no continente africano. Por sua vez, o Alberto de la Portilla, membro e coordenador da comissão central dos LMC, disse que esta assembleia é um acontecimento que interessa não só aos LMC africanos, mas a todos os outros LMC dos continentes europeu e americano que vivem em contextos e realidades diferentes, mas com um forte sentido de pertença aos mesmos LMC.

O P. Jean Claude Kobo Badianga, comboniano congolês, fez uma apresentação breve da história da República Democrática do Congo (RDC) para se poder compreender a situação sociopolítica e económica actual do país. Relacionou a história da RDC com a história e os conflitos passados e recentes dos países vizinhos (Angola e Congo Brazzaville, Ruanda e Burundi, Uganda, Sul do Sudão, e República Centro-Africana,). Falou das principais dificuldades que impedem uma governação estável e verdadeiramente democrática na RDC como, por exemplo, o tribalismo, o regionalismo e a corrupção.

Referiu-se aos diversos grupos rebeldes armados que actuam sobretudo no Norte e no Nordeste do País com a cumplicidade política nacional conjugada com os interesses internacionais relacionados com os riquíssimos recursos naturais do solo e do subsolo congolês. O petróleo, o ouro, o coltan e tantos outros recursos minerais preciosos são a real fonte das contradições sociais, das desigualdades económicas e dos conflitos armados na RDC.

A Igreja católica e as centenas de outras Igrejas e seitas religiosas tomam posições diferentes perante a realidade por que está a passar o país, na maior parte das vezes para favorecer o “status quo” e, poucas vezes, para denunciar as injustiças de que são vítimas os congoleses de Norte a Sul do país.

O P. Jean Claude recordou que os LMC têm aqui nesta realidade social, na RDC e nos demais países africanos, uma responsabilidade cristã e moral que pode e deve estar presente nas suas actividades pastorais e profissionais.

KinshasaP. Enrique Bayo Mata, comboniano espanhol a trabalhar na RDC, apresentou o tema da missão a partir da exortação apostólica pós-sinodal “Evangelii gaudium” do papa Francisco. Depois de uma apresentação geral do documento, o P. Enrique sublinhou a perspectiva da nova evangelização marcada pela alegria do anúncio e do testemunho do Evangelho de Jesus Cristo nas diversas periferias humanas do mundo actual. Falou da urgência da conversão pastoral para levar a Igreja a sair de si mesma e a tornar-se missionária, isto é, de se colocar ao serviço das pessoas e dos povos, sobretudo dos excluídos, dos mais carenciados da alegria da fé e da vida cristã, e dos mais distantes dos valores do Evangelho.

Referiu que os leigos, formados profissional e intelectualmente, têm uma missão particular no processo pastoral da evangelização que visa a transformação da sociedade e a inclusão social dos pobres na vida activa dos seus países.

Na tarde do primeiro dia, o Innocent deu uma panorâmica geral sobre quem são os LMC e o que eles esperam de si mesmos, recordando que se começa sempre de uma pequena realidade e com poucas coisas, mas que se cresce e se amadurece se se tem uma visão clara da identidade, de quem somos, e se se tem um plano concreto de acção, do que devemos fazer, num contexto permanente de escuta da Palavra de Deus, de oração e de discernimento vocacional no espírito de São Daniel Comboni. Uma vez concluída a exposição de Innocent seguiu-se uma longa partilha de ideias e de experiências das diversas realidades dos LMC em África.

A Márcia Costa apresentou, de seguida, uma síntese da primeira assembleia africana em Layibi, sobretudo do que diz respeito à identidade e à missão dos LMC. Realçou que faz parte da vocação dos LMC sair da sua realidade ou do seu país, por um determinado período, para uma actividade missionária concreta, e que os LMC assumem um compromisso por toda a vida. Os LMC têm uma formação humana, espiritual e missionária específicas e procuram os meios para se tornarem economicamente autónomos nas suas várias actividades. Terminada a apresentação, seguiu-se uma partilha abundante à volta dos temas do documento de Layibi. Insistiu-se, mais uma vez, que é importante que os LMC façam uma experiência de missão fora do seu contexto geográfico.

