Leigos Missionários Combonianos

Tempo de tristeza – tempo de alegria

LMC UgandaOs últimos dias foram passados entre sentimentos contraditórios, momentos de tristeza intercalados com momentos de grande alegria e tudo isto deve-se às nossas crianças.

No dia de todos os Santos participámos na eucaristia que foi celebrada no cemitério local, situado perto da catedral de São José em Gulu. Depois da eucaristia fomos com as nossas crianças rezar na campa de nosso pequeno Angel, a quem costumávamos chamar Moisés, que faleceu faz 6 meses. Depois da oração, colocámos na campa as flores que levámos.

Aqui o dia de todos os santos é um dia de muita alegria, neste dia especial as crianças recebem os sacramentos do batismo, primeira comunhão e também da confirmação. A Eucaristia na catedral é bastante longa, umas 4 ou 5 horas, porque existem, por exemplo, umas 150 crianças para batizar. De qualquer maneira estamos em África, por isso esta duração para a eucaristia é normal. Ainda bem que a nossa catedral é grande e toda a gente consegue entrar. Depois de receberem os sacramentos, todas as pessoas que estão na igreja, levantam as mãos e velas gritando como forma de mostrar a sua felicidade. Ao início, fiquei muito surpreendida com este dia, que na Polónia é um dia tranquilo de reflexão e oração, aqui, em Gulu, é um dos dias mais felizes. Mas durante a confirmação cada crismando lê o nome do padroeiro, e ficamos com a sensação que todos os santos se reúnem num só lugar, uma experiência bonita e inesquecível.

As crianças do nosso orfanato receberam os sacramentos do batismo e da primeira comunhão mais cedo – no dia 28 de Outubro – dia de São Judas, que é o padroeiro do nosso orfanato. As crianças do infantário e da escola primária, todos os trabalhadores, órfãos e amigos do nosso orfanato reuniram-se debaixo de uma grande árvore para celebrar a eucaristia. Sete das nossas crianças foram batizadas e oito crianças fizeram a primeira comunhão. Foi um dia de muita alegria para todos nós. As crianças que fizeram a primeira comunhão tinham idades entre os 10 e os 16 anos. Nenhum eles perguntou sobre brinquedos ou presentes. Todos foram bem preparados pelo nosso catequista.

Voltei para Uganda faz cinco meses e já tenho a minha rotina, que é diferente da que tinha há dois anos. Agora, a maioria do meu tempo é passado com as crianças. Pela manhã com os bebés e incapacitados, na parte da tarde com as crianças da primária – 1º, 2º e 3º ano – e as crianças do Infantário.

Mas várias pessoas que vêm até à nossa casa quebram a nossa rotina diária, situação pela qual ficamos muito gatos. Algumas delas vêm por pouco tempo como Peter – Leigo Missionário Comboniano da Polónia – e por mais tempo como o David – Leigo Missionário Comboniano da Espanha – que veio por mais de um mês. Também encontros com a Família Comboniana, durante a festa do 10 de Outubro – Festa de Comboni – ou simplesmente encontros por acaso na rua, na cidade ou na igreja. Todos estes encontros dão-nos muita alegria e energia positiva. Assim se alguém planear vir a Uganda por uns dias ou por mais tempo, lembro que a nossa casa está sempre aberta e são todos bem-vindos.

Cumprimentos para todos!!

Ewa, LMC no Gulu (Uganda)

Comunidade Trindade

LMC BrasilEstou quase no fim da minha viagem missionária de três anos, neste solo brasileiro amado, que me deu e me ensinou muito.

Já sinto saudade de quando vai acontecer, uma saudade que eu vou chamar-me à memória os rostos, situações, histórias, momentos importantes que marcaram a minha experiência na missão e que me mudou, e que eu permiti para me mudar, de crescer um pouco mais.

Porque é bom mudar quando a vida te mostra caminhos que são bons para o coração.

A missão também é crescimento, encontro com os Outros, encontro consigo mesmo, encontro com Deus em nós.

