Hoje, 29 de outubro, a Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH), juntamente a Justiça nos Trilhos, lançam uma campanha para alertar os cidadãos e cidadãs do mundo que inconscientemente consomem os produtos das empresas mineradoras e siderúrgicas que há mais de três décadas vêm deteriorando a saúde e poluindo o meio ambiente da comunidade de Piquiá de Baixo, na Amazônia brasileira.
A Campanha marca os 30 anos do Grupo Ferroeste no município de Açailândia e convida a todos a apoiar a luta pelos direitos desta comunidade, para a qual as empresas e o Estado fecharam os olhos durante tanto tempo.
Por Zé Luís Costa. Da Página do MST. (Editado por Fernanda Alcântara)
A Casa Familiar Rural (CFR) de Açailândia, no estado do Maranhão, foi constituída como associação, em 2001, depois que um pequeno grupo de pessoas militantes sociais se reuniu e começou a discutir formas de melhorar a questão da educação do campo para a realidade local.
De prontidão, entidades iniciaram a proposta da casa familiar e entraram nesse debate desse projeto político e social, como o MST, que estava recém instalado na cidade, a ordem religiosa dos combonianos, Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da cidade.
A experiência desse tipo de escola já é antiga no mundo, e no estado do Maranhão elas estão presentes em várias cidades diferentes. Em outras partes do mundo essa modalidade de escola é conhecida como “Escola Família Agrícola”.
A partir das primeiras discussões, as organizações interessadas realizaram vários encontros, inclusive em outras cidades dos arredores, como lembra Xoan Carlos (LMC). “Realizamos uma série de reuniões nas comunidades. Foram mais 60 reuniões nos municípios de Açailândia, São Francisco do Brejão, Itinga, Bom Jesus das Selvas. E então se constitui a associação”.
Ele continua: “A partir daí, conseguimos um terreno, cedido pela igreja católica. Porém, não tínhamos condições de construir o prédio, de pagar funcionários. Então foram mais alguns anos de luta e articulação na busca de projetos, e conseguimos alguns apoios internacionais”.
Posteriormente, em 2003, as organizações envolvidas na ideia conseguiram começar o que sonhavam para a cidade e entorno, tendo em vista a grande quantidade de assentamentos e comunidades rurais que tinham nas proximidades da cidade, hoje com 110 mil habitantes. Era um sonho para o distante futuro.
Os pioneiros da ideia conseguiram, com muita luta, parcerias com a prefeitura, como afirma Xoan Carlos. “Em 2005 iniciamos as primeiras atividades da CFR. Começamos com curso de ensino fundamental, a gente tinha conseguido estruturar várias unidades produtivas na agricultura, na apicultura, de criação de gado, porco… O governador Jackson Lago teve a intenção de fazer curso de ensino médio integrado à educação profissional, e aí iniciou-se um novo momento para a CFR”, conclui.
Com essas articulações, em 2006, iniciou-se o curso Nível médio, que foi se adequando melhor às necessidades dos jovens do campo. Principalmente porque, quando em 2001, muitas comunidades só tinham jovens com no máximo até quarta série. Essa era então a necessidade: uma escola com características diferentes das convencionais, para o campo.
Jarbe Firmino foi aluno da primeira turma da Casa Familiar Rural de Açailândia, e posteriormente entrou na Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Ele cursou Licenciatura em Educação do Campo e retorna à CFR, agora como monitor/professor, passando depois a ocupar cargo na instituição como coordenador geral.
Ele conta da experiência fazendo críticas à posição do poder público: “Essa experiência a qual me refiro, de coordenador, bem como em outros momentos, foi de grande dificuldade em termos de apoio do poder público. Foram períodos em que os contratos não eram cumpridos por parte do Estado, fragilizando o movimento do qual CFR faz parte”, encerra.
Após toda essa luta, veio o reconhecimento e conquistas. A principal delas foram a formação dos jovens em técnico em agropecuária para atuar nos assentamentos junto às suas famílias e em alguns órgãos do estado. Houve reconhecimento por parte do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, o CREA, para que pudessem trabalhar de formas oficiais prestando assistência técnica em projetos.
Entretanto, o desejo da coordenação e do grupo que organiza a associação e a CFR é que os alunos, formados, trabalhem com as suas famílias desenvolvendo o que eles aprenderam, nas propriedades familiares, como a maioria são de assentamentos da reforma agrária.
A CFR é administrada por uma associação, e atualmente o presidente é Xoan Carlos. A coordenação é escolhida pela associação e tem dez professores que são contratados pela Secretaria de Estado de Educação do Maranhão.
História das Casas Familiares Rurais
As Casas Familiares Rurais tiveram origem na França, em 1935, numa situação de forte êxodo rural, quando um grupo de famílias, com o apoio da igreja católica, reuniu-se para repensar essa situação. Chamaram-no de “Casa” para diferenciar da escola convencional e porque começou na casa de uma família; “Familiar” porque era uma organização das famílias e não do governo; e “Rural” porque o objeto da experiência era no meio rural na sua globalidade: técnica, humana, cultura, etc.
Hoje, na França, existem 450 CFRs. A partir dos anos 60, a experiência alastrou-se pela Espanha e a Itália com o nome de “Escola Família Agrícola”. Existem cerca de 1.000 CFRs nos cinco continentes, em trinta países.
No Brasil, as CFRs começaram a surgir no final dos anos 60, existindo na atualidade uns 150 centros educativos rurais que funcionam usando a “Pedagogia da Alternância”. No Maranhão são aproximadamente 27 escolas com esses princípios formativos. A pedagogia da alternância desenvolvido dentro dos métodos de Paulo Freire, em uma construção da formação técnica, é unida com a formação para a vida, no caso de Açailândia, amplia a parceria nas lutas por um modelo de agricultura diferenciado.
Terminamos esta série de vídeos com os quais acompanhamos os 35 anos do martírio do padre Ezequiel Ramin. Nesta ocasião, os Leigos Missionários Combonianos do Brasil nos incentivam a cultivar e seguir um sonho na vida, como o Padre Ezequiel incentivou.
Sejamos fiéis à nossa vocação e sejamos corajosos. Que o exemplo do P. Ezequiel e de outros mártires da América Latina nos dê força e coragem para mudar as injustiças do mundo caminhando ao lado dos povos que a sofrem.
Recebamos a vela em nossas mãos e deixemo-la iluminar nossa caminhada.
Enquanto celebramos os 35 anos do martírio do Servo de Deus, padre Ezequiel Ramin, a Ir. Dina Siquiera, missionária comboniana, partilha seu testemunho de vida e vocação e a Miriam lê uma das cartas do padre Ezequiel Ramin: “A situação está esquentando. A 25 de julho passado, a igreja católica organizou o Dia do Trabalhador. Entre cortejos, bandas e procissões, esperava-se ter promovido qualquer coisa. Em Cacoal, diante dos nossos olhos, a polícia prendeu o presidente do sindicato rural, um agricultor com a 2ª Classe. Fomos forçados a ir protestar com o perigo de sermos presos. Em Aripuanã, um lugar aqui perto, a polícia disparou durante a procissão. O bispo ia à frente. Três feridos, dos quais um muito grave. O carro da paróquia ficou que nem um crivo. Está se pedindo a reforma agrária. É evidente a reação de quem tem 10.000 hectares de terra! Mas o Senhor sempre nos protege e isto é suficiente.”
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