Na passada sexta-feira dia 22 de maio teve início mais um encontro dos formandos dos LMC na casa de Viseu. O tema desta unidade formativa foi, Leigos na Igreja – Espiritualidade laical e missionária, apresentado pelo Carlos Barros.
Começamos por ver um filme que muito me tocou “Selma a marcha da liberdade” o qual relata a luta que Martin Luther King teve que travar para ser concedido o direito ao voto a todas as pessoas, que termina com uma marcha épica desde a cidade de Selma até Montgomery, no Alabama, e que levou o presidente Lyndon B. Johnson a assinar a Lei dos Direitos de Voto em 1965.
No sábado o Carlos começou por nos falar sobre Espiritualidade, muito foi dito mas algumas das frases que mais me marcaram foram “espiritualidade é um caminho com Deus”, “é um namoro com Cristo”, é a “vida alimentada com Cristo”. A Espiritualidade cristã não é só de alguns, é um estilo de vida…
Tivemos a oportunidade de refletir sobre a identidade dos LMC através dos artigos 4º e 5º do diretório, onde nos foi pedido que pensássemos sobre algumas questões:
Como é que eu interpreto a minha espiritualidade à luz destes artigos do directório LMC?
Ao longo desta caminhada formativa já fui ganhando consciência sobre alguns aspetos que constam nestes artigos?
Existem alguns pontos nestes artigos, cuja finalidade eu considero que ainda não consigo alcançar? Quais? E Porquê?
Pensas que um dia será possível orientar a tua vida pelos princípios que constam nestes artigos?
Durante a manhã de sábado tivemos ainda a surpresa de sermos visitados pela recém chegada da missão Palmira Pinheiro – Missionária Secular Comboniana, que partilhou connosco um pouco da sua vida na missão.
Após o almoço, que foi muito agradável e com as energias reforçadas, foi tempo de voltarmos ao trabalho. O Carlos continuou a falar de espiritualidade mas mais concretamente de Espiritualidade Laical onde nos falou do papel dos Leigos na Igreja, e sem dúvida alguma que seguir Jesus é “uma tarefa exigente e comprometida”, temos que ter um papel activo, estarmos disponíveis para SERVIR e não para ser servidos, há que ser radicais para assumirmos que “vivemos o chamado à missão como cristãos movidos pela fé e não pelo trabalho”.
Durante a oração da tarde reflectimos sobre “Ide também vós para a Minha vinha” onde Jesus convida a fazer parte da vinha d’Ele não apenas os religiosos ou religiosas mas sim todos os fiéis leigos, todos os batizados pois estamos todos unidos pelo Batismo. Cada um de nós é parte da Igreja, quando alguém não está presente, a igreja fica mais pobre.
Jesus convida-nos ainda a viver uma vida diferente enquanto Leigos, convida-nos a vivermos desapegados dos bens materiais, dos laços familiares (que é para mim o mais dificil de pensar ou sequer imaginar…) e termos a coragem de ir… de não termos medo de dizer “Sim Pai, aqui estou…”
Ao final do dia fomos mais uma vez presenteados pelo testemunho do Pe. Ginno Pastor que nos chegou através do Skype (as novas tecnologias fazem maravilhas como esta), onde ouvimos falar sobre a sua experiência na missão, sempre em Moçambique, e notava-se perfeitamente que o Pe. Ginno falava desta com muito amor. O seu sorriso ao falar da missão, as suas palavras transpiravam amor pelo próximo, pelo mais pobre pelo mais necessitado, é um exemplo vivo de quem foi pobre com os pobres, alguém que foi sem dúvida um deles enquanto viveu na missão… A frase que mais me tocou no seu testemunho foi “o sorriso do outro paga tudo 🙂 ”.
