Leigos Missionários Combonianos

Carta à família comboniana no jubileu da misericórdia

Daniel Comboni«Este Coração adorável… rico em toda a graça, não conheceu um instante… em que não palpitasse com o mais puro e misericordioso amor pelos homens. Desde o sagrado berço de Belém, apressa-se a anunciar pela primeira vez a paz ao mundo: menino no Egipto, solitário em Nazaré, evangelizador na Palestina, partilha a sua sorte com os pobres, convida os pequenos e desafortunados a que se aproximem, conforta e cura os doentes, devolve os mortos à vida, chama ao bom caminho os extraviados e perdoa aos arrependidos; moribundo na cruz, na sua extrema mansidão reza pelos seus crucificadores; glorioso ressuscitado, manda os Apóstolos pregar a salvação ao mundo inteiro» (E 3323)

Caríssimos Irmãos e Irmãs da Família Comboniana,

Com esta carta, fruto de um tempo de oração, reflexão e partilha que tivemos juntos no final do ano da Vida Consagrada e no início do Ano Jubilar da Misericórdia, desejamos oferecer a todos os membros da Família Comboniana algumas reflexões e, sobretudo, convidar cada um/a à viver em profundidade os desafios e as oportunidades que o Ano jubilar nos oferece pessoalmente e como Família. Com esse fim desejamos propor-vos uma jornada comum de oração, recordado quanto dizia Comboni: «a omnipotência da oração é a nossa força» (E 1969).

Miserando atque eligendo: amados-perdoados / chamados-perdoados

Chamados/as, pela graça de Deus, a seguir Cristo nas pegadas de São Daniel Comboni – «escolheu-nos antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença…» (Ef 1, 4) – temos, como parte integrante do nosso ADN carismático, a chamada a contemplar o Coração trespassado de Cristo na Cruz, expressão mais eloquente da misericórdia infinita de Deus pela humanidade inteira e a deixar-nos transformar, para que nos tornemos também nós, abraço de amor e de misericórdia para todos/as. Isto, «para que fosse enaltecida a glória da sua graça com a qual nos favoreceu em seu Filho, no qual temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos nossos pecados, segundo a riqueza da sua graça» (Ef 1, 6-7).

Como todos os discípulos e discípulas de Cristo, estamos conscientes de que o Evangelho que queremos anunciar nos ultrapassa. Sabemos bem que o seguimento de Jesus Cristo, que nos chama a testemunhá-lo com a nossa vida e as nossas palavras, é exigente e nós nem sempre estamos à altura da mensagem que Ele nos confia: falta-nos, por vezes, profundidade para viver segundo a nossa chamada.

Na oração pessoal, na vida sacramental, na direcção espiritual e no encontro com os nossos irmãos e irmãs experimentamos a misericórdia de Deus. Sentimo-nos gratos/as ao Espírito Santo que actua no nosso coração, dando-nos o espírito de arrependimento e de purificação. Damos graças a Deus pelo dom da alegria de ser perdoados/as que nos renova e nos habilita a recomeçar todos os dias.

Misericordes sicut Pater: no seio das nossas comunidades e famílias

Deus ama-nos e perdoa-nos fazendo-nos sentir este mistério através do encontro pessoal com Ele e exprime a sua misericórdia através dos nossos irmãos e das nossas irmãs. Nas nossas comunidades e famílias somos então chamados/as a acolher-nos reciprocamente, graças ao Espírito Santo que nos une à volta de Jesus e nos torna cada vez mais cenáculo de apóstolos/as.

Na vida quotidiana, nos momentos de correcção fraterna e nos nossos encontros e assembleias, descobrimos que vivemos da misericórdia recíproca. Ajudamo-nos a crescer, a purificar-nos e a reconciliar-nos quando todos nos empenhamos a viver a boa nova do amor misericordioso de Deus.

Os irmãos, as irmãs, os familiares fazem-nos compreender que nos perdoam quando são pacientes e caminham conosco; fazem-nos tocar o amor quando nos dão confiança, apesar dos nossos limites. Quando a comunidade e a família vivem de misericórdia, tornam-se um espaço de graça, um lugar de cura e reconciliação no qual se constrói comunhão e vida, não negando as fadigas, fraquezas e limites próprios e dos outros.