O segundo dia das actividades foi dedicado à apresentação dos relatórios das actividades da comissão africana, da comissão central e das diversas províncias africanas presentes: Egipto-Sudão, Sudão do Sul, Togo-Gana-Benim, República Centro-Africana, Congo, Moçambique e Uganda. O Dido Licambo apresentou o relatório dos trabalhos da comissão africana desde a assembleia de Layibi até à preparação da actual assembleia de Kinshasa, e o Alberto apresentou os relatórios da comissão central e das províncias que não estiveram representadas na assembleia, mas têm LMC nos seus países (Chade, Malawi/Zâmbia, e Etiópia).

Um dos problemas mais comentados foi a falta de comunicação entre a comissão africana e as diversas províncias de África. Uma das razões apresentadas para a pouca partilha de informações e experiências foram as dificuldades naturais provenientes das diferentes línguas, faladas em cada uma das províncias, e a dificuldade de acesso às novas tecnologias da comunicação, sobretudo através da Internet, na maior parte dos países africanos.

Com o objectivo de se preparar a formulação das conclusões da assembleia, seguiu-se o método de encontros por grupos seguidos de plenário, nos dia 23 e 24, para responder sucessivamente às seguintes perguntas: Qual é a relação que existe entre os LMC locais e os LMC estrangeiros que se encontram no teu país? Quais são os desafios e as estratégias a ter em conta para se fazer um caminho comum? Como podemos partilhar os conteúdos da formação dos vários países para se chegar a ter uma mesma base formativa a nível continental? O que nos está a faltar para que possamos viver a vocação de LMC, segundo as conclusões de Layibi? Quais estratégias seguir para podermos viver plenamente a vocação LMC? Quais estratégias podemos adoptar para chegar à autonomia económica? Como podemos organizar o movimento dos LMC a todos os níveis: formação, relação entre os LMC dos diferentes países de África, vocação, organização, e economia.

Na tarde do dia 24 e na manhã do dia 25, os leigos encontraram-se entre si para formularem as conclusões da assembleia, enquanto os combonianos e as combonianas, à parte, aproveitaram deste tempo para falar sobre a sua colaboração com os LMC e para partilhar algumas ideias e experiências sobre como podem e devem ajudar os LMC a consolidarem-se em todas as províncias combonianas. Recordou-se que este compromisso foi assumido pelos combonianos no Capítulo Geral de 2009.

Na última tarde de trabalho, leram-se, discutiram-se e aprovaram-se as conclusões, seguindo os temas debatidos durante a assembleia. Seguiu-se a eleição do comité africano, tendo sido reeleitos para os próximos três anos: o Dieudonné (Congo); o Innocent (Uganda); e a Márcia (Moçambique). Por fim, sugeriu-se que o próximo encontro se realize em Julho de 2017, em Lomé (Togo), data e lugar a serem confirmados pelos superiores provinciais do sector.

Kinshasa

No sábado, o grupo foi visitar o jardim botânico de “Kisantu-bas Congo” e a catedral de Kisantu, a cerca de 120 km da cidade de Kinshasa.

A assembleia concluiu-se, no domingo, com uma reunião conjunta com os LMC congoleses de Kinshasa na comunidade provincial de Kinshasa-Kingabwa, tendo-se seguido a Eucaristia, presidida pelo P. Joseph Mumbere, e um almoço fraterno.

Arlindo Ferreira Pinto.

Caminhar com Comboni

Mozambique

Olá companheiros de viagem, que a Paz esteja convosco!

Por estes dias os MCCJ têm estado em Assembleia, aqui, na Província de Moçambique. Como Família Comboniana, as IMC e nós, LMC, fomos convidados a estar presentes nos dois primeiros dias. Isto permitiu-nos conhecer um pouco melhor a nossa Província e os Missionários Combonianos que aqui estão a trabalhar.