Já a noite ia longa e como era uma Grande Noite, Noite de Pentecostes, fizemos uma pequena vigilia onde cada um de nós pode partilhar o “ser Igreja” escrevendo num bago do cacho de uvas quando é que nos sentiamos Igreja… “Sou igreja quando…” …
No domingo pela manhã participámos na Eucaristia com a comunidade de Viseu, e foi muito bonito poder sentir a presença do Espírito Santo… foi um momento muito especial. Senti mais uma vez a vontade se ser Radical, ser diferente e de fazer o que faço pela fé e não por obrigação, como alguém dizia “ Se for de interior e não de obrigação isso se reflecte”. Há que acreditar como nos dizia o Papa João Paulo II “Cristo não tira nada, só dá” e é com a certeza desse amor por nós, que continuo empenhada enquanto cristã… e espero a cada dia conseguir dizer ao Senhor “Eis-me aqui…
Um vídeo de denúncia e esperança: Megaminas a céu aberto, desmatamento e expulsão de famílias e inteiras comunidades. Povos indígenas e comunidades quilombolas ameaçados por interesses minerários sobre seus territórios. Poluição das águas, da terra e do ar. Processos de escoamento do minério que impactam centenas de comunidades ao longo dos minerodutos ou das ferrovias que exportam a grandíssima maioria de nossos minérios. Conflitos e manifestações populares, espionagem e criminalização das lideranças.
Apesar de tudo isso, a mineração no Brasil pretende aumentar de 3 a 5 vezes nos próximos 20 anos. A proposta do novo Código de Mineração, cada vez mais criticada por comunidades, sindicatos, movimentos sociais e entidades do País inteiro, visa flexibilizar a legislação para facilitar os interesses das empresas mineradoras.
Diversas comunidades atingidas são apoiadas, assessoradas e defendidas também pelas igrejas. A Igreja Católica se posicionou com críticas contundentes contra a nova proposta de Marco Legal da Mineração. Várias lideranças cristãs de América Latina estão se articulando para buscar alternativas às agressões da mineração.
‘Iglesias y Minería’ é um grito de sobrevivência, resistência e esperança, o grito das comunidades e da vida que não se deixará arrancar.
Iglesias y Minería é um grupo ecumênico de leigos, leigas, religiosas e religiosos empenhados em defesa das comunidades afetadas por mineração nos diversos países do Continente. Desde 2013 o grupo articula os atingidos entre si, com a hierarquia das igrejas que queiram e possam apoiá-los, e com instituições internacionais de defesa dos direitos humanos. [iglesiasymineria@gmail.com]
Nos dias 17 a 19 de Abril, decorreu em Viseu a 8º Unidade do percurso formativo dos LMC em Portugal. A formação foi subordinada ao tema: “Comboni: Deus, a Cruz e a Missão”, apresentado entusiasticamente pela nossa Irmã Carmo Ribeiro. Neste encontro participaram O Carlos, LMC, a Andreia, a Carolina, o Flávio, a Marisa, a Neusa, a Patrícia e a Paula, formandos LMC.
Fomos generosamente (e muito confortavelmente) acolhidos pela Comunidade de Viseu dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, a quem estamos muito gratos pela hospitalidade.
O pontapé de saída da nossa jornada foi o filme “A Missão” de 1986, um drama histórico dirigido por Rolland Joffé, que retrata um período da história da Evangelização junto dos Indios Guarani do Brasil.
Durante o dia de Sábado e a manhã de Domingo a Irmã Carmo guiou-nos na descoberta de Comboni, da sua vida e missão, inspiradoras por em tudo transparecerem Cristo: “Falar de Comboni, da sua vida e missão, é falar da sua experiência de Deus. Experiência essa que moldou, deu forma, sentido e direção a toda a sua vida. Vida que se tornou missão. A experiência de Deus é a vivência de Deus, deixar que Deus viva em nós, e antes de tudo, deixarmo-nos viver n’Ele.”
Foi na primeira pessoa que fomos conhecendo Comboni, através dos seus escritos que lemos paralelamente com as citações Bíblicas que o inspiraram.
O nosso itinerário passou pela descoberta dos pilares da vida e missão de Comboni que são também os pilares de toda e qualquer vocação Comboniana. Seguidamente apresento estes pilares citando os escritos de Comboni.