Tudo isto qualifica a experiência de misericórdia que vivemos entre nós. «A misericórdia não é contrária à justiça, mas exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar» (MV 21).

Misericordes sicut Pater: na comunidade apostólica

Deus nosso Pai chamou-nos a servir e a trabalhar juntos, como comunidade apostólica; neste lugar de colaboração, somos desafiados/as a crescer no nosso caminho de saída de nós mesmos/as e de configuração com Cristo, servo obediente. Chamados/as a viver o novo mandamento do amor, «Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei, assim deveis amar-vos uns aos outros» (Jo 13, 34-35), o Senhor dá-nos todas as graças necessárias para partilhar a sua misericórdia e torna-nos capazes de perdão recíproco.

O dom da misericórdia torna-nos capazes de sair de nós mesmos/as, de viver gestos de ternura e de ser caridosos entre nós: ou seja, de realizar obras de caridade espiritual e corporal entre nós.

Muitas vezes, é difícil para nós “viver de misericórdia”, assumir os sentimentos do coração de Jesus. Por vezes, somos mais levados/as a ser caridosos com os que são de fora das nossas comunidades, das nossas famílias, esquecendo aqueles com quem vivemos e trabalhamos diariamente, como comunidades evangelizadoras. Deus, que nos quer misericordiosos/as, deseja que pratiquemos a misericórdia, acima de tudo, entre nós e com os mais próximos.

Misericordes sicut Pater: com o povo de Deus

O nosso serviço convida-nos a entregar-nos ao povo de Deus que nos acolhe no Seu nome. A experiência ensina-nos que se somos humildes e abertos/as, os nossos irmãos e as nossas irmãs usarão de misericórdia para conosco. Atitudes de arrogância ou de superioridade da nossa parte evocarão um outro tipo de resposta. A chamada a viver de misericórdia, como a viveu Comboni, obriga-nos a um caminho de conversão e de cura, para poder viver as nossas relações com simplicidade, humildade e humanidade.

Misericordes sicut Pater: para com as nossas instituições

Ao longo do caminho da nossa pertença aos nossos Institutos / grupos / família comboniana, os nossos sentimentos de amor, de orgulho sadio e de gratidão deveriam crescer com o passar dos anos. Mas, por vezes, nota-se também sentimentos de amargura, crítica destrutiva, o “terrorismo da bisbilhotice”, como lhe chama o Papa Francisco. Poderia dizer-se que isso faz parte da nossa condição humana, marcada pelo pecado, ainda em vias de transformação. As nossas fraquezas não deveriam surpreender-nos ou ser motivo de escândalo. Não deveriam enfraquecer o nosso sentido de pertença e a alegria de ser Comboniano/a, ou diminuir o desejo e o empenho a viver, de modo digno, a chamada a ser Santos e Capazes, nas pegadas de São Daniel Comboni.

Neste ano da misericórdia, deixemo-nos reconciliar com os nossos embaraços e feridas e revistamo-nos verdadeiramente «… de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência…» e, assim, reavivar o nosso amor para com a nossa grande Família Comboniana.

Misericordes sicut Pater: instrumentos de misericórdia

A experiência da misericórdia enche-nos de alegria e do desejo de proclamar que a sua misericórdia e o seu amor são eternos (Salmo 25.6).

A exemplo de São Daniel Comboni, a experiência da misericórdia divina faz-nos dilatar o coração e estender os braços para a humanidade sofredora para que «… também nós possamos consolar aqueles que se encontram em algum tipo de aflição, mediante a consolação que nós mesmos recebemos de Deus» (2Cor 1, 4). Através do nosso testemunho, serviço e presença entre o povo de Deus, através do nosso ser missão, somos chamados/as a participar na obra salvífica do Deus misericordioso revelado em Jesus.

E então… Celebremos a misericórdia

Neste Ano Jubilar, por intercessão de Maria, Mãe da Misericórdia, peçamos a Deus Pai o dom de reconhecer-nos necessitados/as da Sua misericórdia e desejosos/as de ser reconciliados/as: connosco mesmos/as, com os nossos irmãos e irmãs em comunidade, com os nossos familiares, com os nossos colaboradores/as, com os Povos que servimos, com os nossos Institutos e grupos combonianos.