Descobrir um Deus que é um peregrino e que nunca deixa de surpreender.

Um Deus que caminha com os pés descalços com você: “Tire as sandálias, porque o lugar em que você anda é terra santa!”

Então eu fiz, eu andei descalço na maravilha da descoberta e me descobri, sabendo que Deus estava andando comigo.

Escolhi de Terminar Estes Três anos de vida Missionária em Salvador da Bahia, em uma Comunidade que acolhe moradores de rua: A Comunidade Trindade.

E uma Experiência completamente diferente do que eu tenha experimentado até ágora.

Deixei ou mundo da prisão, que eu espero que continua na Itália, para conhecer a realidade difícil e sofrida dos moradores de rua.

A Comunidade Trindade existe há 10 anos e é em um bairro perto do porto e da um viaduto onde se encontram muitos moradores de rua.

A casa é uma Igreja que não está ative, se  tornou-se um refúgio e morada temporária para aqueles que decidem de recuperar a própria vida ou tentar de fazer isso.
LMC Brasil

Tudo é feito com uma é certa gradualidade, continuando a dormir no Chão dentro a Igreja e Iniciar uma ação de recuperação que vem de dentro, através de auto-estima e em busca de própria Identidade.

Quando você vive na rua você vai perder tudo, não apenas coisas materiais, mas chega a um ponto que você não se reconhece mais, perdendo em um nada que devora se, onde o álcool e as drogas aceleram o processo de destruição.

Você não sabe quem você é e você não tem mais sonhos para construir mais.

A fome, o frio, a busca de um lugar seguro para dormir tornar suas prioridades diárias.

O vício em álcool e drogas levá-lo a viver de expedientes, roubando ou prostituição até perder a sua dignidade.

Esta comunidade nasce do irmão Henrique, francês, e uma morador de rua, sendo que a procurar um abrigo para dormir reuniu-se esta igreja abandonada.

Irmão Henrique é um Mônaco peregrino que anos atrás, escolheu viver na rua para conhecer diretamente o drama de moradores de rua, tornando vizinho e vivendo com eles na rua.

A diocese aprovou esta igreja como um abrigo para a noite, para se tornar, ao longo dos anos uma comunidade, uma casa para aqueles que não têm um lar e uma esperança de vida.

Agora a Comunidade acomoda 35 pessoas, homens e mulheres.

A comunidade Trindade não é algo definitivo, mas um momento de transição.

Um lugar para sair da dependência de álcool e drogas, conseguir um emprego, voltar em seus pés depois de anos passados na vida de rua.

Todos da Comunidade cooperam e ajudam, para a sua manutenção e bem-estar.

Da cozinha, limpeza, jardinagem, artes e ofícios trabalho, todos trabalham juntos e são úteis, cada um com suas próprias habilidades e limitações.
LMC BrasilEu também tenho o meu papelão onde eu durmo no chão e ajudo em tudo.

Estou aprendendo sobre o que significa para fazer isso, coloco o cuidado com aquele papelão que representa o meu colchão, retroceder para reabri-la na noite seguinte. Quando ando na rua agora, e eu vejo um papelão abandonado no chão, ele vem me exclamar: “Olha uma cama!” Porque para alguém é isso: sua casa na rua. A missão ajuda a ver as coisas de outros pontos de vista, em especial, a partir de pontos onde as pessoas quase não querem parar, olhar. Aprender sobre como viver com pouco, o que significa dormir no chão, estar com fome, não ter a possibilidade de se lavarem, o que significa viver nos subúrbios da existência.

Pouco a pouco, estou conhecendo as histórias das pessoas que vivem na comunidade: histórias de rua, drogas, álcool, abandono e violência.

As palavras que dizem são duras e dolorosas, cheio de cicatrizes.

Mesmo nesta experiência, como aquela da pastoral carcerária, estou aprendendo a lição mais bonita e importante: aprender a ouvir sem julgar e ouvindo ficando próxima.