1ª Confiança em Deus
“O Senhor disponha como melhor Lhe aprouver, estamos em suas mãos e portanto bem guardados.” E 457
2º Momento Carismático: O amor de Cristo Trespassado de Cristo Bom Pastor
“O Católico habituado a julgar as coisas com a luz que lhe vem do alto, olhou a África não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé, e descobriu lá uma infinidade de irmãos, pertencentes à mesma família, que têm nos Céus um pai comum, ainda curvados sob o jugo de Satanás e à beira do mais horrendo precipício. Então levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana, sentiu que o coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus.” E 2742
3º O amor à Cruz
“Eu encontro-me mesmo no cimo do Gólgota mesmo no lugar onde foi crucificado o Filho Unigénito de Deus, aqui eu fui redimido.” E 39-43
“A cruz tem a força de transformar a África central em terra de bênção e de salvação”
4º Cenáculo dos Apóstolos
“Este instituto torna-se pois um cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao Centro da Nigricia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio.” E 2648
5º Maria, Mãe da Igreja e Mãe da África
“A ti devo, ó Maria, não ter ainda morrido, … Ó Maria mostra-te também rainha e mãe dos pobres negros, porque também eles são teu povo… Mostra-te Mãe!” E 1639-644
6º S. José
“S. José é sempre jovem, tem sempre bom coração e intenção reta e ama sempre o seu Jesus e os interesses da sua glória.”
“Somos os mais felizes da Terra, porque estamos nas mãos de Deus, de Maria e do bom S. José. “ E 5082
7º Oração
“Como a obra que tenho entre as mãos é toda de Deus, é com Deus especialmente com quem há que tratar todos os assuntos grandes ou pequenos da missão; por isso é da máxima importância que entre os missionários abundem sobremaneira a piedade e o espírito de oração.” E 3615
8º Sentido da Igreja, pertença
“Negar-me-ia a converter o mundo inteiro, se com a graça de Deus me fosse possível, quando não mediasse o mandato e a autorização da Santa Sé e dos seus representantes”.
Apesar da riqueza destes dias, houve ainda tempo para dois encontros. Visitamos e fomos visitados. No inicio da tarde de Sábado fomos visitar a Comunidade das Irmãs Concepcionistas de Santa Beatriz da Silva, que partilharam a alegria e missão de uma vida totalmente entregue a Deus num silêncio habitado e fecundo (como alguém comentou: é bonito!). Na noite de Sábado, fomos visitados por duas irmãs missionárias combonianas, Irmã Lurdes Ramos e Irmã Guida Agostinho. A Irmã Lurdes Ramos partilhou connosco a sua experiência missionária junto dos povos indígenas da amazónia e mais tarde na ilha de Lampedusa. A exemplo de Comboni, vida tornada missão, esquecida de si, ferida para servir e amar os irmãos.
Por infeliz coincidência, nessa noite de 18 de Abril, no mar naufragava um barco de imigrantes a caminho de Lampedusa, sabemos a tragédia que se seguiu… naquela noite a Irmã fazia memória do drama dos que partem e arriscam a vida para poder viver e chegados a terra não têm com que viver. “Todos somos pessoas”, penso, que ainda hoje, na nossa oração não nos são indiferentes estes nossos irmãos… “sentiu que o coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus”…
Por fim, terminamos o nosso encontro celebrando a Páscoa, a glória de Jesus Ressuscitado; VIDA que brota do coração trespassado. “O meu Deus é um Deus ferido”, reconhecido por Tomé nas marcas do seu Amor por nós: “Meu Senhor e meu Deus!”