Estando nós neste ano jubilar dos 150 anos do Plano Comboni, partimos de uma reflexão, apresentada pelo Padre Vitor Dias, formador no noviciado, em Santarém, Portugal. Como sonhar, experimentar, anunciar: Cristo, Comboni e a alegria do Evangelho, no Hoje, na nossa quotidianidade, na nossa ação?

Entre nós, fomos entrelaçando os nossos sentires, as nossas experiências de Cristo na missão e, assim como quem constrói uma esteira, fomos construindo uma partilha. Convosco, certos de que muitas coisas ficam por dizer, deixo alguns pontos:

Somos convidados, a exemplo de Comboni, ao encontro com Deus, sem nos deixarmos amarrar pelos nossos afazeres, para que, junto d’Ele, permaneçamos nesta atitude de: “Aqui estou para aquilo que TU me queres”, nos deixemos, pois, a cada dia, inspirar, enamorar, entusiasmar, ousar, pelo Senhor da Missão.

Uma metodologia do Encontro, que nos faça viver a Pastoral do Encontro com o outro, numa atitude de escuta e diálogo. Ousarmos viver a missão como uma “saudação”, um “sair a pé” pelas comunidades, para que no encontro informal, anunciemos a Cristo e nos deixemos evangelizar pelos povos que nos acolhem.

Lembram-se da atitude do Papa Francisco, que saiu do carro e foi ao encontro da velhinha? Não terá isso muito mais impacto, muito mais de anúncio de Cristo, do que mil palavras ditas a um microfone?

Pois é, também nós precisamos de parar o nosso “carro”, despojar-nos daquilo que somos e temos (formação, estilos de vida, experiências pessoais), para nos podermos encontrar com o outro, nossa comunidade e povo que nos acolhe, a partir daquilo que o outro é. É o convite a uma atitude de humildade, encontrar o outro a partir de si. Grande desafio, não é?

Plano de Comboni, reprodução ou atualização? Diríamos que as duas atitudes. Uma atitude de reprodução, no que respeita ao plano de Comboni, naquela que é a sua mais alta expressão: a liberdade da pessoa humana. Por outro lado um dos aspetos fundamentais do Plano de Comboni é a dimensão do Hoje. Um Plano que não é papel, mas sim ações que geram vida, uma vida que se quer em abundância. Para isso é imprescindível partir daquilo que está construído e contextualizar naquela que é a nossa realidade do hoje, aí aonde nos encontramos. Inquietarmo-nos em deixar o “velho” para começar o “novo”, partindo de uma contínua atitude de discernimento.

Qual a nova atitude? Em que apostamos? Construção de estruturas ou construção com o povo? Construções de pedra ou construções humanas?

O desafio está lançado: não nos tornarmos meros administradores das estruturas criadas, mas procurarmos, inventarmos, novas possibilidades, sem medos, com esperança e confiança, numa atitude que se quer não de “como quem está para dar” mas daquele que está para aprender e caminhar junto.

Cabe-nos aproveitar a riqueza da diversidade, para que possamos marcar a missão pelo ritmo de uma crescente colaboração e interajuda em que os povos com os quais trabalhamos sejam cada vez mais os protagonistas da missão e das suas vidas.

Despedimo-nos com a pergunta: “Como encarnar o Evangelho Hoje?”

Com a certeza de que nenhum de nós é integral e de que nenhuma cultura esgota o evangelho, caminhemos, com os medos do caminhante e com o coração cheio de confiança no Senhor da missão, que nos chama a enfrentar as dificuldades com serenidade e otimismo.

“A Paz esteja convosco!” e “Não tenhais medo!”.

Espero por vós em Moçambique 😉

MozambiqueMárcia Costa. LMC em Mozambique.

A visão eclesial que emerge do “Plano” de Comboni

Comboni

“Comboni – acreditando na unidade do género humano e no facto de o Evangelho dever, por isso, ser anunciado a todos – coloca-se numa atitude de desmistificação profética daquela forma cultural racista…” (Prof. Fulvio De Giorgi, Conselho de Direcção do Arquivo Comboniano).

