Leigos Missionários Combonianos

Ser missão na Etiópia – os primeiros olhares

CLM Ethiopia
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Para trás ficam Qillenso, Adola e Daaye e os meus olhos durante a viagem neste verde que contrasta com tudo o que tinha visto até agora desde que cheguei a este novo lugar onde Deus nos espera a cada um, pelo menos no abraço de uma oração que pode viajar desde bem longe (espero que desde os vossos corações). Aproveito a duração de uma viagem para tentar partilhar (nem que seja um grão) das maravilhas deste povo que tão bem me tem recebido. Estamos numa semana incomum.

Aproveitamos que o início das aulas de Amárico apenas terá início a 3 de Junho (semana que vem) para vir conhecer as várias missões dos MCCJ e também dos LMC (em Awassa) na zona sul da Etiópia.

Adis Abeba, onde reina a poluição, o ruído, o frenesim dos muitos carros e pessoas que deambulam sem regra pelas ruas. Poderia chamar-lhe uma comum cidade europeia não fosse a desordem que aqui governa. Viajar de carro é sempre uma aventura, pois a estrada aqui também pertence aos animais e pessoas (afinal, os carros chegaram depois!). De entre as várias e preenchidas ruas que aqui existem, a que me custa mais (até agora) atravessar é a indescritível Mexico Square, ponto de referência para a chegada a casa. Indescritível por não existirem palavras para desenhar a dor que me dá quando vejo aqueles corpos estendidos no meio de chão, corpos magros, sem vida a brotar, uns que não vêem, outros que não têm pés para andar. A estes corpos se encontram anexados muitas vezes o semblante de uma criança, cujo olhar perdido não passa despercebido. Faço histórias na minha cabeça que, provavelmente, são as suas. São mães desnutridas e os seus filhos. Como dói olhar e dói ainda mais não saber o que fazer!

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A viagem esta semana pelo Sul da Etiópia permitiu também ter uma visão bem diferente e colorida deste grande e imenso país. À medida que viajamos de Adis Abeba para Awassa, Qillenso, Adola e Daaye, o cenário, a paisagem vão mudando os seus padrões e figuras. Se em Adis e Awassa há um manto de casas até onde a vista alcança, em Qillenso, Adola e Daaye a terra veste-se de vermelho e do verde da vegetação acabada de nascer pelo início das chuvas. Pelo caminho semeiam-se casas, estas já com uma configuração mais rudimentar e que são autênticas obras de arte. E o carro passa e os que o vêm passar olham. Olho-os também através do vidro da carrinha. Que olhar bonito! E sorriem sempre ao ver-nos a passar!

Estou feliz pela missão que Deus nos entregou aos três e para a qual pedimos as vossas orações. A missão nunca será nossa. Também é vossa. Mais que tudo, é de Deus. Provavelmente, e conscientes disto, sabemos que os grandes e maduros frutos deste trabalho apenas (e Deus queira) serão visíveis daqui a uns largos anos.

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Estou bem! A sentir tudo. As pessoas, os seus olhares, as suas palavras que muitas vezes não entendo, mas procuro responder com um sorriso, ou um olhar de ternura, ou usar as poucas palavras que já sei dizer em amárico. Tem sido um tempo de observar, ouvir, tentar perceber. Vantagens também de eu mesma não ter um nível de inglês fluente que me permita falar muito (e muito menos amárico). Tiro partido disso e acabo por escutar mais, observar mais. É tempo disso!

A nossa passagem na rua é sempre motivo de olhares. As pessoas olham-nos, como se fossemos raros. Para as crianças é uma festa! Olham-nos e de sorriso esboçado lançam atrevidas:

– Farengi! Farengi! Ou China! China!

Na falta de saber o que fazer muitas vezes, olhamo-las e sorrimos. Estendem o braço e trocamos um aperto de mão. Ficam todas contentes de nos tocar… é recíproco!

Num destes dias, em Awassa, visitámos as irmãs da Madre Teresa, e o expectável aconteceu: a mesma reação das crianças que se querem pendurar em nós… Correm na nossa direção para nos tocar a mão. E não só a mão. Os braços, a cara. E vão-se assim aproximando, deleitando-se com o nosso calor. Correm à procura do amor. E procuramos dar-lho. Na dificuldade de não saber muito amárico, digo o mesmo de sempre. Não posso limitar-me às mesmas palavras de sempre, pensava. Tento lembrar outras coisas que possa dizer, e lá me sai:

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– Mndn new? (o que é isto?) – pergunto apontando para a minha camisola.