As reflexões que se seguem pretendem ser simples comentários ao segundo objectivo proposto pelo Papa Francisco na sua Carta Apostólica a todos os religiosos por ocasião do Ano da Vida Consagrada do passado mês de Novembro de 2014, a fim de ajudar-nos a viver como missionários combonianos o nosso tempo. “A paixão por um ideal, no nosso caso, a missão, está ligada ao entusiasmo. A paixão não se conquista de uma vez para sempre. É como uma planta que devemos cuidar e alimentar todos os dias. Por isso é preciso tirar proveito de iniciativas como a que propõe o Papa no Ano da Vida Consagrada, para rever como estamos a viver a nossa consagração e qual é a nossa ligação com o Evangelho, com o Instituto e com a missão”, escreve o P. Rogelio Bustos Juárez, mccj.
VIVER O PRESENTE COM PAIXÃO
“O passado que é memória e o futuro que é imaginação evocamo-los pelo presente” (Santo Agostinho)
A sequela de Cristo, como referência principal
Quando se fala de nascimento dos carismas, a história da vida religiosa ensina-nos que a primeira coisa da qual partiram os fundadores e as fundadoras foi o Evangelho. Pela leitura atenta da Boa Nova conheceram Jesus Cristo, receberam a Palavra e descobriram como podiam segui-lo. Alguns deram atenção ao Jesus taumaturgo que curava os doentes, outros ao Jesus Mestre que, com autoridade, ensinava coisas novas; nós fomos interpelados pelo Jesus itinerante que deve anunciar o Evangelho a todos os povos, porque para isso foi enviado.
Nasceram daí as Regras ou Constituições como base teórica para tornar viva a intuição carismática. Nas Regras de 1871, o nosso Fundador dizia: certamente um espírito humilde que ame sinceramente a sua vocação e queira ser generoso com o seu Deus, observá-las-á de coração considerando-as como o caminho traçado pela Providência, mas é importante dizer claramente que as Constituições, a Regra de Vida e as tradições de qualquer Instituto só conservam o seu vigor se e quando continuarem a inspirar-se nos valores evangélicos.
Por isso o Papa escreve: «A pergunta que somos chamados a fazer neste Ano é se e como nos deixamos interpelar pelo Evangelho; se este é verdadeiramente o vade-mécum para a vida de cada dia e para as opções que somos chamados a fazer. Isto é exigente e pede para ser vivido com radicalismo e sinceridade. Não basta lê-lo (embora a leitura e o estudo permaneçam de extrema importância), nem basta meditá-lo (e fazemo-lo, com alegria, todos os dias). Jesus pede para pô-lo em prática, para viver as suas palavras.
Não tenho a certeza se, depois de termos concluído a nossa formação de base, todos tomamos a sério a nossa formação permanente. Hoje fala-se de sociedade líquida e amor líquido (cf. Z. Bauman) para aludir àquela rapidez com que estamos a mudar o mundo, a sociedade, a Igreja e a vida religiosa.
O Evangelho é a fonte que, com o seu dinamismo e a sua actualidade, pode indicar-nos caminhos sobre os quais orientar os nossos passos. A propósito, um instrumento útil pode ser o terceiro capítulo da Evangelli gaudium (n. 111-173) na qual o Papa Francisco nos convida a rever o modo como nos abeiramos da Palavra e a anunciamos.
Mas não é suficiente ser peritos em teologia bíblica ou bons pastoralistas se não formos capazes de pôr em prática o que anunciamos. Somos convidados a rever o lugar que a Palavra ocupa na nossa vida; se ela é verdadeiramente aquele guia seguro ao qual recorremos diariamente e que pouco a pouco nos faz assemelhar ao Mestre.
Conformar a nossa vida ao modelo do Filho
Se é Jesus Cristo que seguimos, ser-nos-á de ajuda reflectir sobre a segunda parte do nosso nome, «do Coração de Jesus», porque nos permitirá aprofundar a nossa identidade. Quando em 1885, através de D. Sogaro, a Santa Sé nos concedeu ser congregação religiosa, fomos chamados: Filhos do Sagrado Coração de Jesus. Em 1979 chegou-se à reunificação e renascemos com o nome de Missionários Combonianos do Coração de Jesus. É interessante o facto de se ter mantido a referência ao Coração de Jesus.