Colocação de contexto
Uma reflexão actual sobre o “Plano” de Comboni que não seja puramente histórica, mas seja de tipo espiritual, pastoral, missiológico (que assuma um ponto de vista de fé, de pertença à Igreja católica e de ‘filiação’ comboniana) deve, de algum modo, partir de algumas colocações de contexto e não situar-se num plano de leitura directa e imediata (ou seja, sem mediações), como se se tratasse de um texto escrito hoje. A actualização deve fugir aos riscos de um certo ingénuo fundamentalismo actualizante: que seria, no melhor dos casos, uma banalização, mas correria também riscos de deformação grave. Qualquer texto do tempo (não só de Comboni) não pode ser lido sem filtros de contexto: caso contrário quem naquele contexto histórico, era – por exemplo – anti-racista, arriscar-se-ia a parecer, hoje, racista.

Não se trata somente de traduzir uma linguagem oitocentista numa linguagem corrente (com uma operação que não é unicamente de semântica histórica): embora já este simples aspecto assinale um problema mais vasto, isto é, o das formas de continuidade/descontinuidade cultural
(e espiritual) entre nós e os nossos Pais e as nossas Mães do passado, entre a nossa visão e a sua visão.

Comboni situava-se no seio da Igreja católica: mas também nós hoje.
E todavia a Igreja católica é um organismo vivo que cresce: por isso ‘cresceu’ relativamente ao século xix. Neste crescimento está compreendido também a auto-consciência: a própria visão eclesial. Eis então que não podemos reconhecer-nos ‘perfeitamente’ nas vestes daquele século: caso contrário quereria dizer que tudo é estático, que o cristianismo não é vivo mas morto, que o nosso dever não seria histórico mas arqueológico…

Actualidade e profecia

Afinal é bem evidente que o paradigma eclesiológico de Comboni, a sua visão eclesial, era o do Vaticano I e não do Vaticano II e que a sua cultura, em cujo seio se definiam muitos aspectos da mesma visão eclesial, era a lombardo-veneta do século xix e não a do século xxi. Mas, então, que significa esta observação (óbvia) no plano da nossa leitura? Quais são enfim os traços de continuidade e de actualidade e de profecia e quais os de descontinuidade, nos quais houve uma superação (isto é, um crescimento)?

Quanto mais os elementos culturais de Comboni se aproximam do Evangelho mais continuidade existe: a Igreja anuncia o Evangelho de Cristo como uma proposta de aliança libertadora dirigida por Deus a todo o género humano (o que, e não era óbvio então como não é óbvio hoje, implica a unidade do género humano: há um só género humano e todos os homens e todas as mulheres são filhos e filhas de Deus, iguais em dignidade pessoal). Assim, se em meados do século xix se formava, no coração da Europa, uma forma cultural nova que era o racismo, Comboni era alheio e hostil relativamente a estes processos culturais. O racismo implica dois pontos essenciais, como forma cultural: 1. Existem raças humanas (em geral reduzidas a três); 2. Há raças inferiores e raças superiores. Comboni – acreditando na unidade do género humano e no facto de o Evangelho dever, por isso, ser anunciado a todos – coloca-se numa atitude de desmistificação profética daquela forma cultural racista. Sobre isto, portanto, não só há continuidade, mas há uma permanente actualidade de tal aproximação, visto que em forma explícita ou mais frequentemente dissimulada permanecem, ainda hoje, visões racistas, que podem insinuar-se até na visão eclesial.

Descontinuidade como crescimento
Elementos culturais de descontinuidade são os que, pelo contrário, estão mais ligados às especificidades de mentalidade e de pensamento do tempo: uma ignorância ‘geográfica’, etnográfica, cultural dos Europeus em relação ainda a muitas partes do planeta e a largas camadas da humanidade; uma presença – portanto – de fantasias míticas e de lugares comuns tradicionais (mesmo religiosos: como a chamada ‘maldição de Cam’) que colmatavam estes vazios cognitivos e que hoje podem parecer ‘preconceitos racistas’ (pré-conceitos, sim, como todos nós temos; racistas não, porque não participavam – como já disse – nos aspectos específicos daquela forma cultural).