Na comunidade há também uma pequeno jornal de rua: Aurora

da rua , escrito por moradores de rua, que explica a sua situação, histórias de vida e a importância da reciclagem. É porque muitas obras de artesanato, são feitos de materiais residuais. Há uma grande pedagogia atrás , que é construir coisas belas e materiais ainda utilizáveis que são considerados inúteis e descartadas. Assim como consideramos a moradores de rua ou prisioneiros pensando o carcerária pastoral, ou que seja excluído da sociedade. Tudo renasce e vem à vida, uma nova vida.

O jornal, então, ajuda sobre as notícias da verdadeira realidade dos moradores de rua, que muitas vezes são discriminados, excluídos, abandonados, julgados. Há histórias que tocam o seu coração e ajudá-lo a compreender a profundidade de certa realidade, tão dura e dolorosa.

Na quinta-feira à noite, a Comunidade abrirá as portas para moradores de rua do projeto “Levanta-te e Anda”, é um projeto criado pela própria comunidade, em colaboração com a diocese de Salvador.

A igreja, infelizmente, não pode acomodar muitas pessoas e que o problema da rua é enorme.
LMC BrasilO projeto é um espaço onde oferece atendimento psicológico, ajudar a fazer documentos: carteira de identidade, cartão de emprego; atividades recreativas, possibilidade de lavar, vestir, para aqueles que vivem na rua.

É um momento de grande emoção, você vive em gestos concretos O Evangelho de Jesus convidando todos à mesma mesa, para compartilhar o pão e União, todos, sem exceção.

É o evangelho que eu acredito que, onde eu encontro Deus e seu rosto e esse rosto tem tantas histórias, tantas feridas, beleza. É por isso que eu gosto da expressão de um Deus que é Peregrino que está a caminho… está dentro de cada um de nós, andando e vivendo em nossas histórias.

Sou grata por esta escolha e este meu último mês e meio nesta comunidade bonita e importante da vida.

Minha vontade não um adeus ao Brasil, mas um até logo, porque os relacionamentos que eu criei, com as pessoas que andavam comigo, e me ensinaram a caminhar, não vou abandoná-lo na minha memória, com todos eles será um até breve.

Deus respira através de nosso coração.

Emma, LMC

“A missão não se faz sem amor!”

LMC PortugalÉlia Maria Cabrita Gomes nasceu a 29 de janeiro de 1955 e é natural de Paderne (Albufeira). É enfermeira, aposentada. Em 2006 teve o seu primeiro contacto com o continente Africano num projeto de sete meses com a Assistência Médica Internacional (AMI) na República Democrática do Congo. Em 2011 partiu com os Leigos Missionários Combonianos (LMC) por dois anos para a República Centro Africana. Acabou por ficar cinco anos nesta missão.

Quando tinha apenas 16 anos surgiu uma oportunidade de fazer uma experiência de dois meses em Angola que considera ter sido “o clic para realizar um sonho”. Infelizmente o seu pai não estava de acordo e não partiu. Ainda enquanto estudante de enfermagem pensava partir mas em 1976 ao terminar o seu curso começa a trabalhar no Hospital de Faro onde ficou até à data da sua aposentação, casa e tem uma filha. Em 2006 tem finalmente a sua primeira experiência e parte por sete meses para a República Democrática do Congo com a AMI. “Foi uma experiência de apenas sete meses que serviu de estímulo e aumentou o meu desejo de voltar a África, de sair do meu comodismo e ir ao encontro de outros povos”, partilha. Começou a fazer voluntariado no Lar do Centro Paroquial de Paderne, a sua paróquia de origem, e descobre os LMC através da revista Além-mar que encontrou nos seus primeiros dias de trabalho. “Fiz a formação com os LMC (2008 – 2010), conheci Comboni, o seu lema “Salvar África com África” fazia todo o sentido, assim como sair, ir ao encontro dos mais pobres e abandonados, contribuir para a melhoria da sua qualidade de vida e favorecer a promoção humana”, diz-nos.