O Papa Francisco na sua carta advoga que se o Senhor é o nosso primeiro e único amor, poderemos aprender dele o que é o amor e saberemos como amar porque teremos o seu próprio coração, isto é, identificar-nos-emos com Ele. Foi isso mesmo que meditaram e partilharam connosco alguns Padres da Igreja.
Santo Ireneu, por exemplo, fala de «Jesus Cristo que, pela superabundância do seu amor, se tornou aquilo que somos nós para fazer de nós o que Ele é» (Contra as heresias, Prefácio do livro V).
São Gregório Nazianzeno desenvolve um outro aspecto: «Pela minha condição terrena, estou ligado à vida cá de baixo, mas sendo também uma partícula divina, trago em mim este desejo da vida futura».
O homem não é apenas ordenado moralmente, regulado por um decreto sobre o divino, mas é ghenos, da estirpe divina, como diz São Paulo, é «estirpe de Deus» (Act 17, 29).
Santo Atanásio, no Tratado sobre a Encarnação do Verbo, afirma que o Logos divino se fez carne, tornando-se como nós, para a nossa salvação. E, com uma frase que se tornou célebre, escreve que o Verbo de Deus «se fez homem para que nós chegássemos a ser Deus; tornou-se visível corporalmente para que tivéssemos uma ideia do Pai invisível, e suportou a violência dos homens para que herdássemos a incorruptibilidade» (54, 3).
O nosso Fundador, São Daniel Comboni, fazendo sua a espiritualidade do seu tempo, soube responder aos desafios da missão inspirando-se na espiritualidade do Sagrado Coração, ampliando o seu significado, dando-lhe um cunho mais social e missionário.
Resumindo, se aqueles que aprovaram o nosso nome julgaram oportuno e necessário incluir nele a referência ao Coração de Jesus, é pois necessário que nos identifiquemos cada vez mais com os seus sentimentos e o traduzamos em atitudes. Seguimos Jesus não de um modo qualquer, mas esforçando-nos por ser «cordiais» no nosso modo de agir, de ser reflexo e expressão dos sentimentos do Filho de Deus. Tudo isto tem consequências na vida pessoal e comunitária. A ponto de fazer de nós parábola existencial, sinal da presença do próprio Deus no mundo (Cf. Vida Consagrada n. 22).
Fiéis à missão a nós confiada
O terceiro ponto convida-nos a rever a nossa fidelidade ao mandato que recebemos dos nossos fundadores. Uma intuição carismática é, ao mesmo tempo, dom e responsabilidade. Dom, porque não fizemos nada para o receber através da pessoa e do trabalho dos nossos fundadores, que todavia foi reconhecido pela Igreja, pelo que temos a responsabilidade de não o desvirtuar nem alterar, mas ser os continuadores deste presente que nos foi colocado nas nossas mãos.
E aqui é possível fazer-se duas leituras: ou agarrar-nos ao pensamento e à obra do nosso Padre Fundador pretendendo, por fidelidade carismática, reproduzir sine glossa o que ele fez ou então agir de modo tal que tudo o que fazemos não se assemelhe de modo algum a quanto sugerido ou proposto pelos nossos fundadores e mover-nos em total liberdade, interpretando os novos desafios a nosso gosto e escrevinhando a herança que recebemos há 150 anos.
Julgo que seja bem evitar estes dois extremos. É necessário de facto receber a chama das mãos de quantos nos precederam conservando a lucidez para descobrir como devemos responder aos desafios do presente sem enfraquecer a originalidade carismática. Foi este, creio, o objectivo da Ratio Missionis e do trabalho de requalificação dos nossos empenhos sobre os quais o Instituto insistiu nos últimos anos.
O Papa Francisco exorta-nos a perguntar-nos, neste Ano da Vida Consagrada, se os nossos ministérios, as nossas obras e presenças respondem aos que o Espírito Santo pediu aos nossos fundadores. Numa palavra, convida-nos a viver numa atitude de discernimento constante para não errar e ser assim reflexo e expressão daquele carisma eclesial que recebemos.
