Leigos Missionários Combonianos

Primeiro Natal em Moçambique

LMC MozambiqueNas vésperas de Natal quase que só me apercebia da sua proximidade cada vez que ia rezar e ‘dava por mim’ a folhear a Liturgia nas páginas do Advento.

Sei que, muito provavelmente, se não estivesse aqui, tudo em meu redor evocaria o Natal. A proliferação de natais comerciais trataria de me enquadrar nesta estação a partir do terceiro trimestre do ano, praticamente, num jogo astuto e paulatino.

Entre os jogos de luzes, as decorações interiores e exteriores, sugestões tanto para os Menus cada vez mais requintados como para o dress code da noite de Consoada e do almoço de Natal, a magia que se sente nas ruas das cidades, as típicas músicas da quadra (‘mais do mesmo’ mas, até os clássicos deixam saudade), … Entre um ou outro jantar entre amigos e grupos disto e daquilo, nada deixaria escapar a atenção, nem mesmo dos mais distraídos, para ‘O que está para chegar’.

Aqui, não há nada – disso. Nas cidades testemunham-se alguns sinais de ‘natais importados’. Mas aqui, não. Os sentidos não são invadidos por esta avalanche de estímulos. Não há o frio e os vidros embaciados que deixam ver as luzes a piscar. Não se ouvem as músicas corriqueiras. Não se sente, nem se adere, à bulimia das compras nem dos presentes – e, muito menos, das aquisições e das ‘necessidades’ de última hora. Não se assiste ao ‘sozinho em casa’ na televisão. O calor é demasiado para se substituírem os chinelos, as saias ou calções e as t-shirts por roupa mais quente. Não se publicita o bacalhau nem o azeite virgem extra. Não há o bolo- rei, as rabanadas, filhoses ou bolinhos disto e daquilo. Não se impingem brinquedos nem se embrulham promessas de pequenos paraísos instantâneos e de curta duração.

Confesso que, na semana que antecedeu o Natal, eu me senti um pouco apreensiva: por ser o meu primeiro Natal na Missão, por sentir saudades da família, particularmente, nesta quadra, por ser tudo tão único e diferente do que estava habituada, … e até por não termos tido energia nem água nesses dias, dificultando a comunicação e desafiando a criatividade…

Mas, este ano, o Menino Jesus trouxe-me esta aprendizagem: o Natal não é ornamento. Ao nosso redor pode parecer Natal, mas nunca o será se ele não estiver já dentro de cada um de nós. O Natal é, também, movimento, uma itinerância. Temos sempre de caminhar para o encontrar. Se queremos ver uma ‘grande luz’ temos de nos levantar e partir; temos de ir ao encontro das manjedouras onde se encontra o sofrimento humano; temos de voltar ao estaleiro onde nos deparamos com a simplicidade; temos de regressar ao presépio onde a esperança de Deus e a esperança da humanidade se encontram – mas, com a confiança de que, entre o silêncio e a palavra que procuramos, uma estrela nos guiará, sempre.

O Natal, acredito, acorda-nos para voltarmos às nossas verdadeiras raízes, para o primeiro sonho de Deus para cada um de nós. A infância de Jesus é, também, a nossa infância. É por isso que, depois de uma espera demorada encontramos paz quando, finalmente, repousamos em Deus.

Curiosidade…

Depois da independência Moçambique tornou-se um estado laico. No entanto, o feriado do dia 25 de Dezembro foi preservado, não por ser dia de Natal mas como o Dia da Família. Assim, neste dia, independentemente da religião que professem, as famílias encontram-se e celebram o dom da Família (claro que, para a comunidade cristã, este dia é ‘mais do que isso’, é o dia do nascimento de Jesus, em que a Salvação e a verdadeira Paz descem à Terra). Assim, desejavelmente, reúnem-se para confraternizarem e recuperarem forças para o ano que está por vir – mas, afinal, não é, também, isto o Natal?! No Natal, cada vez que celebramos a esperança conseguimos dizer no nosso coração “a Humanidade tem futuro”.

Deixo parte de um poema de José Tolentino Mendonça (“O Presépio somos nós”) que me acompanhou nas últimas semanas:

O Presépio somos nós

É dentro de nós que Jesus nasce

Dentro de cada idade e estação

Dentro de cada encontro e de cada perda

Dentro do que cresce e do que se derruba

Dentro da pedra e do voo

Dentro do que em nós atravessa a água ou atravessa o fogo

Dentro da viagem e do caminho que sem saída parece

LMC MozambiqueEsperando que tenham tido um Bom Natal,

Votos de um Feliz Ano Novo,

Marisa Almeida, LMC em Moçambique.