Foi por dois anos e ficou cinco!

Em Fevereiro de 2011 chegou a Bangui (capital da República Centro Africana – RCA, a Mongoumba, por um período de dois anos, “sem expectativas preparada para aceitar e dar o que a missão me pedir”. Acabou por ficar cinco anos “com experiências de vida muito intensas. Os primeiros tempos foram de aprendizagem: ver e ouvir, aprender a estar, aceitar e respeitar, enfim dar os primeiros passos numa cultura e hábitos tão diferentes dos nossos”, diz-nos. Sobre o seu destino Mongoumba diz-nos que é a sede de um dos dez concelhos do distrito de Mbaiki: “é uma vila com cerca de 8.000 habitantes, situada a 190 km de Bangui, em plena floresta equatorial. Faz fronteira com a República Democrática do Congo e o Congo Brazaville. O concelho de Mongoumba tem uma população de 25.000 habitantes de várias etnias contando entre elas o povo pigmeu Aka. Os pigmeus são descriminados pelo resto da população que os utiliza como mão-de-obra barata, são os mais desfavorecidos da sociedade, vivem em vários acampamentos dispersos na floresta, quase todos habitam em casas de folhas, são poucos os que fazem casas de barro e de tijolo ainda menos, alimentam-se do que recolhem da floresta. Os seus bens resumem-se ao que podem transportar quando deixam o acampamento e partem, mais para o interior da floresta, para as campanhas de pesca, recolha de mel, lagartas… Produtos que vendem ou trocam por sal, panos para se cobrirem e pequenos adornos. Raramente têm dinheiro e o pouco que têm nunca é suficiente para pagar os cuidados de saúde.

A missão de Mongoumba tem como prioridade a evangelização do povo pigmeu e grande parte das nossas actividades têm em vista a melhoria das condições de vida deste povo e a sua integração social. Numa pastoral de proximidade e trabalhando na sensibilização e promoção da saúde visitei muitos acampamentos, visitei doentes, desparasitei crianças e nos dois primeiros anos, com a colaboração do exército francês, fizemos várias campanhas de tratamento do pian (doença contagiosa e incapacitante). Fiz muitos quilómetros a pé na floresta… Numa realidade dura que não é possível mudar, apenas retocar com um pouco de criatividade e ter esperança que as sementes lançadas deem fruto. Após vários anos de trabalho, em que a Missão serviu de ponte entre este povo e o Centro de Saúde público, o resultado começa a ser visível e gratificante, os pigmeus ainda são os últimos a ser atendidos nas consultas, mas são consultados e quando necessitam de internamento ficam nas mesmas enfermarias que o resto da população. Durante cinco anos uma das minhas actividades foi de vigilância para com os pigmeus internados, para que não fossem esquecidos, porque é muito fácil esquecer o tratamento ou dar a injeção a quem não tem voz! A ajudar-me nesse trabalho sempre contei com a preciosa colaboração dos dois agentes de saúde que trabalham no Centro de Reabilitação física da Missão. Muito do nosso trabalho é despertar consciências porque toda a gente é pessoa, em Sango “Zo kwe Zo” e como tal deve ser tratada e respeitada.”

Conta-nos que após o golpe de estado em março de 2013 “o país mergulhou no caos vivendo sob o domínio das armas durante três anos. A pobreza e o sofrimento da população atingiram níveis nunca antes imagináveis. Apesar das muitas ONG’s no terreno, a Missão Católica é quase a única instituição que continua, de forma constante, a trabalhar na defesa e promoção da dignidade deste povo tão sofrido, desenvolvendo actividades nas áreas da educação, saúde, promoção humana, pastoral, justiça e paz… Nos últimos dois anos o meu grande investimento foi na despistagem e tratamento das crianças mal nutridas, na sensibilização e formação dos pais sobre higiene e nutrição. Um trabalho desgastante tanto física como psicologicamente, mas tendo a compensação em cada criança que recuperou e voltou a sorrir. Tive a possibilidade de ter a trabalhar comigo uma boa equipa, gente da terra, disponível e interessada”.