– Makina (carro) – respondem várias, cada uma a seu tempo.

Repito a mesma pergunta para outras coisas, incluindo a cruz que trago ao peito.

E assim me vão respondendo. É uma festa para elas! E para mim. Mal sabem o quanto me estão a ensinar. Confio que são os melhores professores que poderei ter. Ficam contentes daquele pouco. Quem sabe com sede de mais, como eu.

Estou a sentir tudo, inclusive a saudade. Ai a saudade! Essa também me habita, como é claro (não fosse eu uma portuguesa… Daquelas saudosistas e nostálgicas)! Como alguém me disse, a saudade é o amor que fica. Por isso, quero sempre que esta saudade faça parte comigo.

Têm sido dias bonitos, carregados de novidade. Também com a comunidade, o David e o Pedro. Nas nossas diferenças, vejo três peças de um puzzle que se une e que encaixam. Tem sido bonito o irmos percebendo juntos ao que somos aqui chamados a fazer. Sentimos o peso da responsabilidade de estarmos a iniciar, a semear este grão que queremos que outros venham regar, ceifar, colher. A messe aqui é grande! Porém sentimos uma grande força de querer dar passos. Que o Espírito Santo nos ilumine a dar os passos certos, nos tempos e locais certos.

Rezem por nós, pela missão e sobretudo por este povo que nos acolhe e que procura e luta pela vida, dia a dia.

Com muito amor,

LMC Carolina Fiúza

Missa de Envio LMC Carolina Fiúza

Carolina
Carolina

Meus queridos amigos e amigas,

O meu coração está pleno e muito agradecido por tantas bênçãos e amor recebido no dia de ontem, 12 de Maio, onde na minha paróquia – Santa Eufémia – foi celebrado o meu envio. Foi uma cerimónia muito bonita… e não só a cerimónia, mas todo o dia em geral e animação missionária, foram momentos de grande partilha e fraternidade.

O meu MUITO OBRIGADA A TODOS por toda a união em oração. Sinto-me uma sortuda… por vos ter a vós como família e tantos amigos que me amam e me dão força! OBRIGADA! Para quem não pode estar presente na Eucaristia, partilho as palavras que dirigi a todos.

Animacion Misionera

Meu querido Pai do Céu,

 Esta é uma prece da Tua filha muito amada, Carolina de Jesus Fiúza, que hoje, com a força desta comunidade, é enviada por dois anos a amar o povo da Etiópia.

Desde há uns bons tempos que oiço o Teu convite a ecoar dentro de mim e que me diz:

“Faz-te ao largo e lança as redes para a pesca. Não tenhas medo: vem comigo ser pescadora de Homens. Vem, segue-me!”

Pois a Ti agradeço este convite e é com muita alegria que, como Maria, digo SIM, Faça-se em mim segundo a Tua palavra!

 A Ti devo um grande OBRIGADA pois este Sim é fruto de uma relação entre nós dois. A Ti muito OBRIGADA por nunca desistires de mim e porque em mim confias. A Ti também agradeço todas estas pessoas que aqui estão das mais diversas formas, física ou espiritualmente. A Ti agradeço estas mil vidas que, muitas vezes, sem o saberem, são também Mil vidas para a Missão, tal como pedia São Daniel Comboni: as Mil vidas para a Missão. Agradeço-Te a coragem e força que dão ao meu Sim e a confiança que em mim depositam.

A todas estas vidas e a Ti agradeço e prometo: prometo errar, falhar. É a condição humana! Porém, prometo tentar melhorar sempre, prometo aprender, escutar, calar, aceitar, entender, partilhar o que sou, receber o que são… e, mais que tudo, AMAR. Prometo entregar-me totalmente ao povo etíope e Fazer o que posso, com o que tenho, onde estiver.

Olho para mim e vejo-me pequena. Porém, é com as minhas limitações, com o que trago na minha bagageira, que me quero entregar a Ti e partir para junto dos mais pobres e necessitados, inspirada por São Daniel Comboni. E confio em Ti. Confio que Tu não escolhes os capacitados, mas sim capacitas os escolhidos. Assim, confio que me darás as capacidades para amar este maravilhoso povo da Etiópia, onde Tu já estás desde sempre.