Com Maria e José a caminho do Natal

LMC Peru

A verdadeira alegria nasce do amor. Só quando nos atrevemos a viver por amor permitimos que Deus nasça em nós fazendo do nosso coração o seu presépio. Só quando acreditamos no mistério de Jesus somos verdadeiramente felizes. A alegria brota de um coração que pouco a pouco se foi e se vá enamorando por Deus. Reconhecer que Deus existe é ter a certeza que jamais caminhamos sós e a alegria de saber que Ele caminha connosco e transforma diariamente as nossas vidas. O caminho não é tão simples como as palavras que dizemos é exigente. Exige esforço da nossa parte, exige que nos coloquemos a caminho, exige que saiamos de nós e como Maria e José caminhemos até à Galileia dos nossos corações em busca do melhor lugar para renascer junto com Jesus. Pois Jesus está vivo e vem até nós.

Tal como Maria temos muitos medos, inquietudes e receios mas inspirando-nos no seu exemplo, dizemos o nosso sim em cada dia. Maria ao aceitar ser mãe renunciou a tudo o que tinha planeado para cumprir a vontade de Deus para si. Apesar de não estar nos planos de Maria ser a escolhida de Deus para ser mãe de Jesus, ela aceitou. Como Maria entregamos a nossa vida nas mãos de Deus.

São José inspira-nos a acolher o projeto que Deus tem para nós apesar das dificuldades e desafios. Para São José não foi fácil compreender que Maria estava grávida do filho de Deus. Até pensou em deixá-la secretamente mas quando o anjo lhe falou ele entregou-se completamente.

A família de Nazaré ensina-nos a viver em comunidade. Maria e José, como comunidade, souberam viver a encarnação de Deus nas suas vidas. Não é fácil seguir a vontade de Deus em comunidade mas Eles compreenderam que quando Deus nos chama tocando o nosso coração, a nossa vida nunca mais vai ser a mesma. O nosso sim abre portas a muitas outras maravilhas não só nas nossas vidas mas também nas vidas das outras pessoas. Eles encontravam na oração a coragem que necessitavam para levar a missão de forma alegre e confiante. Nos momentos de oração abrimos as portas do nosso coração e de nossa casa para que Deus venha e diariamente nos diga qual é o caminho a seguir. A oração é a base da comunidade é através dela que consagramos todas as nossas vidas ao Senhor.

Vivamos este natal, lembremo-nos que tal como diz José Tolentino Mendonça “o presépio somos nós, é dentro de nós que Jesus nasce” preparemos o nosso coração e as nossas vidas para ser a casa onde Jesus se prepara para renascer.

Paula eNeuza, LMC em Peru.

Notícias da Missão de República Centro-Africana

LMC Portugal

Espero que tudo vos esteja a correr bem e a todas as pessoas que me conhecem. Eu e todos os membros da C. A. (comunidade apostólica) estamos bem, graças a Deus.

Estou em Mbaiki a participar no retiro com os combonianos, estou a achar muito bom. Espero que venha a dar bons frutos! Que o Senhor nos ajude a segui-Lo cada vez melhor, com o coração e não só com a cabeça, a sermos-Lhe fiéis, e a nunca perdermos a confiança n´Ele porque Ele é sempre fiel e está sempre ao nosso lado. Na doença e nas dificuldades não devemos duvidar da Sua presença, porque aí Ele nos dá a Sua mão e, muitas vezes nos transporta, quando já estamos a desanimar.

Estes primeiros tempos têm sido difíceis, as matrículas dos alunos, a escolha dos professores que é muito difícil, pois o nível de estudos é muito baixo. São pais professores que têm o 9º, 10º… não temos nenhum professor diplomado. Fazemos testes para os admitir mas os resultados são muito fracos e assim não dá para os colocar diante de uma classe, é preciso saber um certo mínimo. Para além disso as classes têm cerca de 50 alunos o que dificulta mais o ensino. Dou graças a Deus que estão já todas as classes a trabalhar. Que o Senhor ajude os professores e os alunos a conseguirem boas aprendizagens é Ele que faz caminhar, avançar o trabalho na Missão. Nós somos simples servidores.

Domingo será a ordenação episcopal do Padre Jesus, em Bangui. Não se esqueçam de rezar por nós e de também rezar muito por ele. Que a paz volte o mais rapidamente para Bangassou a diocese que lhe está confiada. Eu não me esqueço de rezar por todos, cada dia. Boas melhoras a todos aqueles que estão doentes, que o Senhor vos conceda força e serenidade…

Aqui tem chovido muito. As estradas estão péssimas com muitos buracos, são muito cansativas as viagens. Desde que cheguei só fiz a viagem para Mongoumba que foi grande as outras viagens foram de poucos quilómetros. Espero que já tenha chovido bem aí e que tenham terminado os fogos. Terça voltarei para Mongoumba se o Senhor o permitir.

Estamos sempre unidos pela oração. Um abraço Missionário do tamanho do Mundo!