Partir sem expetativas, regressar cheia de sonhos

Termina dizendo que apesar de ter chegado em 2011 sem expetativas, regressa em 2016 com o sonho de um dia regressar à missão da RCA e encontrar “casas que não são arrastadas pela chuva, com telhados que não são levados pelo vento; crianças saudáveis, bem alimentadas que têm livros e vão a escola; estradas sem buracos (mesmo as estradas de terra) e meios de transporte que aproximem aldeias, vilas e cidades; pigmeus que conhecem os seus deveres e são capazes de lutar pelos seus direitos; uma legislação nova em que as “bruxas” não vão a tribunal, mas sim os que as denunciam e atacam; centros de saúde e hospitais a funcionar com médicos e enfermeiros com formação, onde se fazem operações, análises e exames, onde há nome e causa para as doenças, deixando de haver doenças místicas; sonho que vou encontrar um país onde os pilares da educação, os professores, vão a escola e têm mais do que o 6º ou 9º ano de escolaridade; e, porque “Deus ama o seu povo”, tenho fé que o ódio que ainda existe vai dar lugar a uma paz duradoura num clima de amor e tolerância. É um sonho e uma esperança que as riquezas do país não vão só para os bolsos de alguns, mas passem a servir para melhorar a qualidade de vida de todos.

A missão não se faz sem amor! Gosto do país e gosto das pessoas, um povo que sofre, mas continua a rir, cantar e dançar. É o meu povo! Os mais pequenos são os que guardo com mais carinho no meu coração, recordar as crianças, os seus sorrisos puros e sinceros vai ser calor para as noites frias de inverno”.

Texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação

Meskel

Etiopia

A Festa da Santa Cruz (chamada “Meskel”) é uma das maiores celebrações na Etiópia. É comemorada, de modo particular, na região de Gurage, onde tivemos oportunidade de passar uns dias e ver as celebrações. O nosso amigo Desalegn convidou-nos e assim podemos perceber como era a vida na sua aldeia. Dormimos numa casa tradicional onde também estavam os familiares de Desalegn.

Durante a celebração da Meskel, famílias inteiras vêm para as aldeias para passar este momento especial juntas. O sacrifício de um touro é uma das tradições mais importantes e toda a gente é envolvida. Depois das orações, um homem da vila, sacrifica o animal cortando-lhe a garganta. Então todos ajudam a cortar a carne e a prepará-la para ser comida crua durante a festa. A carne crua é uma iguaria muito popular na Etiópia, principalmente quando é fresca.

Nesse mesmo dia as mulheres preparam uma especialidade tradicional chamada “kitfo”, – a carne fresca crua é cortada em bocados muito pequenos sendo servida com manteiga e especiarias picantes. Ninguém nos perguntou se queríamos um pouco – deram a todos uma porção, por isso não a podemos recusar. A Magda, minha homónima, gostou bastante, mas para mim foi um grande desafio comer carne crua. Comi só um pouco.

Etiopia

Segundo a tradição Santa Helena queria encontrar a santa cruz para a salvar de ser profanada, encontrou-a seguindo o fumo de uma fogueira. Em memória a isto, pessoas em toda a Etiópia acendem fogueiras durante a festa. Na região de Gurage as pessoas da aldeia reúnem-se num grande espaço aberto e acendem juntos a fogueira.

Após o discurso de um ou de vários líderes, as pessoas desejam umas às outras um Feliz Ano Novo. De fato é o início do ano novo segundo o calendário local. De seguida dançam uma dança tradicional Gurage em círculo. Depois de algum tempo vão para casa e cada família acende uma fogueira em frente à sua casa. Muitas pessoas movem-se de uma fogueira para outra.