Talvez muitos não entendam porque escolho partir em missão. Compreendo e aceito a incompreensão de muitos. E agradeço o apoio que, ainda assim e de forma incondicional, me dão. Tal como o meu querido pai diz, “o bem pode fazer-se em muitos lados!”. E não é mentira… porém, Tu meu Pai do céu, Tu que és um só Corpo, mas com muitos membros e cada membro com a sua função, Tu chamas-nos a todos a ser missionários, de formas muito distintas. Hoje e a mim, sei que me chamas a partir, chamas-me assim a ser um grão de trigo que morre na terra para que nasça fruto. E isto é um mistério. Tal como o mistério do Teu Filho muito amado que morreu na Cruz. Tal como Ele, também dou o meu Sim, pronta a fazer nascer e crescer a missão aos pés da Cruz. Conseguiremos nós alguma vez entender este mistério da morte de Jesus na Cruz, meu Pai? Talvez não. Da mesma forma, talvez não seja entendível o meu Sim para muitos. É um mistério, também. Também para mim a missão que me entregas em mãos é um mistério. Mas, ainda assim, digo Sim.

Digo Sim confiadamente pois sei que nunca, mas nunca me abandonarás.

Meu Deus, Tu sabes a Gratidão que trago dentro a tantas pessoas. Sem oportunidade de mencionar todas, agradeço em especial à minha Família, àquela que me dá sentido, que me deu genes de missionária!

Agradeço-Te em particular a vida dos meus pais, Edite e Manuel Fiúza, que me educaram da melhor forma que sabiam. Sem eles, a minha vida, valores, dons… tudo o que sou, de forma alguma seria possível. Agradeço-Te as suas vidas e o fruto da sua criação que sou eu hoje, este dom que sou e que quero colocar a render. Agradeço-Te porque lhes dás a capacidade de me amarem e apoiarem incondicionalmente, ainda que, muitas vezes, não compreendam as minhas decisões. Peço-Te que os guardes, que olhes sempre por eles e que sempre lhes dês a força para lutar pela Vida, tal como me ensinaram a fazer.

Agradeço-Te a vida do meu namorado, Hélder Neves, que desde sempre me apoiou e me deu a força nos momentos de maior dúvida. Agradeço-Te o amor que nos une e que só de Ti pode vir. E sei que este Sim não é apenas meu, mas de ambos. Também ele aceita o convite de viver em missão comigo. E esta missão aceitamo-la com muita confiança! Peço-Te que olhes sempre por ele, acolhendo-o nos Teus braços. E que aquilo que Tu uniste, o amor que nos une a nós dois, jamais ousemos separar ou danificar. Dá-nos a confiança e a coragem de nos mantermos sempre unos!

Agradeço-Te a vida de todos os paroquianos da minha “terra, ó que linda de terra”, esta linda Santa Eufémia. Esta terra que me viu crescer e que me acompanhou na vida e fé cristãs. Entre catequistas, grupos de coro, sacerdotes que aqui já conheci (e já são três), e tantas pessoas que hoje olho e das quais trago o melhor… agradeço-Te a vida de cada uma. Um agradecimento especial ao Padre Nuno Gil, cuja jovialidade e força para chegar a todos não me deixam indiferente. Peço-Te que lhe sigas dando ânimo para continuar a conduzir e construir o Teu Reino aqui na Terra.

E, por fim, e sabendo que muitas outras vidas teria a agradecer, agradeço-Te toda a Família Comboniana.

Agradeço por serem luz neste caminho em que procuro diariamente descobrir-Te e apaixonar-me mais e mais por Ti. Agradeço-Te pelo exemplo que cada um é para mim de vida inspirada em São Daniel Comboni e por possibilitarem que entenda cada vez mais e melhor a minha vocação missionária. Agradeço-lhes verdadeiramente pois em mim confiam a missão na Etiópia, e peço-Te que consiga sempre ser o melhor de mim como LMC.

Meu Deus, tu sabes o que trago dentro, melhor que ninguém. Tu sabes o quanto dói deixar o amor que tenho aqui. Porém, tu também sabes o quanto estou feliz pois, ali onde vou também me espera o amor. Pois vou ao encontro o amor, seguindo os passos de quem me convida.

Bem sabes, que este nunca será um Adeus, mas sempre um Até breve.

