Voltar à minha terra, ao meu país, é maravilhoso. Mas nada se compara à alegria que me proporcionaram as crianças com quem trabalhei no Ipê Amarelo.
Isabela, Larissa, Laisla, Erik são alguns dos hoje adolescentes que fizeram parte do coral infantil.
Depois de 2 anos e 4 meses em Moçambique, volto ao Ipê Amarelo e tenho uma recepção nunca esperada.
O abraço forte e o: “que saudades eu tinha de você” que ouvi de cada um deles foi o momento mais emocionante que senti. Para mim essa é a melhor recompensa do missionário.
Depois de nos encontrarmos na igreja, a pedido deles marcamos um momento para relembrarmos o que vivemos e para cada um partilhar o que viveram depois que sai. Os trabalhos, estudo e para desabafarem.
Foi um momento muito agradável, conversamos, e cada um falou da expectativa para o futuro.
Tito e eu partilhamos com eles um pouco da nossa vivência em Moçambique.
Fizemos um lanche e terminamos o encontro olhando fotos das apresentações, teatros e os primeiros ensaios do coral anos atrás. Demos muitas risadas. Foi maravilhoso.
Sou grata a eles e mais ainda a Deus por me permitir viver tão linda experiência.
Na noite do dia 09 de maio, Regimar e Tito partilharam com o GEC (Grupo de Espiritualidade Comboniana) de Nova Contagem sobre seu primeiro período de missão em Moçambique.
Através de fotos e vídeos, foram trazendo da memória diversas passagens de momentos vividos.
As pessoas presentes foram interagindo, perguntando e comentando.
Um dos destaques da partilha foram as ajudas realizadas às famílias com as doações recebidas do Brasil e da Polônia após o ciclone que atingiu a região em 2022. O casal agradeceu a colaboração e destacou a importância de terem acontecido.
Relataram sobre o projeto das sementes, que deu muito certo, onde entregaram às famílias uma quantidade de semente de feijão e milho para plantio e após a colheita, as famílias devolviam a mesma quantidade. Mesmo que nem todos devolveram, o balanço geral foi positivo, com sinais bonitos como famílias que devolviam quantidades maiores do que pegaram, em sinal de gratidão. E esse ciclo segue sendo feito também nessa safra.
Falaram da cultura, dos desafios, das alegrias e das perspectivas futuras.
Ao final, rezamos juntos e encerramos com um lanche partilhado.
O GEC agradece pela partilha e o enriquecimento missionário!
Pelas vítimas dos numerosos conflitos armados que ocorrem atualmente, especialmente as crianças, as mulheres e as famílias inocentes que sofrem com tanta violência. Que o Senhor da paz toque o coração dos responsáveis por tais males e os detenha. Oremos.
“OLÁ, SOMOS ANNA E GABRIELE, E ESTA É CIRANDA, O PODCAST QUE CONTA NOSSA EXPERIÊNCIA MISSIONÁRIA NO BRASIL. EM QUE TENTAMOS LEVÁ-LO PARA AS ESCOLHAS DO DIA A DIA DE QUEM VIVE NESTA PARTE DO MUNDO.”
Ainda hoje, depois de uma manhã de sol torrencial, a chuva visitou-nos, meia hora de uma forte tempestade que se dissolveu em poucos segundos, como a passagem rápida de um avião. A estação das chuvas se tornou isso, uma ducha curta e fria, todos se perguntam se é uma coincidência que não chova mais durante semanas inteiras como aconteceu no passado, mas é claro que as mudanças climáticas estão gritando alto aqui também.
Não se chega a estes níveis da noite para o dia, há sempre um caminho e uma história por trás, e a história desta terra tem raízes muito profundas.
Tudo começou há muito tempo. Na verdade, desde a invasão colonial até hoje, o Brasil nunca implementou uma reforma agrária popular. Considerando que numa área enorme como a do Brasil (que é 30 vezes maior que a da Itália) apenas 1% dos proprietários de terras possui quase 50% da área total cultivável do país, e metade dessas grandes propriedades são totalmente improdutivas, poderia, portanto, ser desapropriados para a reforma agrária. O Brasil também é o maior território do mundo em termos de terras aráveis possíveis. É por isso que durante décadas o direito à terra foi conquistado e não recebido de direito, é uma luta contra o sistema que viu nascer grandes movimentos como o dos SEM TERRA (MST), movimentos que lutam para poder viver ali onde muitos, com raízes na terra e no campo, sempre quiseram e gostariam de continuar a viver.