Demo-nos conta que quando um número de pessoas se reúnem numa fogueira em particular, muitos dos vizinhos se juntam a eles. Logo, todos juntos, vão de um lugar para o outro dançando e cantando a mesma canção tradicional. Isto durou até de madrugada.

No dia seguinte fomos à Igreja para a missa. Mais tarde, outra grande fogueira se acendeu. Houve danças e canções. As canções religiosas foram as primeiras a serem cantadas e depois a mesma canção tradicional Gurage.

Muitas pessoas visitam as suas famílias e amigos neste dia. Nós também fomos com o Desalegn visitar os seus familiares. Em todo o lado nos receberam com comida e bebida, começando com o café e vários aperitivos e terminando com o “kitfo”.

Etiopia

Resumindo, posso dizer que fui testemunha das tradições Gurage associadas à festa da Santa cruz. É um momento da família muito especial desta tribo. Tal como na Polónia que passamos o Natal com a nossa família mais próxima e amigos, comendo comidas típicas de Natal, as pessoas Gurage passam a maior parte do tempo sentados, falando e comendo juntas. Claro que também existem diferenças. Por exemplo as pessoas Gurage não utilizam mesas para colocar a comida e não passam horas a ver televisão.

Durante a nossa breve visita, tivemos uma vivência privilegiada com uma família Gurage. Permitiram-nos entrar na sua vida, sentir a atmosfera do lugar, conhecer a forma como se saúdam, experimentar as suas comidas, beber café e conversar com eles. Vimos de muito perto como trabalham, descansam, celebram e vivem a sua vida quotidiana. Foi uma experiencia muito interessante e enriquecedora. Agradecemos sinceramente ao Desalegn, aos seus familiares e às pessoas Gurage por esta grande honra.

Magda Fiec, LMC Awassa (Etiópia)

Que título?

Marisa LMCQue título utilizo? “Já passou uma semana” ou “ainda só passou uma semana” (desde que cheguei aqui)?

Cheguei a Londres no passado dia 3 de setembro. Os ponteiros do relógio passavam já das 23 horas quando entrei na «minha nova casa». Às vezes (sim, às vezes), esta não é a minha casa, é mais do que isso: é o meu lar – consigo senti-lo e comover-me com isto. [“Ainda só passou uma semana” e sinto-me bem aqui, nesta comunidade.]

Geralmente, cá em casa, somos 6 – eu; três padres (Pe. Angelo, italiano, Pe. Rogelio, Mexicano, e o Pe. Patrick, irlandês); e mais 2 jovens (o Paulo, que é enfermeiro e, há poucos dias, chegou o Amir, para procurar trabalho). Mas constantemente este número varia: por vezes há padres de outras comunidades, ou familiares/ amigos, que pernoitam ou ficam alguns dias connosco. [“Ainda só passou uma semana” e tenho conhecido tantas pessoas!].

A Comunidade de padres que vive comigo tem-me permitido aprender, crescer, amadurecer. Começamos o dia juntos, na Capela – rezamos as Laudes e celebramos Missa. Ao fim do dia, antes do jantar, é lá que nos voltamos a encontrar para a Oração da tarde. Aos poucos começo a conseguir rezar as orações “sem espreitar e sem ler” pelos livros (tudo em inglês!). [Às vezes penso: “ainda só passou uma semana e já consigo dizer uma oração sem estar constantemente a ler; outras, em momentos de algum desânimo, penso: “já passou uma semana e ainda preciso de um guia”]. Ainda assim, os padres são muito pacientes e incentivam-me a não descurar nem a perder a vontade de aprender. De vez em quando até me convidam para fazer as Leituras.

Pouco antes das 9h saio de casa para a escola onde tenho aulas de inglês. É lá que passo o resto da manhã. Na mesma classe que eu estão outras pessoas de várias idades e nacionalidades (turcos, brasileiros, argentinos, mexicanos, peruanos, japoneses e chineses). [“Ainda só passou uma semana”, mas tenho aprendido tanto!].