Até breve minha comunidade. Nunca tenham medo de dar o vosso Sim, pois Deus, como Pai misericordioso, nunca vos abandonará. Deixo-vos uma lembrança: uma Cruz tipicamente Etíope (que inclusive vos foi enviada por uma irmã Missionária Comboniana da Etiópia), para que recordem que todos formamos parte de uma mesma cruz, a Cruz de Cristo. Rezem por mim e pelo povo e missão na Etiópia. Confiem que nós também rezaremos por vós.

Carolina Fiúza, LMC

Notícia da missão em República Centro-África

RCA
RCA

Desde a Missão de Mongoumba (República Centro-Africana) a LMC Maria Augusta escreve para o Jornal da sua paróquia – O Astrolábio.

Vim aqui a Bangui [capital da República Centro-Africana], porque o padre Fernando teve um acidente e está aqui no hospital. Ele teve o acidente quando voltava de Mbaiki [porque Mongoumba pertence à Diocese de Mbaiki], depois de participar na Missa Crismal. Vinham com ele a Cristina e o padre Maurice e atrás viajavam sete pessoas.Felizmente estes dois não ficaram feridos nem com grandes dores físicas, mas existem as emocionais. Mesmo assim, puderam estar sempre ao lado do padre Fernando, que era muito necessário.

As pessoas que vinham atrás tiveram alguns ferimentos, mas, felizmente, nada de grave, só um deles foi hospitalizado, mas não estava mal, graças ao Senhor. O padre Fernando foi cuspido pelo vidro da porta. Teve dois traumatismos: um na testa junto aos olhos e outro atrás. Foi operado no Domingo de Páscoa e correu tudo bem.

Eu e a Ana chegámos na terça-feira [a Bangui] e ficámos no Postulado, porque havia a Assembleia Comboniana. Passámos a Páscoa muito preocupados, porque não sabíamos como eles estavam… Quando vimos o padre Fernando ainda estava mal! Só hoje vim um pouco à Maison Comboni [casa dos missionários Combonianos em Bangui], porque temos estado muito ocupados com ele. Graças a Deus, ele vê-se melhorar de dia para dia. Ainda necessita de comer tudo passado, porque o maxilar superior não toca o inferior e assim não pode mastigar. Temos esperança que na cabeça estará tudo bem, porque ele fala bem e todos os sentidos funcionam… Temos muitas graças a dar a Deus, que protegeu todos aqueles que viajavam. A Providência Divina estava com eles, porque o acidente ocorreu a 1 quilómetro da Missão de Mbata e também porque apareceu uma viatura que os transportou ao hospital da vila (onde o padre Fernando foi suturado) e, depois, até Bangui.

O padre Fernando irá ao Benim fazer um TAC à cabeça, a fim de verificarem se está tudo bem com ele, e depois descansar e recuperar forças para continuar a missão que o Senhor tem para ele. Tenho confiança que vai estar tudo bem, com a graça do Senhor!

A Cristina fez exames e está tudo bem. Ela tem ajudado muito o padre Fernando! Ela ficará em Bangui até se sentir à vontade para voltar a Mongoumba.

O padre Maurice está bem, mas muito cansado.. até quarta-feira fez todas as noites e de dia preocupado com os outros sinistrados. Graças a Deus, quinta e sexta descansou e já o sinto melhor…

O padre Samuel chegou, na quarta-feira, bem e animado para a Missão que o espera. Nos meses de Julho e Agosto irá fazer animação missionária aos Estados Unidos.

Esperamos que nessa altura o padre Fernando já tenha voltado repleto de saúde.

A assembleia correu bem. Veio fazê-la um irmão do Togo, amigo do padre Maurice.

A bebé gémea de que falei na última mensagem acabou por morrer… O Senhor lhe deu a Sua mão, pois ela sofreu muito!

Sempre unidos pela oração.

Santo tempo Pascal para todos!

Um abraço para todos do tamanho do Mundo! Obrigada pelas vossas orações.

A LMC Maria Augusta

in o Astrolábio

ANO V – Nº 147 – 5 de Maio de 2019

aróquias de Cabril, Dornelas do Zêzere, Fajão, Janeiro de Baixo, Machio, Pampilhosa da Serra, Portela do Fôjo, Unhais-o-Velho e Vidual

Primeiros momentos na Etiópia

LMC Etiopia

Queridos amigos e amigas, Parti de Portugal no dia 6 de março de 2019. Cheguei à Etiópia no dia 6 de março de 2011. Estou mais novo.