Convidamos, portanto, todos os membros da Família Comboniana, SMC, ISMC, MCCJ, LMC e outros Grupos/movimentos que se inspiram no carisma comboniano, a celebrar, a 17 de Março próximo, o XX aniversário da beatificação de São Daniele Comboni, com uma jornada de oração-contemplação da Misericórdia de Deus em Comboni. É um convite a, como seus filhos/as, deixarmo-nos transformar pela Misericórdia do Coração de Jesus e a reavivar a nossa compaixão e o empenho de anunciar, com palavras e obras, o Deus-Misericórdia aos irmãos e irmãs mais abandonados e sofredores.

Saudamos-vos com grande afecto,

Os Conselheiros Gerais e Coordenador Comité Central LMC:

SMC – Irmãs Missionárias Combonianas

ISMC – Instituto Secular Missionárias Combonianas

MCCJ – Missionários Combonianos do Coração de Jesus

LMC – Leigos Missionários Combonianos

Roma, 28 de Fevereiro de 2016

A missão é um plano de amor onde não podemos poupar esforço

ComboniEsta é uma das muitas frases que Comboni nos deixou como prova da entrega e a convicção de sua vocação.

Todos os dias ouvimos, vemos e lemos nas notícias as desigualdades do mundo. Todos os dias encontramos tantas pessoas que precisam de esperança.

Um mundo, lar de todos, que está profundamente interligado, que precisa que todos nós acordemos e unamos todos os esforços no sentido de propor uma nova maneira de viver, mais justa e digna para todos e todas. Precisa que nos arregacemos as mangas e comecemos a propor e realizar uma nova humanidade. Precisa pessoas disponíveis a estar com aqueles homens e mulheres que mais sofrem a exclusão e não são tomados em consideração por ninguém. Necessitam de pessoas que levem a ternura e o amor de Deus para todos os cantos do planeta onde seja necessário.

Em um mundo onde o dinheiro encontra facilidades e as pessoas barreiras precisamos recuperar e fazer presente o amor de Deus. A misericórdia que cure as feridas, a fraternidade e solidariedade que nos permita compartilhar esta terra que é casa de todos y todas. Todos nós temos o direito de desfrutá-la, não importa onde nascemos ou as possibilidades da família que nos acolheu.

Precisamos de você dar um passo adiante e se juntar. A missão é um plano de amor onde não podemos poupar esforços.

[Moçambique] Chegada dos jovens do “Fé e Missão”

Chegada01Hoje chegaram à missão de Carapira um grupo de 5 jovens portugueses para passar 1 mês de vivência missionária nesta realidade. Estes jovens fazem parte do grupo vocacional “Fé e Missão”, e desde Outubro do ano passado vêm vivendo um processo de reflexão e discernimento vocacional missionário. Esta caminhada vocacional culmina com este momento de partilha na missão concreta.
Chegaram animados, três rapazes, Germano, Leonardo e Pedro, e duas raparigas, Sofia e Mariana, acompanhados pelo padre Jorge, comboniano, e a secular Paula Clara, que fazem parte da equipa de formação dos mesmos.

 Chegada02  Chegada03

Assim, nesta noite tivemos um breve momento de acolhimento e partilha como equipa missionária.
Rezemos para que este seja um “tempo de graça” na vida de cada um deles.

Estamos juntos!

LMC Moçambique

Mensagem do P. Enrique para a festa do Sagrado Coração

Sagrado Corazon

“Pedimos a graça de nos tornarmos consagrados alegres e felizes porque portadores no coração do tesouro daquele amor que brota do Coração trespassado do Senhor que São Daniele Comboni descobriu como fundamento sobre o qual construir a sua missão e ao qual se entregou sem limites.

Que a confiança no Coração de Jesus se torne também para nós fonte perene de um amor que nos ajude a viver a nossa consagração como o dom mais belo que nos tenha sido concedido.

Boa festa do Sagrado Coração.” P. Enrique Sánchez G. mccj, Superior Geral.