para chamar a atenção do governo federal. Raimunda, esperando receber esse terreno, viveu durante anos acampada com a família, em barracas feitas de lonas plásticas e 4 paus, dentro das quais havia panelas e carvão para cozinhar, roupas, redes para pendurar entre uma árvore e outra, e depois, crianças nascidas no meio do mato, criadas longe da vida na cidade. Tudo num verdadeiro sentido de comunidade, de luta, de vida partilhada com pouco, esperando o grande dia em que poderemos finalmente receber um terreno para construir a nossa própria casa, rodeado de árvores e campos para cultivar.
Os moradores da Assentação Francisco Romão conquistaram o direito à terra após 10 anos vivendo no acampamento.
Ao chegarem naquele território descobriram que se tratava de terras do Governo, que haviam sido ocupadas ilegalmente por um proprietário de terras, toda a área já havia sido desmatada para criar um imenso pasto de vacas leiteiras, destruindo a vegetação circundante.
Este fenómeno de apropriação ilegítima de terras é conhecido como “Grillagem”, uma prática de envelhecimento forçado de documentos falsos que são colocados numa caixa com grilos, tornando-os amarelados e roídos, dando-lhes uma aparência antiga e mais credível, um fenómeno de falsificação para tomar posse ilegalmente de terrenos baldios ou de terceiros. As famílias denunciaram esta ilegalidade para pedir ao governo a possibilidade de ter parte daquela terra e poder cultivá-la e reflorestá-la. Depois de anos de luta e de reivindicação da terra, cada família conseguiu ter uma propriedade onde pudesse fazer o que sempre sonhou: viver da terra de forma sustentável. É uma história incrível a dos assentamentos, lugares onde a vida flui ao ritmo do campo.
Você entra no assentamento por estradas de terra, uma terra vermelha brilhante, e é imediatamente cercado por casas e pátios repletos de árvores frutíferas e plantas medicinais de todos os tipos, das quais as famílias conhecem todos os benefícios e as valorizam até a última folha. Quando vamos visitá-los contam-nos com muita nostalgia aqueles tempos passados: os tempos de precariedade, mas também de união, felicidade e partilha. As casas eram inicialmente feitas de barro e palha, as pessoas viviam muito pouco. A vida na ausência era uma partilha constante dos bens, o objectivo era que todos pudessem viver daquela terra e que as questões fossem resolvidas em conjunto, sob a cobertura do centro da vila, espaço dedicado aos encontros comunitários. Juntos decidimos o que cultivar (milho, feijão, castanha), decidimos onde construir a escola, juntos lutamos para conseguir tratores, lutamos para ter um prédio de saúde pública. Esses foram os alicerces para permitir uma vida digna e foram construídos em conjunto. Uma vida digna que permitia pelo menos 3 refeições por dia, com arroz, feijão e mandioca, elementos básicos da culinária brasileira. Ao longo deste processo, as mulheres foram as verdadeiras protagonistas, cuidando da casa, cuidando dos filhos e ajudando os homens na lavoura, um verdadeiro exemplo de força e liderança.
Comunidade, solidariedade e fazer juntos, este é o fio condutor que permitiu vencer muitas batalhas e com o qual se construíram e ainda resistem os assentamentos, lugares de vida, de luta e de defesa da vida camponesa. As famílias agricultoras sempre tiveram um grande objetivo: plantar e colher alimentos, mas também reflorestar e proteger a vegetação nativa. É por isso que os chamamos de Guardioes: os guardiões. Guardiões da natureza, guardiões do bem-estar do solo e daquele pedaço da Amazônia que lhes foi confiado. Guardiões da comunidade e da vida camponesa, da luta contra um sistema que quer tirar a vida dos últimos e dar força aos poderosos. Guardiões daquela terra que agora foi completamente destruída.
No próximo episódio você conhecerá outras histórias de mulheres que optaram por lutar diante de tudo isso. Desejamos-lhe uma boa continuação e uma feliz e pacífica Páscoa e ressurreição no Senhor.
Que o Senhor conceda a todos os missionários e missionárias a participação no mistério pascal de Cristo – mistério de vida mais forte do que a morte – para que aprendam a despojar-se do homem velho e a revestir-se dos sentimentos de Cristo: ternura, bondade, humildade, mansidão, magnanimidade e proximidade aos últimos da história. Oremos.
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