Compreender esta diferença é, no plano metodológico, essencial para enquadrar a reflexão sobre o “Plano” de Comboni, na sua visão eclesial e na sua actualidade profética.

Unidade, utilidade e simplicidade
Se de facto partimos de uma óptica racista, então consideramos a civilização europeia como superior e por isso destinada a dominar sobre as outras: condenando-as a um desenvolvimento ‘separado’ (apartheid) ou ‘civilizando’ do alto e do exterior alguns dos seus aspectos, para melhor as dominar e explorar, em prol do maior desenvolvimento da Civilização considerada superior. Comboni no “Plano” assumia pelo contrário um paradigma oposto: o da unidade do género humano. Neste quadro, é possível que alguns povos (historicamente foram os europeus, mas podiam ser outros) cheguem primeiro, por casualidades históricas, a conquistas consideradas positivas (por exemplo a escrita, a alfabetização, a medicina, a ciência e a técnica): estas conquistas então devem ser dadas a conhecer a todos, devem ser partilhadas, postas à disposição para ‘regenerar’ toda a humanidade, para melhorar a sua existência real, diminuindo todas as formas de sofrimento, de pobreza, de injustiça, a favor da utilidade comum. Mas esta ‘civilização’ (isto é, partilha de conquistas de civilização) não deve ser imposta do alto e do exterior: se assim fosse, mesmo com as melhores intenções, introduzir-se-ia uma assimetria e por isso um possível desequilíbrio e domínio. A civilização/partilha deve ser proposta e realizada de baixo e do interior, com um protagonismo em primeira pessoa dos beneficiados, sem astúcias ou mediações complexas, mas na simplicidade: só assim é re-generadora (isto é, intrinsecamente emancipadora). Os êxitos serão, então, sempre geradores e engendradores, isto é criativos e inovadores, autóctones e originais, não extrinsecamente semelhantes (isto é, assemelhados) aos europeus, mas também não hostis a eles: porque fruto de um encontro fraterno, em que se procura o bem de todos, e não de um encontro desequilibrado (isto é, na realidade, de um desencontro de culturas), em que se procura o bem só de uma parte (a mais forte).

Os pressupostos, portanto, da visão eclesial de Comboni no “Plano” podem-se resumir nestas suas palavras-símbolo, ainda actualíssimas: unidade, utilidade, simplicidade.

A aproximação do Plano
Tal aproximação do “Plano” é de facto muito actual hoje, num mundo globalizado e interdependente (muito mais do quanto o fosse no século xix), porque indica a única via possível para o desenvolvimento unitário mas não uniforme do género humano, num plano de não-violência e de partilha sempre respeitadora do outro. A aproximação do “Plano” desmistifica duas perspectivas que constituem, hoje, os dois riscos maiores de desumanização: por um lado, dinâmicas de desenvolvimento desigual, com lógicas (como as do neo-liberalismo) que tendem a aumentar o corte da riqueza, com fechamentos comunitaristas e xenófobos, com a recusa da igualdade em direitos e em dignidade pessoal; por outro, uma ocidentalização cultural feroz, como massiva esfoliação de toda a cultura local, como homologação universal, como mcdonaldização do mundo.

Esta aproximação do “Plano”, que surge em sintonia profética com o ensino da Igreja (basta pensar nas actuais orientações do Papa Francisco), apesar de ter sido formulado num período em que a própria expressão de “doutrina social da Igreja” ainda não existia, era, para Comboni, consequência de uma visão eclesial que se devia radicar no Evangelho de libertação de Jesus de Nazaré. Ao Evangelho deve ser, ainda hoje, sempre referido, para melhor compreendê-lo e actualizá-lo em fidelidade ao carisma: este é um critério hermenêutico essencial na leitura hodierna do “Plano”.