Ser peritos em comunhão
Sendo assim e considerando o valor que tem para a nós a vida fraterna, seria oportuno que nos interrogássemos sobre a qualidade da nossa vida em comum. A este propósito, o nosso Fundador foi muito claro ao descrever as características do seu Instituto: «Este Instituto torna-se, pois, como um pequeno cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao centro da Nigrícia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio. E estes raios, que juntos resplandecem e aquecem, revelam necessariamente a natureza do centro de onde procedem» (E 2648).
É interessante a imagem que São Daniel Comboni utiliza: «cenáculo de apóstolos». O cenáculo é a sala do piso superior, onde o Mestre confiou aos seus discípulos o que tinha no seu coração na véspera do mais alto gesto de doação. O estar juntos é aquela realidade que nos transcende e nos aproxima de Deus quando vivemos em comunhão com os irmãos. É também espaço de intimidade, onde podemos abrir o nosso coração aos companheiros de caminho e mostrar-nos como somos. Ali partilhamos aquilo que somos, descobrindo os nossos dons e limites e os de quantos vivem connosco. Teologicamente, a Trindade é o nosso modelo: três pessoas distintas mas um só Deus. Viver juntos ajuda-nos a partilhar os nossos dons e a acolher a riqueza de quantos vivem ao nosso lado. Somos diferentes, mas cultivamos e promovemos a unidade, através do respeito e da tolerância. Num Instituto internacional como o nosso, o desafio é maior mas não impossível.
Na imagem utilizada faz-se referência também à apostolicidade. Deste «cenáculo de apóstolos» sairão como que «raios» missionários solícitos e virtuosos para iluminar situações de obscuridade: o Papa fala de choques, de difícil convivência entre culturas diferentes, de prepotência sobre os mais frágeis, de desigualdade e poderíamos continuar com uma lista de situações que conhecemos e que encontramos pela frente no nosso serviço nas diversas partes do mundo, onde trabalhamos. A todas elas somos chamados a levar uma palavra de esperança e de encorajamento, iluminando as obscuridades e partilhando uma experiência de fraternidade, fruto da comunhão que experienciámos. E não basearemos a força e a eficácia da nossa vocação missionária sobre os recursos materiais que podemos levar à missão, mas sobre a disponibilidade a partilhar a experiência autêntica de Deus que temos e sobre a dose de humanidade que podemos transmitir. A qualidade da vida missionária dependerá do tempo que estivermos dispostos a dedicar às pessoas marginalizadas da sociedade. O nosso lugar, como missionários – e isto reconhecem-no-lo a maior parte das Igrejas locais – é onde há tensões e desconfianças, onde há situações que são contrárias à condição humana. É aí que devemos levar a presença do Espírito, procurando dar testemunho de unidade (Jo 17, 21), como nos recorda o Papa.
Tudo isto traduz-se num estilo próprio que deve ser de escuta, de diálogo e de colaboração com as pessoas com quem entramos em contacto. Até podemos ser pessoas dinâmicas e capazes, mas se não soubermos trabalhar em grupo, dificilmente daremos testemunho do amor trinitário sobre o qual se funda a vida comunitária. As diferenças não devem impedir-nos de dar testemunho de unidade perante a Igreja e o mundo.
Apaixonados pelo Reino
Uma última consideração: seguir Jesus, desejar assemelhar-se ao seu coração, permanecer apaixonados pela missão e ser construtores – e não meros consumidores – de comunidade, será possível na medida em que mantivermos sempre viva a paixão pelo Reino. Se virmos bem, muitos de nós manifestam uma certa dose de irresponsabilidade pelo modo como administramos o tempo e os bens que chegam às nossas mãos. Se perdemos o contacto com as pessoas, será difícil imaginar as carências que vive a maior parte da nossa gente. Na carta, citando João Paulo II, o Papa Francisco afirma: «A mesma generosidade e abnegação que impeliram os Fundadores devem levar-vos a vós, seus filhos espirituais, a manter vivos os seus carismas que, continuam, com a mesma força do Espírito que os suscitou, a enriquecer-se e a adaptar-se, sem perder o seu carácter genuíno, para se porem ao serviço da Igreja e levarem à plenitude a implantação do seu Reino».