 

CONSAGRADOS NO CORAÇÃO DE JESUS

As palavras consagração e consagrados, com todos os seus sinónimos, têm a possibilidade de ser aprofundadas e integradas na nossa vida, de modo particular durante este ano destinado à vida religiosa ou consagrada, na medida em que nos concedamos um momento para a reflexão e, talvez, mais ainda, para o agradecimento por este dom.

Ao mesmo tempo, estas palavras correm o risco de esvaziar-se do seu significado e da riqueza de que são portadoras, se não as confrontarmos com a experiência da nossa vida; se não dermos, com a nossa vida, um sentido autêntico ao que afirmamos com as palavras.

Somos consagrados. Basta pouco para fazer esta afirmação que, no entanto, não se mostra tão evidente quando pedimos ao nosso testemunho de vida para exprimir o conteúdo daquela que foi a opção da nossa vida.

Mesmo dizendo de imediato que há exemplos extraordinários, muito próximos de nós, de pessoas que fizeram da consagração um tesouro e cuja vida se transformou numa luz capaz de penetrar as trevas mais obscuras, hoje precisamos de deter-nos e perguntar-nos até que ponto a nossa consagração a Deus define e caracteriza a nossa identidade e o nosso agir.

Reflectir sobre a nossa consagração pode tornar-se uma ocasião extraordinária para nos apropriarmos daquilo que queremos dizer quando nos reconhecemos pessoas consagradas a Deus para a missão.

A nossa consagração missionária

Como ajuda para a nossa reflexão, em particular por ocasião da festa do Sagrado Coração, gostaria de partilhar convosco algumas ideias breves que podem ser desafios a perguntar-nos até que ponto e como estamos a viver a nossa consagração religiosa e missionária.

O Papa Francisco convidou-nos a fazer um exercício de memória, para reconhecer no passado o dom da nossa chamada, do nosso carisma, deixando brotar do profundo do nosso coração a gratidão, o reconhecimento por este dom. Recomendou-nos contemplar o presente da nossa consagração para a viver com paixão, sem fazer cálculos, com a generosidade e o entusiasmo do primeiro momento, quando no silêncio cúmplice de Deus ouvimos pronunciar o nosso nome e sonhado uma missão sem fronteiras.

O Papa pediu-nos para olhar o futuro com esperança, que significa confiança em Deus, na sua proximidade, na certeza de que Ele continua a guardar no seu coração um projecto para a humanidade que ninguém poderá impedir, porque será sempre um projecto de amor e o amor não se detém perante os obstáculos.

Viver a nossa consagração missionária deste modo leva-nos a redescobrir, a fazer de novo a experiência da alegria do primeiro momento da nossa chamada, e a dizer com simplicidade, Senhor, como foste grande fixando o teu olhar em mim! Não podias conceder-me um dom mais extraordinário.

Ser missionário foi a escolha melhor que fizeste para mim; obrigado, porque permaneceste fiel e porque aquilo que me aconteceu há tantos anos continua a manter a sua frescura.

Obrigado por um presente missionário que nos desafia. A tua chamada por vezes corre o risco de ser toldada por tantos obstáculos que encontramos no nosso caminho. Falta-nos a tua paixão, o teu ardor, a tua coragem para não nos deixarmos vencer pela indiferença do nosso tempo, pelo consumismo que nos circunda, pelo hedonismo superficial que nos assalta com as suas armadilhas, que fazem aumentar o egoísmo e a superficialidade.

Temos necessidade da paixão missionária, antes de mais para crer em ti com todo o nosso coração, para descobrir-te presente no irmão que sofre, na irmã que é maltratada, no jovem condenado a viver sem a possibilidade de sonhar um futuro digno, para sair das nossas seguranças e das nossas comodidades.

Senhor, faz-nos bem reconhecer com humildade e simplicidade que nos falta a paixão que não teme o sacrifício, a renúncia, o abandono, aquela paixão que permite deixar tudo para fazer de ti e da tua missão o tudo da nossa vida.

Deste-nos uma vocação que faz de nós uns privilegiados, porque escolheste por nós, como lugar para encontrar-te, os mais pobres, os afastados, aqueles que não contam aos olhos dos nossos contemporâneos.

«A esperança de que falamos – diz o Papa – não se funda nos números ou nas obras, mas n’Aquele em quem acreditámos» (2 Tm 1,12).