Por conseguinte, alguns traços essenciais da visão eclesiológica do “Plano” (que, na época, não eram de modo nenhum nem maioritários nem descontados, embora pudessem ligar-se a uma tradição significativa de Propaganda Fide) mostram-se proféticos e, ainda hoje, portadores de renovação evangélica: a Implantatio Ecclesiae como fundação de autênticas Igrejas locais, com um clero indígena; a paridade de género, em todos os âmbitos significativos, especialmente espiritual e de vida cristã; a importância – ad intra e ad extra – do laicado católico.

Um discurso amplo, de fecundo e rico de possíveis novos desenvolvimentos – mas que me limito, nesta sede, apenas a indicar – é por fim o da implantação pedagógica do “Plano” que, com originalidade, combina elementos diversos: o alcance emancipador da instrução para todos; a educação como caridade intelectual; a pedagogia dos oprimidos.

Visão eclesial harmonicamente unitária
Precisamente tal implantação pedagógica permite uma visão eclesial harmonicamente unitária – porque unitariamente fundada na “instrução” (que significa formação da consciência) – de evangelização e promoção humana: “A instrução que deverá dar-se a todos os indivíduos de ambos os sexos pertencentes aos Institutos que circundariam a África, será de infundir-lhes na alma e aí radicar o espírito de Jesus Cristo, a integridade dos costumes, a firmeza da Fé, as máximas da moral cristã, a conhecimento do catecismo católico, e os primeiros rudimentos do saber humano de primeira necessidade”.
Prof. Fulvio De Giorgi
(Conselho de Direcção do Arquivo Comboniano)

A Família Comboniana está crescendo!

Nos dias de 1° até 3° de maio encontrou-se na casa dos Missionários Combonianos em Nürnberg nosso pequeno grupo de LMC. Faz dois anos que nos reunimos frequentemente ao redor do lema “Missão pátria”. Faz anos que cada um(a) de nós se percebe não somente tocado e movimentado pelo charisma de Daniel Comboni mas também caminhando junto com a Família Comboniana. No início do encontro trocamos idéias com padre Karl Peinhopf (novo provinvial da DSP) sobre as atuais mudanças, os desafios e as prioridades da missão como “coração permanente” da Família Comboniana. Continuamos com um trabalho intenso sobre a futura forma do grupo, sobre as possibilidades reais de fazer um trabalho comun (estamos espalhados de Viena até Saxônia) e sobre a questão de fazer a união entre nós crescer e dar asas ao trabalho missionário no dia-dia de cada um(a) apesar das distâncias. Nós somos Pia Schilmair, Birgit e Christioph Koch, Brigitte Kreiter, Martina Schrott, Barbara Ludewig e o irmão Friedbert Tremmel como responsável do lado dos Missionários Combonianos. Entramos em senso comun de arriscar o caminho como grupo de LMC e de lancar nossas competências no bem comun da Familia Comboniana. Brigitte Kreiter e Barbara Ludewig foram eleitas representantes do grupo.

Grupo LMC alemão

Feliz Páscoa a todos do Brasil

Muito longe de sermos como Jesus, mas a caminho nesta vocação LMC na qual fomos chamados.

Na quinta feira do Lava Pés, em comunhão com todos os LMC espalhados pelo mundo a comunidade  LMC do Ipê Amarelo pela manha viveu algumas horas de silencio e as 11:00 da manha nós os quatro que aqui vivemos e Sueli do Bairro Ipê, repetimos o geste de Jesus, para que a semana santa fosse de fato verdade em nossa caminhada comunitária.

Não é nada fácil viver longe de tudo, pouco acesso à internet, agora bloqueador na penitenciaria dificultando ainda mais o sinal da rede celular.

Este caminho de escolha nem sempre fácil, onde além de estarmos na periferia somos muitas vezes surpreendidos pelas nossas periferias da existência humana.

Com tudo acreditamos na vocação e temos a certeza da Ressurreição.

Juntamente como família Comboniana nós LMC aqui do Brasil desejamos uma Santa e Feliz Pascoa.

Lourdes (LMC Brasil)