Porque é que alguns dos nossos candidatos perdem o entusiasmo inicial quando fazem parte do Instituto? Porque é que para muitos de nós é tão fácil deixar de ser combonianos, quando surgem dificuldades ou desacordos? Porque nos é cada vez mais difícil obedecer e responder aos desafios que se nos apresentam? Porque é diminuta a nossa paixão pelo Evangelho e por tudo aquilo que diz respeito á missão? Porque é que tantos vivem como reformados antes do tempo? Não será porventura porque negligenciamos algumas referências fundamentais ligadas à nossa identidade, pelo que saímos do caminho e perdemos a rota?
A paixão por um ideal, no nosso caso, a missão, está ligada ao entusiasmo. A paixão não se conquista de uma vez para sempre. É como uma planta que devemos cuidar e alimentar todos os dias. Por isso é preciso tirar proveito de iniciativas como a que propõe o Papa no Ano da Vida Consagrada, para rever como estamos a viver a nossa consagração e qual é a nossa ligação com o Evangelho, com o Instituto e com a missão. P. Rogelio Bustos Juárez, mccj
Esta terra se chama Pau-Brasil, Irajá, Comboios, Caeiras, Olho d’Água, aldeias indígenas situadas no estado do Espirito Santo.
Vivi 9 dias com muita intensidade, dias importantes, lindos, cheios de amizade e de partilhas, Nós Família Comboniana (padres, irmãs, leigos, escolásticos) e o povo indígena Tupinikim, povo desta terra santa.
Simplicidade, humildade, partilha, acolhimento, são palavras que revivo celebrado aqueles dias.
A disponibilidade, a ternura das famílias que encontramos, visitamos, vivemos, brotaram dentro mim a beleza dos valores autênticos e sinceros que valorizam o encontro com o Outro e a sacralidade de saber acolher.
O povo Tupinikim, como todos os povos indígenas, é um povo que lutou pelo reconhecimento da terra que sempre foi deles e que perderam com a colonização, perdendo também o direito de serem moradores.
Terra indígena, terra santa.
Uma luta que iniciou no ano 1979 até 1981 pelo um território sempre mais explorado, da outra colonização, aquela de uma multinacional estrangeira, apoiada de um poder político e econômico lobístico.
Muitas foram as tentativas da parte da polícia com armas e ameaças para que o povo Tupinikim saíssem de suas terras. Muitos os processos, a procura de carta e documentos para demostrar que era terra indígena e finalmente nos 1993 a demarcação da terra e o reconhecimento que é território indígena protegido, com suas comunidades e aldeias.
Luta pela Vida, luta pelos direitos, para o respeito de uma cultura que está perdendo-se e que está resistindo ao uma homologação sempre mais dominante que quer todos como objeto e consumidores.
As ameaças acabaram e a lei confirmou uma verdade que sempre existia, agora é tempo de recuperar um território explorado por uma fábrica (estrangeira) que plantou eucalipto em cada lugar por interesses de mercado, para fabricação da celulosa.
O problema destas arvores é que crescem rápido e tiram agua da terra, empobrecendo o solo e tirando espaço da floresta nativa.
Quando o clima, depois, por causa da seca não ajuda, tudo se transforma difícil e complicado para quem vive do cultivo.
Recomeçar, cuidar a terra e os seus frutos, através de uma tradição indígena sempre de respeito Pachamama, vivenciando na essencialidade, isso é uma linda lição de vida que o povo indígena nos ensina.
Em esta terra nós fomos acolhidos, sentimo-nos em casa e não existe coisa mais linda para um peregrino, para um estrangeiro ser acolhido e conduzido pela mão.
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