E nós queremos viver na esperança, não podemos fazer de outro modo, uma vez que fomos testemunhas da tua fidelidade, da tua confiança, do teu cuidado para connosco. Não nos assusta o amanhã porque sabemos que tu nos precedeste e preparaste um amanhã que será completamente diferente daquele que seríamos capazes de construir com as nossas forças e com os nossos meios.

Não temos medo de diminuir, de morrer, porque estamos convictos que onde estás presente a vida não pode senão sair vencedora e que serás sempre tu a escrever a bela história da missão que se tornará também a nossa.

Uma consagração nos pequenos e grandes pormenores

Quando se fala de consagração, gosto de dizer que nos referimos a uma experiência, a uma vida que levamos por diante nos pequenos e grandes pormenores da nossa existência, no quotidiano do nosso agir e no realizar o sonho que levamos no nosso coração como ideal que nos impele a ir sempre mais longe.

Gosto de dizer que ser consagrados não é senão aceitar com alegria que a nossa vida está nas mãos d’Aquele que nos faz viver. É aceitar que somos propriedade do Senhor, que somos ou nos estamos tornando dom de Deus para a humanidade.

Quantas vezes ouvimos dizer que o consagrado ou a consagrada são pessoas que livremente aceitaram renunciar a tudo para permitir a Deus realizar o seu sonho de amor pela humanidade.

É belo pensar assim, porque nos ajuda a compreender que a consagração não é uma obra que surge da nossa vontade ou das nossas capacidades, mas uma experiência de grande liberdade, de generosidade e sobretudo de profunda docilidade.

Que quer dizer consagrados a Deus?

Consagrar-se a Deus quer dizer educar o nosso coração a viver sempre aberto e disponível ao que Ele quiser de nós. Neste sentido, consagração é sinónimo de abandono, de obediência e de coragem, porque com o Senhor sabe-se onde começa a aventura, mas não se sabe até onde nos levará.

Falar de consagração significa entrar num mundo em que os nossos parâmetros deixam de funcionar, porque se entra no mundo do mistério de Deus, que rompe todas as nossas lógicas e os nossos cálculos e inverte tudo, tornando-se Ele o protagonista da nossa história e o senhor da nossa existência.

E aqui vêm-nos em mente tantas frases do Evangelho: «Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos chamei» (Jo 15, 16); «Este é o meu filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado» (Mt 3, 17).

Quanta energia ressoa na mensagem de Paulo, quando recorda como foi escolhido e como, no seu ministério de apóstolo, pôde constatar que «Tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu desígnio» (Rm 8, 28).

Então, a pergunta que surge espontânea é muito simples: quem é, no fundo, aquele que se consagra?

Quantas vezes, na nossa vida, teremos de reconhecer que seguimos em frente porque o Senhor não recuou? Até que ponto nos daremos conta de que não foram as nossas qualidades, os nossos méritos ou as nossas virtudes a ter-nos tornado merecedores do dom da escolha que o Senhor fez connosco?

Temos uma grande responsabilidade em manter e fazer crescer a graça recebida desde o dia em que respondemos sim ao Senhor. Teremos sempre presente que Deus chama e não muda de opinião com o passar do tempo? A que fidelidade nos desafia?

O testemunho de São Daniel Comboni

«Necessitando extremamente da ajuda do Sagrado Coração de Jesus, soberano da África Central, o qual é a alegria, a esperança, a fortuna e tudo para os seus pobres missionários, dirijo-me a si, amigo, apóstolo e fiel servidor desse Coração divino, tão cheio de caridade pelas almas mais desventuradas e abandonadas da Terra.

Oh, que feliz sou de passar meia hora consigo para encomendar e confiar ao S. Coração os interesses mais preciosos da minha laboriosa e difícil missão, à qual consagrei toda a minha alma, o meu corpo, o meu sangue e a minha vida!» (Escritos 5255-56).

A consagração do comboniano, para ser verdadeira e fonte de felicidade, procurará sempre responder a esta clara convicção de Comboni, isto é, deverá ser consagração que nasce da experiência do amor que brota do Coração de Jesus. O Coração de Deus que amou tanto a humanidade e que não teve dúvidas em consagrar-lhe o seu filho, o único, por amor.