As refeições são feitas em comunidade. É um momento de partilha. Mais do que partilharmos os alimentos, partilhamos a vida uns com os outros. É também um momento de aprendizagem, de intimidade, de “pôr em comum” – um dos espaços privilegiados onde a relação flui. [“Ainda só passou uma semana”, mas as nossas relações têm-se sedimentado, aos poucos, ao ponto de sabermos cada vez mais um dos outros.]

No meu tempo livre tenho tido a oportunidade de conhecer Londres e visitar alguns sítios – Natural History Museum, Science Museum, Southbank Museum, London Eye, Big Ben, Buckingham Palace, Portobello Road (market), Royal Parks (Hyde Park, Diana – Princess of Wales Memorial Fountain, Serpentine Lake, Kensington Gardens, Albert Memorial, …). [“Ainda só passou uma semana” e já pude ver tanto…].

Para me ocupar, aproveito também para ler, para estar ou conversar com alguém e para ajudar cá em casa com alguma coisa que seja necessária.

«Tudo» serve para aprender aqui. O importante, tenho notado, é estarmos disponíveis (interiormente) para que isso aconteça – para errar, sem medo, e para aceitar humildemente as correções. Ainda que ler, ver televisão, ouvir alguém, estudar… sejam importantes para aprender [inglês], tem sido desta maneira que mais tenho aprendido: quando erro e alguém me corrige. Tenho aprendido que a correção tem, de certa forma, uma dimensão relacional – implica uma abertura generosa, espontânea e empática entre as pessoas – ajuda a ser e a construir vida entre aqueles que corrigem e se deixam corrigir.

Marisa LMCOntem, domingo, aconteceu algo de maravilhoso! O dia 11 de Setembro é o primeiro dia do ano, segundo o calendário Etíope – chama-se Enkutatash (“gift of jewels” – não estou certa da tradução nem do significado, deixarei «isso» para mais tarde…). O padre Frasa, que está cá em casa durante alguns dias, convidou-me para celebrar com a comunidade etíope desta zona. Foi delicioso, uma autêntica experiência de céu, no mínimo! A eucaristia, com o rito etíope, durou mais ou menos 3 horas (não percebi nada – absolutamente nada – do que diziam ou cantavam, pois foi celebrada em ge’ez, na língua amárica.

Marisa LMCNo final, fui apresentada à comunidade que me saudou e acolheu com alegria e hospitalidade, convidando-me para uma refeição tradicional. Dividi o prato com outras 4 crianças e uma mamã: é sinal de amizade, de hospitalidade, de lealdade (“aqueles que comem do mesmo prato não se vão trair”, disseram-me). Comemos injera e pude “experimentar” gursha (quando alguém enrola um bocado de comida em injera, mergulha em wot («molho»/ acompanhamento) e alimenta-nos diretamente à boca) – poder alimentar alguém é sinal de amizade e de amor («gosto de ti, por isso alimento-te»); poder receber comida de alguém é sinal de hospitalidade e de aceitação (é como um abraço entre amigos). [“Ainda só passou uma semana” e já tive a graça de mergulhar um pouco na “Etiópia”!]. Ficou a promessa de um reencontro no próximo domingo. É curioso aperceber-me que foi «à mesa» que experimentei a intimidade e onde «senti um quase batismo», o encontro com a cultura e com as pessoas. Que bênção!

Termino. Mas não sem antes reparar que não foi «só na Etiópia» que começaram o novo ano. De certa maneira, é também assim que me sinto: a começar algo singular, a inaugurar um novo ciclo e a dar os primeiros passos no caminho que me está a ser confiado.

Que título? O amor – a Comunidade; a Partilha; o Serviço; a Correção; … – O amor é o título (e o corpo e a memória)!

[PS: “Já passou uma semana”, e fui (tenho sido) abençoada com tantas maravilhas, com tantos encontros, com tantas experiências e confio que mais virão porque, ainda assim, “ainda só passou uma semana” – «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10,10)].

Marisa Almeida, LMC em Londres