Obrigado a todos e todas pelas manifestações de carinho e de amizade. Nas minhas orações coloco-vos no coração de Deus porque Ele, que nos ama a todos e a cada um de nós, em particular, sabe o que é melhor para cada um de nós. Por isso estou aqui na Etiópia. Porque Ele, que me ama, sabe o que é melhor para mim! Não sei até quando. Sei apenas que estou e cada dia é uma aventura nova, um desejo sincero de viver a missão para onde me enviou. Estou bem! Melhor que isso, estou feliz!

Encontro-me a viver na casa provincial dos MCCJ da Etiópia, em Addis Abeba. Esta vai ser a minha casa nos próximos meses, enquanto estou a aprender o amárico. O amárico é uma língua difícil. Porém, graças a Deus, até agora, ainda não caí na tentação de desânimo. Fortalece-me o desejo de estar próximo das pessoas, de falar com elas, de fazer comunhão. E, sem saber o amárico isso é quase impossível ou mesmo impossível.

Estou apaixonado pela Etiópia. Sei que vou ter momentos difíceis e duros, de dúvida e de desespero. Mas agora estou apaixonado. E quero viver este momento com intensidade, porque é único.

LMC Etiopia

Vivo em comunidade com os MCCJ em Addis Abeba e sinto-me comunidade. Desde o início que fui maravilhosamente recebido. O nosso dia começa com Eucaristia e laudes às 6:30; depois do pequeno almoço, vou para as aulas, que começam às 8:30 e terminam às 12:00 e, após almoçar, início o estudo. Às 18:45 rezamos vésperas e, depois de jantar, por hábito, convivemos um pouco. A nossa casa está quase sempre cheia. Por aqui passam muitos missionários a caminho das suas missões em África. Já tive a oportunidade de conhecer alguns padres e até bispos. Já encontrei histórias lindíssimas e arrepiantes. Quão dura é, por vezes a missão… Mas sempre bela. A nossa vida está nas mãos de Deus.

Tive, já, a oportunidade de estar uns dias em Hawassa com os LMC aqui em missão. Que bonito foi. Até a um bolo tivemos direito, para comemorar a minha chegada. Na formação aprendemos que devemos receber bem os novos LMC. Mas receber essa calorosa receção e carinho é, de facto, extraordinário. Estou grato aos nossos LMC na Etiópia por isso. Em Hawassa durante um passeio de bicicleta, furei as duas rodas. Foi um bom batismo. Este fim de semana participei num retiro dos “Comboni Friends”. Que bonito foi. A celebração da Páscoa, aqui, será uma semana depois da celebração da Páscoa em Portugal. Aproveitando uma semana de férias, irei conhecer a missão com os Gumuz, o povo com quem, se Deus quiser, irei trabalhar. Estou entusiasmado. Depois contar-vos-ei como foi. A todos vós e familiares desejo uma santa Páscoa e não se esqueçam de que Deus vos ama. Estamos juntos no amor de Deus.

LMC Etiopia

Pedro Nacimiento, LMC

Moçambique: Missionário faz o ponto da situação

Mozambique
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02 de Abril de 2019 O P. Constantino Bogaio, Superior Provincial dos Missionários Combonianos em Moçambique, faz-nos um ponto da situação após a destruição causada pela passagem do ciclone Idai. A passagem do Ciclone Idai, com os seus ventos que atingiram entre 120 a 220 km por hora e com chuvas intensas, deixou na cidade da Beira e nos seus arredores um rasto de destruição, nunca visto e vivido na história de Moçambique.

Em pouco tempo a cidade tornou-se deserta e fantasma pela situação desoladora. Ao caminhar pelas suas avenidas, ruas e estradas contemplavam-se as ruínas de casas, hospitais, os escombros das igrejas, as árvores caídas, postes de corrente elétrica, e de telefones derrubadas por a toda parte. A cidade do Chiveve teve um apagão em que quase 95 por cento dos seus edifícios foram afectados menos o aeroporto, que se tornou um abrigo para os nativos e estrangeiros que chegavam para ajudar. Nos bairros periféricos como Munhava, Muchatazina, Vaz, Chota, Ndunda e outros, para além da destruição das casas, houve também inundações. Enquanto a segunda cidade do país iniciava a fazer a contabilidade dos estragos causados pela intempérie e a erguer-se do seu orgulho ferido, por outro lado, recebia más noticias que chegavam a conta gotas de que a sua única ligação terrestre estava interrompida devido à fúria das águas dos rios Pungue, Búzi e Muda e seus afluentes que transbordaram dos seus leitos causando pânico nos distritos de Dondo, Búzi, Nhamatanda, Chibabava na província de Sofala.