É deste amor que brota e se alimenta a nossa consagração. É e será sempre deste Coração aberto que poderemos receber a luz e a força para viver somente para Deus e para a sua obra. É do Coração de Jesus que devemos aprender como ser homens de Deus, que encontram a sua alegria em servir a missão com um coração indiviso.

Será sempre o Coração de Jesus que nos ajudará a olhar o futuro sem cair no desânimo, na tristeza ou desilusão, porque do Coração de Deus brotam sempre coisas novas para o bem de todos aqueles que se abrem ao amor.

Como Comboni, temos de aprender a não recear perante as dificuldades da missão que somos chamados a viver. Será sempre uma obra laboriosa e difícil, mas não podemos esquecer que se trata da missão de Deus e não da nossa. É a missão do Senhor, na qual nós somos chamados a ser simples colaboradores, mediações do seu amor.

Como o nosso santo fundador, também nós somos convidados, chamados a viver até ao fundo o dom da vocação missionária aceitando consagrar toda a nossa alma, tornando-nos homens de fé profunda, aceitando com alegria dar testemunho através da nossa pobreza, da nossa castidade e da nossa obediência, e procurando sempre criar ambientes de profunda fraternidade.

Também para nós, o grande desafio da consagração será a disponibilidade a viver sacrificando tudo pelos outros, por aqueles que encontraremos na missão. Isto quer dizer também aceitação do martírio, que nos pedirá fecundar o coração dos nossos irmãos com a nossa vida entregue no quotidiano da existência, no serviço humilde e escondido, na aceitação alegre da renúncia de nós mesmos para permitir a Deus manifestar o seu amor.

Só educados nesta escola de amor que é o Coração de Jesus, seremos capazes de viver em total liberdade a opção pelos mais pobres e dar um rosto ao amor de Deus, através da construção de um mundo mais justo, mais solidário, mais respeitoso e capaz de gerar aquela felicidade que todos temos no coração como o único anseio da nossa vida.

Pedimos a graça de nos tornarmos consagrados alegres e felizes porque portadores no coração do tesouro daquele amor que brota do Coração trespassado do Senhor que São Daniele Comboni descobriu como fundamento sobre o qual construir a sua missão e ao qual se entregou sem limites.

Que a confiança no Coração de Jesus se torne também para nós fonte perene de um amor que nos ajude a viver a nossa consagração como o dom mais belo que nos tenha sido concedido.

Boa festa do Sagrado Coração.
P. Enrique Sánchez G. mccj
Superior Geral

 

“Comboni: Deus, a Cruz e a Missão”

PortugalNos dias 17 a 19 de Abril, decorreu em Viseu a 8º Unidade do percurso formativo dos LMC em Portugal. A formação foi subordinada ao tema:  “Comboni: Deus, a Cruz e a Missão”, apresentado entusiasticamente pela nossa Irmã Carmo Ribeiro. Neste encontro participaram O Carlos, LMC, a Andreia, a Carolina, o Flávio, a Marisa, a Neusa, a Patrícia e a Paula, formandos LMC.

Fomos generosamente (e muito confortavelmente) acolhidos pela Comunidade de Viseu dos Missionários Combonianos do Coração de Jesus, a quem estamos muito gratos pela hospitalidade.

O pontapé de saída da nossa jornada foi o filme “A Missão” de 1986, um drama histórico dirigido por Rolland Joffé, que retrata um período da história da Evangelização junto dos Indios Guarani do Brasil.

Durante o dia de Sábado e a manhã de Domingo a Irmã Carmo guiou-nos na descoberta de Comboni, da sua vida e missão, inspiradoras por em tudo transparecerem Cristo: “Falar de Comboni, da sua vida e missão, é falar da sua experiência de Deus. Experiência essa que moldou, deu forma, sentido e direção a toda a sua vida. Vida que se tornou missão. A experiência de Deus é a vivência de Deus, deixar que Deus viva em nós, e antes de tudo, deixarmo-nos viver n’Ele.”

Foi na primeira pessoa que fomos conhecendo Comboni, através dos seus escritos que lemos paralelamente com as citações Bíblicas que o inspiraram.

O nosso itinerário passou pela descoberta dos pilares da vida e missão de Comboni que são também os pilares de toda e qualquer vocação Comboniana. Seguidamente apresento estes pilares citando os escritos de Comboni.