Maria August. LMCMongoumba

Comunidade de formação internacional em Portugal: experiência e ilusão

LMC Cristina y Tere

As qualidades de cada uma podem enriquecer a outra

Este tempo que passamos em comunidade, o vivemos como um período de preparação para a missão.

A ruptura com a vida conhecida até agora, trabalho, convívio com os amigos, família, prioridades de uma sociedade de consumo, etc. mudam para chegar a uma sociedade de subsistência. Fazendo-nos repensar o que de facto são prioridades e/ou necessidades de verdade.

Estando sempre focadas, na missão e com olhos fixos em Jesus o nosso planeamento comunitário começa quando nos damos conta da riqueza que temos, a experiência de uma e a ilusão da outra, permitindo-nos ultrapassar os desafios que diariamente somos confrontadas.

Medos, desânimo na aprendizagem da língua, inseguranças de não responder ás expectativas e necessidades da missão, dificuldade de adaptação e todos outros pensamentos que muitas vezes nos assombram, rapidamente são ultrapassados com momentos de respeito mútuo, oração e partilha.

Com a nossa tentativa de entendimento as gargalhadas se fazem presentes, pincelando com muitas cores os nossos corações, de amor e alegria.

Tere Monzon e Cristina Soussa. Comunidade de formação internacional em Portugal

Estar aqui. Com eles e entre eles!

Arequipa

Estamos num dos lugares mais bonitos do mundo. Apenas deveremos acrescentar que neste lugar, algures, perdido entre os vulcões Chachani e Misti, vive um povo, um povo humilde no qual fazemos morada agora.

Ao longo da nossa ainda precoce caminhada, são já muitos os rostos que ficaram cravados em nós. Talvez porque a desumanidade se faz presente de uma forma tão evidente que em última das hipóteses leva à morte. São já muitas as histórias de violência que nos foram contadas não apenas através de palavras, mas através do testemunho vivo de quem diariamente luta pela esperança da mudança. Ou não seja este país, Peru, o país onde os níveis de machismo são dos mais elevados de mundo. Neste testemunho de Manu Tessinari, podemos conhecer de uma forma mais profunda esta realidade:

“Peru é um país machista. Muito machista.

No Peru, uma adolescente pode ser espancada pelo pai se flagrada tendo sexo com o namorado. Aqui, a mulher que está em cárcere não tem direito a visitas conjugais. No sistema público de saúde, é proibido a entrega gratuita da pílula do dia seguinte para pacientes vítimas de estupro.

Algo mais absurdo? No Peru, se a mulher é largada pelo marido e não se divorciam, o homem pode refazer a vida e registrar todos os filhos da nova companheira. A mulher não. A lei indica que o filho desta mulher é legalmente do ex-marido (protegido pelo vinculo do matrimonio) e para que o pai biológico consiga registá-lo, é necessário um longo e complexo processo legal.

De 10 mulheres peruanas, 6 são vítimas de violência psicológica e 2 são vítimas de violência física por parte de seu companheiro. 16% das pessoas (homens e mulheres) acham que a culpa é da própria mulher, sendo que 3,7% acham que elas MERECEM ser golpeadas e 3,8% NÃO vêm problemas no homem forçar relações com suas parceiras.

As peruanas são trabalhadoras. Segundo o INEI (Instituto Nacional de Estatísticas e Informação), 95,4% das peruanas trabalham, a maioria em serviços. Em média, uma peruana ganha UM TERÇO A MENOS do que um peruano ganho, fazendo o mesmo serviço. Infelizmente, somente 36% das mulheres conseguem terminar a escola e pouco mais de 16% conseguem concluir uma faculdade. Isto num país onde as mulheres são 15.800.000, ou seja, 49,9% da população”.

As vidas de quem nos passa pela porta, não nos ficam indiferentes, e ainda que a realidade seja esta, levamos-lhe a alegria de um Evangelho que não é apenas nosso, um Evangelho que necessita ardentemente de ser levado ao mundo, levado aos confins da periferia.

Não tenhais medo de sair e ir ao encontro destas pessoas, de tais situações. Não vos deixeis bloquear por preconceitos, por hábitos, por inflexibilidades mentais ou pastorais, pelo famoso «sempre fizemos assim!». Mas só podemos ir às periferias, se tivermos a Palavra de Deus no nosso coração e se caminharmos com a Igreja, como fez são Francisco. Caso contrário, estamos a anunciar a nós mesmos, e não a Palavra de Deus, e isto não é bom, não beneficia ninguém! Não somos nós que salvamos o mundo: é precisamente o Senhor que o salva!

Papa Francisco

É aqui que nos sentimos chamadas a habitar entre eles e com eles. É aqui que deixamos de ser nós para ser, instrumentos vivos ao serviço de Jesus Cristo no Peru.

ArequipaComunidade Ayllu,

Neuza y Paula, LMC em Peru