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A pequena barragem de armazenamento das águas para abastecimento da cidade da Beira em Dondo desmoronou-se em poucas horas e passou a contribuir para que houvesse cheias na Estrada nº 6, apenas reabilitada, e cedesse com quatro cortes enormes impedindo a transitabilidade. Está é a única via que permite a ligação entre Beira e outras cidades. Assim aumentou a aflição dos beirenses. Durante quase uma semana ficaram totalmente isolados por terra. Os produtos de primeira necessidade começaram a escassear e a chuva não parava de cair e aumentava a desgraça dos citadinos. A comunidade internacional, que chegou para socorrer, assumiu como prioridade o salvar vidas nos distritos circunvizinhos, transferindo a sua população para a Beira. Assim foram criados centros de acomodação em vários pontos da cidade.

  1. Dados preliminares gerais das zonas afectadas
Temos a dizer que não se saberá com toda certeza o número concreto Salas de Aulas destruídas 3140. Alunos afetados: 90 756 Casas destruídas 19.730 Mortos: As pessoas que morreram em toda a área serão mais 500 e não se sabe até agora a quantidade de pessoas desaparecidas.

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  1. A nível dos Missionários Combonianos
Na cidade da Beira nós trabalhamos na zona suburbana de Chota onde vivem mais de 70 mil pessoas. Neste momento há 270 famílias que ficaram com as suas casas destruídas e 170 famílias que precisam de apoio imediato em alimentos e outros produtos. Assim, nesta primeira fase, a nossa intervenção será dar apoio a estas famílias. A segunda fase será ajudar a reconstruir as suas casinhas e também construir uma escolinha e um centro juvenil paroquial onde as crianças e jovens tenham actividades, porque aquele que existia era de pau a pique e de material precário e o ciclone arrasou tudo. Queremos construir este centro juvenil que dê esperança às crianças, adolescentes e jovens que ficaram afectados, mas com estruturas sólidas e resistentes. Queremos um programa de apoio às mães em educação sanitária e nutricional.
  1. A situação sanitária
A zona de Chota é a continuação do maior bairro periférico da Beira. Neste momento já começou a ser fustigado pela cólera. Fala-se de cerca de 200 pessoas afectadas, mas este número poderá crescer. Já vai começar uma campanha de vacinação. O bairro de Chota está em alerta máxima. Espera-se que a cólera não alcance este bairro, porque seria outro desastre já que as águas fluviais que inundaram o bairro ainda não baixaram. A malária é outra preocupação imediata. Passados quinzes dias depois do ciclone, as águas paradas e charcos são fontes de incubação de mosquitos que provocam esta doença.

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  1. A situação de Muxúngue
A Paróquia de Muxúngue situa-se a quase 350 km da cidade da Beira. As zonas mais afectadas foram Nhahápua, Goonda Madjaka e Gurudja onde passam os rios Muda e Búzi. O cálculo feito pelos missionários da zona diz que são mais de 120 agregados familiares afectados. A média de cada família é de seis filhos. Nesta área, a nossa intervenção será plena depois que todas as pessoas regressem à zona. Iremos ajudar na construção das suas casinhas. Neste momento as autoridades civis estão a apoiar em algo. A experiência dos missionários dita que depois desta avalanche de apoio, é preciso fazer um programa de reconstrução de tudo aquilo que perderam e ajudar a normalizar as suas vidas. Precisamos ainda da vossa solidariedade e apoio para confortar esta gente. O vosso apoio nesta fase imediata será para comprar alimentos e outros produtos básicos e na fase seguinte para apoiar a reconstruir as infraestruturas necessárias para normalizar a vida destes irmãos. Desde já queremos agradecer aqueles que enviaram as suas ofertas para apoiar a estes irmãos e esperamos que continueis ajudar-nos na segunda fase que será mais dolorosa. (Em Portugal, participe na campanha de solidariedade dos Missionários Combonianos com Moçambique.) Que a bênção de Deus desça sobre cada um de vós, pela intercessão de S. Daniel Comboni. Constantino Bogaio Mccj Superior Provincial em Moçambique

Fuente: Boletin misionero Portugal