Portugal1ª Confiança em Deus

“O Senhor disponha como melhor Lhe aprouver, estamos em suas mãos e portanto bem guardados.” E 457

2º Momento Carismático: O amor de Cristo Trespassado de Cristo Bom Pastor

“O Católico habituado a julgar as coisas com a luz que lhe vem do alto, olhou a África não através do miserável prisma dos interesses humanos, mas do puro raio da sua fé, e descobriu lá uma infinidade de irmãos, pertencentes à mesma família, que têm nos Céus um pai comum, ainda curvados sob o jugo de Satanás e à beira do mais horrendo precipício. Então levado pelo ímpeto daquela caridade que se acendeu com divina chama aos pés do Gólgota e, saída do lado do Crucificado, para abraçar toda a família humana, sentiu que o coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus.” E 2742

3º O amor à Cruz

“Eu encontro-me mesmo no cimo do Gólgota mesmo no lugar onde foi crucificado o Filho Unigénito de Deus, aqui eu fui redimido.” E 39-43

“A cruz tem a força de transformar a África central em terra de bênção e de salvação”

4º Cenáculo dos Apóstolos

“Este instituto torna-se pois um cenáculo de apóstolos para a África, um ponto luminoso que envia até ao Centro da Nigricia tantos raios quantos os solícitos e virtuosos missionários que saem do seu seio.” E 2648

5º Maria, Mãe da Igreja e Mãe da África

“A ti devo, ó Maria, não ter ainda morrido, … Ó Maria mostra-te também rainha e mãe dos pobres negros, porque também eles são teu povo… Mostra-te Mãe!” E 1639-644

6º S. José

“S. José é sempre jovem, tem sempre bom coração e intenção reta e ama sempre o seu Jesus e os interesses da sua glória.”

“Somos os mais felizes da Terra, porque estamos nas mãos de Deus, de Maria e do bom S. José. “ E 5082

7º Oração

“Como a obra que tenho entre as mãos é toda de Deus, é com Deus especialmente com quem há que tratar todos os assuntos grandes ou pequenos da missão; por isso é da máxima importância que entre os missionários abundem sobremaneira a piedade e o espírito de oração.” E 3615

8º Sentido da Igreja, pertença

“Negar-me-ia a converter o mundo inteiro, se com a graça de Deus me fosse possível, quando não mediasse o mandato e a autorização da Santa Sé e dos seus representantes”.

PortugalApesar da riqueza destes dias, houve ainda tempo para dois encontros. Visitamos e fomos visitados. No inicio da tarde de Sábado fomos visitar a Comunidade das Irmãs Concepcionistas de Santa Beatriz da Silva, que partilharam a alegria e missão de uma vida totalmente entregue a Deus num silêncio habitado e fecundo (como alguém comentou: é bonito!). Na noite de Sábado, fomos visitados por duas irmãs missionárias combonianas, Irmã Lurdes Ramos e Irmã Guida Agostinho. A Irmã Lurdes Ramos partilhou connosco a sua experiência missionária junto dos povos indígenas da amazónia e mais tarde na ilha de Lampedusa. A exemplo de Comboni, vida tornada missão, esquecida de si, ferida para servir e amar os irmãos.

Por infeliz coincidência, nessa noite de 18 de Abril, no mar naufragava um barco de imigrantes a caminho de Lampedusa, sabemos a tragédia que se seguiu… naquela noite a Irmã fazia memória do drama dos que partem e arriscam a vida para poder viver e chegados a terra não têm com que viver. “Todos somos pessoas”, penso, que ainda hoje, na nossa oração não nos são indiferentes estes nossos irmãos… “sentiu que o coração palpitava mais fortemente; e uma força divina pareceu empurrá-lo para aquelas bárbaras terras, para apertar entre os seus braços e dar um ósculo de paz e de amor àqueles infelizes irmãos seus”…

Por fim, terminamos o nosso encontro celebrando a Páscoa, a glória de Jesus Ressuscitado; VIDA que brota do coração trespassado. “O meu Deus é um Deus ferido”, reconhecido por Tomé nas marcas do seu Amor por nós: “Meu Senhor e meu Deus!”

Patrícia